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Expectativas versus Realidade: o processo de apropriação tecnológica

Por Renata Horta – Diretora de Crescimento da Troposlab

A inovação não se sustenta somente em novas tecnologias, o gestor de inovação deve estar atento às tendências comportamentais que aceleram ou não sua adoção, assim como ao processo comportamental de apropriação tecnológico e o que suporta ou não esse processo. Com essa análise mais completa as empresas podem se preparar melhor, vencendo a ansiedade das decisões e criando caminhos mais prováveis para incorporar as inovações.

Expectativas versus realidade no desenvolvimento tecnológico

A inovação não se sustenta somente nas novas tecnologias, mesmo que seja instigante pensar em todo o potencial da Inteligência Artificial, por exemplo, esse hype pode gerar expectativas irrealistas. É conhecido o gráfico que compara expectativas versus realidade de novas tecnologias no tempo, as impressoras 3D, realidade aumentada e muitas outras passaram por essa curva.

Quando estamos diante do potencial tecnológico imediatamente começamos a discutir todas as possíveis aplicações que a tecnologia pode ter, em poucos minutos conseguimos construir cenários que vão se realizar 3, 5 ou 10 anos à frente. Não é possível discutir a importância e impacto que a Inteligência artificial já tem, nem a velocidade com que soluções estão sendo desenvolvidas e entrando no mercado, principalmente a partir das plataformas que foram colocadas à disposição nos últimos meses. Mas, usando esse exemplo, temos também que reconhecer que a complexidade de desenvolvimento, o custo de acesso e implementação, o nível de especialização exigido dos talentos envolvidos, a demanda por regulamentações, as preocupações com um tratamento ético ou com a privacidade e segurança, nos mostram onde realmente está pavimentado o caminho de desenvolvimento dessa tecnologia, bem distante das nossas expectativas futuristas, sejam elas otimistas ou pessimistas. 

São vários os fatores que nos levam das expectativas elevadas ao “Vale da Desilusão” como mostra o gráfico de Ian Beacraft apresentado em tradução livre para ilustrar esse artigo. A velocidade, o tamanho da incoerência entre realidade e expectativa e o tempo para chegar ao plateau de produtividade vão depender da tecnologia e de interesses sociais, econômicos e políticos.

O gráfico foi apresentado por Ian Beacraft – CEO e Futurista Chefe da Signal e Cipher.

Apropriação comportamental de novas tecnologias

Os estudos sobre o processo de adoção de novas tecnologias descrevem a existência de elementos comportamentais críticos, mas ainda podemos avançar muito no entendimento de quais são esses elementos comportamentais. Tatear elementos que influenciam esse processo pode ajudar a calibrar expectativas e tomar decisões que de fato ajudam a organização a se preparar para incorporar ou desenvolver novas tecnologias. 

Podemos começar separando essa apropriação em dois níveis: o coletivo e o individual.

No nível coletivo, temos as decisões políticas e econômicas, que vão depender muito do significado associado a essa nova tecnologia. A dificuldade de compreender e formar um nexo é um grande gargalo para isso. Se simplificamos demais, a insegurança do desconhecido pode tornar o processo muito mais longo. Entender as narrativas que estão sendo construídas e contribuir para visualização de cenários otimistas, favorece a construção de significados que engajam, geram interesse positivo e proatividade na solução das questões inerentes ao desenvolvimento da tecnologia.

Digamos que todo o coletivo está “resolvido” e que agora desejamos que as pessoas da organização se apropriem dessa nova tecnologia. Precisamos inicialmente reconhecer o que é esse processo, aqui descrito em 4 grandes etapas:

  1. Curiosidade: nessa etapa entramos no passo “sei que existe” em que tomamos conhecimento da tecnologia e vamos através de informações básicas para o “sei para que serve”. Note que são dois passos muito diferentes, eles mudam a capacidade de discutir ou de criar soluções a partir dessas tecnologias. Nenhum desses passos é suficiente para se apropriar dentro de uma organização, mas é muitas vezes aqui que as ações de comunicação e cultura param.
  2. Prática e Autoconfiança – nessa fase começamos a nos comportar ativamente diante da tecnologia, utilizamos e aprendemos como ela pode nos servir. É uma etapa que pode ser longa, precisamos ganhar repertório. Normalmente ela também ocorre de forma desestruturada, por tentativa e erro, gerando um processo de aprendizado que pode ser bastante frustrante, especialmente quando há pressão da organização para que seja incorporada. 
  3. Conhecimento e prazer – nessa fase somos motivados pelos benefícios gerados e aprendemos um pouco mais, começamos a discutir e a modificar a tecnologia para nos servir ainda melhor. Isso acontece através de comunidades de prática, cursos de tecnologia, e bastante interesse. Aqui começamos a nos tornar capazes também de ensinar, apoiando o processo de quem está nas etapas anteriores.
  4. Conhecimento e Prazer – nessa faze estamos no saber criar, aprofundamos no conhecimento da tecnologia, muitas vezes formalizando esse aprendizado em mestrados e doutorados, fortalecendo competências técnicas, e conseguimos efetivamente fazer parte das discussões de vanguarda e da criação tecnológica.

Resumidamente, estamos propondo 4 níveis de apropriação comportamental para os indivíduos. Reconhecer em que nível as pessoas da organização estão, em cada área por exemplo, e em que nível elas precisam estar para entregar a estratégia tecnológica, nos ajuda a planejar esse processo.

Reconhecer o processo humano de aprendizado por trás da apropriação é uma forma inteligente de planejar e acelerar a transformação digital das empresas. Quanto mais sistematizamos esse processo dentro das organizações, mais fácil será percorrer as diversas ondas de transformação tecnológica que estão por vir.

Idealmente, o planejamento do processo de apropriação tecnológica pode ser feito também por governos, entidades de classe e instituições que desejam fomentar empregos e novas tecnologias, uma vez que é condição necessária para seguirmos adiante como seres humanos felizes e produtivos em um ambiente tecnológico. A ausência do processo estruturado gera uma incapacidade de se adaptar que impacta de forma global a vida das pessoas e da sociedade.

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O que podemos aprender com a evolução da inovação aberta ao longo dos últimos 20 anos?

Por Pedro Teixeira – Diretor de Futuro e Inovação da Troposlab

Inovação aberta é um daqueles vários conceitos do mundo da inovação que é fácil de entender e difícil de colocar em prática. O termo Open Innovation tem origem em 2003 com Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley e ex-gerente de empresas de tecnologia. Desde então, difunde-se pelo mundo e evoluí junto às empresas.

A lógica é simples: 

  • em vez de sua empresa ter todas as ideias sozinha, ela pode colaborar com fornecedores, universidades, parceiros, clientes e concorrentes e trazer ideias, projetos e tecnologias de fora. Isso para ter produtos, serviços e processos mais competitivos no mercado em que atua;
  • além disso, ela pode dar outros destinos para as ideias, projetos e tecnologias que surgem dentro do negócio e não são aproveitadas. Isso permite novas receitas com royalties, vendas de tecnologias ou por meio de receitas de spin offs que surgem a partir da empresa mãe.

Mas o que temos visto na prática em relação à execução de projetos de inovação aberta?

O primeiro aspecto que eu gostaria de abordar é justamente um que muitas empresas fazem e não reconhecem como inovação aberta. Principalmente dentro da indústria, é comum haver projetos de codesenvolvimento entre uma determinada empresa e seus fornecedores. Nesses casos, há ideias que surgem nos fornecedores e são implementadas conjuntamente nas indústrias ou ideias que surgem na indústria e são executadas nos parceiros.

Vamos pensar em um motor de carro como exemplo. Não faltam casos no mercado em que equipes de desenvolvimento de várias empresas diferentes (fornecedoras entre si) se juntam para desenvolver o projeto de um novo motor. Isso é inovação aberta, mas dificilmente o mercado enxerga dessa forma.

Outra relação importante, quando se fala de inovação aberta, é a que ocorre entre universidades e empresas. Nesse tipo de relação, é bem fácil entender em que um contribui e o outro recebe. As universidades são especialistas em desenvolver novas tecnologias.   Atuam no início do processo de desenvolvimento, estudando conceitos, experimentando e desenvolvendo metodologias e produtos com possibilidade de proteção intelectual (patentes e afins). Já as empresas são especialistas em transformar essas tecnologias em produtos. Isso ao criarem especificações de materiais, desenvolverem linhas de produção e otimizarem processos para a produção em massa. Nesse caso, o produto de um é a matéria prima do outro.

Olhando assim parece óbvio que a relação entre esses dois agentes evoluiria muito ao longo do tempo. Mas o  que vimos nos últimos 20 anos não é bem assim. Sim, houve evolução. Hoje, as universidades brasileiras têm Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), que são responsáveis pelo contato com empresas, as novas gerações de professores estão mais abertas ao relacionamento com empresas e a falta de vagas no mercado de trabalho para mestres e doutores recém-graduados faz com que eles estejam muito mais abertos a realizarem projetos em parceria com empresas.

No entanto, esses dois mundos ainda falam línguas diferentes. Os prazos na universidade são bem maiores do que as expectativas das empresas e a burocracia de parceiras e acordos de propriedade intelectual ainda afastam muitas instituições para longe dos pesquisadores. Hoje, há no mercado dois tipos de empresas se aproximando das universidades: aquelas que são obrigadas por lei a disponibilizar parte da receita e/ou lucro em P&D e aquelas que têm áreas de inovação e P&D muito estruturadas e enxergam potenciais parcerias tecnológicas.

E foi justamente por esse afastamento entre esses dois mundos que surgiu uma nova relação no mercado. A relação entre empresas e startups.

As startups, mesmo que inconscientemente, tornaram-se a conexão das grandes empresas com as novas tecnologias. Como esses negócios são mais ágeis, em alguns casos até surgiram ligados à universidade, eles já assimilaram alguma tecnologia ou, no mínimo, parte do uso dela em certo mercado, e transformaram em solução que as grandes empresas podem consumir internamente ou incorporar em seus portfólios.

Ainda assim, a relação entre grandes empresas e startups ainda é algo novo para ambos os lados. E há uma evolução nos formatos de relacionamento entre eles.

No início, as empresas associavam relacionamento com startups à execução de Hackathons. O tal do hackathon era solução para tudo. Um hackathon nada mais é do que uma “maratona hacker”: workshop prático de poucos dias no qual vários grupos com competência técnica de desenvolvimento de soluções (digitais, em geral) reúnem-se e pensam em soluções para problemas da empresa patrocinadora. Como resultado, a empresa tem várias soluções à disposição e os participantes competem por um prêmio ou pela possibilidade de ter aquela empresa como cliente.

Com o tempo, as empresas perceberam que precisavam nutrir relacionamento com essas startups, e que as soluções levavam tempo para serem desenvolvidas. Assim, muitas instituições migraram para programas de aceleração. Muitas empresas lançaram programas para atrair e selecionar startups que resolviam problemas cotidianos ou  tinham tecnologia para criar potenciais soluções. Essas startups aceleradas recebiam algum tipo de auxílio financeiro para execução de Provas de Conceito (POCs). Como resultado, a empresa ganhava um novo fornecedor mais tecnológico e a startup  um grande cliente. 

Esse processo ainda existe, mas nem sempre as empresas têm tempo ou recursos para criar estruturas desse tipo. Assim, várias delas migraram para processos de mapeamento de startups do ecossistema e apresentação interna dessas soluções para as áreas interessadas (RH, Produção, Compras). A diferença é que esses processos de mapeamento levam geralmente à contratação e não ao  codesenvolvimento.

Enquanto o mercado evoluia, algumas empresas perceberam que poderiam não só se tornar clientes dessas startups, mas também sócias. Afinal, elas contribuiam para o processo de desenvolvimento das soluções dessas startups. O problema é que, em geral, as startups não estavam dispostas a ceder percentuais de seus negócios em troca desse tipo de parceria. Por outro lado, elas continuavam com demandas por novos recursos. Por isso, as empresas viram a oportunidade de participar de outra forma: tornando-se investidoras.

Nascia aí o Corporate Venture Capital (CVC).

Algumas empresas criaram fundos para investir em startups. Além do papel tradicional de investidor, colocando recursos, as empresas têm a vantagem de usarem a estrutura e atuação em determinado mercado como campo de testes ou de expansão da atuação das startups. Assim, além do aporte investido, o CVC tem o potencial de expor a startup em dezenas, centenas ou milhares de clientes por meio das unidades ou canais de distribuição que a empresa já usa.

Mas tudo sempre vem com um desafio. Um CVC precisa funcionar dentro da trilha de investimentos já consolidada. Uma startup que captou recursos de um CVC pode precisar posteriormente de mais recursos que só conseguirá em um fundo de investimentos. Assim, os percentuais, a lógica de venda da participação em rodadas futuras e todo processo de relacionamento entre sócio e investidor precisa ser dominado pelo CVC para que ele não mate o desenvolvimento da startup. Às vezes, o mais rentável para ambos os lados será vender a empresa ou a participação de um sócio investidor. Entender e aceitar isso é fundamental para que o investimento seja proveitoso para as partes.

Já processos de inovação aberta com clientes e concorrentes são mais raros no mercado. Existem algumas iniciativas que ilustram as apresentações sobre o assunto. Mas, na prática, não é algo comum. Com os concorrentes talvez por raciocínio lógico. Já é difícil para uma empresa se abrir para a parceiros, fornecedores, universidades e startups; imagine para quem concorre pelos mesmos clientes. E, no caso de clientes, observa-se que as empresas ainda são receosas em compartilhar projetos em desenvolvimento. Elas se preocupam muito em manter uma comunicação eficiente com o cliente quando fazem algo em colaboração para que eles não fiquem com a impressão de que estão vendo algo inacabado.

Poderíamos ficar mais vários parágrafos falando sobre exemplos e possibilidades de inovação aberta,  mas espero que nossa discussão tenha lhe dado um primeiro retrato sobre o que tem funcionado ou não para que você trace suas próprias estratégias no tema.

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Qual o papel da inteligência artificial mesmo em sua fase de entendimento?

A inteligência artificial (IA) no mercado do entretenimento ainda está em fase de entendimento de como pode ser impactada, mas já se vislumbra que será uma ferramenta que contribuirá significativamente para a produtividade e a criatividade, sem substituir os talentos humanos.

Há uma previsão de convergência entre cinema e jogos, com o entretenimento em tempo real, onde a IA desempenhará um papel crucial na renderização instantânea. É este o ponto que Lisa Su, CEO da AMD, em Conversa com Ryan Patel, Futurista e Claremont Graduate University, e David, responsável pelos efeitos visuais de Avatar 2, discutem no painel do SXSW 2024, “AI and Future”.

Pessoas de todas as idades estão explorando as possibilidades da IA, trazendo uma energia criativa para todos os campos. Cada vez mais estamos vendo produções de texto, vídeo e outras contribuições com a IA Generativa.

Mesmo com o montante de conteúdos, o objetivo é aumentar o poder computacional em espaços menores, tornando-o mais rápido e acessível. Considera-se que a IA seja a tecnologia mais relevante dos últimos 50 anos e a era da IA está transformando fundamentalmente nossa maneira de viver.

Segundo os especialistas, prevê-se que em uma década, a IA estará presente em todos os aspectos de nossas vidas.

Os chips (GPUs) usados na IA, antes adaptados de jogos, agora estão sendo desenvolvidos exclusivamente para esse fim. Em breve, teremos nossos próprios computadores com IA, independentes de conexão com a nuvem, o que representa uma mudança significativa da lógica de software para hardware.

Na discussão, os especialistas alertam que as empresas que investirem em IA terão vantagens significativas sobre aquelas que não o fazem. Isto já foi mencionado e inclusive é objeto de estudo de Alexandre Nascimento.

A IA está em constante desenvolvimento, aprendendo conosco enquanto nós aprendemos com ela, em um momento de evolução mútua sem precedentes. A construção de máquinas mais poderosas, mas que consumam menos energia, é essencial para os objetivos globais de sustentabilidade.

Dada a rápida expansão e o poder da IA, é crucial permanecer vigilante. Um conselho para pessoas e jovens é desenvolver habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas, preparando-se para um futuro impulsionado pela inteligência artificial e que as referências estejam além do que os ‘search engines’ proporcionam.

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A visão de futuro de Ray Kurzweil

Por Poliana Abreu

Ray Kurzweil é um futurista, inventor e autor conhecido por suas previsões sobre o avanço da tecnologia e seus impactos na sociedade. Co-Fundador da Singularity University, é famoso por suas previsões sobre a singularidade tecnológica, um ponto no futuro em que a inteligência artificial superará a inteligência humana, levando a mudanças profundas na sociedade e na própria natureza humana.

Desde que foi publicado pela primeira vez em 2005, “The Singularity Is Near” de Ray Kurzweil e sua visão de um futuro exponencial geraram um movimento mundial. As previsões de Kurzweil sobre avanços tecnológicos em grande parte se tornaram realidade, com conceitos como IA, máquinas inteligentes e biotecnologia agora amplamente familiares ao público.

Presente no SXSW de 2024, Ray conversou com o jornalista Nick Thompson, sobre seu novo livro: “The Singularity Is Nearer” que será publicado em junho de 2024.
Tal como um cientista que procura investigar o sentido dos fenômenos e a lógica por traz das movimentações sociais, Kurzweil está sempre investigando questões que atravessam a sociedade. Isso implica que, muitas vezes, as respostas não serão objetivas e simplistas como muita gente quer.

Em certos momentos, Ray estava sendo requisitado no papel de prever algumas questões futuras. Não se tratava apenas disso. O “espírito do tempo” é compreender lógicas, energias, pulsões e o que atravessa uma sociedade.

Em seu último livro, Kurzweil previu que até 2029 os computadores alcançariam o nível de inteligência humana, desbloqueando soluções para os maiores desafios do mundo. Agora, o cientista acredita que até a década de 2030 a inteligência artificial se tornará superinteligente, ultrapassando em muito nossas capacidades e possibilitando avanços médicos na luta contra o envelhecimento.

Para Ray Kurzweil, cruzamos a fronteira da criatividade. É perceptível que isso tem ocorrido, principalmente com ajudas de IA Generativas. Cada vez mais nossa criatividade, que antes era recolhida por referências ou “criada do 0”, agora também acompanha um processo de criação a partir de dados massivos que as grandes corporações produzem.

Ele afirmou mais de uma vez, que se formos “diligentes”, a partir de 2029 entraremos num ciclo de rejuvenescimento. Dentre as inferências e deduções que um cientista lógico pode entregar, Kurzweil diz que até 2045 seremos capazes de conectar nossos cérebros diretamente à nuvem, aumentando nossa inteligência em um milhão de vezes e expandindo nossa consciência de maneiras que mal podemos imaginar.

Esse ponto de avanço tecnológico é conhecido como a “Singularidade”, mas ainda exigirá algumas questões, que se concentram em:

Poder computacional: Refere-se ao aumento exponencial na capacidade de processamento dos computadores, permitindo que realizem tarefas cada vez mais complexas em um tempo cada vez mais curto. Isso é crucial para o desenvolvimento e aprimoramento de inteligência artificial e outras tecnologias avançadas.

Interfaces Cérebro-Máquina (Brain-Machine Interfaces): Essas interfaces permitem uma comunicação direta entre o cérebro humano e as máquinas, permitindo que os indivíduos controlem dispositivos externos ou até mesmo interajam diretamente com sistemas de computadores. O desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina é fundamental para a fusão entre humanos e inteligência artificial, conforme avançamos em direção à singularidade tecnológica.

Essa investigação do cientista, que procura compreender o “espírito do tempo” contemporâneo, chamou atenção da comitiva alemã em peso e é sempre uma questão que Ray Kurzweil traz para nós. Por isso podemos pensar ao seu lado sobre o futuro, ler e discutir algumas questões que sua contingência vem mostrando em seus pensamentos.

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O Moonshot de Edu Lyra

A pobreza da favela em um museu por meio das tecnologias sociais

A manhã do terceiro dia de SXSW começou com muita brasilidade e inovação social na Casa São Paulo, iniciativa da InvestSP, agência de desenvolvimento do Estado de São Paulo, que tem como objetivo desenvolver o Estado por meio da atração de investimentos, promoção de exportações, incentivo à inovação e melhorias no ambiente de negócios.

Edu Lyra, da Gerando Falcões, abriu o Favela Day, no SXSW 2024, com a energia e a clareza dignas de quem persegue um Propósito Massivo Transformador. Essa inspiração, de ir além do lucro para buscar impactar positivamente a sociedade em larga escala, nos ajuda a orientar a direção estratégica de longo prazo, motivando todos, tal como Edu Lyra coloca, em prol de uma causa maior e servindo como um farol orientador para tomadas de decisão alinhadas aos valores e propósitos da organização.

Na SingularityU, falamos muito sobre o “moonshot”, essa meta ousada e disruptiva que nos direciona a resolver grandes desafios globais utilizando tecnologias exponenciais.

O Moonshot da Gerando Falcões é claro e foi reforçado em Austin: Transformar a pobreza da favela em peça de museu.

Para atingir este Moonshot, Edu trouxe sobre a importância da “Ficção Social”, que é uma postura de resiliência, quase teimosia para que o sonho não seja engolido pela realidade.

Edu conta que no início da sua jornada, recebeu muitos ‘nãos’ e isso o ensinou a “Querer teimar na vida quando te dão um não como resposta” e, mesmo olhando obstáculos (não ter dinheiro, não querer ajudarem), é necessário encontrar caminhos e alternativas para fazer o que você sonha.

A Gerando Falcões cresceu de apenas uma favela para cinco e agora conta com 300 colaboradores, focados na missão de acabar com a pobreza. Esse crescimento foi feito por um plano estratégico, baseado em 4 tecnologias
sociais:

Rede de líderes: Isso começou há 5 anos atrás. Pensando em mudar o Brasil, Edu destacou que precisamos de muita densidade de líderes reais. A Falcon’s University foi feita para formar líderes sociais e empreendedores. Hoje são 2.000 líderes sociais nas favelas no Brasil graças a este movimento comunitário.

Favela 3D: Digital, digna e desenvolvida. A representação da construção de um bairro de favela é só o começo para colocar esta peça em um grande museu da pobreza, principalmente para lembrar que isso só pode estar no passado e o futuro será diferente. Acabar com a pobreza das favelas está começando por São Paulo e estas iniciativas.

Decolagem: “A gente lida com pobreza da mesma forma. Com mesmo remédio. Mas a realidade não é assim.” Com esta frase, Edu Lyra mostrou que a Gerando Falcões criou o projeto “decolagem”, que é um programa transformador, onde cria trilhas personalizadas de superação de pobreza de cada família. Eles atuam como mentores sociais para 60 famílias.

Junto com essa família, o mentor cria trilhas de superação para ela sair da pobreza. Toda a família tem uma trilha com metas. Quando o mentor visita a família, ele está ajudando a sair dessa condição. Ninguém aprende a sair da pobreza na escola.

Isso se trata de um processo social, pragmático e mental que não se aprende sozinho. Essas mentorias dão autoestima para evoluir socialmente. Isso tudo com base em dados e índices que vão sendo acompanhados durante os anos. “O contrário de pobreza não é riqueza. É dignidade”, destacou Edu Lyra.

As Maras: As mulheres têm um desafio especial de colocar no ambiente de trabalho. Em média, cuidam de cerca de 3 a 4 filhos. Como sair da pobreza de forma resiliente nesta situação complicadíssima que tem até problemáticas de gênero?

A resposta dada pela Gerando Falcões está pelas Maras: Mulheres focadas em vender roupas de segunda mão na favela. São mulheres que começaram a gerar renda, melhorar sua situação e agora já contam com mais de 1.000 mulheres. Segundo Edu Lyra, a convergência dessas 4 tecnologias pode vencer a pobreza.

Para encerrar, Edu trouxe seus Aprendizados nestes anos à frente do Gerando Falcões:

Amor e missão: Se você não ama o que você faz, nos momentos mais difíceis vira tortura. Para ele, o Brasil precisa de um sonho que parece impossível para, finalmente, deixarmos o discurso de país do futuro e sermos efetivamente.

Isso é ser guiado por missão. Missão é diferente de um trabalho. Missão você dá tudo que possui e destacou o quanto “a gente faz tudo em torno de uma missão”.

Pessoas com as quais trabalhamos: Empreender é uma oportunidade de conhecer pessoas incríveis e ter uma trajetória incrível com elas.

Mais do que isso: é nos momentos de crise que as pessoas se conectam. O que o empreendedor precisa é um grupo de pessoas de time que estão dedicadas e vai falar: você não vai desistir.

Empreender é escolher gente que estará conosco. Ao fim, trouxe um recado para os negócios e líderes brasileiros: “Temos que encontrar um modelo de geração de renda em escala para a base da pirâmide além do acúmulo de capital para um grupo pequeno.”

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A Interseção Criativa: Arte, Inteligência Artificial e o Futuro da Colaboração

Na terceiro dia de SXSW 2024, a palestra "Criatividade em Fluxo: Arte & Inteligência Artificial", conduzida por Brooke Hopper e Debbie Millman, foram exploradas questões cruciais sobre como a arte e a inteligência artificial se entrelaçam no cenário contemporâneo. 

Um dos pontos centrais discutidos foi a responsabilidade das empresas na utilização de dados para treinar IA, enfatizando a necessidade premente de transparência radical nesse processo, tanto com dados licenciados quanto não licenciados. 

"Não vemos isso acontecendo hoje em dia. Estamos vendo processos serem construídos e cada vez mais agem por questões de ambições desconhecidas. Precisamos nos preparar para isso", destacou Hopper.

Uma das ideias foi criar um tipo de sinalização para que fosse possível identificar conteúdos gerados por IA. Essa estratégia é crucial, especialmente diante dos desafios éticos impostos pelos deep fakes, onde a distinção entre realidade e falsificação torna-se cada vez mais tênue.

A palestra ressaltou também a diferença fundamental entre a criatividade humana e a das máquinas, destacando que enquanto a IA pode potencializar a criatividade humana, ela não é e não será capaz de substituí-la. 

Essa reflexão enfatizou a importância da colaboração entre humanos e IA para gerar resultados criativos verdadeiramente inovadores. Projetando-se para o futuro, vislumbra-se uma crescente proximidade entre humanos e IA, resultando em experiências criativas mais imersivas e ricas nos próximos 10 anos. 

Esse avanço será impulsionado pelo design computacional e pela contínua interação entre os dois domínios, promovendo um ambiente de colaboração e crescimento mútuo.

“A IA não compete com a nossa criatividade, pelo contrário, ela possibilita que consigamos fazer novas coisas com o seu uso, amplificando nossa criatividade", destacou Millman.
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A importância do design para humanizar a tecnologia

Por Marcel Nobre, CEO da Beta Lab.

O Design in Tech Report 2024, apresentado por John Maeda, Vice-Presidente de Design e Inteligência Artificial na Microsoft, trouxe insights valiosos sobre a interseção entre design e IA.

Maeda destacou a discrepância entre as aspirações das empresas em criar grandes e elaborados sites e as expectativas das pessoas, que muitas vezes desejam apenas uma experiência simples e intuitiva, representada por um único botão. É preciso tomar um cuidado com isso, porque nem sempre as soluções são dadas apenas por IA e sim por uma concepção anterior do que já era feito, por isso a importância de desenhar e refletir sobre o que ocorre.

Ao longo da apresentação, foram delineados três tipos de design: clássico, design thinking e design computacional. Porém, o ano de 2018 marcou um ponto de inflexão, com a ascensão de questões como ética tecnológica, design inclusivo, trabalho remoto e o lançamento da Runway, plataforma de IA.

Com isso, o especialista provocou reflexões sobre o futuro do trabalho remoto, questionando se essa modalidade será permanente. Ele, inclusive, compartilhou uma análise comparativa entre o filme “The Stop Motion Samurai Film HIDARi” e a IA SORA, destacando o papel da arte na percepção da qualidade do trabalho criativo.

O Vice-Presidente de Design e IA ressaltou o avanço dos robôs em termos de inteligência, força e velocidade, exemplificando com os casos das empresas Bostons Dynamics e Unitree H1. Ele também mencionou inovações como o Sinerider, da Hack Club, e a Poetry Camera, uma câmera capaz de transformar fotos em poesia.

Em relação à evolução do design, Maeda enfatizou a importância da criação de modelos grandes e pequenos, a flexibilidade entre abordagens abertas e fechadas, e a crescente tendência das pessoas em desenvolver seus próprios modelos GPTs (Geradores de Texto Pré-Treinados).

Além disso, foram abordadas estratégias de design, desde o método artesanal até o desenvolvimento de sistemas e prompts de IA, destacando a importância das habilidades de marketing e produto.

Por fim, Maeda ressaltou que o design humaniza a tecnologia, mas alertou para a necessidade de não humanizar excessivamente a IA, promovendo uma reflexão sobre os limites éticos e morais na interação entre humanos e máquinas.

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“A tendência é que as produções, inclusive culturais, acabem se tornando educativas”, destaca Kondzilla, empresário e produtor de sucesso

O momento da Gerando Falcões, na Casa SP, trouxe uma perspectiva crítica sobre o crescimento do fenômeno cultural da Favela e o impacto pode ser tão grande que fez Kondzilla afirmar: “sorte dos gringos que não falamos inglês!”

Existe uma grande geração “Nem-nem”, como dizemos. São jovens que não estão trabalhando ou estudando. Para Edu Lyra, isso é um “tiro no pé” e o maior sentido é: são pessoas que acabarão indo contra a direção necessária para tornar a própria relação social sustentável.

Um dos assuntos tratados na palestra, que contou com a presença de Marilia Marton, Secretária do Governo do Estado de São Paulo, ao lado de seu co-colaborador Armando Júnior e Renato Barreiros, da Fábrica de Cultura, foi a questão da educação e da capacitação no trabalho.

Kond, empresário e produtor da Kondzilla, maior portal e produtora de funk do Brasil há pelo menos 15 anos, destacou a importância de olharmos as produções muito além da própria manifestação cultural. A tendência, para o empresário, é olhar estes processos com olhares mais pedagógicos e educacionais e isso precisa também ser a complexidade que a indústria digital precisa ter.

“Há particularidades de comunicação e nichos, seja na Microsoft, BTG, Google. É uma tendência que isso ocorra e cada vez mais será necessário ter essa perspectiva. Integrar e treinar precisa ter essa capacitação constante e assim podermos garantir que estes trabalhos também sejam acessíveis para a economia criativa”, destacou Kond.

Kond ainda destacou o quanto o “mindset” precisa mudar e é tarefa nossa perpetuar a ideia de que a educação é sim o futuro, se tratando em questões de capacitação e cada vez mais referenciais.

Quando a questão foi “O que teremos que acertar?”, a palestra passou a discutir sobre o crescimento da cultura da periferia de São Paulo. É bem claro, inclusive por todos os paulistanos, o quanto a cultura da favela ressoa na cidade e no mercado, como um todo.

O estilo, as músicas, a maneira de comemorar e o tamanho do mercado cresceu exponencialmente nos últimos dez anos. Renato Barreiros, da Fábrica de Cultura, destacou o quanto é necessário ganhar espaço e até internacionalizar com o tamanho que poderia ter.

Na moda isso já chegou às passarelas de Paris e Itália. Cada vez mais outros tipos de estéticas brasileiras, como o futebol, dão forma a essa escala e mostram um potencial gigantesco que isso pode ressoar em diferentes pontos geográficos em um futuro não tão distante.

“O projeto precisa continuar como missão do Estado. Precisamos não desistir e dar continuidade aos projetos como uma inteligência de nação. Não podemos desistir de nada e de ninguém”, destaca Edu Lyra.

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“Se nós conseguirmos fornecer a oportunidade de estudo, água, tecnologia, se inovar e entregar, temos a mina de ouro nas nossas mãos que são as favelas”, destaca CEO da Boogie Naipe

“Está tudo aqui e só precisamos nos desprender do preconceito.”

É dessa maneira que Eliane Dias, CEO da produtora musical Boogie Naipe, que cuida dos Racionais MC’s, inicia a discussão do painel “Favela-X e Favela 3D: a corrida social”, no SXSW 2024.

Ao lado Renata Ruggiero, da CCR, Nina Rentel Scheliga, Diretora de Tecnologias Sociais na Gerando Falcões, e Mayara Lyra, a Casa SP, iniciativa da InvestSP, agência de desenvolvimento do Estado de São Paulo, que tem como objetivo desenvolver o Estado por meio da atração de investimentos, promoção de exportações, incentivo à inovação e melhorias no ambiente de negócios, foi palco de um momento crucial de tornar visível as transformações que estão ocorrendo nas favelas de São Paulo e quais são os principais projetos que dão autonomia às pessoas que vivem nestes locais.

A Gerando Falcões atua com diversas conexões sociais, desde remodelagem, até assistência em saúde e até esforços sociais. A ideia, com o Programa Decolagem, é também trazer vários mentores para ajudar as famílias que estão procurando superar as barreiras que existem neste país tão desigual, desde problemáticas de gêneros até questões relacionadas à juventude.

A tentativa, então, é personalizar soluções. Nina Scheliga traz essa perspectiva para mostrar que não há uma unidade de entendimento e que é necessário um tempo dedicado e atenção para que as oportunidades sejam criadas e alternativas sejam co-criadas pelas pessoas.

“Antecipar as soluções não são coisas fáceis. Precisamos fazer leituras das disposições e inclinações das famílias também. Por isso usamos inteligência artificial para isso, mas sempre procurando compreender como usá-la a nosso favor e não reproduzir problemáticas”, destaca a Diretora de Tecnologias Sociais da Gerando Falcões.

Mayara, que está à frente da ASMARA, destaca este ponto da transformação a partir dos insumos que existem em seu cotidiano. Ao estimular o empreendedorismo, segundo Mayara Lyra, pôde perceber como a mulher da periferia puxa toda a família e consegue transformar a realidade de sua família.

Estas ações que mostram e permitem autonomia são importantes para o contínuo impacto social. Tal como Eliane Dias coloca: “Sucesso é poder fazer aquilo que quer” e isso provém de iniciativas e contínuo trabalho de criação potencial que a favela tem, que precisa, cada vez mais ser olhado sem estas problemáticas preconceituosas e suas barreiras.

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“Água não deveria ser vista como elemento abundante. Há todo um processo que se perde por não entendermos o ciclo fechado”, destaca Head de Sustentabilidade da Sabesp no Favela Day, no SXSW

No painel sobre o Futuro das Cidades e o Ciclo da Água do Favela Day, no SXSW 2024, participaram Virgínia Ribeiro, Head de Sustentabilidade da Sabesp, Kdu dos Anjos, CEO da Lá da Favelinha e Sócio do Coletivo Levante, Pedro Sutter, Chief Sustentability, Risk & Compliance Officer na CCR, e foi mediado por Eco Moliterno, CCO da Accenture.

Diversas questões cruciais foram abordadas em relação à gestão urbana, sustentabilidade e nossa relação com a água. Virgínia Ribeiro, da Sabesp, enfatizou a importância de repensar este componente vital como um recurso finito. Isso, segundo a especialista, é crucial para trazer soluções de ciclo fechado e reduzir o impacto ambiental.

“Muito dos nossos problemas são pela falta de cuidado e achar que a abundância compreende usar sem mediação alguma”, destacou a Head de Sustentabilidade.

Além disso, em sua fala inicial, compartilhou projetos inovadores, como a captura de gás metano para a produção de biocombustível, reuso de água em indústrias e utilização do lodo como fertilizando orgânico.

Kdu dos Anjos trouxe à tona a questão da moradia nas periferias e o uso da arte na concepção de soluções habitacionais. Ele ressaltou a importância de compreender as necessidades individuais dos moradores e destacou projetos que visam melhorar a eficiência térmica das casas, como o uso de tijolos horizontais.

Quando questionado sobre a questão da mobilidade para o desenvolvimento econômico e social, Pedro Sutter, da CCR, mencionou projetos que visam melhorar a infraestrutura de transporte, como o metrô de Salvador, que reduziu significativamente o tempo de deslocamento dos usuários e está prospectando a automação de suas ações pelas plataformas.

No que diz respeito às tendências futuras, Virgínia destacou a implementação de tecnologias de Internet das Coisas (IoT) para o saneamento, como hidrômetros inteligentes, enquanto Kdu compartilhou seu próximo projeto de uma Galeria de Arte acessível em realidade aumentada e virtual.

Ao final do painel, Kdu emocionou a plateia ao recitar um poema autoral, dando voz à vida e às experiências dos moradores das periferias urbanas, destacando a importância da inclusão e da representatividade nos debates sobre o futuro das cidades.