A neurociência comportamental é uma área da neurociência que investiga a relação entre o comportamento e o sistema nervoso.
Com o rápido desenvolvimento da tecnologia de neuroimagem e o avanço da computação de alto desempenho, os cientistas conseguiram obter uma quantidade sem precedentes de dados cerebrais para aprimorar o estudo da neurociência.
Soma-se a isto a junção de outras disciplinas, o que os ajuda a revisitar velhos problemas e explorar novas ideias quanto ao funcionamento do cérebro.
E se pensássemos nos mecanismos cerebrais do comportamento como estratégia empresarial? Como podemos aplicar a neurociência dentro do ambiente corporativo?
Neste artigo, conceituamos este conhecimento ainda pouco falado para mostrar que ele é muito útil para a vida profissional.
O que é a neurociência?
Neurociência é o estudo científico do sistema nervoso. Ele cobre uma ampla gama de tópicos, desde o nível molecular e celular até o comportamento. Como tal, ele se baseia em técnicas e conceitos de uma variedade de disciplinas, incluindo biologia, química, física e psicologia.
O objetivo deste estudo é investigar e entender como o sistema nervoso se desenvolve, funciona e se modifica em resposta à experiência. Isso pode levar a novos insights sobre consciência, memória e tomada de decisões.
Ao entender esses processos, torna-se possível desenvolver melhores tratamentos para certas doenças e obter uma compreensão mais profunda de como o cérebro funciona.
A evolução da neurociência
A relação entre cérebro e comportamento é estudada desde a antiguidade e é um dos maiores desafios da ciência.
Durante o renascentismo e o iluminismo, os cientistas se debruçaram em pesquisas sobre anatomia, mas suas descobertas ficaram resguardadas diante da posição contrária da Igreja.
No século XIX, a neurociência ganhou um novo fôlego com Charles Darwin, que passou a estudar as alterações do cérebro e o seu desenvolvimento.
Na modernidade, o estudo avançou com o surgimento de tecnologias, como tomografias e raio-X, intensificando as pesquisas sobre o cérebro. A neurociência, de fato, começou a ser estudada somente em 1970. O termo foi criado por Michael S. Gazzaniga e George A. Miller.
Com esse avanço, passamos a ver as áreas da neurociência ganhando mais forma.
Quais são as áreas da neurociência?
A neurociência é uma ciência multidisciplinar que reúne áreas, como psicologia, bioquímica, biomedicina, física, fisiologia, economia, estatística e outras.
Essa diversidade fez com que ela se dividisse em cinco áreas de estudo:
- neuroanatomia: aborda a estrutura do sistema nervoso;
- neurofisiologia: estuda as tarefas das diversas áreas do sistema nervoso;
- neurociência cognitiva: aborda a capacidade cognitiva, como a memória e o cérebro;
- neuropsicologia: estuda a interação entre as funções psíquicas e os trabalhos dos nervos;
- neurociência do comportamento: estudo do contato do organismo com fatores internos, como os gestos e as emoções.
Já parou para pensar como a neurociência explica o comportamento humano? Essa é a tentativa da chamada neurociência do comportamento.
O que é a neurociência comportamental?
A neurociência comportamental é um subcampo da neurociência que investiga a relação entre o comportamento e o sistema nervoso. Ela envolve diversos aspectos, como cognição, emoções, aprendizagem e memória, motivação, percepção e função sensório motora para entender os mecanismos cerebrais do comportamento.
Em palavras mais simples, a neurociência do comportamento busca compreender a origem, a base e as motivações das ações humanas.
Isso aborda, inclusive, a influência do subconsciente nas emoções e nas tarefas realizadas por seres humanos.
Considerando isso, o que faz um neurocientista comportamental? Trabalho com a relação entre o cérebro e o comportamento, que são os pensamentos e as ações dos indivíduos.
Para tanto, vai além do aspecto clínico e se comunica com outras áreas, especialmente a psicologia.
E é neste contexto que vemos uma ligação intrínseca entre neurociência do comportamento e autoconhecimento.
Neurociência comportamental e autoconhecimento: qual é a relação?
A compreensão sobre neurociência comportamental ajuda o indivíduo a desenvolver o autoconhecimento, pois a análise e a observação do sistema nervoso o leva a entender a origem das emoções e dos sentimentos.
Neste caso, a neurociência é utilizada como ferramenta para que ele compreenda porque realizou determinada ação diante de uma situação. É um recurso facilitador que contribui para o entendimento sobre crenças limitantes, pontos de melhoria e pontos fortes de um indivíduo.
Imagine que um executivo foi contratado por uma multinacional para ser gestor de uma importante área da empresa. Nas entrevistas, ele identificou que a cultura organizacional era compatível com seus valores e crenças.
No entanto, com o passar do tempo, ele solicitou seu desligamento da empresa por entender que, na prática, a organização apresenta uma visão e uma atuação bem diferentes.
Mesmo que sua remuneração e o plano de carreira fossem atrativos, a rescisão contratual pareceu ser a melhor alternativa. Afinal, em sua visão de mundo, outros fatores são mais importantes do que esses.
Por desenvolver continuamente o autoconhecimento, o executivo conseguiu perceber suas emoções com clareza a partir de um mecanismo de memória sobre suas crenças.
Percebe como a neurociência explica o comportamento humano? Ela também interfere no aprendizado.
De que maneira a neurociência interfere no aprendizado?
O aprendizado é um processo natural do ser humano, e a neurociência busca entendê-lo por meio de fatores comportamentais.
Com o uso de instrumentos que permitem a observação do cérebro, como tomografias e ressonâncias magnéticas, esse campo científico contribui para o entendimento do processo de aprendizagem por meio de:
- atenção;
- memória;
- emoções;
- motivação;
- plasticidade cerebral.
É possível notar que os mecanismos cerebrais do comportamento têm relação direta com a aprendizagem.
A atenção e a motivação são fundamentais no aprendizado, pois elas conduzem o indivíduo de forma positiva na hora de assimilar as novas informações.
Em outra perspectiva, as emoções interferem diretamente no processo de retenção dessas informações, enquanto a memória as associa a um conhecimento já adquirido.
Por fim, a plasticidade cerebral diz respeito ao modo como o cérebro se modifica ao longo da vida. Ou seja, na medida em que aprendemos, realizamos outras conexões neurais.
Seja pela neurociência cognitiva, comportamental ou outro subcampo, esta ciência se liga diretamente com o aprendizado.
A partir deste contexto, podemos explorar a importância da neurociência no ambiente corporativo.
A neurociência e as empresas
Uma área de Recursos Humanos eficiente é capaz de aperfeiçoar suas estratégias de contratação e gestão de colaboradores. Uma das formas de garantir a eficácia em seus processos é utilizar a neurociência do comportamento.
O gestor que se aprofunda no conhecimento sobre seus profissionais e entende como eles pensam e reagem a certas situações é capaz de aprimorar a relação com o grupo e criar ações de melhoria do clima organizacional, certo?
Este é só um exemplo da importância da neurociência comportamental nas empresas. Ela traz benefícios para o aprendizado no mundo corporativo porque serve de ferramenta para os profissionais entenderem seu papel dentro da organização e se desenvolverem dentro delas.
Em outras palavras, é uma ciência que ajuda a promover a aprendizagem, criar bons hábitos, identificar pontos de melhorias nas áreas, desenvolver o espírito de liderança e estimular o autocontrole e o autoconhecimento.
Quais são os impactos da neurociência nas lideranças?
Grandes líderes da atualidade têm em comum o aprimoramento das habilidades comportamentais para além dos conhecimentos técnicos. Com isso, conseguem compreender a relação entre o cérebro e o comportamento, e entender os gatilhos emocionais.
Essa prática da neurociência contribui para seu próprio desenvolvimento e para o de seus liderados e vem transformando o conceito de líder.
Agora, os líderes se formam por meio de sua relação com suas tendências subconscientes e seus padrões. Qual a sua motivação em busca do sucesso? Quais são os mecanismos acionados para lidar com uma frustração?
Em relação aos seus profissionais, as lideranças precisam analisar suas personalidades, seus fatores mentais e subconscientes, e seus backgrounds para desenvolver e promover a inovação e o engajamento.
Dessa forma, se tornam líderes capazes de tomar decisões corretas e formar equipes criativas, colaborativas e que proporcionam grande satisfação na entrega dos produtos e serviços.
Em suma, quanto mais a liderança entende como funcionam os mecanismos cerebrais do comportamento, conseguem se manter mais empáticos, comunicativos, colaborativos e, consequentemente, decisivos.
Por tudo isso, a neurociência comportamental traz muitos benefícios para as organizações.
As 6 vantagens de incluir a neurociência nas empresas
A compreensão sobre a importância da neurociência cognitiva, comportamental e outros subcampos ajuda o indivíduo a entender melhor suas ações.
No ambiente empresarial, é uma prática que se torna muito vantajosa em diversos aspectos. Veja.
Reduz o estresse
Entender os gatilhos mentais que provocam o estresse é um dos caminhos para evitar que os colaboradores se sintam dessa maneira.
Os conhecimentos de neurociência auxiliam diretamente na identificação desses gatilhos. Com isso, evita que os profissionais fiquem irritados, desmotivados e doentes em decorrência do estresse.
Melhora a gestão do tempo
A plasticidade cerebral é um dos aspectos estudados pela neurociência. Se o órgão é maleável e pode se moldar conforme os estímulos recebidos, é possível provocar mudanças que elevem o desempenho cerebral.
Com a adoção de metodologias da neurociência cognitiva, um indivíduo consegue aprimorar suas capacidade de planejar tarefas diárias e ser mais produtivo. Em outras palavras, consegue melhorar sua gestão do tempo e atingir aos objetivos propostos na empresa de maneira eficaz.
Aumenta a capacidade de gestão de recursos humanos
Entender o comportamento humano é um ponto de partida fundamental para aprimorar a gestão do capital humano em uma empresa.
Como a neurociência atua também neste aspecto, ao identificar necessidades, pontos fortes e fracos dos profissionais, os responsáveis pelo RH conseguem atuar de maneira mais assertiva em seus processos.
Auxilia no processo de aprendizagem
A aplicação da neurociência no processo de aprendizagem é, como visto, natural, pois ela estuda aspectos como atenção, memória, emoções, motivação e plasticidade cerebral.
A partir desse estudo, é possível compreender quais são as questões de um indivíduo que devem ser trabalhadas para que seu aprendizado seja eficiente.
Aumenta a capacidade de liderança
Líderes bem capacitados se desenvolvem em diversos aspectos, inclusive quanto às capacidades comportamentais.
A neurociência é uma aliada nesse desenvolvimento dos mecanismos cerebrais de comportamento e ajuda a formar lideranças mais empáticas, comunicativas e com bom senso de justiça.
Permite a resolução de problemas
Se a neurociência contribui diretamente para termos profissionais mais capacitados no quesito emocional e comportamental, é natural dizer que ela ajuda na resolução de problemas.
Isso porque os colaboradores se sentem mais motivados e integrados ao propósito da organização, compreendem seu papel e suas responsabilidades, e atuam de forma mais efetiva.
A melhor gestão do tempo e a redução do estresse são bons indícios de como ela funciona na prática.
4 estratégias inspiradas pela neurociência
Compreender a neurociência comportamental e utilizá-la como estratégia empresarial traz uma grande vantagem competitiva. Afinal, este conhecimento promove uma série de benefícios na organização, como acabamos de demonstrar.
Além do exemplo sobre o setor de RH, que aperfeiçoa a contratação e a gestão de colaboradores a partir do conhecimento de comportamento deles, temos outras estratégias inspiradas pela neurociência no ambiente corporativo. Veja:
- Uso da neurociência no marketing: uso da neurociência para potencializar vendas a partir do entendimento sobre o lado impulsivo do comportamento humano.
- Coragem para ser inovador: o líder que questiona o que a maioria pensa, combatendo o chamado “efeito manada” e contrariando a maioria do grupo, é capaz de se destacar no ambiente empresarial e ser, de fato, criativo e inovador.
- Uso da psicologia positiva: um bom líder deve estar bem consigo mesmo para coordenar de forma eficiente um grande grupo de pessoas. Para isso, deve adotar ações de psicologia positiva para fortalecer o mindset frente aos desafios corporativos.
- Uso de hacks biológicos: cada indivíduo possui, em seu próprio corpo, a solução para determinados sentimentos. Para combater a ansiedade e o estresse (baixos níveis de endorfina e dopamina), por exemplo, basta realizar atividades que liberam estes hormônios, como os exercícios físicos ou um hobby. São os hacks biológicos.
Conclusão
A neurociência comportamental é um campo que grandes líderes têm visto com atenção, pois pode ser aplicado no ambiente empresarial de forma vantajosa para a empresa e para os profissionais.
Além de contribuir para a redução do estresse, a melhora na gestão do tempo e no processo de aprendizagem, ela pode ser utilizada como estratégia para garantir a vantagem competitiva por meio da liderança.
Dentro deste contexto de compreensão sobre a neurociência do comportamento, é preciso olhar com cuidado para as mudanças sociais.
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