Categorias
Sem categoria

Lições que o futuro nos reserva: o que os maiores futuristas do mundo trouxeram no SXSW

Por Glaucia Guarcello, CIO da Deloitte e professora convidada SingularityU Brazil

Uma das maiores contribuições do SXSW é nos ajudar a pensar o futuro. Neste quesito, Amy Webb é um dos maiores nomes. Sua disputadíssima apresentação teve um ar de preocupação diferente dos anos anteriores. Pela primeira vez, a futurista ressaltou que a convergência tecnológica tem tomado rumos em que a população nao poderá mais ser expectadora, e terá de ter um papel ativo na construção de um futuro melhor para todos. Segundo Amy, para lidar com o nosso futuro, precisaremos ter um estomago forte pois seu report deste ano traz alguns cenários de futuros assustadores.

Um ponto de atenção trazido é a tendencia das empresas se prenderem ao conhecido em momentos de incerteza e de muitos ruídos, como estamos vivendo, e ficarem míopes em relação à realidade e as ações necessárias. Precisamos treinar o olhar para vermos novos padrões.

Em sua apresentação, Amy trouxe 35 das 666 tendencias que seu relatório anual do Future Today Institute produz. Ela também ressaltou quais destas tendências são mais ou menos preocupantes para cada indústria e solicitou à audiência que classificasse as tendências em ações, decisões e monitoramento.

O primeiro cluster foi cloud computing, e a mensagem foi clara: a internet como conhecemos está morta. Esta percepção foi colaborada por outros futuristas da conferência. A internet tem se transformado em algo diferente e se aproximando cada vez mais da comunicação humana. A Web3 tem gerado identidades digitais e descentralização e menos dependência de intermediários e plataformas.

Outro tópico super relevante é a inteligência artificial, que tem se desenvolvido com reinforced learning humano. Porém, ao testarmos as ferramentas de IA em escala existentes, temos percebido que os vieses do nosso mundo físico têm sido replicados para a inteligência artificial. No fim, a IA não nasce com viés, ela é ensinado.

De alguma forma, quem tem treinado essas plataformas continua a embutir racismo, machismo e tantos outros vieses nas ferramentas. Como exemplo, os AI generalists quando solicitados a imaginar uma pessoa CEO, retornam apenas homens e brancos, até mesmo se for solicitado CEO de empresa de absorventes íntimos femininos.

Um risco hoje é o desenvolvimento das formas de lerem dados e do controle do uso desses dados. Quanto mais dados, mais poder computacional para operar. E esse círculo acaba gerando uma IA cada vez mais desenvolvida e com mais necessidade de alguma forma ser minimamente gerida em relação aos seus avanços. A estimativa é que em 2030, a inteligência artificial seja mil vezes melhor que hoje. Pesquisas mostram que até mesmo cheiros tem sido avaliado como dados. Poderemos, num futuro próximo, rastrear pessoas pelo cheiro. Várias empresas,  como o Google por exemplo, já estão investindo nessa tecnologia.

Nos próximos dois anos, a inteligência artificial generativa será o novo normal. Assim como o uso de uma calculadora, precisamos aprender a fazer as perguntas certas e utilizar as ferramentas para prosperar nesse futuro próximo.

Sairemos do “internet of everything” para o conceito de AISMOSIS, uma fusão entre AI e o humano, e dificilmente os reguladores terão tempo suficiente de reagir. Algumas reflexões cruciais são postas à mesa: qual o limite de dados que poderemos usar? Quem ditará isso?

Para os cenários em 2033, o catastrófico tem 80% de chance de ocorrer: informação nos perseguir, sistemas de marketing nos lendo todo o tempo, não teremos escolhas reais e provavelmente não acharemos de forma fácil as informações que queremos.

O segundo cluster foi o metaverso. Segundo Amy, nunca mais pensaremos por nós mesmos. Já existem tecnologias desenvolvimento escaneamento de cérebros para reconstruir imagens vistas, inclusive em mortos. Em pouco tempo esta tecnologia poderá inclusive reconstruir os nossos pensamentos. O Chat GPT ja cria um business plan em menos de 11 segundos. O upskilling agora vira até mesmo  necessidade nas crianças. Nossa sociedade vai funcionar de forma nova.

O cenário para 2038 é de 50% otimista e 50% catastrófico. No otimista, focaremos em upskilling, educação, medicina incrivelmente personalizada, virtual and real care. No catastrófico, usaremos as tecnologias apenas para lucro , aumentaremos a segregação social e tiraremos toda uma parcela da população do mercado de trabalho.

Principais takeaways:

1. Focar e treinar os olhos para os sinais;

2. Usar sempre o frame ação, decisão e monitoramento ao analisar os sinais;

3. A internet como conhecemos acabou;

4. Tudo é informação legível;

5. Entramos a era da computação assistiva;

6. Novas ferramentas não são acessíveis a todos, temos criado uma divisão digital;

7. Todos precisarão de upskilling;

8. As grandes empresas de tecnologia têm se tornado cada vez maiores e mais poderosas;

O Futuro Não-Óbvio

Ao olharmos as tendencias não-óbvias, foco do futurista Rohit Bhargava, a pergunta seria “e se tudo der certo?” e refletir sobre as lições que podemos tirar das coisas que têm tornado o mundo melhor. Segundo ele, as pessoas que entendem pessoas sempre vencem na jornada da humanidade.

Rohit compartilhou soluções como uma luva que, através de eletrodos, ensina a tocar piano em minutos e gera memoria motora no usuário. Também trouxe estudos em monitoramento de diabetes de forma não invasiva. E trouxe algo não intuitivo: o poder do fake!

Por exemplo, a empresa Upside Foods cria carne falsa em laboratório, que é mais saudável, não mata animais e é mais abundante. Há a tendência do couro sintético substituindo o couro real.

E se começássemos a celebrar o que não á autântico? Porque hoje, o não autêntico pode ser muito melhor que o original graças a tecnologia.

O futurista também lançou a byrdhouse, solução que traduz simultaneamente através de AI falas em 71 línguas, o que pode transformar nossa forma de comunicar e gerar conhecimento.

Categorias
Sem categoria

Demissões nas big techs: confira a avalição dos experts da SU

Nas últimas semanas, a crise macroeconômica tem levado as big techs, como são conhecidas as grandes empresas de tecnologia, a fazer grandes cortes de pessoal. Empresas como Google, Meta e Microsoft anunciaram cortes em massa em seus quadros de funcionários. Neste artigo, dois especialistas da SingularityU Brazil fazem uma avaliação sobre este cenário e apontam o que muda em relação às tendências anteriormente previstas.

Cenário atual

Para Alexandre Nascimento, empreendedor em série e expert da Singularity, as gigantes de Tecnologia saíram de um ciclo longo de valorização de suas ações. “Na minha opinião, sem entrarmos no detalhe do mercado de cada uma, há uma tendência de valorização dessas empresas que se mantinha constante por conta da mudança de paradigma que estamos vivendo e o grau de importância delas na sociedade atual. É possível visualizar essa tendência de crescimento no gráfico histórico de cotação de suas ações pré-pandemia”.

Nascimento afirma que apesar desta tendência de crescimento, durante a pandemia, percebeu-se que essa valorização foi extremamente acelerada. “Houve uma mudança de padrão acentuada, em que as atividades econômicas e as nossas vidas passaram a ter um grau de dependência ainda maior dessas empresas por conta das restrições físicas impostas pelos lockdowns. Isso adicionou um novo fator que acelerou ainda mais esta valorização. Agora, no entanto, como o pior parece ter passado e a vida aos poucos está voltando ao normal, estamos observando uma correção dos valores. Essa inversão, criou uma pressão por otimização e produtividade desses negócios, que estavam numa escala massiva de contratações há muitos anos. Ou seja, neste momento, o que vemos significa apenas uma correção”.

Já para Eduardo Ibrahim, empreendedor e Global Faculty da Singularity, esses cortes foram pensados como uma medida de segurança e proteção para essas empresas. “Fazendo uma contextualização, a necessidade da digitalização ocorrida por conta do isolamento social vivido na pandemia fez com que a demanda dessas empresas de tecnologia crescesse rapidamente, ocorrendo muitas contratações de funcionários”.

Ibrahim acredita que hoje vivemos uma situação em que os preços e as taxas de juros dos bancos centrais mundiais subiram e isto atinge diretamente a capacidade de investimento dessas empresas, fazendo com que elas contenham custos e, consequentemente, “entrem” nesta onda de demissão. “Mas não podemos descartar o investimento crescente em tecnologias cada vez mais presentes em todos os setores da econômica como, por exemplo, Inteligência Artificial e Blockchain”.

Tendências

Para Nascimento, vale ressaltar que, olhando para cada caso, há transformações ocorrendo que também são drivers de uma correção de rumo em cada um dos mercados das gigantes. “Sob a ótica da valorização, houve uma mudança importante, pois nós voltamos a usar mais o mundo físico e o virtual coexiste. Ou seja, aquela aceleração na valorização das empresas está sendo corrigida. No entanto, eu vejo que após esta correção, a tendência é de uma valorização, caso elas continuem fazendo a lição de casa de corrigir constantemente o rumo de seus negócios por meio da inovação em seus mercados”.

Nascimento acredita ainda que “nesse segundo ponto, podemos imaginar que é possível mudar algumas tendências por conta dessas correções. Apenas para ilustrar, TikTok hoje se tornou a fonte de busca de informações para várias pessoas, drenando uma atenção que naturalmente iria para o Google ou para redes sociais tradicionais. Isso mostrou que existia espaço para mudar a forma como as pessoas buscam e consomem informação e drenou receita de propaganda dos players tradicionais”.

Ele explica “por exemplo, projeta-se que a receita de ads vá ultrapassar a receita da Meta em 2027. Ou seja, essas gigantes de TI – que tinham o domínio desta importante fonte de receita – repentinamente, viram um grande risco e estão buscando se adequar. Naturalmente, com o tamanho que atingiram elas perderam competitividade, o que ajudou a fazerem escolhas e, consequentemente, os lay-offs. Outro fator foi o movimento da Apple com o seu sistema operacional que dá mais controle aos seus usuários sobre a privacidade de seus dados, o que também causou a perda de receita de ads para o Facebook e Google, ameaçando o duopólio de ads online. Estima-se que esta mudança tenha custado $10Bi para o Facebook em 2022”.

E conclui, “portanto, a forma de interagir dos usuários, a disponibilidade de informações e o mercado de ads estão mudando. A tendência é vermos outras plataformas aproveitando o momento e desenvolvendo soluções que advoguem mais pelo interesse dos usuários, como a própria Apple fez, por exemplo. E isso, consequentemente, ocasionará a redução desse tipo de receita de algumas gigantes de TI”.

Nascimento traz ainda um outro ponto importante: “as empresas tiveram dificuldade de fazer os funcionários retornarem para os escritórios após o relaxamento dos lockdowns. Muitos queriam manter o trabalho à distância. Vimos esse problema ocorrer com frequência aqui no Vale do Silício. Agora, com as demissões, talvez tenhamos uma reversão nessa tendência. A verdade é que, no geral, o entusiasmo exacerbado com as empresas digitais, incluindo as startups, estão acompanhando esta tendência. Ou seja, elas se ajustam ao novo apetite de investidores diante de um novo cenário de mercado”.

Já no ponto de vista de Ibrahim, os investimentos em tecnologia não devem parar de crescer. “No meu livro, o “Economia Exponencial”, há um gráfico que mostra a diferença de crescimento do PIB de países que investem mais em tecnologia. Esses países se mantêm na frente há anos e isso não deve mudar. Eles têm uma taxa de desemprego menor, quando analisado no longo prazo. Estamos passando por uma transição das estruturas econômicas nunca vista, mas que ocorre em ritmo diferente em cada país. Portanto, os investimentos em tecnologia não devem parar de crescer, mesmo que a velocidade se ajuste ao momento macroeconômico”.

Ibrahim completa afirmando que “a tendência é que cada vez mais empresas tenham inovação e sustentabilidade (ou inovabilidade) em seu core business. Ao passar pelos ajustes dos momentos cíclicos, a tecnologia deverá continuar sendo prioridade para empresas e governos avançarem nas áreas sociais e econômicas nos próximos anos”.

Para finalizar, Nascimento afirma que “outras tendências devem se fortalecer como, por exemplo, a importância das empresas se apoiarem em Inteligência Artificial para evoluir seus negócios e obter sucesso em um novo cenário competitivo. É importante que as empresas entendam que elas precisam, cada vez mais, utilizar esses modelos para apoiar as decisões dos gestores de curto, médio e longo prazo”.

Conheça os experts da SU

Alexandre Nascimento

Alexandre Nascimento é empreendedor em série e visionário. Fundou várias empresas baseadas em aplicações de tecnologias inovadoras tanto no Brasil como no Vale do Silício, onde reside atualmente. Foi diretor da divisão de IoT da Samsung no Vale do Silício. Expert da Singularity University com mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento de produtos e plataformas tecnológicas inovadoras. Afiliado à Universidade de Stanford, realiza pesquisas aplicadas em vários temas, como adoção e aplicações da Inteligência Artificial e suas interfaces com outros domínios, como computação quântica, dispositivos autônomos inteligentes e metaverso, buscando entender seus impactos nos negócios. Atuou no desenvolvimento de inovações junto a empresas de diversos setores nos EUA, Europa e Brasil resultando em diversas patentes. Criou uma metodologia para adoção acelerada de inteligência artificial nas empresas e desenvolveu um programa de inovação sistemática para geração de pipeline de produtos inovadores baseado num funil de ventures que tem sido adotado por organizações no Vale do Silício. Alexandre é um PhD com eclética formação acadêmica em negócios, inteligência artificial, engenharia e comportamento humano, tendo passado por instituições renomadas no Brasil e no exterior, como USP, FGV, Renmin University of China, MIT, Berkeley, Harvard e Stanford University. Colunista da MIT Sloan Management Review Brasil e com blog no Link do Estadão, coleciona dezenas de prêmios e publicações nacionais e internacionais entre artigos científicos e livros, tendo feito sua primeira publicação aos 13 anos de idade em um livro para computação.

Eduardo Ibrahim

Executivo e empreendedor com passagens pelas indústrias de energia, transporte, saúde, tecnologia e finanças. Se tornou Faculty da Singularity University depois de fazer parte do programa de inovação mais procurado do mundo no campus da NASA no Vale do Silício, onde incorporou sua primeira empresa de Inteligência Artificial. TEDx Speaker, autor do livro “Economia Exponencial – Da Disrupção à Abundância em um mundo repleto de máquinas” e maior referência do assunto no país. Ele é professor convidado da Escola de Economia de São Paulo e alumni da Harvard Business School. Ibrahim foi o primeiro brasileiro a palestrar no Executive Program Global nos EUA e apresenta uma nova equação de crescimento econômico exponencial demonstrando movimentos disruptivos que estão reconstruindo a economia como conhecemos.

Leia também sobre o impacto do ChatGPT para as empresas.