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10 startups brasileiras que oferecem soluções para a COVID-19

Em parceria com a Associação Brasileira de Startups (ABstartups), o InovAtiva Brasil, programa de aceleração de startups do Ministério da Economia e do Sebrae, selecionou dez startups nacionais com soluções que podem ajudar a combater a disseminação do coronavírus no país e reduzir os impactos do isolamento social.

A equipe técnica do primeiro Demoday online “InovAtiva Conecta: Covid-19” escolheu os participantes do próximo ciclo de aceleração a partir de quatro eixos de atuação: tecnologias, métodos e soluções para testes rápidos; tecnologias para monitoramento de indivíduos infectados; atendimento remoto, telemedicina e telepsicologia; e promoção da saúde em quarentena. Os aprovados foram anunciados no início do mês. Saiba mais sobre as startups abaixo.

Hilab é um healthtech localizada em Curitiba (PR), que oferece serviços de exames laboratoriais remotos 24 horas para farmácias, clínicas e consultórios médicos e outros estabelecimentos de saúde. A startup criou um dispositivo para a realização de exames utilizando as metodologias de Imunocromatografia e Colorimetria. A empresa tem tecnologia para fazer análise em tempo real de exames positivos para o coronavírus, oferecendo um “mapa de calor” da Covid-19 no país.

Testfy é uma startup que oferece home collecting tests e atua para desburocratizar o processo laboratorial convencional. A empresa já oferece um leque de exames, como de intolerância alimentar, microbioma intestinal e marcadores genéticos relacionados à dermatologia e, agora, criou um kit específico para a Covid-19. Segundo os empreendedores que participaram do demoday nesta quarta, a startup tem capacidade para processar até 5 mil exames por dia.

A eLoopz é uma plataforma de Digital Visual Merchandising para gerenciamento online de campanhas de marketing no ponto de venda físico. A empresa desenvolveu uma rede colaborativa com outras duas startups e varejistas para oferecer testes gratuitos de detecção do coronavírus na modalidade drive thru em farmácias em todo o país. A ideia é viabilizar a estrutura necessária para realizar testes em massa na população, a exemplo do que foi realizado na Coreia do Sul.

A startup de exames genéticos FullDna, soma uma tecnologia única de Sequenciamento do Genoma Inteiro Humano (WGS) e um algoritmo que informa características, necessidades e suscetibilidades individuais. O sistema oferece resultados de alta precisão, em forma de painéis, incluindo diagnósticos que vão da área comportamental a relatórios de desempenho atlético. As soluções incluem um painel de suscetibilidade à contaminação às principais doenças respiratórias, incluindo o Covid-19.

A Talent Academy é uma startup de recursos humanos desenvolveu o “Radar de Apoio”. A ferramenta online permite que organizações identifiquem as principais preocupações de seus colaboradores e apresenta dicas e informações customizadas para cada um dos funcionários. A organização tem acesso às respostas consolidadas, de forma anônima. Com base nesses dados, os gestores podem tomar decisões e iniciar ações direcionadas aos temas mais importantes para sua equipe de trabalho, como saúde mental, bem-estar e resiliência.

A Carefy é uma plataforma de gestão e acompanhamento de internações domiciliares e hospitalares. O foco está na redução dos custos de internação, da média de permanência global e do auxílio na assistência do paciente. A solução da empresa reúne informações e dados sobre o fluxo de atendimento das pessoas na mesma plataforma.

ePHealth desenvolveu uma solução para a Estratégia da Saúde da Família envolvendo os Agentes Comunitários de Saúde, Enfermeiros e Médicos. A tecnologia é integrada com o e-SUS e antede tanto pequenos municípios como grandes centros urbanos.

A Dev4us oferece uma plataforma de monitoramento epidemiológico, com soluções para monitoramento da população e apoiar a tomada de decisão de gestores públicos de saúde.

A Mindify trabalha com automação de protocolos de triagem e acompanhamento residencial, assim como automação de protocolos assistenciais no ambiente hospitalar. A startup usa uma solução de Inteligência Artificial para simplificar o processo de coleta de dados clínicos e entregar melhor usabilidade, para validar dados clínicos e até para sugerir hipóteses diagnósticas e condutas. A startup oferece, atualmente, uma ferramenta de triagem de pacientes de forma gratuita.

Triágil é uma startup social de saúde que desenvolveu a solução testedocorona.com.br para triagem, orientação e monitoramento online de pacientes com suspeita de COVID-19, que pode ajudar no rastreamento da disseminação do vírus no país e acompanhamento e acolhimento dos pacientes testados. O objetivo da empresa é reduzir em até 80% o número de pacientes suspeitos de COVID-19 que não são de riscos nas emergências dos hospitais.

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Um panorama por Ricardo Cavallini

Com décadas de internet, não é preciso gastar saliva para defender o impacto que a tecnologia tem causado na sociedade.

A mudança e tecnológica, mas o grande impacto é cultural e de negócios. E não se trata de uma mudança pontual, mas de uma evolução contínua.

Com o avanço de tecnologias exponenciais, o impacto será ainda maior e mais rápido. Inteligência artificial, impressão 3D, Crispr, Internet das Coisas e Computadores quânticos, a curva da mudança ficará mais íngreme e irá impactar tudo a nossa volta, do comportamento humano ao ambiente de negócios em todas as indústrias e segmentos.

Ray Kurzweil, co-fundador e chanceler da Singularity University traduz bem o que isso pode significar. Segundo ele, com o avanço tecnológico exponencial, os próximos 100 anos serão equivalentes a 20 mil anos.

Com tantas mudanças, o exercício de olhar para frente e escutar quem se destaca neste exercício é inevitável. Olhar para grandes pensadores é um caminho óbvio.

O historiador e filósofo Yuval Noah Harari, tem falado muito sobre os riscos de controle governamental, aumento da desigualdade e desaparecimento dos empregos.

Já Peter Diamandis, co-fundador da Singularity University, defende a ideia de abundância, mostrando não apenas que o presente é muito melhor que o passado (menos guerras, menos fome etc.) mas também que o futuro será muito melhor do que o presente.

É natural olharmos para estas duas visões como antagônicas e ficarmos em dúvida se devemos ser pessimistas ou otimistas em nossas análises.

Porém, o que precisamos entender é que não se trata de pessimismo ou otimismo, a provocação que ambos estão fazendo é que precisamos construir o nosso futuro.

As duas provocações são pertinentes e não são visões contraditórias, precisamos urgentemente, como pessoas, profissionais, empresas, indústrias, governos e sociedade, tomar os cuidados para evitar os riscos e desafios que estão sendo impostos, mas ao mesmo tempo, investir para criar e desenvolver todas as soluções que farão do futuro, algo muito melhor que o presente.

Como diria Peter Drucker, a melhor maneira de prever o futuro, é criá-lo.

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Blockchain: descentralização como ferramenta disruptiva

Ontem foi o primeiro dia de palestras da ExO World 2020, summit online organizado pela OpenExO, em parceria com a Singularity University.

Considerada uma das principais especialistas em blockchain da atualidade, Anne Connelly, faculty da Singularity University, foi um dos destaques da programação do evento.

Blockchain como ferramenta disruptiva – Grande defensora do uso do blockchain na busca por soluções de problemas globais, como refugiados impossibilitados de conseguir documentos, Connelly destacou como o uso do blockchain pode ajudar a resolver este e outros desafios.

Segundo a canadense, a remoção de intermediários viabiliza o acesso à identidade digital em blockchain, por exemplo, podendo ser estendido a qualquer pessoa, em qualquer lugar e dispositivo conectado à internet.

“Se você pensar em qualquer tipo transação, existe sempre uma instituição intermediária, seja um empresa, um governo ou algum tipo de entidade. A descentralização nos permite redesenhar a sociedade sem a necessidade de intermediários. E a tecnologia blockchain possibilita isso”, afirma.

Leia também: Finanças corporativas e a sua importância nas empresas

Descentralização traz eficiência – Para Connelly, a descentralização pode tornar a relação entre bancos, governos e pessoas mais aberta e eficiente.

“Ao longo da história, as transações financeiras entre duas pessoas eram feitas com base na confiança. Isso culminou no que são hoje os ‘provedores de confiança’, tais como órgãos governamentais e os bancos. Mas apesar de ter funcionado muito bem até agora, essas instituições estão deixando de ser tão confiáveis.”

Você pode acompanhar os artigos publicados por Connelly (e suas análises sobre tecnologias exponenciais que podem resolver problemas que afetam milhões de pessoas) neste link.

Confira também qual é o papel da disrupção tecnológica no mercado com exemplos.

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Como a tecnologia ajudará a restaurar a biodiversidade da terra

A combinação de mudança climática, desmatamento, poluição, pesca excessiva e outros fatores produziu uma crise na biodiversidade. Nos piores dias, 200 espécies são extintas a cada 24 horas. Se fizermos uma projeção das taxas atuais, 50% de todos os grandes mamíferos e da vida marinha terão desaparecido no final do século. E, em 2050, 90% dos recifes de coral – que abrigam 25% da biodiversidade do mundo – poderão ter sucumbido.

Porém, nem tudo está perdido – ainda. Algumas de nossas melhores mentes vêm trabalhando incansavelmente para interromper e (em alguns casos) reverter essas tendências. Separamos cinco avanços importantes que estão ajudando a mudar o rumo das coisas.

Reflorestamento por drones – Em terra, as florestas são pontos críticos da biodiversidade e é também por isso que o desmatamento é um dos maiores fatores de extinção. E a escala de destruição é gigantesca. Todos os anos, perdemos mais de 75 mil quilômetros quadrados de florestas, uma área do tamanho do Panamá. Como as árvores são um importante sumidouro de carbono, o desmatamento também é responsável por 15% do total anual de emissões de gases do efeito estufa.

Como combater esse desmatamento em escala industrial? Com reflorestamento em escala industrial. E é aqui que entra em cena a BioCarbon Engineering, empresa britânica fundada por ex-funcionários da NASA, que desenvolveu drones guiados por inteligência artificial para o plantio em massa de árvores. Esses drones primeiro mapeiam uma área para identificar os melhores locais de plantio e, em seguida, disparam para o solo cápsulas de sementes comprimidas dentro de projéteis biodegradáveis. As cápsulas contêm um meio de cultura gelatinoso feito sob medida, que atua inicialmente como um amortecedor para suavizar o impacto e depois como um dispensador de nutrientes para acelerar o crescimento das árvores.

Um só piloto consegue manejar 6 drones ao mesmo tempo e, inacreditavelmente, plantar 100 mil árvores por dia. Um exército global de 10 mil drones, que é o que a BioCarbon pretende construir, poderá replantar um bilhão de árvores por ano.

Restauração de recifes – Os recifes de coral são as florestas dos mares; portanto, se quisermos restaurar a saúde dos oceanos, temos de salvar nossos recifes. Existem cerca de meia dúzia de tecnologias de regeneração de corais em desenvolvimento, mas é o dr. David Vaughan, biólogo marinho do Mote Tropical Research Laboratory, que realiza o trabalho pioneiro mais fascinante.

Tomando emprestado técnicas da engenharia de tecidos, Vaughan descobriu como fazer com que os corais tenham 100 anos de crescimento em menos de 2 anos.

Embora os corais normais só se reproduzam depois que atingem a maturidade – o que pode levar de 25 a 100 anos –, os corais de Vaughan começam a se reproduzir com 2 anos de idade. Com isso, pela primeira vez, temos uma maneira de restaurar radicalmente nossos recifes.

Reinvenção da aquicultura – A pesca é um dos principais fatores do declínio da fauna oceânica. No momento, um terço de todos os viveiros de pesca do mundo estão operando além de seus limites. Aprimorar o gerenciamento dos viveiros de pesca é fundamental; por outro lado, para que gerenciar se é possível crescer?

As mesmas técnicas da engenharia de tecidos que nos permitem produzir bifes a partir de células-tronco também nos permitem cultivar dourados-do-mar, atuns-azuis e outros peixes.

Na verdade, existem hoje seis empresas diferentes buscando justamente esse objetivo, produzindo desde salmão cultivado até camarões de laboratório, que em breve farão parte de nosso cardápio.

Reinvenção agrícola – Plantas e animais precisam de espaço para vagar e se espalhar – vastas áreas contíguas de habitats intocados, tanto terrestres como aquáticas.

Hoje, 15% da superfície da Terra são áreas silvestres protegidas. Para evitar o que agora é conhecido como a “Sexta Grande Extinção”, E. O. Wilson, de Harvard, e outros especialistas acreditam isso teria de ser ampliado para metade do planeta. Mas isso gera uma questão crucial: onde encontrar tanta terra?

Em poucas palavras, combinando reflorestamento e restauração com a reinvenção da agricultura. Aproximadamente 37% da massa terrestre do mundo e 75% de sua água doce são dedicados à agricultura: 11% para lavoura, o restante para carne e laticínios.

No entanto, essas cifras estão encolhendo. Não só os agricultores estão abandonando suas terras em número recorde, mas as últimas inovações agrícolas – carne cultivada, fazendas verticais, produtos geneticamente modificados etc. – têm tornado possível safras muito maiores a partir de muito menos. E uma ideia muito simples salta então aos olhos: vamos devolver toda essa terra extra à natureza.

Economias de ciclo fechado – Outra dentre as cinco grandes ameaças que hoje enfrentamos é a poluição. Um estudo realizado em 2017 pela revista médica The Lancet estimou que a poluição mata 9 milhões de pessoas por ano, com um custo superior a US$ 5 trilhões.

E o impacto pode ser ainda pior na natureza. Obviamente, a poluição dos gases do efeito estufa é o maior perigo, mas produtos químicos em nossos rios, plásticos em nossos oceanos e partículas na atmosfera estão pouco a pouco acabando com a vitalidade de nosso planeta.

O que pode ser feito? Mudar de uma economia baseada no petróleo para uma movida a energias renováveis é útil, mas é preciso fazer mais. E, sem dúvida, nosso maior trunfo aqui é chamada “fabricação zero para zero”.

Trata-se de um processo que permite que as empresas removam resíduos completamente, em vez de gerenciá-los por meio de aterros sanitários. A lista de empresas que estão seguindo esse caminho não para de crescer: Toyota, Google, Microsoft e Procter & Gamble, entre outras.

E isso é bom não apenas para o meio ambiente, mas também para a rentabilidade. A GM informou recentemente que economizou US$ 1 bilhão nos últimos anos com suas 152 instalações de desperdício zero.

Problemas interligados exigem soluções interligadas – No entanto, não importa se estamos falando da perda de biodiversidade, de eventos climáticos extremos ou de escassez de água; estes não são problemas isolados. A teia da vida não é uma metáfora. Tudo afeta tudo que afeta tudo.

As soluções destacadas acima (e no blog da semana passada sobre abundância hídrica) resolvem vários problemas ao mesmo tempo. Mas precisamos todos participar – já.

Pesquisadores de Stanford nos dão três gerações para interromper a extinção de espécies até começarmos a ver a paralisia efetiva dos ecossistemas. Por sua vez, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas estima que temos 12 anos para limitar o aquecimento global a 1,5 grau.

No entanto, já dispomos das tecnologias necessárias para enfrentar esses desafios e, graças às convergências, elas só tendem a melhorar. Nossas inovações talvez estejam se equiparando a nossos problemas. Tudo o que precisamos agora é de força de vontade e ação coletiva.

Para alcançarmos a sustentabilidade na velocidade necessária, nós seres humanos somos o obstáculo e a oportunidade.

Dr. Peter H. Diamandis – Eleito um dos “50 Maiores Líderes do Mundo” pela revista Fortune. É fundador executivo da Singularity University, instituição do Vale do Silício que assessora os líderes do mundo em tecnologias de crescimento exponencial. Diamandis é também fundador e presidente executivo da Fundação XPRIZE, que lidera o mundo no desenho e operação de competições de incentivo de grande porte.

*Artigo extraído de “The future is faster than you think”, novo livro do escritor.

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O Coronavírus pode fazer com que a automação chegue antes do que imaginávamos

Estamos no meio de uma emergência de saúde pública e a vida como a conhecíamos deixou de existir. Os lugares onde costumávamos ir estão fechados, os eventos pelos quais esperávamos foram cancelados e alguns de nós já perdemos o emprego ou tememos perdê-lo em breve.

Mas a crise também tem aspectos positivos e, ainda que traga à tona o que algumas pessoas têm de pior (estou falando com vocês, acumuladores de papel higiênico), também tem revelado o que há de melhor em muitas outras. Italianos confinados cantando juntos, um empresário que criou um respirador que qualquer pessoa pode fabricar e postou no YouTube, voluntários que fabricaram válvulas médicas em impressoras 3D para tratamento do vírus por muito menos que o custo habitual.
Se escolhermos sentir que ainda há esperança para a humanidade ao invés de achar que nossa espécie está prestes a sucumbir a um destino terrível, basta olharmos para estes exemplos – e tenho certeza de que há muitos outros por aí. Há muita esperança e muitas oportunidades a serem encontradas nesta crise.

Peter Xing, autor de obras sobre tecnologias emergentes e diretor associado de iniciativas de tecnologia e crescimento da KPMG acredita que a epidemia do coronavírus está nos abrindo vastas oportunidades de acelerar a automação e a entrega remota de bens e serviços. “O ponto positivo agora é a ampliação da plataforma do ecossistema de transformação digital”, disse.

Em palestra no summit virtual sobre a COVID-19 da Singularity University, na última quinzena, Xing explicou como o surto está acelerando nossa transição para uma sociedade altamente automatizada – e traçou um quadro de como poderá ser esse futuro.

Enfrentando a escassez

A esta altura, você já deve ter encontrado algumas prateleiras vazias em seu supermercado local. Não importa se você estava no corredor de produtos de papel, na seção de alimentos congelados ou na área de frutas e legumes, claramente algo não estava certo; não havia muito disponível. Um dos itens que as pessoas em pânico mais têm comprado em quantidades desproporcionais é o papel higiênico.

Xing descreveu essa busca por papel higiênico como um exemplo do “dilema do prisioneiro” e apontou que o que temos hoje é um problema de escassez em nossa mente, não uma escassez efetiva de suprimentos. “Este é um típico dilema do prisioneiro, pois todos nós estamos prisioneiros em nossas casas nesse momento e podemos estocar produtos ou não; o resultado dependerá de como colaboramos uns com os outros”, afirmou.

Em menção a um artigo da CNN, Xing explica o que torna o papel higiênico um dos itens que pessoas em pânico mais têm comprado: a falta de conhecimento sobre os métodos de produção e a cadeia de suprimentos envolvidos na fabricação do produto. Embora a maioria não faça a menor ideia, a fabricação de papel higiênico é um processo altamente automatizado que requer pouquíssimas pessoas (embora demande cerca de 27.000 árvores por dia).

O fator limitante da cadeia de suprimentos aqui é a matéria-prima; certamente não podemos continuar cortando tantas árvores por dia para sempre. A ironia é que, graças à automação e apesar da quantidade de papel higiênico que os clientes têm enfiado no porta-malas e no banco traseiro de seus carros, o papel higiênico será um dos últimos produtos que as lojas deixarão de receber.

Automação para todos

Embora a atual situação nos obrigue a utilizar robôs e sistemas automatizados antes do que planejávamos, isso acabará nos poupando dinheiro e criando oportunidades, segundo Xing. Ele citou os restaurantes de fast-food mais requintados (conhecidos como “fast casual”) como um excelente exemplo.

Atualmente, os norte-americanos gastam muito mais comendo em casa do que gastariam em restaurantes fast casual – isto se levarmos em conta o custo dos alimentos sendo preparados e o custo da hora despendida cozinhando, fazendo compras no supermercado e limpando a cozinha. Segundo pesquisa da empresa de gestão de investimentos ARK Invest, se todos esses custos forem levados em conta, uma refeição preparada em casa acaba saindo por cerca de US$ 12.

Isso é o mesmo ou mais do que se paga para encomendar um burrito ou um sanduíche na lanchonete da esquina. À medida que tarefas repetitivas e de baixa habilidade envolvidas na preparação de refeições fast casual são automatizadas, seu custo cai ainda mais, dando-nos um incentivo adicional para abandonarmos a comida feita em casa.

Atualmente, não devemos mais tocar outras pessoas, nem em qualquer coisa que outra pessoa tenha tocado, mas ainda precisamos comer. E automatizar a preparação de alimentos soa atraente (e talvez necessário). Inclusive, serviços de entrega de comida já implementaram uma opção de entrega sem contato, na qual os clientes podem optar que a comida seja deixada na porta de casa. Além das oportunidades de automação em restaurantes, existe também uma oportunidade para automatizar o chamado “último quilômetro”, explicou Xing.

Drones de entrega, robôs, caminhões e vans autônomos podem desempenhar um importante papel aqui. E, de fato, a utilização de drones de entrega só aumenta na China desde o surto.

Falando em entregas, o número de robôs de serviço vem crescendo constantemente na Amazon; no final de 2019, a empresa empregava cerca de 650 mil seres humanos e 200 mil robôs – e os custos diminuíam à medida que o número de robôs aumentava.

O estudo da ARK Invest prevê que a automação possa agregar US$ 800 bilhões ao PIB dos Estados Unidos nos próximos 5 anos e US$ 12 trilhões nos próximos 15 anos. Nessa trajetória, o PIB acabará sendo 40% maior com automação do que sem ela.

Automatizando a nós mesmos?

Tudo isso é ótimo; mas o que essas cifras e porcentagens significam para o consumidor, trabalhador ou cidadão médio? “Os benefícios da automação não estão sendo repassados ao cidadão comum”, disse Xing. “Estão indo direto para os acionistas das empresas que criam a automação.” É aqui que entram políticas como renda básica universal e saúde universal; e em um futuro não muito distante, talvez vejamos mais apoio efetivo a tais medidas (dependendo, é claro, do resultado das eleições), que visam disseminar os benefícios da automação em vez de concentrá-los em algumas poucas mãos abastadas.

Enquanto isso, algumas pessoas têm se beneficiado da automação de maneiras inesperadas. Estamos no meio do que talvez seja o maior experimento de trabalho remoto da história – sem levar em conta o ensino remoto. Ferramentas que nos permitem comunicar e colaborar digitalmente – como Slack, Zoom, Dropbox e Gsuite – estão possibilitando o trabalho remoto de maneiras que não seriam possíveis vinte ou mesmo dez anos atrás.

Além disso, segundo Xing, ferramentas como DataRobot e H2O.ai estão democratizando a inteligência artificial, permitindo que praticamente qualquer pessoa (e não apenas cientistas de dados ou engenheiros de computação) execute algoritmos de machine learning. As pessoas estão programando as etapas repetitivas de seus próprios processos de trabalho e fazendo com que seus computadores realizem tarefas no lugar delas.

À medida que a impressão 3D se torna mais econômica e mais acessível, ela também vai sendo mais adotada e as pessoas acabam encontrando novas aplicações para seus recursos (um exemplo pertinente são os italianos mencionados acima que descobriram como imprimir de maneira barata uma válvula médica utilizada no tratamento do coronavírus).

A mãe da invenção

Esse movimento rumo a uma sociedade mais automatizada tem vários pontos positivos, como por exemplo, nos ajudar a permanecer saudáveis em épocas como essa, reduzindo o custo de bens e serviços e fazendo o PIB aumentar no longo prazo. Por outro lado, se recorrermos tanto à automação, será que não estaremos criando um futuro que nos manterá física, psicológica e emocionalmente mais distantes uns dos outros?

Estamos em crise, e tempos extremos exigem medidas extremas. Estamos nos protegendo ficando em casa, praticando o distanciamento social e tentando não nos tocar. Para a maioria de nós, é uma situação bastante desagradável e difícil. Mal podemos esperar que tudo isso acabe.

Bem ou mal, porém, essa pandemia nos acelerará rumo à automação de muitos setores e processos. As soluções que as pessoas implementarem durante essa crise não desaparecerão quando as coisas voltarem ao normal. Contudo, devemos sempre ter uma coisa em mente. Mesmo depois que robôs estiverem preparando nossas refeições e os drones as estiverem entregando, e nossos computadores estiverem digitando dados e respondendo a e-mails em nosso nome, e todos nós tivermos impressoras 3D para fabricar tudo o que quisermos em casa, nós ainda assim continuaremos sendo humanos. E os humanos gostam do convívio humano. Gostamos de ver o rosto dos outros, de ouvir sua voz e de sentir seu toque – em pessoa, não na tela ou via aplicativo.

Nenhuma quantidade de automação mudará isso e, além de reduzir custos ou aumentar o PIB, nossa maior e mais crucial responsabilidade será sempre a de cuidarmos uns dos outros.

Vanessa Bates Ramirez é editora sênior do Singularity Hub. Seus interesses incluem energia renovável, saúde e medicina, desenvolvimento internacional e inúmeros outros tópicos. Quando não está lendo ou escrevendo, podemos geralmente encontrá-la ao ar livre, na água ou em um avião.

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16 maneiras pelas quais a COVID-19 pode mudar nossa percepção de mundo

Crise. Uma situação em que perigo e oportunidade se encontram. Nas últimas semanas, ouvimos e aprendemos muito sobre os perigos da Covid-19 e o sofrimento que ela causa. Mas existem também oportunidades. Este desafio brutal aos nossos sistemas existentes pode abrir novas janelas de oportunidade para mudanças há muito aguardadas.
Elencamos 16 mudanças positivas na mentalidade coletiva que essa era de emergência poderá provocar.

1. Autossuficiência – De dietas baseadas em plantas a impressoras 3D de mesa, a situação atual fará com que muitos vejam os benefícios de poder contar com alimentos e bens de origem local – em vez de produtos que exigem cadeias de suprimentos extensas e longínquas. A produção local tem sido defendida por muitos da perspectiva da sustentabilidade, mas esse tipo de autossuficiência, em última análise, é uma questão de poder – de como a independência nos coloca em uma posição em que, ao invés de apenas cruzarmos os dedos e torcermos para que líderes governamentais façam um bom trabalho de nos proteger, nós possamos preservar certa influência sobre nosso próprio destino e das pessoas que amamos.

2. Painéis solares – Até o momento, nenhuma região ficou sem eletricidade devido às consequências sistêmicas dessa pandemia. Contudo, seria ingênuo supor que isso não acontecerá em alguns lugares. O grande benefício dos sistemas descentralizados, em termos bem simples, é o fato de não terem pontos centrais de falha. Os painéis solares têm sido retratados como uma maneira de fazer a coisa certa pelo planeta, os novos tempos da Covid revelarão o quanto eles também podem ser uma questão de instrumentalização pessoal.

3. A tecnologia dos drones – Os drones de entrega e os robôs desinfetantes não são mais que o começo de uma extraordinária transformação. Já existem exemplos de ONGs que utilizam drones para transportar medicamentos para locais remotos com precisão impressionante. E, agora que a capacidade de transportar e entregar mercadorias sem contato humano tornou-se uma proposta de valor mais atraente do que nunca, a adoção generalizada da tecnologia dos drones poderá ser alavancada um imenso aumento na demanda.

4. Renda básica universal (RBU) – Martin Luther King, Bertrand Russell, Milton Friedman e muitos outros concordavam que uma sociedade civilizada deve garantir que seus cidadãos tenham dinheiro suficiente para suas necessidades básicas e que ninguém deve viver em estado de desespero.
Durante o confinamento atual, muitos empregos desaparecerão da noite para o dia, como já vem acontecendo. As perdas nos mercados de ações refletem a preocupação com as possíveis dimensões da retração no consumo. Em vista disso, Hong Kong já aprovou uma espécie de RBU emergencial que dá a cada cidadão 10.000 dólares de Hong Kong (cerca de US$ 1.290). Propostas para assegurar uma transferência mensal de renda a todos os cidadãos enquanto durar a pandemia têm sido apoiadas por liberais e conservadores em muitos outros países. As lições desses experimentos e de outros já em andamento aumentarão consideravelmente nosso conhecimento econômico e social.

5. Nunca confiarmos cegamente em um líder – Os cidadãos do mundo hoje estão assistindo de camarote como os líderes de todo o globo estão lidando com a mesmíssima doença. Depois que a poeira baixar e os números puderem ser estudados, veremos o que funcionou e o que não funcionou. Mas, mais que isso, teremos um exemplo excepcional de quão arbitrárias podem ser as escolhas que os líderes fazem.

Pessoas já morreram porque este ou aquele líder adotou a abordagem errada na hora errada. Isso não significa que os cidadãos não confiam mais em ninguém; significa, sim, que devemos exigir mais de um mandato político já que conferimos autoridade aos líderes também em questões no âmbito da ciência.

6. Aprender e amar fazer o mínimo – Do que de fato nós precisamos? “How to do nothing: resisting the attention economy” [Como não fazer nada: resistindo à economia da atenção] (2019), de Jenny Odell, provocou muita discussão no ano passado. O livro questiona quantas das atividades que realizamos todos os dias efetivamente nos beneficiam. Fazer menos tem suas vantagens para o clima e para o meio ambiente como um todo, e também para nossos níveis de estresse e paz de espírito.

A Covid-19, ao menos por um tempo, provocará uma redução extrema da produtividade. Com isso, teremos uma nova linha de base com a qual comparar nossa vida “normal”. Ao nos vermos forçados a parar por um tempo, do que será que efetivamente sentiremos falta? E do que não teremos saudade? Apertar o pause nos dará a oportunidade de fazer um balanço geral do que de fato merece a glória em nossa glorificação de todas as coisas que empreendemos.

7. Adoção mais generalizada de protocolos descentralizados na internet – Uma quarentena pode ser a realização dos sonhos dos introvertidos – até que a internet pare de funcionar. Felizmente, é improvável que isso aconteça. Entretanto, se estivéssemos executando protocolos descentralizados, teríamos certeza de que a internet não pararia. A internet foi construída para ser resiliente em tempos de crise. Com o tempo, porém, um pequeno número de empresas foi assumindo controle de um grande número dos servidores que direcionam o tráfego. Isso contraria e prejudica o grande trunfo do desenho da internet, a descentralização.

Inconcebivelmente, somente a Amazon Web Services, por exemplo, controla um terço dos servidores que atuam na nuvem. O Sistema Interplanetário de Arquivos (IPFS, Interplanetary File System) é um novo protocolo que poderíamos adotar para que a internet voltasse a ser peer-to-peer (ponto a ponto) novamente, garantindo que estivesse mais bem equipada para momentos de crise.

8. Um mundo pós-pós-verdade – E assim, num piscar de olhos, a precisão tornou-se fundamental. Quando deparamos uma variedade de cenários possíveis, desde os mais brandos ao francamente catastrófico, todos nós, coletivamente, sentimos a mesma coisa: queremos conhecer os fatos. Até que ponto devemos temer um espirro? Um aperto de mão? Será que tudo está sob controle ou deveríamos estocar comida e água em casa? Queremos saber. Precisamos saber. Não adivinhar, não conjecturar, não ter um palpite – saber. E mesmo que a ciência tivesse sendo cada vez mais questionada e colocada em xeque nos últimos anos, não vemos hoje muitas pessoas rejeitando a ideia de uma vacina.

9. A hora e a vez da telepresença – Felizmente, o distanciamento social está acontecendo em uma época em que já gostávamos de socializar bem distantes uns dos outros. Todas aquelas reuniões para resolver coisas que poderiam muito bem ser resolvidas por e-mail se transformaram finalmente em e-mails. Para todas as outras, temos hoje telepresença, videoconferência e até avatares digitais e palcos virtuais. Quanto mais durar a quarentena, mais as tecnologias que nos aproximam em alta definição dos colegas e pessoas que amamos serão vistas como a melhor invenção desde a lâmpada elétrica. O fato de cada vez mais existirem versões digitais de congressos, conferências e espetáculos é uma ótima notícia para um mundo muito mais dependente de viagens aéreas do que as taxas de carbono deveriam permitir. No que diz respeito à aviação, graças à disseminação de serviços de telepresença, o que é hoje um estado de emergência poderá vir a ser uma espécie de nova normalidade após o vírus.

10. Pico de bebês pós-corona – Apagões e grandes nevascas resultam na irrupção de bebês nove meses depois: isso pode ser facilmente observado. Será por que, quando se está preso em casa, o sexo é a melhor opção? Ou será por que, em tempos de desespero, a ideia de trazer uma nova vida ao mundo nos ajuda a enfrentar a sensação de destruição iminente? Seja o que for, é inquestionável que quarentenas instigam certos prazeres sensuais. Quem achar que este não é o momento adequado para conceber a próxima geração deve pensar em estocar contraceptivos enquanto (ou se) puder. Nomes sugeridos para os membros da geração vindoura: Quarentinos ou Coronescentes.

11. Remunerar os verdadeiros heróis com mais do que apenas aplausos – Estamos sentindo na pele o verdadeiro valor dos trabalhos que mantêm a sociedade – e nossa sanidade. Pessoas que tiveram de passar a educar seus filhos em casa têm expressado uma nova apreciação pelo dia a dia dos professores. Coletores de lixo e entregadores estão recebendo agradecimentos adequados por serviços que quase nunca eram reconhecidos. E os prestadores de serviços de saúde que arriscam a própria saúde em prol dos outros estão agora recebendo certa dose gratidão. Estamos aprendendo o que é essencial. E em vez de remunerarmos os heróis desta crise apenas com aplausos, será que desta vez nossa apreciação repentina não poderia assumir uma forma monetária e traduzir-se em melhores salários para as profissões mais cruciais?

12. Todos os grandes livros, filmes, piadas e memes que surgirão – E assim, inesperadamente, você teve tempo para terminar seu romance. O mesmo vale para uma infinidade de artistas, todos eles hoje em confinamento, muitos dos quais estão possivelmente criando suas obras mais inspiradas. Sabemos que Shakespeare escreveu “Rei Lear” durante um período em quarentena. Para as especulações existenciais de cineastas sérios ao hedonismo escapista e aos memes mais geniais, uma pandemia, a despeito (ou por causa) de sua brutalidade, pode ser uma musa e tanto.

13. Protocolos de emergência aprimorados – Por pior que seja a Covid-19, nós que pertencemos à comunidade global que estuda riscos catastróficos sabemos que existem cenários muito piores e que podemos fazer muito mais para melhorar nossa vida e reduzir as ameaças. Livros como “Feeding everyone no matter what: managing food security after global catastrophe” [Alimentar a todos, não importa como: garantindo segurança alimentar após uma catástrofe global] (2014), de David Denkenberger, nunca receberam a atenção que mereciam.

Poderíamos aproveitar nossa situação atual para mudar isso, tornando-nos mais sábios e mais resilientes em face de problemas muito mais vastos. Propostas como as de Denkenberger – por exemplo, criar fazendas e armazéns subterrâneos de cogumelos, ou mesmo alimentos à base de bactérias que sobrevivam a um possível inverno nuclear ou supererupção vulcânica – não parecem mais tão excêntricas quanto antes. Pelo contrário, parecem sábias e ponderadas, à medida que a expressão “esperar pelo melhor, planejar para o pior” começa a ressoar com mais força em toda parte.

14. Longevidade reimaginada – A situação e sofrimento dos idosos raramente são mencionados em épocas normais. Antes da atual pandemia, 100 mil pessoas morriam de doenças provocadas diretamente pelo envelhecimento do corpo – todos os dias. Como a Covid-19 está castigando desproporcionalmente a parte mais idosa da população e os médicos estão precisando tomar decisões de vida ou morte com base na idade dos pacientes, esse problema certamente será levado em conta com mais seriedade. A solidariedade entre gerações poderá se tornar mais importante se todos nós tivermos consciência plena de que um corpo saudável é sempre temporário. A extensão da saúde – e da vida saudável – é um problema ao qual poderíamos aplicar mais seriamente nosso talento coletivo, à medida que vamos entendendo melhor o argumento apresentado por profissionais da área de que o envelhecimento deveria ser classificado como uma doença.

15. Um melhor entendimento do que a crença coletiva é capaz – Especialmente no que diz respeito ao endividamento. O Federal Reserve está oferecendo US$ 1,5 trilhão em empréstimos de curto prazo (e muito mais está a caminho) para estabilizar os mercados abalados pela Covid-19. Em um mundo onde as moedas fiduciárias são lastreadas apenas pela crença das pessoas, muito pode ser feito se houver apoio suficiente. Em termos de comparação, o valor total dos empréstimos para estudantes universitários nos Estados Unidos chega a US$ 1,6 trilhão.

Se você quiser aproveitar sua temporada de confinamento para estudar um conceito interessante, pesquise “jubileu de dívidas”. Ou, se estiver procurando uma leitura mais longa, veja “Debt: the first 5,000 years” [Endividamento: os primeiros 5 mil anos] (2011), de David Graeber. Muito tempo em casa significa muito tempo para aprender e se organizar para mudar, com pessoas que compartilham suas convicções e que poderiam ampliá-las. Isso vale tanto para dívidas como para qualquer outro assunto.

16. Um inimigo em comum – Nos anos 1990, alguns pensadores que refletiam sobre a globalização argumentaram que nossa aldeia global compartilhada estava se transformando em um “McMundo” que tinha uma cultura de consumo como denominador comum. Por outro lado, é indiscutível que todos os seres humanos têm algo muito mais saudável em comum: todos nós queremos um futuro seguro. Na Covid-19, encontramos um inimigo comum a todos, que ataca pessoas independentemente de sua aparência ou passaporte.

E isso nos leva de volta ao significado original de “crise”: a situação atual é um momento de decisão e nos oferece uma escolha. Ou tentamos reconstituir o mundo tal como era antes dessa ocorrência catastrófica ou aproveitamos esse acontecimento como o momento fundador de uma narrativa global unificadora – uma narrativa que reconheça que, a despeito de nossas múltiplas diferenças e da variedade de grupos a que pertencemos, somos todos corpos vulneráveis extremamente dependentes uns dos outros e de sistemas de governança.

É verdade que já estamos conscientes de nossa interconectividade global há algum tempo – uma em cada duas palestras TED faz referência a isso – mas nunca sentimos tanto isso na pele quanto agora. Já testemunhamos a falta de coordenação global para controlar a propagação do vírus desde o início. Agora vemos como o governo de cada Estado está transformando um evento global em um sem-número de experiências singulares e peculiares a cada nação.

Tais reações contam a história de um mundo que já se interconectou mas ainda mantém um modelo de governança que finge não ver nossa interconexão. Isso pode mudar. Isso tem de mudar. Podemos criar outra narrativa, uma narrativa que exige que riscos globais recebam uma resposta global e que proclame que certas questões são tão importantes que estão acima de todo e qualquer sectarismo político. Um vírus pode se disseminar rapidamente e nos transformar profundamente. Uma ideia pode fazer o mesmo. Confinados, sozinhos em nossas casas, nunca houve um momento melhor para juntarmos forças.


Carin Ism é cofundadora da Agência do Futuro da Governança (FOGA, Future of Governance Agency) e coautora de “How to rule a world: a guide to the established and emerging tools for power and governance in the 21st century” [Como governar um mundo: um guia das ferramentas existentes e emergentes de poder e governança no século 21], a ser lançado este ano. Ela é professora da SingularityU Nordic e leciona Tecnologia de Registro Distribuído [DLT, distributed ledger technology] e Futuro da Governança.

Julien Leyre é escritor, educador e inovador em governança franco-australiano. É coautor, com Carin Ism, do próximo livro “How to rule a world: a guide to the established and emerging tools for power and governance in the 21st century” e cofundador da FOGA. Leyre é também diretor de operações da reVolt, empresa australiana de energia, onde desenvolve novos modelos de negócios para acelerar uma transição em larga escala para a energia


Texto traduzido e adaptado do Singularity Hub