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Quais os resultados do maior teste de renda básica universal até o momento?

A perda generalizada de empregos devido à pandemia de coronavírus está levando a um interesse renovado pela ideia de uma renda básica universal (UBI – universal basic income). Isso coincidiu perfeitamente com a publicação dos resultados do maior experimento de UBI até o momento – mas, segundo o colunista da Singularity Hub, Edd Gent, eles sugerem que a ideia pode não ser uma Panaceia.

Mais de 36 milhões de americanos solicitaram subsídios de desemprego nos últimos 2 meses, já que o bloqueio fez com que muitas empresas reduzissem o quadro de funcionários ou até decretassem falência. Isso levou a níveis anteriormente inconcebíveis de auxílio estatal, incluindo pagamentos diretos em dinheiro aos cidadãos como parte do pacote de estímulo.

Os pedidos pela renda básica universal fazem parte de uma ideia que já estava ganhando popularidade nos últimos anos. Seria exatamente como a política que está sendo debatida enquanto é praticada, mas envolveria todos os cidadãos indiscriminadamente recebendo pagamentos regulares e sem restrições, podendo cobrir suas necessidades básicas.

Os defensores dizem que o UBI poderia simplificar o sistema de assistência social e, como os pagamentos não estariam relacionados ao status de emprego, as pessoas não se preocupariam em perder o benefício se procurassem trabalho. Em contrapartida, os que se opõem dizem que seria financeiramente insustentável e poderia desmotivar as pessoas a buscarem por emprego.

O tema foi a peça central da campanha de Andrew Yang para a nomeação presidencial democrática e um tópico importante entre as elites do Vale do Silício, preocupadas com o impacto que a automação poderia ter no mercado de trabalho. Mas o massacre econômico causado pela pandemia parece ter dado um impulso ainda maior à ideia.

Uma pesquisa recente constatou que 71% dos europeus apoiam a UBI. Até mesmo o Papa adotou a ideia em seu discurso de Páscoa. A ministra de Assuntos Econômicos da Espanha, Nadia Calvino, disse que o governo em breve lançará algum tipo de renda básica que permanecerá após o fim da pandemia. A presidente da Câmara estadunidense, Nancy Pelosi, se mostrou aberta à ideia em comentários recentes.

Prever o impacto de uma convulsão sem precedentes no relacionamento entre o Estado e o indivíduo é surpreendentemente difícil. Assim como a busca por evidências que favoreçam ou contrariem a proposta. Houveram diversos ensaios em pequena escala, mas o mais ambicioso até o momento ocorreu na Finlândia de 2017 a 2018, e o relatório final foi publicado na semana passada.

O estudo selecionou 2.000 pessoas desempregadas aleatoriamente e concedeu-lhes pagamentos mensais incondicionais de € 560. Seus resultados foram comparados com 173.000 pessoas nos benefícios-padrão de desemprego da Finlândia. Os pesquisadores concederam ao The Guardian os resultados que contêm munição tanto para proponentes quanto para detratores da ideia.

A conclusão principal foi que aqueles que receberam pagamentos incondicionais relataram uma melhora significativa no bem-estar financeiro e mental. Eles também viram uma ligeira melhora no emprego, com os destinatários trabalhando em média mais seis dias entre novembro de 2017 e outubro de 2018 do que o grupo de controle.

Dado que muitos prevêem a implantação de UBI em todo o país seria extremamente caro, um aumento tão modesto na probabilidade de voltar ao trabalho foi anunciado por alguns como um fracasso. Mas também parece contradizer os temores de que esse esquema desmotive as pessoas na procura por trabalho.

Para além dos resultados econômicos brutos, as pesquisas com os participantes que receberam a renda básica universal descobriram que a medida aumentou seus índices de bem-estar, segurança financeira e confiança no futuro. Os autores do relatório disseram ao The Guardian que os destinatários se sentiam mais capacitados para realizar trabalhos voluntários ou tentar iniciar novos empreendimentos.

O estudo só pode nos trazer isso, por hora. Apesar de ser o maior teste até o momento, é difícil extrapolar os resultados até a escala de um programa nacional e também é impossível prever o impacto que intervenções semelhantes teriam em países com culturas e sistemas governamentais muito diferentes.

No entanto, ocorrendo no meio do maior desastre global deste século, o lançamento do estudo é um lembrete oportuno de que talvez seja hora de políticos de todo o mundo reavaliarem sua relação com o Estado de bem-estar social.

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Como a ciência do envelhecimento nos ajudará a combater futuras pandemias

Enquanto o mundo responde à pandemia do COVID-19, cientistas trabalham incansavelmente para entender a complexidade da doença. Conversamos com a cientista PhD em longevidade e diretora científica da OneSkin Technologies, Alessandra Zonari, para entender melhor a conexão entre vulnerabilidade infecciosa e envelhecimento.

O que os cientistas aprenderam até agora sobre as populações com maior risco de contrair COVID-19?
Zonari – Uma das primeiras lições do estudo das ramificações do COVID-19 é que a infecção afeta desproporcionalmente os idosos. Globalmente, mais de 80% das internações por COVID-19 são pacientes com mais de 65 anos de idade. Para quem tem mais de 80 anos, as chances de morte resultantes da infecção confirmada por COVID-19 aumentam para 21,9%.

Como cientistas, nos perguntamos o que esses números realmente significam sobre a infecção. E o que estamos aprendendo é que o envelhecimento representa um risco notável para a evolução da infecção por COVID-19.

Mais profundamente, os dados nos indicam que, se combatermos o envelhecimento, podemos fazer mais na resposta à doença. O envelhecimento tem sido considerado um fator de risco para muitas doenças, mas é provável que o envelhecimento seja uma doença em si, e que pode ser tratada. Mudanças a nível celular levam ao envelhecimento e podemos intervir nesse aspecto para prolongarmos a saúde. Além de trabalhar no combate ao vírus que causa o COVID-19, se quisermos reduzir a taxa de mortalidade, precisamos fortalecer o nosso próprio corpo, principalmente da população mais vulnerável, pois somos os “hospedeiros” do vírus. E é aí que a luta contra esta doença e a ciência da longevidade se cruzam.

O que pode contribuir para um maior risco de desenvolver um prognóstico mais grave de COVID-19?
Zonari –Vários aspectos do envelhecimento estão correlacionados ao aumento do número de idosos que contraem COVID-19. Um dos principais aspectos relacionados com envelhecimento, é que quando uma pessoa envelhece, o nível geral de inflamação no corpo acumula e isso contribui para um processo biológico conhecido como “inflammaging” (do inglês inflamação + envelhecimento).

O que isso significa para um vírus como o SARS-CoV-2 (a cepa do coronavírus que causa o COVID-19) é que com níveis mais altos de inflamação, a quantidade de ACE2 (uma molécula que se liga ao vírus SARS-CoV-2) na célula aumenta, isso facilita a entrada do vírus em nossas células e sua replicação. Além disso, com a idade, o número de células imunológicas responsáveis por matar as células infectadas presentes no corpo são reduzidas, diminuindo o mecanismo de defesa inato do corpo para combater a infecção. Portanto, o aumento da inflamação que está relacionado com o envelhecimento e a diminuição do potencial de resposta do sistema imune, pode resultar em um pior prognóstico da doença.

Reforçar a capacidade do sistema imunológico de combater uma infecção mais rapidamente não só ajudará a resposta biológica do nosso corpo ao SARS-COV-2, mas também nos preparará para responder a uma ampla gama de doenças e novas infecções. Dessa forma, podendo reduzir as proporções de futuras pandemias, incluindo a severidade da doença e gastos hospitalares e impactos socioeconômicos.

Os relatórios dizem que pode levar mais de um ano para se desenvolver uma vacina. Que outras terapias poderiam ajudar a combater o vírus enquanto isso?
Zonari – Como nos encontramos neste período de espera para que uma vacina chegue à aprovação e seja submetida a testes clínicos, outro objetivo da comunidade científica é encontrar novos tratamentos, como um medicamento antiviral específico para o vírus.
Entretanto, há uma terapia menos conhecida sendo investigada, que definitivamente merece uma explicação, e é o uso de geroprotetores. Os geroprotetores são uma classe de medicamentos projetados para combater uma ou mais características do envelhecimento com o objetivo de melhorar a saúde de uma pessoa (e seu período de vida livre de doenças), aumentando sua vida útil. Pesquisas em diferentes modelos animais demonstraram que muitos desses medicamentos, como metformina, rapamicina e senolíticos, podem reduzir a inflamação no corpo, prolongar a saúde animal e atrasar o desenvolvimento de doenças crônicas. Isso nos leva a acreditar que através dessas novas moléculas, poderemos otimizar o funcionamento do nosso corpo para que responda mais eficientemente a futuras infecções virais, incluindo a responsável por COVID-19.

Os geroprotetores já estão sendo testados em seres humanos?
Zonari – Sim, em ensaios clínicos. O que é especialmente interessante é que, no momento, os pesquisadores estão tentando correlacionar o uso desses medicamentos com a taxa de recuperação do COVID-19. A metformina, um medicamento amplamente usado no tratamento da diabetes tipo 2, exibe dados promissores para a proteção contra doenças relacionadas ao envelhecimento, cientificamente comprovados por atuar em vias metabólicas e inflamatórias específicas. Vários estudos clínicos mostram que os diabéticos tipo 2 que tomam metformina têm menor taxa de propensão a várias doenças incluindo demência, doenças cardiovasculares e câncer, em comparação com pacientes que não tomam metformina, mesmo que não sejam diabéticos. Ou seja, o uso de metformina pode prevenir a surgimento de doenças crônicas.

Os pesquisadores estão agora mapeando o resultado dos pacientes prescritos com metformina, que se recuperaram do COVID-19, para entenderem se o medicamento possui efeitos protetivos para a infecção viral.

Outro achado interessante veio de um ensaio clínico de fase 2 de um geroprotetor (RTB101) em pacientes com doença de Parkinson. Os dados mostraram que os indivíduos que tomavam o medicamento tiveram incidência reduzida de infecções do trato respiratório causadas por vários vírus, incluindo coronavírus (testado com outras cepas, antes da SARS-COV-2) em comparação com o grupo placebo.

Embora esses achados ainda estejam em fase preliminar, os dados nos dão mais uma pista de que medicamentos projetados para intervir na biologia do envelhecimento podem fortalecer a saúde do hospedeiro e contribuir na resposta a doenças infecciosas.

Enquanto aguardamos dados cientificamente comprovados sobre a segurança e eficácia de geroprotetores, o que posso fazer para preparar meu corpo para uma possível infecção viral?
Zonari – Comportamentos simples, como se exercitar e seguir uma dieta saudável, naturalmente ajudarão a reduzir os níveis de inflamação no seu corpo. Isso se deve ao fato do músculo esquelético ser um regulador essencial da imunidade. Quando o músculo é ativado através do exercício, libera moléculas chamadas miocinas que alteram o perfil das células imunes para um estado anti-inflamatório, aumenta o número de células do nosso sistema imunológico responsável por matarem as células infectadas e modula as células adiposas (também responsáveis pela liberação de moléculas inflamatórias).

Um estudo recente comparou os níveis de inflamação no sangue de adultos com idade mais avançada (55-79 anos) que realizaram regularmente atividade física de alta intensidade (ciclismo de 100 a 150 quilômetros/semana) com indivíduos sedentários, incluindo jovens adultos e idosos. O resultado foi impressionante e determinou que os níveis de inflamação no sangue para os idosos que praticavam o exercício foi semelhante aos níveis encontrados nos jovens adultos.

Para aqueles que não gostam de se exercitar com tanto vigor, outro estudo envolvendo 200 pessoas com mais de 65 anos demonstrou que aumentar a contagem diária de passos para mais de 10.000 passos pordia diminui também é capaz de reduzir os níveis de inflamação no sangue.

A nutrição é outra maneira de manter um sistema imunológico forte. Uma microbiota intestinal saudável, uma dieta rica em frutas e legumes, vitamina D, zinco e baixo teor de açúcar demonstraram influenciar o sistema imunológico, reduzindo níveis de inflamação.

Como você vê as pesquisas sobre o envelhecimento e a longevidade impactando a sociedade?
Zonari – Sou bastante otimista e estou particularmente muito empolgada com o que virá nos próximos anos. Nos últimos anos, tem havido um aumento considerável no número de pesquisadores, institutos, startups de biotecnologia e financiamento no campo da longevidade.

Não há maneira mais lógica de combater doenças e infecções do que através de prevenção. E isso, nunca esteve tão claro. Todas as recém-instituídas restrições trazidas pelo COVID-19, incluindo a quarentena, nos fizeram perceber que a saúde é nosso ativo mais precioso.

Pesquisas de longevidade mostraram que estilo de vida e intervenções terapêuticas são capazes de atrasar o processo de envelhecimento em humanos, e aumentar os anos de vida saudáveis. O envelhecimento não precisa ser um fardo, como infelizmente é comum hoje em dia. O envelhecimento pode ser tratável. Devemos mudar a forma como vemos esse processo. O fortalecimento da nossa biologia imunológica equipará melhor nossos corpos para combater doenças futuras, e isso influenciará não apenas a qualidade da sua própria vida, mas terá um impacto significativo na sociedade e economia.

Nunca é tarde para incorporar hábitos saudáveis, independentemente da sua idade. Nos últimos dois anos, mudei alguns dos meus hábitos, incluindo exercícios diários, meditação, jejum e dieta mais saudável e já posso sentir o impacto na minha saúde e energia. Encorajo todos vocês a incorporarem também hábitos saudáveis ao seu estilo de vida. E fiquem atentos ao progresso desse campo! Tem muita esperança pela frente! Como uma pesquisadora da área, posso dizer que os avanços científicos são bastante promissores e quem vamos, em breve, ser beneficiados por novas tecnologias que promovem longevidade.

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Os riscos e as razões para os cientistas estarem clonando o coronavírus

A neurocientista e autora do livro “A Inteligência Artificial nos substituirá?”, Shelly Xuelai Fan, traz à tona o lado obscuro da corrida pela vacina do Coronavírus.



Separamos os principais pontos do artigo publicado pela cientista PhD em biotecnologia e responsável pelo premiado blog NeuroFantastic.com, no SingularityHub.

Nesse instante, a maioria dos pesquisadores biomédicos está ocupada buscando maneiras de esmagar o novo coronavírus. Enquanto isso, biólogos sintéticos estão ocupados clonando o vírus em massa.

No final de fevereiro, uma equipe da Universidade de Berna, liderada pelo Dr. Volker Thiel, publicou uma receita relativamente simples para preparar artificialmente o SARS-CoV-2, o vírus que causa o Covid-19, em laboratório. Exigia apenas dois ingredientes principais: pedaços sintéticos das instruções genômicas do vírus, que podem ser pedidos on-line; e fermento. Em mãos experientes, o processo não é muito mais difícil do que assar pão de fermentação caseira.

O manuscrito, inicialmente postado no servidor de pré-impressão bioRXiv, agora revisado e publicado na Nature, provocou ondas de choque por toda a comunidade biomédica. Com futura verificação, mais laboratórios certificados poderão clonar amostras inteiras do coronavírus em uma semana por aproximadamente US $ 30.000. Ao “democratizar” o acesso ao novo vírus, mais laboratórios poderão trabalhar em testes de diagnóstico, medicamentos e vacinas, potencialmente colocando o vírus de joelhos mais rapidamente e salvando a vida de milhões de pessoas.

O problema – No entanto, existe um lado sombrio desse acesso mais amplo: a mesma plataforma usada para fazer o SARS-CoV-2 do zero também pode potencialmente torná-lo mais mortal ou mais transmissível. Em um cenário pessimista, a mesma tecnologia que poderia nos livrar da praga também poderia transformá-la em uma arma biológica.

É um dilema há muito tempo fomentado no campo dos vírus sintéticos – o problema do “uso duplo”. “Na biologia [isso significa que] as técnicas necessárias para projetar uma arma biológica são as mesmas necessárias para realizar pesquisas legítimas”, explicou o Dr. Guoyu Wang, do Centro de Ética Biomédica da Universidade Fudan, em Xangai. Mesmo se as motivações originais fossem nobres, qualquer “desvio, uso indevido ou abuso durante a pesquisa”, como vazamentos acidentais de laboratórios, poderia significar uma calamidade global.

Uma questão com precedentes – Essas preocupações frequentemente formam a base das teorias da conspiração. Mas elas não são pura fantasia. Em 2014, cientistas federais descobriram meia dúzia de frascos de vírus da varíola, contra os quais a maioria dos americanos nascidos após 1972 não tem imunidade, enquanto limpavam as instalações de armazenamento do National Institutes of Health. Esquecimento à parte, várias cepas de influenza foram tornadas mais contagiosas usando a biologia sintética, com base em testes em furões. Os cientistas estão legitimamente preocupados com uma cepa viral fabricada ou vazada em laboratório que possa causar estragos.

A receita do coronavírus de Thiel e sua equipe trouxe esses debates de volta com fervor total, graças em parte à simplicidade da receita. Mas talvez o mais preocupante seja que a mesma plataforma possa clonar uma ampla variedade de vírus – aqueles conhecidos por nós e potencialmente aqueles que ainda serão descobertos.

O livro de receitas do vírus sintético – Para vencer um vírus, primeiro conheça bem seu inimigo.

A maneira mais fácil de controlar o vírus é obter tecido biológico infectado, o que foi difícil no início da pandemia fora de Wuhan, na China. A segunda via é tentar cultivar o vírus dentro de células imortalizadas – no caso da SARS-CoV-2, células pulmonares – mas é como fabricar carros que explodem a fábrica e eles mesmos no meio da construção.

Isso deixa espaço para a terceira via: criar o vírus do zero. Graças aos avanços na biologia sintética e na engenharia do genoma, tornar genomas de vírus inteiros em bactérias ou leveduras se tornou mais barato, mais fácil e mais rápido. Um artigo recente sobre a engenharia do SARS-CoV-2 usou bactérias como fábrica viral.

No entanto, a equipe de Thiel seguiu a rota do fermento. O motivo, explicou, é que os coronavírus têm genomas extraordinariamente grandes, o que dificulta o enfrentamento de bactérias – algo como desafiar uma criança de três anos com um complexo conjunto de Lego – que leva a erros no genoma do vírus. O fermento, por outro lado, é muito mais flexível.

Além disso, o fermento também tem um poder especial para colar automaticamente pedaços de material externo de DNA em uma sequência completa do genoma. Isso é impressionante: em vez de sintetizar todo o genoma do coronavírus por meio da química, é possível fazê-lo em pedaços para reduzir custos, e o fermento irá “magicamente” montar as peças como um quebra-cabeça.

O início de tudo – O projeto começou em janeiro, logo após os pesquisadores chineses terem divulgado o projeto genômico do vírus. A equipe de Thiel dividiu o genoma em 14 pedaços gerenciáveis, cada um com sequências ligeiramente sobrepostas, e solicitou DNA sintético que correspondesse aos pedaços do genoma viral de uma empresa comercial.

Três semanas depois, após receber os fragmentos pelo correio, eles inseriram o DNA – que juntos representam todo o genoma da SARS-CoV-2 – no fermento. Então, se sentaram e viram as células de levedura fazerem sua mágica, colando as sequências sobrepostas nos fragmentos para transformá-los em genomas completos. Apenas dois dias depois, a equipe conseguiu verificar o fermento, que agora florescia em “colônias” pontilhadas em um prato, em busca de sinais do genoma do vírus.

Finalmente, eles extraíram o material genético do vírus da levedura na forma de DNA e o transformaram em RNA – algo como traduzir um idioma para outro – que o vírus naturalmente usa para se multiplicar.

Voilà: em menos de uma semana, a equipe conseguiu gerar um vírus totalmente sintético, relativamente novo para os humanos, e usá-lo para infectar células sacrificiais em um prato, para estudar. Como prova de conceito do poder da plataforma, a equipe também criou uma versão do vírus que brilha no escuro, que pode ajudar a rastrear medicamentos antivirais. Se os medicamentos funcionarem, esta versão “rave” do vírus deve perder o brilho.

O dilema da biossegurança – A plataforma de Thiel para a engenharia do SARS-CoV-2 se destaca por sua velocidade e simplicidade. De acordo com Susan Weiss, microbióloga da Universidade da Pensilvânia, que não participou do estudo, o mais interessante é que as leveduras são produtoras muito rápidas de vírus. Enquanto “outros métodos são tediosos e difíceis”.

A velocidade em um surto é essencial, não apenas para contenção, mas também para pesquisa. A nova plataforma é um ponto de partida para os laboratórios alterarem facilmente o genoma do coronavírus, vendo o que o impede replicação ou quais sequências genômicas o tornam mais fraco ou até incapaz de infectar seres humanos. A cereja no topo: o sistema exige apenas que o fermento remonte o genoma do vírus uma única vez. É extremamente fácil coletar mais coronavírus reutilizando células de levedura prontas para produção de vírus, como na fabricação de cerveja.

A mesma técnica para terroristas e cientistas – No entanto, esses pontos de venda são exatamente o que preocupa os bioeticistas. “Ao publicar o roteiro da tecnologia, é possível que cientistas e terroristas apliquem a mesma técnica para sintetizar vírus mais complexos ou desenvolvam um ‘super vírus’ com infectividade, virulência ou resistência a vacinas, extremamente alta”, escrevem Wang e colegas em um comentário do método de Thiel.

Para Thiel, as preocupações não devem ser menosprezadas, mas a promessa da biologia sintética no combate a surtos também não. “A biologia sintética amadureceu em direção a uma técnica poderosa que afetará a comunidade científica – e nossa sociedade em geral”, comentou em um dos primeiros estudos com técnica de levedura semelhante para reconstruir um grande genoma viral do zero.

A tecnologia já está aqui, e cabe a vários agentes, como os governos, abordarem o potencial de uso indevido. Os vírus sintéticos – incluindo um clone do vírus da gripe de 1918, que os cientistas trouxeram de volta à vida no laboratório – já forneceram insights sobre contágios mortais que costumavam estar algemados aos caprichos do país do marco zero. Nem todo laboratório pode participar da reconstrução do vírus; por enquanto, é regulamentado para poucas instituições selecionadas, com os recursos de biossegurança de mais alto nível e pessoal altamente treinado.

Se os vírus clonados ajudarão a acabar com a pandemia atual, é uma incógnita. Quanto ao problema de uso duplo de pesquisa e bioterrorismo, não temos resposta. No entanto, o uso de vírus mortais clonados é cada vez mais defendido como uma maneira de combater surtos, quer estejamos confortáveis ​​e prontos ou não.

Enquanto isso, Thiel já está olhando para a próxima pandemia – e para o futuro da biologia sintética como um todo. “Temos que encontrar uma maneira de lidar com o fato de que essa tecnologia [biologia sintética] permitirá a geração de micróbios projetados e, finalmente, a vida sintética”, afirmou.

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Supercomputador Santos Dumont está disponível para pesquisas do Covid-19

Na última semana, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), sediado na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, anunciou que o supercomputador Santos Dumont estará disponível para cientistas e pesquisadores que estão trabalhando em projetos relacionados ao Covid-19.

O Santos Dumont está em 193º lugar no ranking global de supercomputadores mais poderosos do mundo e é o maior da América Latina.

A máquina tem 5,1 petaflops, ou seja, é capaz de realizar 5,1 quatrilhões de operações por segundo. É como se sua capacidade de processamento fosse equivalente a 62 mil iPhones 11 ou 20 mil computadores Mac Pro (o mais potente da Apple).

Com o aumento exponencial na produção de dados, os supercomputadores são as ferramentas para o tratamento desses dados.

Você sabe como a liderança liberal impacta as empresas? Entenda mais sobre esse modelo

Além de colaborar na exploração de óleo e gás no país, o Santos Dumont integra outros 150 estudos científicos, como desenvolvimento de novos fármacos focados no HIV, análises genômicas, propriedades de nanomateriais, dinâmica molecular, modelos climáticos e pesquisas sobre zika e dengue.

Segundo o LNCC, o supercomputador já está sendo utilizado em três projetos de pesquisa relacionados ao novo coronavírus.

Em novembro de 2019, o LNCC recebeu um investimento de R$ 63 milhões. O aporte foi essencial para dar continuidade ao projeto e custear os gastos com eletricidade, até então bancados pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

Com a iniciativa, os pesquisadores terão acesso livre ao software Parabricks da NVIDIA Enterprise por 90 dias para otimizar tarefas de pesquisa, como reduzir o tempo gasto para analisar um genoma humano inteiro de dois dias para menos de uma hora.

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Chapter Summit: SingularityU Brazil

Na última semana, nos dias 6 e 7 de maio, aconteceu o primeiro SingularityU Brazil Chapter Summit.

Temas como inovação de resultados, empreendedorismo de impacto e ferramentas de criação de futuro foram apresentados e debatidos ao longo de dois dias de summit.

No primeiro dia, os chapters Conrado Scholchauer e Matheus Lima, mediados pelo co-CEO da SingularityU Brazil, Reynaldo Gama, discutiram sobre as habilidades essenciais para lidar com os desafios das próximas décadas – e qual o papel da tecnologia nesse processo.

Há um ano, fiz uma pesquisa sobre as habilidades do futuro. As 4 principais são: a capacidade de aprender, a curiosidade, a curadoria do conteúdo absorvido e a adaptabilidade.” – Conrado Scholchauer

A flexibilidade cognitiva é a capacidade da gente abrir mão de conceitos e teorias, para aderir a uma nova. E tomar decisões em um mundo volátil demanda muita criatividade. Você só consegue resolver um problema que nunca existiu se conseguir imaginar uma solução que nunca ninguém supôs, isso requer capacidade cognitiva criativa. Como aumentar isso? Com repertorio, vivências e a habilidade de estar efetivamente vivendo o presente – se permitindo ter raciocínios críticos a todo instante” – Matheus Lima

Quer saber mais sobre os interessantes insights de Scholchauer e Lima? Clique aqui.

Mais tarde, foi a vez de Guilherme Soárez, co-CEO da SingularityU Brazil, moderar o debate entre os chapters Diego Julidori, Filipe Braga Ivo e Vinícius Debian, sobre os chamados 12 grandes desafios globais, após o cenário de pandemia. Durante a conversa, os convidados fizeram um raio-x dos setores que podem revolucionar o futuro da economia, do meio-ambiente e da sociedade. Assim como as oportunidades de negócios para organizações com soluções inovadoras.

O primeiro grande desafio é o da energia, que se correlaciona com meio ambiente, fome, abrigo, espaço, água. E, depois, começamos a pensar nas necessidades sociais: resiliência, desastres, governança, saúde, educação, prosperidade e segurança. Essas são as necessidades que a Singularity quer direcionar seus esforços para colaborar na busca pela solução através da tecnologia, empreendedorismo e do indivíduo – que é o agente de transformação de tudo. Há 10, 20 anos, a gente achava que os grandes problemas do mundo seriam resolvidos pelos governos ou grandes corporações, nunca tinha a ver com a gente. Agora, é tudo com a gente!” – Filipe Braga Ivo

Como as pessoas podem se preparar para receber esse mundo novo? Como o aprendizado exponencial pode acontecer sem estarmos de fato preparados para receber e trabalhar os novos tipos de tecnologia? Esse é o desafio.” – Vinícius Debian

O primeiro mindset é: não existe receita de bolo, todos nós precisaremos nos adaptar. É necessário estar aberto a todo tipo de ideia, por mais irracional que ela pareça. Diz-se que o homem razoável se adapta ao mundo e o homem irracional tenta adaptar o mundo a si mesmo. Mas o progresso vai depender do homem irracional. Porque não vai ser pensando e fazendo as coisas do mesmo jeito que haverá evolução” – Diego Julidori

Você pode assistir a esse debate inspirador sobre cada um dos 12 desafios neste link.

No segundo dia de summit virtual, o gerente de conteúdo da HSM Thomaz Gomes moderou os chapters Anna Paula Graboski, Brenno Faro e Marcus Casaes. O encontro promoveu um debate sobre como a combinação entre empreendedorismo de impacto e tecnologias exponenciais pode ser usada para reverter momentos de escassez em cenários de prosperidade.

A melhor forma de se tornar um bilionário, é vendendo algo a $1 para 1 bilhão de pessoas. Esse é um pensamento trazido pelo Peter Diamandis dentro do conceito de abundância. E, qual mercado te permite vender um bilhão de qualquer coisa? Os mercados que se propõem a solucionar os grandes problemas do mundo. Fome, energia, água. É possível gerar resultado fazendo bem à cadeia produtiva, à descentralização de riqueza, gerando empregos, pagando acima da média de mercado, etc. É possível ter um negócio lucrativo. E o melhor jeito de fazer isso é através da resolução real de um problema. Se cada vez mais empresários olharem por essa ótica, teremos aí um caminho viável para um novo mundo” – Anna Paula Graboski

É necessário pensar um pouco para além do nosso ímpeto de atender às necessidades sem uma inteligência por trás. Um exemplo: havia demanda por máscaras. Pensamos se distribuir essas máscaras, fazendo apenas uma ponte entre doadores e pessoas que necessitavam desses itens, ajudaria. Ou se poderíamos fazer mais, conectando costureiras autônomas sem renda com pessoas precisando dos seus serviços. Nosso modelo conseguiu apoio da iniciativa porque acreditamos que a doação é uma ação isolada, mas criar uma mecânica por trás gira a economia. O dinheiro de doação é apenas um dinheiro. Em ações como a que propomos, a cada R$1 na nossa ação, R$3 são gerados na economia do país. Quando falamos de sustentabilidade, falamos de prosperidade, de meio ambiente… Assistencialismo é importante, mas não é isso que vai mudar o mundo” – Brenno Faro

É preciso entender que precisamos de negócios que superem os modelos B2C, B2B. Precisamos de negócios Human2Human. O propósito precisa vir. Para que você empreende? Que tipo de impacto sua empresa gera para a sociedade? Se ela fechar, que falta fará ao consumidor? O ser humano precisa ser o ponto focal” – Marcus Casaes

Você pode checar o papo entre Graboski, Faro e Casaes na primeira parte deste vídeo

No mesmo dia, ficou sob o comando do COO da SingularityU Brazil, Álvaro Machado, o debate sobre inovação de resultados. Os chapters Alexandre Uehara, Ana Beatriz Portela e Renato Cunha debateram sobre qual é a melhor estratégia para criar movimentos de transformação digital que atendam às demandas de empresas e pessoas, entre a urgência do momento e a oportunidade de disrupção.

Já se fala sobre transformação digital há um tempo. Muitos diziam que conheciam, que sabiam do que se tratava, mas em meio à pandemia, viram que dominar a teoria não é o mesmo que estar pronto. Acredito que o início de tudo deve ser na cultura da empresa, com as pessoas. Não adianta investir em transformação digital sem que os colaboradores estejam preparados e tenham aderido ao novo mindset.” – Alexandre Uehara

A transformação digital consiste na melhora do desempenho, aumento de alcance, atingimento de melhores resultados. Mas isso requer métodos. Transformação digital passa necessariamente por transformação cultural. Os processos, as diretrizes, as plataformas, tudo precisa estar muito alinhado para engajar as pessoas. Vamos trabalhar na era da coletividade mais que nunca” – Ana Beatriz Portela

Eu gosto muito da fala do Yurval Harari de que uma pandemia dá um fast forward na história. Temos acompanhado nos últimos 5 anos as pautas: revolução digital, inovação, propósito. Mas a pandemia coloca as coisas em um outro patamar e, de um dia para o outro, as resistências cessam. Entra em campo um senso de urgência, de sobrevivência. Estamos vivendo um momento histórico único, doloroso, mas que exige que nós, enquanto sociedade e organizações, que nos adaptemos rapidamente focando em eficiência e valores relevantes” – Renato Cunha

Esses e outros pensamentos sobre as transformações digitais pós-Corona vírus, você encontra na segunda parte deste vídeo