Imagine se você tivesse realmente que pensar antes de falar para selecionar as palavras? Isso não acontece porque o inconsciente trabalha em background o tempo todo durante as nossas conversas, fornecendo subsídios ao nosso consciente, nos ajudando a nos expressar. O mesmo acontece quando lemos um texto, por exemplo: o inconsciente transforma automaticamente os símbolos gráficos impressos na página em palavras, frases e ideias, e que a partir daí são transmitidas para a nossa consciência. O inconsciente se encarrega de tudo o que fazemos de maneira automática e silenciosa, diariamente.
O lado oculto da mente – o nosso inconsciente – tornou-se um dos temas mais interessantes da neurociência moderna. “O cérebro é abastecido pelos olhos, ouvidos e outros sentidos, e o inconsciente traduz tudo em imagens e palavras”, diz o psicólogo e neurocientista Ran Hassin, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e um dos autores do livro The New Unconscious (“O novo inconsciente”).
“As novas tecnologias da neurociência hoje possibilitam que os cientistas exponham uma realidade mental mais profunda, que esteve escondida durante toda a história prévia da humanidade”, argumenta o físico Leonard Mlodinow em seu livro “Subliminar – Como o inconsciente influencia nossas vidas”.
Será que nós experimentamos o mundo como ele realmente é ou como nós precisamos que ele seja? O tempo seria apenas uma ilusão?
O cientista Donald Hoffmansugere que só vemos relances da realidade. Isto significaria que a realidade, tal como a percebemos, pode somente ser uma pequena fração da verdadeira existência.
O mundo que chamamos de “físico” somente só se torna “realidade” depois que nossa consciência entra em contato com a sua “possibilidade de existir”, segundo as últimas descobertas relacionadas a física quântica.
E para reforçar ainda mais este conceito, pesquisadores australianos colocaram em prática o “Experimento de Escolha Demorada”, de John Wheeler, visando comprovar que tudo depende da atuação direta da nossa consciência para “existir” no mundo físico. A física quântica trata do “aqui e do agora”, e encontra-se até mesmo com a essência da humanidade, a nossa consciência. Como disse Andrew Truscott, o professor adjunto da Escola de Pesquisa Física e Engenharia da UNA, “em nível quântico a realidade não existe se você não está olhando para ela”.
E o resultado mais impressionante desta experiência, foi a comprovação de que mesmo aquilo que já aconteceu no passado, só é materializado e definido quando vier a ser medido no futuro. Até então, a realidade é apenas uma abstração.
Assim, muitas coisas que aconteceram ontem, no ano passado ou há milhões de anos atrás, continuam sendo até hoje pura abstração da realidade. Muitos eventos somente passarão a ser “realidade” e terão sua “essência” revelada em algum momento entre hoje e o futuro, quando estes mesmos eventos forem devidamente observados, medidos e analisados. A física quântica nos ensina que “o futuro pode mudar o passado”.
E o futuro? – A nossa capacidade individual de agir sem inteligência, em um universo tão inteligente, é algo que precisa ser revisto. As ideias certas surgem rapidamente em nossa consciência, e a revelação de novas ideias (insights) são uma constante do nosso processo mental. Então pensar um pouco mais à frente daquilo que já é previsível, não seria uma questão de desenvolvermos um olhar sobre o futuro considerando novas possibilidades?
Muitas descobertas e invenções cientificas se deram por meio de insights e compreensões inesperadas, em momentos em que seus autores não estavam concentrados em seus problemas tentando resolvê-los diretamente pelo método racional e consciente. Quer um bom exemplo? A lei da gravidade de Newton “nasceu” quando ele observou uma maçã caindo ao chão. Inesperado não?
Nenhuma grande descoberta na história se baseou em teorias obvias e plausíveis. Gênios como Leonardo da Vinci, chegaram a ser considerados loucos por muitos. No caso de Da Vinci, boa parte de seus inventos ainda não conseguiram ser superados, e alguns deles ainda não foram colocados em prática até hoje por falta de capacidade.
E alguns proféticos contemporâneos também deixaram a sua “marca”, como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. Os textos deste último, inclusive, já chegaram a ser ridicularizados, mas é impressionante o grau de assertividade deste incrível escritor e inventor britânico. Segundo Clarke, “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”.
Para se ter uma ideia do quão genial Clarke era, a Samsung se defendeu de uma acusação de quebra de patentes e infração de direitos intelectuais feita pela Apple em relação ao Ipad usando-o suas previsões como referência. Segundo a fabricante sul-coreana a ideia dos tablets já estava presente no clássico cinematográfico “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, baseado no seu conto The Sentinel, publicado em 1951, e que inspirou o filme de Stanley Kubrick na produção da obra. Clarke participou ativamente como consultor durante as filmagens, dando seus palpites e deixando um filme, realizado na década de 60, tão atual até mesmo em tempos como os nossos (confira abaixo a cena do filme que mostra a equipe da nave utilizando uma espécie de tablet, muito próximo aos modelos atuais).
E ainda temos Asimov, um dos mais célebres e influentes autores de ficção científica do último século. Dentre muitas de suas previsões, chegou a escrever sobre um tal computador de bolso em um conto de 1957, chamado “Sensação de Poder”. O escritor do futuro, que teve um asteroide batizado com o seu nome em 1981, também previu que sofreríamos por problemas causados pela “superpopulação” do planeta, graças aos avanços significativos da medicina. Segundo ele “O uso de aparelhos capazes de substituir o coração e outros órgãos vai elevar a expectativa de vida, em algumas partes do planeta, a 85 anos de idade”. E não é que cientistas israelenses conseguiram imprimir um coração em 3D, com vasos sanguíneos e ventrículos?
As previsões não são um ato de mágica, e muito menos não são adivinhações do futuro. Você não pode fazer isso, ninguém pode fazer isso! O motivo? Porque a natureza humana tem o livre arbítrio, e cria trilhões de decisões livres diariamente. Não há futuro “conhecido”, mas há um grande número de potenciais caminhos baseados nas decisões que escolhemos seguir… todos os dias.
Vinicius Debian – Empreendedor, Podcaster at “Faça Parte do Futuro” e Embaixador do capítulo da SingularityU Betim. Tem se dedicado nos últimos anos a ajudar pessoas a criarem futuros possíveis e desejáveis.
Já se passaram mais de 50 anos desde as missões Apollo, quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram as primeiras pessoas a andar na lua, em 1969. Tanto a NASA quanto a administração atual decidiram que é hora de as pessoas andarem na lua novamente – desta vez não serão apenas homens.
A linha do tempo mudou algumas vezes – a NASA inicialmente definiu uma meta para 2028, com o então vice-presidente Pence pedindo à agência que adiantasse para 2024. 2024 agora parece improvável, apesar de Pence ter pedido à NASA para cumprir o prazo “por todos os meios necessários”.
Embora seja incerto quando os americanos pisarão na lua novamente, em breve haverá alguma certeza sobre como eles farão isso, já que a NASA escolherá um novo projeto de sonda em fevereiro. No momento, os outros componentes para uma missão lunar já foram escolhidos: o Sistema de Lançamento Espacial será o foguete mais poderoso que a agência já construiu, e a espaçonave Orion existe desde o início das missões Constellation em 2005. Mas a NASA quer um módulo lunar atualizado, o veículo que os astronautas usarão para deixar a espaçonave e efetivamente pousar na lua.
Em abril de 2020, a agência concedeu um total de US$ 967 milhões em contratos para três empresas privadas diferentes, dando a elas menos de um ano para criar um projeto de lander. Agora está quase na hora de escolher e aqui estão os candidatos.
Blue Origin Mais conhecida por seu fundador Jeff Bezos, a Blue Origin está trabalhando em uma sonda de três estágios chamada Blue Moon. E não está trabalhando sozinha – a empresa fez parceria com Draper, Lockheed Martin e Northrop Grumman para vários componentes do módulo de pouso. Seu design lembra o módulo de pouso usado nas missões Apollo; tem um estágio de descida para trazer o módulo de pouso para a superfície da lua, um estágio de ascensão para transportar os astronautas de volta para a nave espacial e um estágio de transferência para mover os estágios de subida e descida da órbita lunar alta para a órbita lunar baixa.
A cabine vertical da tripulação exigiria que os astronautas descessem à superfície da lua em uma longa escada, o que poderia ser visto como uma vantagem porque a tripulação fica mais segura estando no alto.
Dynetics Provavelmente a menos conhecida das três empresas, a Dynetics é uma empresa de TI com sede no Alabama e há muito tempo é uma contratada da NASA e do Departamento de Defesa. Embora todos os módulos de pouso possam ser reabastecidos na lua, a Dynetics depende do reabastecimento no espaço usando propelentes criogênicos. O módulo de pouso seria lançado com tanques de propelente vazios e, uma vez que estivesse em órbita lunar, mais dois foguetes seriam lançados para transportar o propulsor para o módulo de pouso. A Dynetics mitigaria o problema de “fervura”, em que o aquecimento faz com que parte do propelente seja perdida, fazendo os dois lançamentos de combustível com intervalo de duas a três semanas.
Ao contrário do módulo de pouso de três peças da Blue Origin, a Dynetics é um módulo único com propulsores e tanques de propelente em ambos os lados. É projetado especificamente para ser reutilizável na exploração lunar e é o único dos três com uma cabine de tripulação horizontal. A cabine em forma de barril daria aos astronautas um acesso mais rápido e fácil à superfície da lua e mais espaço dentro da própria cabine.
SpaceX Agora um nome familiar, a SpaceX de Elon Musk está projetando, talvez sem surpresa, o maior e mais chamativo módulo lunar. É tão alto que os astronautas usariam um elevador para ir da cabine da tripulação até a superfície da lua. Ela tem o mesmo nome da famosa nave espacial da empresa, Starship, mas com algumas modificações.
Para começar, os motores Raptor normalmente usados na Starship são poderosos demais para pousar na lua. A nave será equipada com propulsores mais leves para facilitar a entrada e saída da superfície do planeta e não terá os flaps e escudo térmico necessários para retornar à atmosfera terrestre.
Como o módulo de pouso Dynetics, a Starship precisará ser reabastecida enquanto estiver em órbita, mas fará isso na órbita terrestre em vez da lunar. O tamanho comparativamente grande do módulo de pouso pode ser vantajoso porque ele pode transportar não apenas os astronautas, mas uma carga útil como rovers a bordo.
Ainda esta semana, a Intuitive Machines anunciou que selecionou a SpaceX para lançar suas duas missões comerciais de carga útil para a lua em um foguete Falcon 9 em 2022 ou mais tarde.
Uma nova missão Entre a China pousando no outro lado da lua em 2019 e os EUA pagando à Rússia US$ 90 milhões para transportar astronautas americanos para a Estação Espacial Internacional (até que a SpaceX assumiu recentemente), parece que os EUA precisarão se mexer para a corrida espacial em curso.
O programa Artemis da NASA será o núcleo de seus voos espaciais e empreendimentos de exploração na próxima década, cobrindo a órbita baixa da Terra, a lua e Marte. Na mitologia grega, Artemis era a irmã gêmea de Apollo, que deu nome às primeiras missões lunares; A NASA escolheu o nome Artemis como um gesto de inclusão, com a intenção de levar a primeira mulher à lua.
O novo presidente Joe Biden tem muito para lidar: pandemia, uma economia dizimada e outras questões que fizeram de 2020 um ano devastador. O programa espacial pode acabar ficando por último em sua lista de prioridades, especialmente a curto prazo. Mas a viagem norte-americana à lua é uma realidade – e em breve saberemos como os EUA pousarão nela.
A estrela da China vem subindo há décadas. Além de reduzir as taxas de pobreza extrema de 88% para menos de 2% em apenas 30 anos, o país se tornou uma potência global em manufatura e tecnologia. Seu ritmo de crescimento pode diminuir devido ao envelhecimento da população, mas a China é, ainda assim, um dos maiores players do mundo em vários campos de tecnologia de ponta.
Um desses campos, e talvez o mais significativo, é a inteligência artificial. Em 2017, o governo chinês anunciou um plano para se tornar líder mundial em IA até 2030 e, desde então, despejou bilhões de dólares em projetos e pesquisas de IA na academia, governo e indústria privada. O fundo de capital de risco do governo está investindo mais de US$ 30 bilhões em IA; a cidade de Tianjin, no nordeste, orçou US$ 16 bilhões para o avanço da IA; e um parque de pesquisa de IA de US$ 2 bilhões está sendo construído em Pequim.
Além desses enormes investimentos, o governo e as empresas privadas na China têm acesso a uma quantidade sem precedentes de dados sobre tudo, desde a saúde dos cidadãos até o uso de smartphones. WeChat, um aplicativo multifuncional onde as pessoas podem bater papo, namorar, enviar pagamentos, ler notícias e muito mais, dá ao CCP acesso total aos dados do usuário mediante solicitação; como disse um jornalista da BBC, o WeChat “está à frente do jogo no cenário global e encontrou seu caminho em todos os cantos da existência das pessoas. Isso pode entregar ao Partido Comunista um mapa da vida de quase todos no país, cidadãos e estrangeiros”. E essa é apenas uma (embora grande) fonte de dados.
Muitos acreditam que esses fatores estão dando à China um grande avanço no desenvolvimento de IA, até mesmo proporcionando impulso suficiente para que seu progresso ultrapasse o dos Estados Unidos.
Mas a IA é mais do que dados, e há mais progresso do que investir bilhões de dólares. Analisar o potencial da China para se tornar um líder mundial em IA – ou em qualquer tecnologia que exija inovação consistente – de vários ângulos fornece uma imagem mais matizada de seus pontos fortes e limitações. Em um artigo de junho de 2020 na Foreign Affairs, os bolsistas de Oxford, Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, argumentaram que as grandes vantagens da China podem não ser tão vantajosas no longo prazo – e suas limitações podem ser muito limitantes.
Para se ter uma ideia de quem provavelmente assumirá a liderança em IA, pode ser útil considerar primeiro como a tecnologia avançará além de seu estado atual.
A IA está um pouco presa no momento. Algoritmos e redes neurais continuam a alcançar novos e impressionantes feitos – como o AlphaFold da DeepMind prevendo estruturas de proteínas com precisão ou o GPT-3 da OpenAI escrevendo artigos convincentes com base em prompts curtos – mas na maioria das vezes os recursos desses sistemas ainda são definidos como inteligência estreita: completando um tarefa específica para a qual o sistema foi meticulosamente treinado com dados.
(É importante notar aqui que alguns especularam que o GPT-3 da OpenAI pode ser uma exceção, o primeiro exemplo de inteligência de máquina que, embora não seja “geral”, ultrapassou a definição de “estreito”; o algoritmo foi treinado para escrever textos, mas acabou sendo capaz de traduzir entre idiomas, escrever código, preencher imagens automaticamente, fazer matemática e realizar outras tarefas relacionadas à linguagem para as quais não foi especificamente treinado. No entanto, todos os recursos do GPT-3 são limitados às habilidades aprendidas na linguagem domínio, seja fala, escrita ou linguagem de programação).
O sucesso de AlphaFold e GPT-3 deveu-se em grande parte aos enormes conjuntos de dados em que foram treinados; nenhum método ou arquitetura de treinamento revolucionário foi envolvido. Se tudo o que fosse necessário para o avanço da IA fosse uma continuação ou ampliação desse paradigma – mais dados de entrada geram maior capacidade – a China poderia muito bem ter uma vantagem.
Mas um dos maiores obstáculos que a IA precisa superar para avançar aos trancos e barrancos, em vez de passos de bebê, é precisamente essa dependência de dados extensos e específicos de tarefas. Outros desafios significativos incluem a abordagem rápida da tecnologia aos limites do poder de computação atual e seu imenso consumo de energia.
Assim, embora o tesouro de dados da China possa lhe dar uma vantagem agora, pode não ser muito um ponto de apoio de longo prazo na escalada para o domínio da IA. É útil para construir produtos que incorporam ou dependem da IA de hoje, mas não para subir a régua de como os sistemas artificialmente inteligentes aprendem. Os dados do WeChat sobre os hábitos de consumo dos usuários, por exemplo, seriam valiosos na construção de uma IA que ajuda as pessoas a economizar dinheiro ou sugere itens que elas podem querer comprar. Ele possibilitará (e já possibilitou) produtos altamente personalizados que renderão muito dinheiro aos seus criadores e às empresas que os utilizam.
Mas a quantidade de dados não é o que vai promover a IA. Como Frey e Osborne colocaram: “A eficiência dos dados é o Santo Graal de um maior progresso na inteligência artificial”.
Para isso, equipes de pesquisa na academia e na indústria privada estão trabalhando maneiras de tornar a IA menos sedenta por dados. Novos métodos de treinamento como one-shot learning e less-than-one-shot learning começaram a surgir, junto com uma miríade de esforços para fazer uma IA que aprenda mais como o cérebro humano.
Embora não sejam insignificantes, esses avanços ainda se enquadram na categoria de “passos de bebê”. Ninguém sabe como a IA vai progredir além desses pequenos passos – e essa incerteza, na opinião de Frey e Osborne, é um grande obstáculo no caminho rápido da China para o domínio da IA.
Como a inovação acontece Muitas grandes invenções aconteceram por acidente, e algumas das empresas mais bem-sucedidas do mundo começaram em garagens, dormitórios ou em circunstâncias de baixo orçamento, indefinidas (incluindo Google, Facebook, Amazon e Apple, para citar alguns).
Frey e Osborne argumentam que, embora a China tenha grandes reservas de talentos e uma história de construção de tecnologias concebidas em outros lugares, ainda não tem um histórico brilhante em termos de inovação. Eles observam que das 100 patentes mais citadas de 2003 até o presente, nenhuma veio da China. Os gigantes Tencent, Alibaba e Baidu são todos extremamente bem-sucedidos no mercado chinês, mas estão enraizados em tecnologias ou modelos de negócios que saíram dos Estados Unidos e foram ajustados para a população chinesa.
“As sociedades mais inovadoras sempre foram aquelas que permitiram às pessoas perseguir ideias controversas”, escrevem Frey e Osborne. A forte censura da China à internet e a vigilância dos cidadãos não encorajam a busca de ideias controversas. O sistema de crédito social do país recompensa quem segue as regras e pune quem sai da linha. Frey acrescenta que a execução de cima para baixo da solução de problemas é eficaz quando o problema em questão está claramente definido – e os próximos grandes saltos na IA não são.
É discutível o quão fortemente uma cultura de conformismo social pode impactar a inovação tecnológica e, claro, pode haver exceções. Mas um exemplo histórico relevante é a União Soviética, que, apesar dos pesados investimentos em ciência e tecnologia que rivalizaram brevemente com os EUA em campos como energia nuclear e exploração espacial, acabou ficando muito para trás principalmente devido a fatores políticos e culturais.
Da mesma forma, o foco da China em ciência da computação em seu sistema educacional pode dar uma vantagem, mas, como Frey diz, “Os melhores alunos não são necessariamente os melhores pesquisadores. Para ser um bom pesquisador, também é necessário ter novas ideias ”.
O vencedor leva tudo? Além da questão de a China ser capaz ou não de alcançar o domínio da IA, há a questão de como usará sua tecnologia. Várias das maneiras como a China já implementou a IA podem ser consideradas moralmente questionáveis, desde sistemas de reconhecimento facial usados agressivamente contra minorias étnicas até óculos inteligentes para policiais que podem obter informações sobre quem o usuário olha.
Isso não quer dizer que os EUA usariam IA para fins puramente éticos. O Projeto Maven dos militares, por exemplo, usou algoritmos de inteligência artificial para identificar alvos insurgentes no Iraque e na Síria, e as agências policiais americanas também estão usando sistemas de reconhecimento facial (principalmente não regulamentados).
É concebível que o “domínio” na IA não vá para um país; cada nação pode atingir marcos de maneiras diferentes ou cumprir marcos diferentes. Pesquisadores de ambos os países, pelo menos na esfera acadêmica, poderiam (e provavelmente irão) continuar a colaborar e compartilhar seu trabalho, como fizeram em muitos projetos até agora.
Se um país assumir a liderança, certamente verá algumas vantagens importantes como resultado. Indermit Gill, do Instituto Brookings, chega a dizer que quem quer que lidere a IA em 2030 vai “governar o mundo” até 2100. Mas Gill aponta que, além de considerar os pontos fortes de cada país, devemos considerar o quão dispostos eles estão para melhorar suas fraquezas.
Enquanto a China lidera em investimentos e os EUA em inovação, as duas nações estão lutando contra enormes desigualdades econômicas que podem impactar negativamente a adoção de tecnologia. “As atitudes em relação à mudança social que acompanha as novas tecnologias são tão importantes quanto as tecnologias, apontando para a necessidade de políticas complementares que moldam a economia e a sociedade”, escreve Gill.
A liderança da China estará disposta a relaxar seu controle para promover a inovação? O ambiente de negócios dos EUA será suficiente para competir com as vantagens de dados, investimentos e educação da China? E os dois países podem encontrar uma maneira de distribuir os benefícios econômicos da tecnologia de forma mais equitativa?
O tempo dirá, mas parece que temos muito trabalho para nós – e a China também.
As preocupações sobre os riscos do 5G à saúde são generalizadas, mas não têm base em fatos. Duas preocupações principais vêm sendo difundidas, ambas relacionadas à radiação da tecnologia.
A teoria mais repercutida é que o 5G causa câncer. A segunda é que a radiação emitida enfraquece o sistema imunológico, permitindo que a COVID-19 se espalhe. Mas seguindo a pesquisa da Deloitte, que mostraremos ao longo do conteúdo, esses medos são exagerados.
E ainda sobre ela, embora os impactos sejam mínimos, em 2020, 1 em cada 5 entrevistados em seis dos 14 países pesquisados concordaram com a declaração “Eu acredito que há riscos para a saúde associados ao 5G”.
Pensando nisso, é importante desvendar os mitos do 5G e mostrar como essa tecnologia pode ser mais positiva do que se pensa. Vamos mostrar como ela funciona, quais são os seus benefícios e, claro, responder às principais dúvidas sobre esses ditos perigos na saúde.
O 3G e o 4G vão acabar por causa do 5G?
Não de forma imediata. Algumas falsas informações sobre o 5G acabam gerando outros mitos. A nova geração da tecnologia de rede móvel não vai substituir as redes anteriores automaticamente.
Ou seja, essas redes vão continuar existindo e coexistindo com a 5G por um considerável tempo. Para que elas deixassem de existir, seria necessário que todos os aparelhos eletrônicos migrassem para a nova telefonia móvel, o que, naturalmente, vai demorar vários anos.
Isso acontece porque, além da migração de todos os dispositivos, é necessário que a estrutura das redes seja adequada para a nova geração. Resumindo: são muitos fatores envolvidos para que isso realmente aconteça.
Como o 5G funciona?
O 5G é considerado uma evolução do 4G. A grande diferença é a velocidade, que será de 10 a 20 vezes maior em relação à banda larga anterior.
A rede 5G tem como principal objetivo garantir que o aumento global no uso de dispositivos sem fios não sobrecarregue as redes atuais. Tudo isso considerando o gigantesco volume de informações trocadas todos os dias.
Sendo assim, uma evolução essencial dessa nova geração é a conexão de objetos à internet — relação direta com Internet das Coisas (IoT) —, graças à conexão 5G “standalone” (SA) ou “autossuficiente”, que será a solução final dessa migração.
De celulares a semáforos, muita coisa poderá ser ligada ao 5G com uma conexão ainda melhor que a 4G. Tudo isso já pode ser ligado a ela, mas é esperada uma melhoria considerável na conexão.
Funcionamento da 5G no Brasil
No entanto, é importante salientar que, no contexto brasileiro, há duas entraves que podem dificultar essa velocidade em todo seu potencial.
Em primeiro lugar, isso acontece pela disponibilidade de infraestrutura para isso. No Brasil, assim como na maioria dos países, o suporte vai até o padrão sub-7 — opera em frequências de até 7 GHz.
Contudo, o 4G opera acima de 24 GHz, logo o alcance é bem pequeno, o que vai demandar mais antenas para ampliar a cobertura.
O segundo aspecto é que o processador do celular também interfere na velocidade. Modelos de celulares 5G com preços baixos vão ter um processador de baixo custo. Isso, por sua vez, não vai permitir, por exemplo, abrir as páginas da internet na maior velocidade possível.
Quando o 5G chega ao Brasil?
O 5G está chegando no Brasil de maneira gradativa. A primeira capital a ter oferta a quinta geração de internet móvel foi Brasília, em julho de 2022.
Além dela, outros municípios que também já foram contemplados, como Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP).
No entanto, há mais de 200 cidades com a legislação atualizada para a instalação de antenas da quinta geração de internet móvel.
Em relação ao prazo, para todas as cidades do Brasil que possuem mais 30 mil habitantes, a data limite de implantação é julho de 2029, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Alguns critérios pelo GSMA, organização do setor que representa os interesses das operadoras de rede móvel, para guiar o processo de implantação das redes 5G são:
redes 5G devem consumir até 90% menos energia que as redes 4G atuais;
tempos de conexão entre aparelhos móveis devem ser inferiores a 5 milissegundos em relação aos 30 ms das redes 4G;
quantidade de aparelhos conectados por área deve ser 50 a 100 vezes maior que o atual;
dispositivos rádio receptores devem ter aumentos drásticos na duração da bateria.
Será necessário mudar todos os equipamentos por causa do 5G?
Assim como o 4G não vai acabar imediatamente, também não vai ser necessário trocar de celular se ele não possui suporte ao 5G de forma instantânea.
O seu aparelho atual vai continuar funcionando sem problemas, mas para tirar proveito da nova geração, vai ser preciso, eventualmente, comprar um dispositivo compatível mais recente nos próximos anos.
A boa notícia é que a migração não deve ser tão difícil para o usuário final. É provável que, se você comprar um smartphone novo nos próximos anos, ele já esteja preparado para o 5G. Ou seja, o usuário não precisa fazer nada além disso.
Quais são os principais benefícios do 5G?
O principal benefício do 5G está associado à própria criação dele: trazer uma maior velocidade no uso da internet. Sendo assim, além da Internet das Coisas, como falamos, vamos mostrar outras vantagens de adotar essa nova tecnologia nos próximos tópicos. Acompanhe!
Melhor tempo de processamento de downloads
Uma das principais promessas do 5G é a de que permitirá downloads e uploads de arquivos bem mais rápidos. Como a velocidade de conexão é bem maior, isso significa que os processamentos ficarão mais ágeis.
Isso se deve à mudança no processo: ao invés dos atuais sistemas empacotarem os dados para enviar, o 5G os “divide” em vários pedaços e os envia de forma paralela.
Dessa forma, a velocidade aumenta consideravelmente. A ideia é que a nova geração consiga processar até 20 GB em 1 e 2 milissegundos.
Baixa latência com comunicação em tempo real
Outra grande vantagem ligada à questão da velocidade é a de que o 5G consegue estabelecer uma comunicação em tempo real. Isso se dá devido a latência baixa, que consegue se adequar ao rápido tempo de resposta humano.
Ele vai permitir, portanto, comunicações sem atraso. Dessa forma, será possível assistir a vídeos e conversar em tempo real sem perder qualquer tipo de informação. Isso dá margem para muitas coisas, como a comunicação entre veículos autônomos, trazendo mais segurança.
Além disso, as operações de cirurgias à distância no Japão podem acontecer em tempo real nos Estados Unidos, por exemplo. E até mesmo simples navegação na internet vão ser favorecidas, pois, muitos sites dependem de diversos servidores.
Economia no consumo de energia dos aparelhos
Por fim, a 5g também vai ser mais econômica em relação à energia dos aparelhos. Isso significa que, como a rede é mais eficiente, o celular não precisará ficar tanto tempo “trabalhando” para se conectar à internet e vai gastar menos bateria.
A expectativa é que os dispositivos rádio receptores tenham aumentos drásticos na duração da bateria. Assim, os celulares poderão ficar ligados por mais tempo sem a necessidade de recarregá-los.
Como efeito disso, essa inteligência da nova banda larga também vai ser positiva para o meio ambiente, afinal, menos baterias descartáveis serão produzidas e descartadas.
Quais são os perigos do 5G?
Chegamos agora a um ponto crucial sobre os mitos do 5G. Como já falamos, há muitas preocupações desnecessárias sobre a saúde em relação a essa nova tecnologia, principalmente associada à radioatividade, sendo atribuída ao câncer e ao covid-19.
No entanto, como mostra essa pesquisa da Deloitte sobre 5G e riscos radioativos, é muito improvável que a radiação de redes móveis e telefones dessa geração afete a saúde de qualquer indivíduo.
No entanto, o relatório da Deloitte descobriu que entre 10% e 20% dos adultos em muitas economias avançadas irão equivocadamente equiparar 5G com um possível dano à saúde.
Por isso, nos próximos tópicos vamos detalhar mais esses aspectos para desmistificar o tema.
Radioatividade e internet móvel: o 5g faz mal à saúde?
O alto nível de preocupação sobre os impactos do 5G na saúde podem acontecer devido a uma simples confusão de terminologia.
Supõe-se que a radiação envolve radioatividade, mas esse não é necessariamente o caso. A confusão surge porque as palavras “radiação” e “radioatividade” foram combinadas, algo persiste desde o lançamento das bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Como resultado desses eventos, bem como de incidentes em várias centrais nucleares nos últimos 75 anos, o termo “radiação” é erroneamente associado à destruição em grande escala.
Na mesma linha, “radiação” — na realidade, radioatividade — também está associada ao câncer, reforçando a conotação da palavra a perigo mortal.
O ponto aqui é que a radiação não é inerentemente radioativa. A definição literal de radiação consiste em qualquer processo pelo qual um objeto emite energia, que viaja através de um meio e é absorvida por outro objeto.
A radiação, portanto, abrange vários processos do dia a dia para os quais a maioria das pessoas não dedica um momento de consideração. Em nossa vida diária, a maioria de nós está regularmente exposta a vários tipos de radiação, mais comumente na forma de luz solar.
Por esta definição, o 5G gera radiação, mas em níveis muito seguros, e nada disso é radiação radioativa.
As faixas de frequência dentro das quais o 5G opera provavelmente estarão bem dentro de parâmetros seguros e durante a vida útil do 5G, que pode se estender por duas décadas.
Dúvidas frequentes sobre os riscos do 5G
A seguir, vamos trazer uma série de explicações sobre os reais riscos do 5G para o ser humano. Acompanhe!
O 5G causa câncer?
As ondas de rádio geradas por redes móveis, estações de TV e estações de rádio são inócuas.
No espectro amplo (conhecido como espectro eletromagnético) em que existe radiação, as ondas de rádio caem na extremidade de baixa frequência e energia muito baixa.
Essa radiação às vezes é chamada de radiação não ionizante. Isso contrasta com os raios X, raios gama e alguns tipos de luz ultravioleta, que caem na extremidade de alta frequência e energia muito alta.
Esses tipos de radiação são chamados de radiação ionizante, assim chamada porque tem energia suficiente para danificar o DNA removendo elétrons dos átomos, podendo levar ao câncer.
Uma preocupação comum, que remonta a décadas, é o risco de câncer no cérebro e na pele, pelo uso de telefones celulares. No entanto, essa preocupação não se justifica.
Um estudo de 2019 sobre o uso de telefones celulares e a incidência de tumores cerebrais na Austrália não encontrou aumento desde os anos 1980.
Os pesquisadores analisaram os períodos 1982–1992, 1993–2002 e 2003–2013, que cobriram a introdução do celular analógico 1G, 2G, 3G e o início do 4G.
A conclusão foi que “não houve aumento em nenhum tipo de tumor cerebral, incluindo glioma e glioblastoma, durante o período de uso substancial de telefones celulares de 2003 a 2013.”
Quanto ao câncer de pele, uma revisão de 2018 de estudos médicos realizados entre 1995 e 2017 relatam que “avaliações gerais mostraram que os efeitos da radiação do telefone celular nas doenças de pele são fracos e não têm significância estatística.”
Esses estudos de câncer de pele sozinhos compreenderam dados de 392.119 indivíduos — uma amostra muito grande.
O 5G é seguro?
O 5G foi projetado para usar menos energia do que as gerações anteriores para reduzir os custos operacionais; como resultado, ele também emite menos energia.
Isso é realizado por meio do novo rádio avançado e da arquitetura central usada no padrão 5G, com redes 5G auxiliando os dispositivos a minimizar os níveis de transmissão de energia.
As estações base 5G também podem ser colocadas em modo de espera quando não há usuários ativos (por exemplo, à noite). Esse recurso não está disponível em redes 4G, que transmitem sinais de controle mesmo quando não há usuários no alcance.
5G também incorpora uma técnica conhecida como beamforming, uma abordagem que envolve direcionar um feixe estreito de ondas de rádio para o dispositivo do usuário (como um smartphone).
Este método é equivalente a direcionar um feixe de luz de uma lanterna de bolso em um alvo, focalizando as ondas de rádio no dispositivo.
O método não só permite velocidades de conexão mais altas, mas também leva a uma menor exposição às ondas de rádio do que as gerações de rede anteriores. Em suma,: ele se torna mais seguro.
O 5G é responsável pela proliferação da covid-19?
Um mito sobre o impacto do 5G na saúde que foi amplamente disseminado em 2020 é a associação fictícia entre o lançamento do 5G e a disseminação da COVID-19.
Mas a ideia de que o 5G transmite COVID-19 é tão falsa quanto impossível. Esse vírus é transmitido por gotículas respiratórias de outras pessoas, ou seja, não viaja por ondas de rádio.
Uma variante da desinformação do 5G relacionada ao COVID-19 é que o 5G emite radiação que enfraquece o sistema imunológico das pessoas, tornando-as mais suscetíveis a doenças. Isso também é falso.
Uma pesquisa do Ofcom no final de junho de 2020 descobriu que 29% dos entrevistados encontraram informações falsas ou enganosas sobre a COVID-19 na semana anterior.
O tópico mais comum, visto por 21% dos entrevistados, foi “teorias que ligam as origens ou causas da tecnologia COVID-19 à 5G”.
A desinformação sobre o 5G foi ainda mais prevalente no início do ano: uma pesquisa Ofcom realizada de 10 a 12 de abril de 2020, descobriu que 50% dos entrevistados haviam visto declarações falsas ou enganosas sobre o 5G.
A boa notícia é que essas pessoas reconheceram a desinformação como tal. A má notícia é que a maioria (57%) daqueles que viram o que consideraram desinformação nada fizeram a respeito.
O que esperar sobre o 5G?
A pesquisa da Deloitte também mostra que a compreensão dos benefícios do 5G é baixa em vários mercados, com até dois terços dos adultos afirmando que não sabiam o suficiente sobre o 5G em meados de 2020.
Entre as mulheres, a proporção é ainda maior, chegando a três quartos. A falta de compreensão também atinge o pico entre os usuários mais velhos.
Operadoras móveis, provedores de telefones celulares, reguladores de telecomunicações, e órgãos de comunicação do governo podem, juntos, conter a vasta onda de desinformação sobre a tecnologia.
Empresas individuais e reguladores também podem trabalhar para restringir a capacidade de compartilhar informações incorretas, apesar do impacto comercial que isso possa ter.
Uma abordagem proativa e reativa seria ideal, devendo ser projetada para todos os tipos de usuários, não apenas aqueles com formação científica. E a desinformação precisaria ser minada com informações de calibre semelhante.
Refutações a reivindicações falsas devem ser expressas usando canais e linguagem semelhantes. A desinformação espalhada por indivíduos bem conhecidos deve ser combatida com informações de indivíduos bem conhecidos.
Pode não ser possível persuadir a todos de que o 5G é seguro. É provável que haja um nicho — talvez menos de 1% da população — que permanecerá convencido não apenas de que as tecnologias sem fio são prejudiciais, mas que a intenção é causar danos.
No entanto, ainda assim, deve-se esperar que essa visão negativa sobre o 5G em maior número se transforme, principalmente com a popularização da tecnologia entre os usuários.
Conclusão
Como vimos ao longo do texto, a tecnologia 5G é uma evolução da 4G, oferecendo diversos benefícios, como menor tempo para processamento de downloads, maior latência para comunicação em tempo real e menor gasto de energia.
No entanto, diferente do que se pensa, a radiação dentro desses parâmetros não aumenta significativamente o risco de câncer e também não enfraquece o sistema imunológico, o que não contribuiu para a disseminação de COVID-19.
Por essa razão, é fundamental acabar com os mitos do 5G e mostrar que ela será uma substituição positiva a longo prazo da internet móvel que usamos atualmente.
Entender as tecnologias é fundamental para que empresas possam adotá-las de forma adequada e seus funcionários possam tirar o melhor proveito delas.
Com a chegada de 2021, o bitcoin entra em nova fase, uma que converge os mercados tradicionais com os criptográficos. De acordo com um artigo da Fast Company, a moeda já atingia novos níveis de interesse entre investidores e instituições financeiras no último trimestre de 2020.
Aqui estão alguns exemplos dessa convergência selecionados pelo veículo:
Está ficando mais fácil comprar e vender. Aplicativos especializados em negociação de bitcoins continuam a melhorar em termos de facilidade de uso, mas agora também é possível negociar a moeda em ferramentas financeiras mais convencionais – que muitas pessoas já usam. O Cash App da Square permite que os usuários comprem e vendam bitcoin, e o PayPal fez o mesmo em novembro, dizendo que permitirá que as pessoas paguem com bitcoin, comprem e vendam através do Venmo.
Nos EUA, até mesmo bancos locais poderão em breve ajudá-lo (ou seus pais e avós) a entrar em bitcoin. Como relata o The New York Times, o Escritório de Controladoria da Moeda dos EUA (OCC) disse que os bancos nacionais poderiam custodiar ativos criptográficos. Foi um grande negócio porque, caso os bancos nacionais passassem a oferecer esse serviço, os investidores poderiam, em teoria, pedir à sua instituição habitual que custodiasse todos os seus haveres, sejam eles ações, títulos ou criptografia. Muito mais fácil. Remoção de uma grande barreira ao investimento em criptografia.
As empresas estão aderindo e bulls de alto perfil, como os gêmeos Winklevoss, há muito apoiam a moeda. Grandes investidores de dinheiro, como o chefão dos fundos de hedge Paul Tudor Jones e empresas de capital aberto como a Square, estão colocando publicamente alguns de seus ativos em bitcoin, de acordo com o Times.
Pelo menos em termos de interesse do investidor, o bitcoin parece ter superado outras criptomoedas. A onda de lançamentos de moedas que foram vistas (e, em alguns círculos, ridicularizadas) há alguns anos diminuiu, e mesmo moedas alternativas de longa data, como Litecoin e aquelas associadas a Ethereum e Ripple, ainda estão abaixo de seus máximos, de acordo com CoinDesk. Isso significa que os investidores que buscam entrar em criptografia podem estar mais propensos a simplesmente escolher o bitcoin líder de mercado.
Em um momento de incerteza, os investidores procuram uma versão digital do ouro. Como a pandemia de coronavírus continua a remodelar a economia e os bancos centrais reduzem as taxas de juros para estimular os gastos, alguns investidores vêem o bitcoin como um porto seguro análogo aos metais preciosos, relata a Bloomberg. Isso é verdade entre os jovens investidores comuns e até operações de investimento de famílias ricas, de acordo com um relatório recente de analistas do JP Morgan.
De acordo com o veículo especializado CoinDesk, embora ainda hajam muitos obstáculos a serem superados e muitas outras leis e orientações regulatórias sejam necessárias, estamos tendo uma ideia de como será o financiamento de amanhã.
Blockchains e ativos criptográficos desempenham um papel significativo no quadro emergente, que mostra muito mais do que preços crescentes e alocações de portfólio. Ele esboça uma nova maneira de fazer transações, algo que eventualmente afetará a todos nós.
Uma das principais dificuldades das empresas iniciantes de base tecnológica ou não, as startups, é de encontrar um modelo de negócios que segundo definição do guru de empreendedorismo e inovação Steve Blank cita, seja “(…) escalável, repetitivo e lucrativo”
Contudo, crescer rapidamente, atingir curvas exponenciais de Retorno sobre Investimento (Return over Investment, ROI) ou ainda Retorno sobre o Patrimônio (Retorno on Equity, ROE) exige um maçante estudo e teste de mercado, a fim de mitigar os erros de produto, conceito e propósito inicial e apresentar algo que agregue valor ao mercado e aos usuários e que possibilite a startup ou empresa consolidada fechar as contas em cenário positivo.
As empresas, principalmente as startups, necessitam trabalhar a compreensão de problemas em um sentido amplo e sistêmico, a fim de entender as potencialidades de negócios que possam surgir a fim de solucionar tais dificuldades a ser identificadas, como na Saúde, Educação, Infraestrutura, Acessibilidade, Sistema financeiro, entre outros.
E problemas para empresas são sinônimo de oportunidades de gerar negócios. Mas, mais do que isso. De fazer a diferença.
E esta maneira de fazer a diferença é solucionar estas mazelas através de empresas que compreendam o problema, proporcionem produtos e serviços inclusivos e que sejam ofertados para uma população de baixa renda ou base da pirâmide, classes C, D e E.
Desta maneira, empresas conseguem gerar receita para si, focando produtos e serviços de qualidade para pessoas que antes pagariam muito mais para ter acesso a estes serviços e proporcionam acesso e oportunidade para classes menos abastadas. Na outra ponta, ganham em escala, potencializando as benéfices futuras tanto do lado da empresa quanto do lado dos serviços ofertados.
Em cenário de enfrentamento de uma das maiores dificuldades globais de todos os tempos, a pandemia do coronavírus, temos ainda as incertezas de ações concretas na luta de mudanças climáticas. Isso traz cada vez mais para um diálogo na mesa de investidores a oportunidade de desenvolver empresas mais “humanas”, com grau de preocupação elevada em ser socialmente e ambientalmente responsáveis, mas também aplicando estruturas de governança corporativa e tecnologias que permitam atingir resultados que gerem cada vez mais impacto social.
Empresas que caracterizam este perfil – os negócios de impacto – vem crescendo ano após ano, sendo que infelizmente ainda enfrentamos muitos problemas sociais que setor público e entidades não governamentais não conseguem solucionar.
Só que este cenário de problemas em diversos setores não é apenas um contexto nacional. E dinheiro para desenvolvimento de projetos para este tipo de empresa e objetivos não falta.
A Global Impact Investing Network (GIIN) publicou o 2020 Annual Impact Investor Survey, trazendo dados que citam que os negócios de impacto estão em um mercado global estimado em US$ 715 bilhões.
E corroborando este cenário temos a mudança das perspectivas de fundos globais de investimento procurando cada vez mais oportunidades em iniciativas que abracem processos e estruturas focadas em meio ambiente, social, e governança (ESG, em inglês environmental, social, governance).
Já o Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) que vem pontuando a importância e relevância da adoção de tecnologias disruptivas para escalar as soluções e torná-las mais democráticas, cita a Indústria 4.0/Revolução Industrial 4.0 considerando além dos aspectos ambiental, social e de governança, a tecnologia, como importante aspecto a ser considerado por estes fundos de investimento.
E corroborando com os objetivos de uma empresa social ou negócio de impacto, a Deloitte apresenta um estudo entre a sinergia de um conjunto de atributos: Propósito, Potencial e Perspectiva, com as premissas em consonância de atitudes e ferramentas que aliam Tecnologia e Humanidade.
Estes aspectos e preocupações a nível social e ambiental, atrelados ao maior potencial de escala e alcance, com uso de tecnologias que hoje estão ao nosso alcance para democratizar o acesso, digitizar e digitalizar serviços e trabalhar para um bem comum a fim de mitigar os maiores problemas que o globo enfrenta, são atestados pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
A Agenda 2030 é um documento oficial da ONU que estipulou em 25 de Setembro de 2015 um novo desafio para o mundo, um upgrade do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), contando agora com 17 Objetivos estruturados em setores e pilares ambientais, sociais, econômicos e parcerias estratégicas.
As 169 novas metas para os mais de 193 países e territórios consta desafios a serem alcançados até 2030, sendo 17 Macro-Objetivos principais:
1) Erradicação da Pobreza 2) Fome Zero e Agricultura Sustentável 3) Saúde e Bem-estar 4) Educação de Qualidade 5) Igualdade de Gênedo 6) Água Potável e Saneamento 7) Energia Limpa e Acessível 8) Trabalho Decente e Crescimento Econômico 9) Indústria, Inovação e Infraestrutura 10) Redução das Desigualdades 11) Cidades e Comunidades Sustentáveis 12) Consumo e Produção Responsáveis 13) Ação Contra a Mudança Global do Clima 14) Vida na Água 15) Vida Terrestre 16) Paz, Justiça e Instituições Eficazes 17) Parcerias e Implementação
Todos estes objetivos estão em sinergia, sendo que convergem com as dimensões do desenvolvimento sustentável e os 5 P´s: Pessoas, Prosperidade, Paz, Parcerias e Planeta dentre os foco-chave de estratégias e ações ambientais, sociais e econômicas, tendo as parcerias estratégicas entre stakeholders o fator crucial para implementação dos mesmos a fim de alcançar as metas pré-estabelecidas para cada objetivo.
Se os objetivos de uma empresa privada é lucrar e distribuir seus dividendos, para negócios de impacto social muitas vezes o propósito e core business, ou seja, a razão da existência da empresa está atrelado a gerar impacto social que será o meio para alavancar negócios e assim haver distribuição de dividendos ou não, a depender de como as estratégias da empresa se constituirá.
Muitos projetos e negócios de impacto tem o desafio de mostrarem-se seu lado mais humano e acolhedor juntamente com o cliente e usuário, mas também devem ter conhecimento tácito e abrangente de gestão, para suprir as demandas internas de controle de ativos e passivos a fim de escalar o impacto e fazer a “engrenagem girar”.
Como você percebeu e certamente já viveu ou visualizou em algum momento, temos muitos desafios sociais, econômicos, ambientais e de âmbito de interesses de stakeholders e governança corporativa. Estas barreiras agravam ainda mais por uma urgência de democratizar e escalar as soluções, seja por um complexo desafio sanitário que a pandemia acentuou nos tempos modernos, seja pelo contínuo desenvolvimento e melhorias de adoções tecnológicas em nossas vidas.
Fato que o tempo urge não somente para pensarmos em estruturas que possam utilizar tecnologia como meio para escalar soluções, mas empresas que não vejam que o resultado final está resumido somente em dividendos e bônus mais robustos, mas sim um trabalho com equidade, prezando pela diversidade e que tenha um propósito maior para solucionar os maiores problemas globais e partir disso ter resultados econômicos sustentáveis para continuar a realizar este impacto.
E você? Qual é seu próximo passo a fim de deixar um legado positivo no mundo?
Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva, líder do Chapter de Guarulhos, sócio-diretor na Meraki Group e Executivo de Investimento Imobiliário na Vitacon
Leia também: O que faz as empresas inovadoras? Conheça grandes nomes e o que as diferencia
Para aqueles que buscam bases bibliográficas, referências ou fontes teóricas, fica o aviso: talvez este artigo não seja pra você. Esta leitura é para aqueles que queiram aprender na prática, através da percepção das empresas e da vivência sobre o tema.
A palavra inovação evoca um certo misticismo e alvoroço no mundo corporativo, ecoando palavras de afirmação e tecnologias da moda, como inteligência artificial, machine learning e IOT. Em cada esquina é possível encontrar uma consultoria que se autoproclama inovadora e vende a “receita de bolo” para que grandes empresas se tornem a próxima SpaceX, Uber ou Netflix, como se isso fosse rápido e tangível.
Muito cacique para pouco índio – Durante debates, palestras e fóruns sobre o tema é comum vir à tona exemplos futurísticos de forma distorcida e simplória, divulgando que qualquer pessoa ou empresa possa se tornar o próximo unicórnio. Mas como funciona na prática? Quais são as histórias que essas pessoas não contam e como obter resultados reais no curto, no médio e no longo prazo?
Longe dos palanques e dos cargos de LinkedIn, a realidade corporativa é particular. Inovar incomoda, não é algo natural do ser humano. Então, construir uma cultura, ganhar espaço e quebrar resistências, além de rotina e obrigação, se torna um trabalho de evangelização corporativa. Não basta o CEO querer, é papel de quem busca inovar conquistar as lideranças e a operação para que sejam patrocinadores e divulgadores de suas ações, e isso se faz com geração de valor.
O problema é que inovar é um processo lento e ousado, então os resultados demoram a chegar, além da necessidade de buscar atalhos para escapar das burocracias ou de encargos dispensáveis, o que pode deixar muita gente descontente. Por exemplo, imagine promover a mudança de cultura e comportamento, dando liberdade com responsabilidades para seus colaboradores, mas a área de compliance não permite acessar nenhum site externo ou qualquer tipo de conexão dos computadores da empresa usando uma conta pessoal.
Quanto mais tradicional a empresa, maiores serão os “fardos corporativos” que precisarão ser superados, é uma questão de tempo. Apesar disso, estar dentro de uma companhia já estabelecida proporciona uma série de benefícios que uma startup geralmente não tem para escalar e testar iniciativas de forma rápida e eficiente, como: clientes, centros de distribuição, negociação de insumos, branding e todos os seus departamentos administrativos para fazer usufruto.
Discutindo o sexo dos anjos – Existe uma confusão natural entre o que é inovação, tecnologia e futurismo. É comum pensar que para inovar, precisa ser algo super tecnológico como ir para marte ou criar um novo tipo de celular, então é importante dissecarmos o assunto entendendo o que é cada um deles.
Futurismo é uma forma de estudo baseado em análises comportamentais da sociedade, evidências históricas, tecnológicas e científicas, pelo qual orienta entidades, empresas e governos em novas possibilidades, ou ao menos para que se prepararem para esse possível futuro. Estes estudos serão o âmago para continuar inovando e impulsionando negócios em direção à um futuro sem escassez.
Criar algo novo que não gera valor percebido não é inovação, é apenas uma invenção. Inovar significa, gerar valor. De maneira bem simplista, inovação é a entrega de valor através de melhorias de processo, produto ou tecnologia, que impacte diretamente o resultado de alguém ou alguma empresa de forma escalável.
Você pode estar se perguntando qual caminho seguir: inovação, futurismo ou tecnologia? Não existe certo ou errado no campo da inovação, mas apenas caminhos a se seguir. Assim como uma pequena embarcação no meio do oceano, é necessário prestar atenção no trajeto e corrigir a rota para garantir o rumo do seu percurso. Em outras palavras, o que vai te trazer resultado não será necessariamente seu objetivo fim, mas a jornada de longo prazo e as pérolas que você conquistará no caminho.
Tem como inovar com pouco investimento? – Investimento é importante, mas não pode ser desculpa para deixar de inovar. Independente da situação que você se encontra, seja de dor ou de oportunidade, a resposta para inovar é a mesma: propósito, pessoas e foco.
Agir e pensar diferente, mudar comportamentos, processos, cultura e os famosos ditados populares como “sempre fiz assim e deu certo” ou “em time que está ganhando não se mexe” são essenciais para quebrar as falsas dicotomias e geralmente requer investimento zero.
Preciso da Skynet para dominar o mundo? – Não, embora a tecnologia seja importante para escalar o negócio, reduzir drasticamente os custos, melhorar o desempenho e estabelecer padrões, é crucial compreender que a tecnologia não é necessariamente o fim, mas o meio para que a inovação aconteça. E que o aspecto mais importante da inovação são as pessoas, pois são elas que transformam empresas, criam tecnologias e impactam o mundo.
Enfim, a conclusão – Pensando em alcançar uma oportunidade de crescimento e responder às ameaças de morte, as empresas investem pesado em inovação, mas esquecem de transformar seus comportamentos e tomar atitudes. Comece pequeno, erre rápido e barato entregando valor com melhorias simples de processos.
Construir uma cultura e propósito sólidos, buscar e cativar talentos, identificar as oportunidades certas e possuir embasamento tecnológico irá gerar um ambiente propício para a inovação corporativa, mas o resultado só chegará quando as mentalidades, os processos e as políticas de toda a empresa forem influenciadas positivamente pelos inovadores. A gestão da inovação até pode ser uma área, porém a inovação tem que ser corporativa.
Kim Morise é gerente executivo de inovação no grupo Bild & Vitta
Quais são os fatores-chave para a longevidade das empresas na transição para a nova dinâmica competitiva dos mercados?
Desde o início de nossa civilização, as transições no composto sociocultural de uma sociedade são sempre antecipadas pela disponibilidade de novas tecnologias. Os saltos tecnológicos remodelam as atitudes dos indivíduos, que acabam por redefinir as características do comportamento coletivo. Os novos comportamentos, por sua vez, redefinem as apólices econômicas.
Em uma nova dinâmica econômica, a sociedade se reorganiza sócio culturalmente. Assim, a cada ciclo, as empresas de maior sucesso são, geralmente, aquelas que rapidamente se tornam mais hábeis em lidar com as tecnologias definidoras de sua época seja criando sentido de uso em um nível pessoal para o indivíduo (novos produtos e serviços, por exemplo) ou combinando-as de maneiras inovadoras de forma a gerar maiores ganhos nos diferentes processos produtivos. Em um mundo de incertezas sobre como, de fato, será o novo estado normal da competição nos mercados, é importante estabelecer uma abordagem que garanta a liderança neste contexto. Como os líderes podem superar o momento de transição que vivemos?
De uma maneira simples, podemos convencionar pelo menos duas premissas. A primeira delas é a compreensão da magnitude da inteligencia artificial (IA) como tecnologia definidora desta época e a imprescindibilidade de dominá-la como essencial neste cenário. Assim, a habilidade de interação e co-criação das empresas junto à IA, é a competência a ser incorporada no sistema nervoso das organizações. A segunda premissa é o alinhamento estratégico com o Zeitgeist da nossa sociedade neste século: a entrega de valor personalizado. Os negócios de uma forma geral estão, cada vez mais, voltados para a construção de ativos de entrega de valor de forma personalizada aos clientes. Vivemos um momento de releitura renascentista pela ótica do capital em que o ser humano e suas necessidades vêm ao centro de tudo e cada micro-interação do indíviduo (mapeada pela tecnologia) é incorporada a uma modelagem comportamental conversível em mais faturamento e melhores margens para os negócios.
Para o economista austríaco Joseph A. Schumpeter, um dos grandes pensadores do último século cujo legado está construído especialmente na interseção entre a inovação e o desenvolvimento do capitalismo, os grandes ciclos de progresso econômico aconteciam em ondas onde os empreendedores inovadores provocavam uma “Destruição Criativa” – fênomeno de desenvolvimento e disrupção causado pela ressignificação ou combinação inovadora de novas tecnologias – que, ao mesmo tempo em que destruía empresas e modelos de negócios antigos e ultrapassados, engendrava novos investimentos no processo competitivo. As inovações permitiam um ganho competitivo por um tempo finito e, nessas circunstâncias, se estabeleciam as grandes lideranças e se atingia os maiores patamares produtivos da economia.
Na perspectiva de competição externa, o que vivemos hoje é exatamente esse pensamento (basta olhar as inovações trazidas ao mercado nos últimos 20 anos em empresas como Apple, Google e Tesla). Contudo, a consciência deste momento histórico abrange algo para além dos mercados, é preciso entender os acontecimentos deste século de uma perspectiva evolutiva para o ser humano. Estamos vivendo um século de transição nos modelos de organização das dinâmicas sociais. A virtualização das experiências, das comunidades e do poderio econômico abre prescendentes ainda desconhecidos para a maioria.
As inovações permitiam um ganho competitivo por um tempo finito e, nessas circunstâncias, se estabeleciam as grandes lideranças e se atingia os maiores patamares produtivos da economia digital.
Assim, pela ótica cultural, estamos vivendo uma fase de adaptação da nossa espécie, não apenas de mercados. Como iremos interagir com a tecnologia em níveis de decisões tão sutis nos anos à frente?
O domínio da IA como principal componente desta equação e principal catalisador das transformações nos ajudará a identificar oportunidades que nós hoje ainda nem conseguimos vislumbrar do ponto de vista de modelos de negócio.
Por essa razão, para surfar nos momentos de Destruição Criativa dos mercados, as empresas precisarão se tornar especialistas em fazê-la acontecer primeiro dentro de suas próprias estruturas. A receita da longevidade de uma companhia mudou. Suas competências, habilidades, produtos e serviços precisam ser mutáveis. Uma empresa nascida em 2020 pode, facilmente, evoluir seu modelo de diferentes formas até 2050 entregando produtos e serviços completamente diferentes do que entregava quando começou.
Os grandes líderes empresariais desta época serão experts em conduzir ciclos curtos de Destruição Criativa dentro de suas próprias organizações, provocando ondas de inovação que trazem vantagens competitivas. Contudo, a velocidade das organizações em preparar seus talentos para co-criar o futuro com a inteligência artificial é o grande dilema desta transição. Como a sua organização irá lidar com esta nova fronteira de competição no futuro é uma resposta que precisa ser dada hoje.
Fabricio Gimenes é empreendedor de negócios digitais e CEO da WHF® Design Company.
Maria Luisa Machado Leal é economista e sócia-fundadora da Agência de Inovações e Negócios (AIN).
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Imagine a seguinte situação: chegamos ao final do quarto trimestre, então é hora de realizar o planejamento estratégico para organizar os rumos da empresa dos próximos 5 anos.
Os diretores e gerentes se reúnem em um hotel distante da sede, recebem um palestrante para trazer um conteúdo inspiracional e participam de workshops.
No terceiro dia de evento, o grupo finaliza um documento em Powerpoint muito bem organizado e com metas claras, e uma visão preliminar e bem estruturada do plano de ação.
Nos dias seguintes, cada executivo convida seus times para divulgar os planos e distribuir os objetivos – ou “cascatear as metas”, no jargão corporativo.
Avançando um pouco no tempo, pelo nono mês de execução do plano, diretores e gerentes voltam a se reunir para prestar contas e falar sobre os avanços e já começam a esboçar os primeiros sinais de frustração com a execução do plano.
Se você já participou do planejamento estratégico em uma grande empresa, provavelmente essa cena é familiar para você.
Pensando nisso, nesse artigo, vamos trabalhar esse caminho entre o planejamento e execução para que ele realmente funcione.
Qual é a importância de um planejamento eficiente para a execução?
Embora o planejamento e a execução sejam estágios diferentes, estamos falando de um processo de dependência. E é aí que entra a importância de um bom planejamento.
Se uma empresa não traça um planejamento eficiente, considerando tudo que pode acontecer, de fato, dificilmente a execução terá sucesso.
É justamente a estratégia do primeiro que garante o segundo. Mas o que é estratégia, afinal de contas?
Existem milhares de conceitos e definições sobre o que ela significa. Uma definição interessante que nós gostamos é essa aqui: a estratégia é “o caminho para se atingir objetivos de longo-prazo em condições de incerteza”.
Tanto no mundo dos negócios quanto nos esportes ou nas guerras, estratégia sempre envolve a mobilização dos recursos para se atingir um objetivo específico em uma situação incerta.
E é por isso que o planejamento depende tanto desse desenvolvimento e, assim, se mostra essencial para execução das ideias.
Desafios do planejamento estratégico
Estudos sugerem que 93% das pessoas de uma empresa não entendem a estratégia 1 e apenas 2% dos colaboradores de uma empresa lembram e citam as 3 prioridades estratégicas 2.
No nível gerencial, esse número não é muito diferente: cerca de 28% dos gerentes e executivos responsáveis por executar a estratégia também não conseguem listar as 3 prioridades do negócio.
Nos últimos 50 anos, as escolas de administração trouxeram grandes avanços no sentido de tornar o planejamento estratégico mais lógico e estruturado.
Mas só uma pequena parte dos estudos sobre estratégia trata do seu elemento mais importante: como assegurar a compreensão mais ampla possível para todas as pessoas da organização, assim como seu engajamento?
Como falamos sobre estratégia antes, é importante trazer outro aspecto importante. No plano da atualidade, nos deparamos com o mundo VUCA.
Batizado na década de 80 por Bennis e Nanus, ele é o termo usado para descrever a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
Por isso, tem sido adotado para facilitar a compreensão sobre as mudanças mais aceleradas na competição global, no que se refere aos avanços tecnológicos, às alterações nas relações do trabalho e às mudanças na nossa forma de consumir.
No entanto, é aqui que está o maior desafio dos processos de planejamento e execução da estratégia. A questão não é o ritual (hotel, happy hour, palestrante), ou a escola de estratégia adotada pela empresa.
O ponto fundamental é que “no contexto cada vez mais VUCA” no ambiente de negócios, é necessário adotar novas abordagens para que as pessoas possam adaptar a execução do dia a dia com maior velocidade e flexibilidade.
Se isso é verdade sobre iniciativas específicas, como produtos, serviços ou relacionamento com clientes, em um contexto de estratégia essa situação se torna ainda mais sensível.
Por isso, se atentar a esse contexto é um dos grandes desafios para aproximar essas duas etapas.
Ausência de metas bem definidas: interferência na estratégia
Um estudo da Deloitte publicado em 2015 mapeou durante dois anos os principais fatores que interferem na execução da estratégia.
O resultado é que nenhum fator isolado tem mais impacto do que “metas claramente definidas, que estejam estabelecidas e livremente compartilhadas”.
As metas criam alinhamento, clareza e satisfação no trabalho. Mas não basta ter metas claras e compartilhadas. A forma como elas são executadas é vital.
Uma meta bem definida é o princípio, mas o que faz a diferença é o grau com que ela é compreendida pelas pessoas e acionada dentro da organização. E tudo depende de um conjunto integrado de pressupostos que fortalecem a execução.
Esses pressupostos estão profundamente ligados ao engajamento: o envolvimento, a integração e a interação das pessoas e times entre eles e com a estratégia.
Planejamento ou execução: qual é o mais importante?
Considerando o que falamos, podemos pensar que o planejamento é mais importante do que a execução. Mas não é bem assim.
Como o planejamento e a execução são duas partes inseparáveis de um mesmo processo, não faz sentido colocar um acima do outro, afinal, eles são complementares.
Em outras palavras: não é suficiente ter planejamento se não houver uma boa execução; mas também não é possível ter uma boa execução se não houver planejamento.
O que o planejamento e a execução realmente precisam é de equilíbrio.
Planejamento e execução: busca pelo equilíbrio
Considerando tudo que falamos, os elementos principais que conectam o engajamento e a execução com o planejamento são:
Desenvolver a forte coordenação e colaboração entre pessoas e times;
Criar abertura se adaptaram em vez de seguir cegamente um plano estático e rígido;
Garantir a compreensão e não apenas fazer uma comunicação;
Reconhecer outros pontos muito além da cultura de recompensa, como a agilidade, trabalho em equipe ou ambição;
Abrir espaço para a articulação e sinergia rápida entre os diferentes níveis;
Ter objetivos são alinhados nos sentidos bottom up e top down no lugar de “cascatear as metas”.
Quais são as fases do planejamento?
Antes de falarmos ainda mais sobre o caminho para integrar o planejamento e a execução, vamos trabalhar também as fases do planejamento. Quais são elas?
Há três fases de planejamento até chegar na execução:
Definindo o problema;
Estabelecendo objetivos;
Selecionando os principais cursos de ação.
A seguir, vamos entender um pouco melhor como cada uma dessas etapas se desenvolve e como ela pode ter mais estratégia considerando as incertezas que falamos antes.
1ª fase de planejamento: definindo o problema
A primeira fase do planejamento é definir o problema. Ou seja, entender o que está acontecendo no mercado e na organização e identificar oportunidades e ameaças.
Nesta etapa, é essencial utilizar diferentes fontes de informação dentro e fora da empresa. Isto permite que você tenha mais dados para mapear o problema e entender o que está acontecendo.
É nesse momento que análises como SWOT ou PEST podem ser usadas a favor da sua empresa. Além disso, é importante que esta etapa seja a mais colaborativa possível, envolvendo diferentes pessoas e equipes na busca de informações.
Somente com um profundo entendimento do problema será possível estabelecer objetivos e definir as principais linhas de ação.
No entanto, não podemos esquecer aqui que estamos falando de um contexto novo, do mundo VUCA, e que isto pode gerar maior incerteza sobre o que está acontecendo. Por isso, o próprio problema está sujeito a mudanças.
2º fase do planejamento: estabelecendo objetivos
O segundo estágio do planejamento é estabelecer objetivos, ou seja, decidir o que a empresa quer alcançar com determinado projeto.
Este passo deve acontecer com cuidado e precisão para que os objetivos estejam alinhados com a estratégia e contribuam para sua realização. No geral, a definição de objetivos segue a metodologia SMART, no qual:
Específico: o objetivo deve ser bem definido e claro;
Mensurável: deve ser possível quantificar os resultados;
Alcançável: o objetivo não deve estar fora do alcance;
Relevante: os objetivos devem contribuir para a estratégia da empresa;
Time-bound: deve haver um prazo para a realização.
São esses objetivos que irão orientar o planejamento e, assim, a execução. É por isso que é essencial que eles estejam bem definidos desde o início. E como falamos, não adianta ela ser bem definida se ela não for realmente entendida pelas pessoas dentro da organização.
3ª fase do planejamento: selecionando os cursos de ação.
A terceira e última etapa de planejamento é selecionar as principais linhas de ação. Isto significa decidir como a empresa irá alcançar seus objetivos.
Também será necessário considerar o tempo disponível para a execução e quaisquer riscos que possam surgir. E, é claro, o tempo disponível para a execução, o que pode ser um desafio de planejamento em si.
Essa é a etapa mais importante do planejamento: definir o que e como será feito. A partir daí, mais uma vez, pensando no VUCA, é preciso também desenvolver planos para mudanças e cenários adversos.
Mas é essencial entender que o planejamento não termina com a definição dos objetivos e das principais linhas de ação. Ele está em constante evolução diante da execução do projeto.
Boas práticas do planejamento à execução
Chegou o momento de entendermos, finalmente, como podemos trabalhar do planejamento à execução.
Existe uma série de boas práticas que vão contribuir para que o abismo entre eles diminua e, de fato, sua empresa consiga alcançar seus objetivos. Entre elas, podemos destacar:
Promova o engajamento da equipe;
Delegue atividades com base nas competências;
Esteja apto a mudanças no caminho;
Promova uma cultura de feedback;
Tenha conhecimento sobre o processo;
Monitore o progresso do planejamento.
Vamos entender cada uma delas?
Promova o engajamento da equipe
Talvez uma das peças mais importantes desse quebra cabeça seja o engajamento da equipe. Batemos nessa tecla porque, sem ele, dificilmente será possível chegar onde se planeja.
O processo de planejamento pode ser visto como um estágio chato por aqueles que irão executar o projeto. Mas ele sempre será o ponto de partida. Portanto, assegurar que todas as pessoas da organização entendam e colaborem é fundamental.
Uma maneira de fazer isso é envolvendo as pessoas no próprio processo de planejamento. Ou seja, deixe-as contribuir com suas ideias e conhecimentos de alguma maneira.
Afinal, é envolvendo os colaboradores desde a concepção que vai os aproximar da execução do projeto. Ainda, se preocupe também com a transparência: todos na empresa devem facilmente encontrar e entender os objetivos, de forma acessível.
Delegue atividades com base nas competências
O processo de planejamento não deve ser de responsabilidade exclusiva da equipe de planejamento. Na verdade, como falamos, é essencial que outras pessoas da organização também estejam envolvidas.
E isso pode acontecer delegando atividades com base nas competências de cada pessoa. Ou seja, aqueles que têm mais conhecimento e experiência em uma determinada área devem ser responsáveis por tarefas específicas.
Desta forma, você não só garante que o planejamento seja feito com excelência, mas também assegura que todos se sintam envolvidos no processo e tenham uma participação no sucesso da empresa.
E isso dialoga diretamente com a prática anterior, além de ser uma forma de combater o grande problema de distanciamento da equipe em relação ao planejamento e execução.
Esteja apto a mudanças no caminho
Se há uma coisa que podemos ter certeza no planejamento é que as mudanças irão surgir. Ou seja, a única certeza é o incerto.
Afinal, este é um processo que deve considerar a realidade da empresa e do próprio mercado, imersa nos desafios da tecnologia, que são sempre dinâmicos.
Portanto, é essencial estar preparado para possíveis mudanças ao longo do caminho. É nesse momento que ter habilidades diante da volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, presentes no mundo VUCA serão fundamentais.
Assim, desenvolver resiliência, flexibilidade, multidisciplinaridade e coragem serão tarefas necessárias para lidar com as turbulências durante o trajeto da execução.
Promova uma cultura de feedback
Novamente, o planejamento no contexto atual é um processo que requer constante adaptação para enfrentar as adversidades.
Portanto, é essencial ter uma cultura de feedback para que a equipe de planejamento possa entender o que está funcionando e o que precisa ser mudado.
Este feedback deve vir de diferentes fontes: colaboradores, clientes, fornecedores, entre outros. Em outras palavras: qualquer pessoa que tenha algum tipo de envolvimento com o planejamento e execução do projeto.
A ideia é que esse feedback seja coletado de forma sistemática e, a partir daí, os ajustes necessários aconteçam. Desta forma, você estará sempre no caminho certo para atingir seus objetivos.
Tenha conhecimento sobre o processo
Embora não seja possível ter controle sobre o processo, dá para ter conhecimento sobre ele. Em outras palavras, isso quer dizer que as pessoas precisam saber o que fazer (e não fazer) no planejamento.
É aqui que entra a importância de um guia de planejamento da execução. Este documento deve listar todas as etapas do processo, detalhando o que deve ser feito em cada etapa diante do cenário.
Além disso, é também essencial ter uma lista de verificação com as principais atividades que devem ser realizadas, incluindo os prazos para cada um delas.
Este guia de planejamento deve ser atualizado frequentemente para que ele sempre corresponda ao contexto atual de planejamento e execução.
Monitore o progresso do planejamento
O planejamento precisa ser monitorado a fim de garantir que se esteja no caminho certo, ainda que existam mudanças no meio. Essa é a única maneira de garantir que a empresa atingirá seus objetivos.
Existem diferentes maneiras de monitorar o progresso do planejamento. A mais comum é preparar um relatório com indicadores-chave em intervalos regulares, ou seja, de forma mensal ou trimestral.
Estes indicadores devem ser escolhidos de tal forma que mostrem se o planejamento está no caminho certo ou não. Alguns exemplos de indicadores são: orçamento gasto, número de tarefas completadas e satisfação do cliente.
Tudo depende bastante do projeto que está sendo desenvolvido. O crucial é que estes indicadores sejam escolhidos com a equipe para que todos estejam na mesma página.
OKRs: ideal para equilibrar o planejamento e execução
Na década de 1990, Andy Grove, um executivo da Intel, se perguntou: “Como podemos concentrar os esforços das pessoas nas mesmas questões importantes em toda a organização?”.
Como resposta, Andy criou o conceito dos OKRs para simplificar a forma de encarar os Objetivos Estratégicos de uma empresa e criar alinhamento e engajamento em torno desses objetivos.
Essa metodologia ganhou escala quando John Doerr, um executivo que trabalhou ao lado de Andy, a levou ao Google no fim da década de 90 e os então 30 funcionários toparam e resolveram implementar por lá.
Dali para frente, os OKRs foram se tornando mais populares no mundo da tecnologia e também fora dele.
Entendendo os OKRs
O acrônimo OKRs é a combinação de Objective (objectives, “O”) e Resultados-Chaves (key results “KRs”).
De forma simples, os OKRs conectam o sonho com o presente. Para usá-lo, a empresa, as áreas, cada time e cada pessoa de uma organização devem ter os seus OKRs.
Um conjunto de 3 a 5 OKRs é o bastante para equilibrar clareza e simplicidade de onde se quer chegar e a consistência de que todos estão olhando para tudo o que realmente importa para colocar a empresa num novo patamar.
Em OKR, o objetivo é O QUE deve ser alcançado. Cada objetivo deve ter de 3 a 5 resultados-chave.
Os resultados-chave monitoram COMO o time vai alcançar os objetivos. São específicos e limitados no tempo, agressivos, porém realistas, mensuráveis e verificáveis.
Em seu livro Measure what matters, John Doerr usa o exemplo do OKR corporativo que definiu o futuro da Intel nos anos 80.
Objetivo: estabelecer o 8086 (modelo de chip) como a família de microprocessadores de 16 bits de maior desempenho.
Resultados chave:
Desenvolver e publicar 5 benchmarks capazes de mostrar um desempenho em nível excepcional do 8086;
Trocar a embalagem de toda a família de produtos 8086;
Começar a produção da peça de 8MHz;
Amostrar o coprocessador aritmético até 15 de Junho.
Premissas do OKRs
Considerando isso, podemos perceber que o método dos OKRs tem algumas premissas importantes:
Precisa estar claro não só o “o quê” mas também o “como”, eles são feitos trimestral ou até mensalmente;
Toda a organização precisa ter acesso ao OKRs, ou seja, eles são públicos e transparentes;
A definição dos OKRs é de baixo para cima ou lateral, sempre desassociados da remuneração, além de serem agressivos e determinados.
Na perspectiva da execução e engajamento, o grande mérito da metodologia dos OKRs é simplificar, focar e intensificar a compreensão e a coordenação aumentando a transparência, a flexibilidade e consequentemente o engajamento.
Conclusão sobre Execução e Planejamento
Quando pensamos em planejamento e execução, na prática, existem muitos abismos que distanciam essas práticas. No entanto, mostramos ao longo do texto alguns passos que podem nos aproximar desse equilíbrio.
Os aspectos mais importantes nesse processo, sem dúvidas, é o engajamento dos envolvidos, a compreensão real das metas da organização e, claro, a adaptação para cenários adversos.
Se sua empresa estiver buscando uma forma de reduzir a frustração com a execução da estratégia, vale a pena pensar na adoção dessa abordagem contemporânea pensando no contexto VUCA dos dias atuais.
Com isso, estaremos mais próximos de equilibrar o planejamento e a execução.
Na última quarta-feira (dia 9), ocorreu o Novartis Future Talks + SingularityU Brazil. Apresentado por Christiane Pelajo, o evento virtual discutiu tecnologias disruptivas na área de saúde, o futuro dos negócios no setor e como promover modelos de inovação sustentável e novas oportunidades de investimento.
“A era das Terapias de Saúde avançadas e o que isso significa para a Saúde e Economia brasileira” Presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Claudio Lottenberg é considerado um dos executivos mais influentes no mercado de saúde brasileiro. Autor do livro, “Saúde e Cidadania – A Tecnologia a Serviço do Paciente e não ao Contrário”, ele expôs sob o ponto de vista médico e econômico a importância das terapias de saúde avançadas para o país.
Segundo Lottenberg, estamos acompanhando uma oportunidade enorme de resolver, por meio da terapia gênica, uma série de doenças que até pouco tempo pareciam impossíveis. Um movimento que pode ser classificado como medicina personalizada. “Um grande achado em relação ao avanço do conhecimento médico é a convergência tecnológica: instrumentos diagnósticos começam a ser utilizados por meio da intervenção. Ao mesmo tempo que você faz o diagnóstico, realiza o tratamento”.
Ele ainda citou a importância dos avanços nos transplantes. “Com o aumento da expectativa de vida, determinados órgãos deixam de funcionar e literalmente devem ser substituídos. E, hoje, temos a possibilidade de transplante via doação de órgãos e também, em alguns casos já presentes, via impressão 3D que te permite criar determinados órgãos”.
A apresentação de Lottenberg também trouxe um retrato desafiador para o sistema de saúde nacional, formado por um quadro de aproximadamente 9,5% do PIB direcionado à área da saúde, 45 milhões de brasileiros no sistema privado de saúde e cerca de 160 milhões de habitantes de usuários do SUS.
“Temos uma crise importante em relação à Previdência – que acabamos de reformar mas que, na minha opinião, não será suficiente no curto prazo. Na área da saúde também devemos nos preocupar já que lidar com uma expectativa de vida maior com qualidade de vida melhor requer investimentos significativos“, alerta.
Lottenberg finalizou propondo a revisão dos modelos assistenciais e o uso da telemedicina. “O Brasil ainda conta com um modelo extremamente centrado na assistência hospitalar. Vejo isso como um equívoco. Hospitais são estruturas criadas para atenderem casos de alta complexidade e os casos de baixa complexidade ainda buscam os sistemas de saúde. Praticamente 90% dos atendimentos resolvem o problema de saúde em uma consulta. Então, temos que fortalecer os programas de atenção primária com coordenação do cuidado”.
“O desafio do Sistema Único de Saúde Brasileiro diante das Novas Tecnologias em Saúde” Denizar Vianna é mestre em cardiologia, doutor em saúde coletiva, professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS) CNPq/Brasil. Entre os anos de 2019 a 2020 foi Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Profundo conhecedor dos sistemas público e privado do Brasil, Vianna discorreu sobre as questões envolvendo o acesso e a criação de políticas de saúde.
“Os cientistas fizeram o dever de casa, avançamos muito nas tecnologias que modificarão doenças genéticas e adquiridas. E os formuladores de políticas de saúde possuem o desafio de fazer frente a esses avanços científicos. A grande questão é: como criar acesso a essas tecnologias? Porque não basta que elas estejam disponíveis, elas precisam ser acessíveis, senão aumentaremos a iniquidade nos sistemas de saúde”.
Em sua visão, a área da saúde ainda é resistente à adesão de novas tecnologias. No entanto, incorporar essas ferramentas é crucial para entregar melhores resultados no atendimento à população. “A junção de demanda por tecnologia e aumento da longevidade impõe pressão aos sistemas de saúde público e privado. Cabe aos formuladores de política de saúde encontrarem soluções para isso e utilizarem melhor as emendas parlamentares em busca de mais recursos. Mas não podemos nos esquecer da responsabilidade dos gestores públicos e privados nesse processo. A gestão deve envolver a inovação também”.
Vianna propôs discussões e ações acerca do modelo tributário do país, sugerindo um formato mais progressivo que tribute mais renda e menos consumo. “A sociedade precisa fazer essa reflexão. Se nós queremos um sistema de saúde mais justo, nós cidadãos precisamos decidir de onde podemos tirar para direcionar mais a esse setor“.
“Como tornar as inovações em saúde economicamente viáveis no Brasil” Apontado como o economista mais influente do Brasil pela revista Forbes, Ricardo Amorim falou sobre os caminhos para viabilizar as inovações das terapias gênicas — uma jornada que passa por investimentos de todas as áreas, e não apenas da indústria farmacêutica.
Compreender os cenários e conjunturas econômicas que afetam o sistema de saúde no país e no mundo é fundamental, mas entender para onde vai a economia não é uma tarefa fácil. Especialmente em momentos de incerteza, quando existem variáveis flutuantes sobre diversos setores.
Durante sua apresentação, Amorim apontou alguns modelos para tornar possível esse processo de inovação.
“Estão surgindo ideias inovadoras como a humanidade nunca viu. Mas ideia não é inovação. Entre a ideia e a inovação propriamente dita há um passo fundamental que é a execução: a capacidade de efetivamente transformar a ideia em um produto ou serviço. Para isso, precisamos de dinheiro, sem ele nada se concretiza“.
De acordo com Amorim, o financiamento em inovação no Brasil e no mundo chegou ao seu nível histórico mais alto. Para ele a receita para viabilizar a inovação é: ideia + financiamento + tecnologias de base. “Isso já vem acontecendo nas últimas duas décadas. Isso é tão marcante que o crescimento da renda no mundo nesse período foi maior do que nos dois mil anos anteriores, por conta da aceleração da inovação. Ou seja, é um movimento que já vinha antes da pandemia, mas que foi acelerado com sua chegada“.
O economista aposta em parcerias público privadas na busca por soluções de infraestrutura, transferência de know-how e custos elevados no desenvolvimento de novas tecnologias.
“O futuro das empresas, organizações e setores” Pascal Finette é cofundador da be.radical, Chair de Empreendedorismo e Inovação Aberta da Singularity University e também associado da BOLD Capital Partners, o fundo de capital de risco de $250 milhões de Peter Diamandis.
O trabalho de Finette se concentra no cruzamento entre tecnologia, impacto global e cultura. Em seu talk, o empreendedor contribuiu com reflexões e informações essenciais sobre o futuro dos negócios na área da saúde.
Segundo Finette, se você pensar em uma organização — que pode ser uma empresa, um sistema de educação ou de saúde —, ela sempre terá dois modelos de ação: inovação (que ocorre no núcleo) e disrupção (que ocorre nas extremidades). Inovação é fazer o que deve ser feito, mas de maneira melhorada. Disrupção ocorre quando rompemos barreiras e desafios, como criar uma vacina no período mais curto possível.
“O núcleo das organizações deve ser eficiente, eficaz e otimizado. Mas as extremidades devem ser compostas de aprendizado acelerado, com insights e experimentos inovadores. Diferentemente do core, que mensura a produtividade, a disrupção mede a habilidade de aprender e criar novas soluções“.
De acordo com Finette, as empresas do futuro serão constituídas pelas seguintes camadas: mercado, modelo de negócio, modelo operacional, cultura, missão, propósito e pessoas.
“Futuro, Abundância e Impacto” Peter Diamandis, fundador e presidente da X Prize Foundation e cofundador da Singularity University, foi outro destaque da programação. A partir de sua característica visão otimista, ele traçou um cenário promissor para a área da saúde nos próximos dez anos.
Segundo Diamandis, o futuro dos sistemas de saúde será orientado pela convergência de tecnologias exponenciais que a cada ano se tornam mais baratas, segmentadas e acessíveis.
Entre as tecnologias que devem revolucionar o setor, ele aponta sensores, redes, inteligência artificial, robótica, realidade virtual, impressão 3D, biologia sintética, blockchain — ferramentas que irão revolucionar todas as pontas dos serviços médicos, cuidados e atendimento hospitalar.
“Esse é um ano extraordinário de mudanças especialmente para a área da saúde e sua indústria. Até 2030, haverá mudanças sobre quem proverá o sistema de saúde, como e onde ele será provido. Infelizmente, hoje não temos um sistema de saúde mas um sistema de adoecimento. A indústria da saúde hoje age quando os indivíduos estão doentes para só então trazê-los de volta ao estado saudável ao invés de mantê-los saudáveis pelo máximo de tempo possível”.
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