A tarde do segundo dia de Executive Program, em parceria com o Sest Senat, começou em consonância com a manhã sobre o entendimento dos nossos padrões mentais corpóreos.
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Dessa vez, os padrões mentais estão relacionados às questões de comunicação. Thomas Brieu, especialista em comunicação e escutatória, trouxe incríveis insights sobre a maneira pela qual podemos ir além de nossos vícios e produzir comunicações que realmente escutem, envolvam e consiga criar vínculos de engajamento com as pessoas ao nosso redor.
A aceleração já foi palco das conversas neste programa. Nossa percepção está cada vez mais deslocada e quase tudo se transforma durante estas interações, menos a relação entre indivíduos.
Ao mesmo tempo, por conta do exponencial aumento de informações, fisiologicamente tentamos dar conta de diferentes pontos de estímulos. Nossa atenção fica cada vez mais limitada para as interações e se perdem no mar de experiências digitais.
O que se vai neste período? Nosso corpo. Nossa empatia e imaginação se vão junto com estes processos e, cada vez mais, colocamos a angústia neste lugar de relação que antes era preenchido pelo outro.
Por isso, a tarde de segunda-feira fria em Embu das Artes foi tomada por uma ideia extremamente interessante e profunda. Compreender o que é necessário, saber colocar o corpo nas comunicações que são produzidas, e entender o porquê deste estado de apreensão do outro ser melhor executado com este corpo presente.
Referenciais, cuidados e tomadas de decisão
Thomas Brieu tem uma gama de definições para os tipos de perguntas que são colocadas. Existem algumas que não colocam a escuta em trabalho, outras impõe limite para quem escuta, algumas conseguem atribuir atenção e até criar vínculo.
Porém, antes disso, é interessante perceber que há uma necessidade de compreender para quem a mensagem está sendo colocada. Comunicação precisa de um outro que o compreenda, que participe da criação desta interação.
Por isso, entender referenciais é uma estratégia crucial para que a comunicação seja produzida de uma maneira compreensiva, em tom de entendimento e efetividade. A realidade é multifacetada e, se mantermos nossos padrões reativos de comunicação, teremos apenas dois movimentos de repulsa e aproximação.
Mas, assim como na palestra de Carla Tieppo, urge uma nova necessidade das lideranças de perceberem de que maneira estamos agindo, como podemos fazer diferentes leituras e de que jeito podemos mudar os padrões mais simples até encontrar os hábitos mais complicados.
Afinal, diálogos e negociações são necessários e precisamos, cada vez mais, promover este tipo de compreensão. É um papel extremamente difícil, que existe vulnerabilidade e atenção, mas seu resultado é extremamente prolífico e cada vez mais estamos em constante aprendizado.
O que realmente podemos aos colaboradores, dado o estado em que nos encontramos atualmente?
A pergunta de milhões é o que move os estudos de Carla Tieppo. Em sua fala, apresentado nesta terça-feira, no Executive Program, em parceria com o Sest Senat, a pesquisadora e professora da Santa Casa passou a mostrar como nossos padrões neurais são cada vez mais importantes para compreendermos o estado atual de nossos comportamentos.
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Afinal, há uma tendência e necessidade para que a produção dê conta dos processos atuais. Porém, a maneira que isso está sendo feito não é a melhor otimizada, mesmo parecendo ser eficiente.
Carla mostra como nossa eficiência, como seres humanos, funciona por rapidez e pela questão da necessidade. Somos feitos de instantes. Estas nossas interpretações, ter ideias centrais e fixas em nossos pensamentos, apreender tudo pela experiência já produzida, foi o que “nos trouxe até aqui”.
O sistema lento não é solução, como pensam. Temos que saber o que e como melhorar o nosso próprio sistema neurológico rápido, em que ele seja utilizado por sua energia correta.
A fala de Carla Tieppo se intensifica cada vez mais para entendermos que temos uma rigidez e que ela provém de uma historicidade, composta por uma contingência de experiências. Com isso, faltam aspectos de diferenciação e diálogos que fomentem a diferença.
Precisão e agilidade como fomento para uma eficiência maior em menos tempo não é o principal componente para que as produções sejam otimizadas. É preciso compreender esta noção, para reconhecer nossos vícios e desejos, para só então tentar lidar com o diferente.
Concepções de padrões para liderança
Todas estas ideias são apresentadas para falarmos sobre as principais questões de liderança nas empresas. Nada disso será importante ou se quer fará sentido se não houver uma preocupação com quem escolhe aonde as energias serão dedicadas.
Colaboradores são parte de uma instituição e que tem seus serviços, mas as diretrizes precisam ser também de preocupação quanto ao humano ali designado.
Por isso, Carla retoma este assunto do cuidado com os padrões, vícios e sistemas rápidos para que não haja essa contínua problema dos entraves energéticos.
O problema não está em parar ou mudar a concepção, mas em como podemos utilizar este aspecto de nossa vida para melhorarmos e buscarmos a abundância. Por isso, governança é um fator crucial para que possa florescer, crescer e diversificar ações que tragam uma melhoria de desempenho.
Antes do tempo ser coroado em uma Oração, por Caetano Veloso, ecoado na voz de Djavan e entrado nos corações contemporâneos pela Maria Gadú, o entrave que o tempo proporcionava no âmago dos indivíduos se perpetuou pela história do ocidente.
Da batalha entre Chronos e seus filhos, até a luta entre este titã e Kairós na história da psicologia, tempo foi lido como uma disputa, batalha entre períodos que se interseccionavam e produziam uma sensação comum ao indivíduo: sofrimento.
Essa “batalha com tempo”, na verdade, apenas mostra uma vitória dele e uma relação diferente que cada um de nós tem entre nossos desejos e o que a nossa vida se apresenta. Quando nossas vontades não confluem com o que é mostrado, nos gera angústia, desespero e, muitas vezes, indignação.
Mas o tempo perpetua. Perseverança é uma qualidade imprenscidível para fazer amizade com ele. É, inclusive, um dos “deuses mais lindos”, que nos cura, perpetua e acalenta tudo em seu lugar mais precioso, pertencente à natureza.
No encerramento do Especial 10 edições de Executive Program da SingularityU Brazil, convidamos Luciano André Ribeiro, Sócio e Superintendente Banco PF de Crédito e Recuperação – Itaú Unibanco, para nos contar sua experiência no EP. Para nosso deleite, a reflexão que se manteve durante toda a entrevista foi deste entendimento sobre o que o tempo nos proporciona e nos ensina.
Afinal, com tantas transformações e demandas, querer dar conta de tudo, se apropriar do que é possível, produzir tudo que está ao nosso alcance e garantir eficiência são coisas que muitas vezes não se combinam. Então, é com a maturidade, que Luciano pontua em toda sua fala, que conseguimos criar perspectiva para lidar com o movimento.
É uma tarefa complicada, por isso não se trata apenas do entendimento: é necessário colocar em prática, pontuar, pausar, planejar e estar aberto ao aprendizado contínuo, para compreender as coisas em suas movimentações características.
É uma reflexão que exige nossa pausa. É uma inflexão necessária que exite nossa completa atenção. Por isso, essa riquíssima entrevista você acompanha na íntegra abaixo!
SingularityU Brasil: Por favor, se apresente para que todos lhe conheçam!
Luciano André Ribeiro: Eu sou o Luciano André Ribeiro. Sou pai, sou filho, sou marido, sou irmão e sou amigo. Além disso, sou executivo do mercado financeiro. Trabalho em um grande banco. Sou apaixonado por esportes e sou um estudante, que desde o primeiro momento de vida, estou aprendendo, como curioso que sempre fui.
SU Brazil: Esporte… Como é exatamente sua relação com o esporte?
Luciano: Eu sou corredor. Eu corro desde 1994. Já fiz Triathlon, duathlon… Fiz bastante coisa e várias provas. Já fui convocado para a seleção brasileira de duathlon… Então eu tenho uma vida competitiva presente. O que também ajuda muito no mundo corporativo.
SU Brazil: Por que exatamente?
Luciano: Porque é preciso lidar com a pressão e com um nível de competição de uma maneira positiva. Isso não tem que ser algo que coloque um peso adicional em você. Tem que ser algo que motiva, te energiza e te desafie de uma maneira criativa, positiva. Você precisa entender este equilíbrio e saber lidar com essas coisas. Não é fácil. Mesmo fazendo o melhor de você, não é necessariamente um convite confirmado para o primeiro lugar, mas é sim um sentimento de satisfação naquela proposta/evento/dinâmica. Você saber que fez o melhor é muito mais importante do que talvez chegar no primeiro lugar, que pode ser consequência disso.
SU Brazil: Maneira ótima de enxergar a vida, não? Você sempre foi assim?
Luciano: Está amadurecendo… A gente vai aprendendo, né. Quase foi assim.
SU Brazil: O esporte ensinou isso? Ou você já tinha?
Luciano: O esporte… A vida… O amadurecimento… Eu sempre procurei ele, sabe? A gente nunca está maduro como gostaríamos de ser. É o tempo, é a vida, tudo isso que nos ajuda. Mas, é preciso estar muito atento com as coisas que estão acontecendo conosco, sempre tentando tirar o melhor e o que é positivo daquela situação, que talvez possa ser a mais estressante ou de maior desgaste. Até quando não se encaixa. Sempre tem um aprendizado naquilo.
SU Brazil: Ah… Então isso é do Luciano?
Luciano: É… Eu tento! Eu aprendi com muita gente, para ser sincero. Não é do Luciano, apenas. Tive muita gente bacana do meu lado, me ajudando ou até eu observando, para trazer para o Luciano.
SU Brazil: E quem são essas pessoas?
Luciano: Bem, primeiramente é meu pai. A referência do meu pai é bem presente. Acho que a pessoa que mais esteve comigo e me marcou nessa jornada foi ele.
Muitos amigos me ajudaram também. Eu não sou uma pessoa de poucos amigos, então tenho grandes amigos que vou aprendendo o que fazer e o que também não se deve fazer.
Outro ponto foram as lideranças pelo caminho e muitos pares. Estou há muito tempo nessa área e tenho várias referências. Então aproveito para aprender. Sempre queremos aprender aquilo que a gente admira ou que dá certo, mas não necessariamente é com o que nos identificamos. Precisa ter essa particularidade e criar esse vínculo para que seja nosso.
Eu tento seguir assim. Mesmo quando admiro algo, tento ver se isso é realmente genuíno com o meu perfil, personalidade e se o Luciano consegue ser na totalidade com isso.
Ao mesmo tempo, junto a tudo isso, você aprende o que não tem que fazer, né? Desde encaixe e tudo mais.
Essa é a minha jornada. Família e amizade são muito importantes para isso e eu faço questão que sempre estejam presentes. No trabalho aprendi bastante… Então… Por isso tento devolver isso. Eu tive muita ajuda e está na hora de devolver isso, para elas ou para outras pessoas. O aprendizado é compartilhado.
SU Brazil: Como isso tem acontecido?
Luciano: No dia-dia isso sempre precisa estar presente.
Eu sou um cara de transformação, que sempre está ali buscando isso e a melhora das pessoas em sua totalidade. Às vezes isso não é tão bem recebido. Às vezes tem essa limitação e o não-querer e é necessário entendermos isso. Minha gestão e liderança envolve isso e ir atrás de uma maneira de conforto das pessoas, ao mesmo tempo que consigam fazer seu propósito.
Outro ponto é dando aula e palestras. Sempre tento estar presente para levar algumas mensagens e ensinar o que aprendi.
Acredito que as redes sociais, contato, conversas… Eu me faço nisso. Muitos me procuram para ter uma conversa de carreira ou algo do tipo. Às vezes agradecem muito sobre o tempo e a conversa… Mas, muito pelo contrário: sempre é importante para mim. Quando estou dedicando meu tempo, eu estou também recebendo tudo isso.
Eu agradeço muito quem me chama para um café. Isso é fantástico.
SU Brazil: Às vezes o escutar dela é até mais importante do que a conversa em si, né?
Luciano: Totalmente! Em cinco minutos, quando a pessoa traz, isso já muda a cabeça dela e a pessoa sai diferente. Às vezes só precisam de um espaço para falar e eu faço isso.
O Executive Program é uma imersão de 3 dias e meio, nas tecnologias exponenciais que estão moldando o futuro dos negócios. O principal programa da SingularityU Brazil ocorrerá entre os dias 24 a 28 de setembro, no Hotel Almenat Embu das Artes – SP. Garanta sua participação na última turma do ano clicando aqui
SU Brazil: Que fantástico! Isso é parte do aprendizado? Como foi percebendo isso?
Luciano: Olha, a vida vai nos mostrando oportunidades para aprender, né?
Eu falo muito da jornada. As pessoas buscam sucesso em um momento único, mas sucesso é a jornada e a vida que você tem. Até uso a figura de linguagem da metáfora sobre subir uma montanha.
Cada etapa é um aprendizado, uma comemoração e um momento. Mas, não necessariamente é sempre positivo, entende? Tem momento que as coisas se desarrumam. As coisas não são sempre equilibradas. Alguma questão pode ocorrer no meio do caminho e é necessário dar tempo para que as coisas se organizem, até de maneira natural. Por isso, é importante manter o seu próprio equilíbrio.
Manter, refletir e pensar sobre os nossos valores é importante neste momento. É exatamente o motivo de falar e lembrar do meu pai. É referência de valor.
SU Brazil: E como isso foi acontecendo no seu trabalho?
Luciano: Estou há 23 anos no Itaú/Unibanco. É uma história longa, mas acho que a primeira coisa, que também levo para as pessoas, é que é preciso achar um lugar que tenha uma conexão com os seus valores.
É por isso que estou há tanto tempo nessa organização. Os valores, em como tratamos os colaboradores, clientes, os objetivos… O propósito, entende? Ele é semelhante. Eu acordo todos os dias e sinto isso. O lugar me traz tudo isso.
O segundo ponto é aquela pergunta de: “Tanto tempo no mesmo lugar fazendo as mesmas coisas?” e o ponto é esse: não é repetitivo. Estamos sempre ali na parte de inovação, tentando trazer o melhor, procurando impactar melhor e transformar o próprio papel gigante que o banco tem. Desde a parte social e a parte global.
Isso me traz muita vida! Trabalhar para algo que vai apoiar o Brasil é espetacular. Então a gente transcende a atividade que a gente faz. De novo, o propósito.
Assim, não estou falando dos ciclos em alguns trabalhos te definem. Não é isso. Digo que, pela minha experiência, se trata muito de sua motivação própria. Nossa carreira é própria nossa. Chefe ou líder não vai construir isso. Por isso, é necessário sempre refletir como ser melhor, como adaptar, crescer e, caso isso faça sentido, é capaz que fique na mesma empresa por tanto tempo, como eu.
Afinal, eles me permitem crescer! Às vezes são em provocações… Movimentos… Formas de pensar… Tecnologias… É um conjunto perfeito que eu sou fã.
SU Brazil: Desde o começo foi desse jeito?
Luciano: Sim… Mas as prioridades sempre foram diferentes ao longo do tempo.
Como disse, há várias dimensões na minha vida. Nos primeiros anos do meu trabalho, o esporte não era tão mais prioridade, por exemplo. Família está sempre acima de tudo, mas em alguns momentos foi necessário mudar essa chave e tratar, dar tempo em algumas questões mais do que outras.
Se você quer crescer, cada vez mais relevante, é preciso ter prioridade e despender tempo em algumas coisas. Por isso fui buscar outras coisas fora e trazer ao banco. Mudei bastante como profissional, me formar e se tornar verdadeiramente um gestor/líder. Não é algo que é pronto.
A maturidade vem acompanhando com o tempo.
Nunca foi assim, mas, o que sempre digo, é que vai melhorando ao longo do tempo. Com algumas instabilidades, que acontecem na vida e é algo normal sim, natural, quando conseguimos dedicar um tempo, as coisas vão funcionando e tudo vai se encaixando. A questão é elencar sua prioridade.
SU Brazil: Como foi essa preparação?
Luciano: O Executive Program da SingularityU Brazil foi um lugar desse, por exemplo.
A reflexão que proporcionam é super importante por isso. Eu sempre procurei escolas de referência na minha vida. Sou engenheiro de formação, então fui atrás de MBA, cursos internacionais em grandes universidades e ainda sentia que era necessária algo para me “chacoalhar”, no sentido de trazer algo material sobre as transformações do mundo.
Eu sentia muita coisa, mas nada tão claro. Por isso, fui procurar algumas escolas. Cheguei até a SingularityU. Achei a do Brasil, olhei os speakers e achei fantástico. Não estou falando só do networking, mas digo pela diferença, o olhar, aulas boas e ótimos professores.
Depois se tornou um momento incrível, além de uma sala de aula. Foi surpreendente. Mas não foi o que eu procurei ou o que eu esperava. Eu lembro de procurar e pensar: “Eu quero alguém que consiga materializar essas angústias contemporâneas e alguns temas presentes, mas que tenha embasamento e eu chegue no meu emprego com prioridade, para falar e aplicar”. E foi isso: maneiras simples, que mostraram técnicas e impactos na aplicação…
Foi algo muito maior do que eu pensava. Além do bom conjunto, para me deixar mais a vontade em alguns temas relacionados a transformação, a relação que a gente tem durante os quatro dias durante de EPs são relações que ficam para sempre. Pessoas também contribuem muito não só naquele momento, mas depois também.
Se a gente pensar naquele “360”, a gente pode falar que o EP é completo: as experiências que proporciona além da sala de aula tem um impacto gigante. Não sei se é assim internacionalmente, mas aqui no Brasil, eu até brinco, que o Executive Program conseguiu se tropicalizar, trazendo todo conteúdo do mundo de uma maneira cultural brasileira e de um impacto gigante, com uma experiência e tanto.
SU Brazil: Muito legal você falar isso porque o “tropicalizar” às vezes é uma expressão pejorativa que as pessoas usam, né? É interessante ouvir isso.
Luciano: Sim, sem dúvida. Aqui é de uma maneira muito positiva e potente! É importante dar esse tom. Afinal, o EP consegue dar uma leveza das relações que temos entre si, que é do brasileiro, entende? E as conexões, como levamos de maneira positiva, além das provocações dos conteúdos densos e importantes… É uma energia que flui de uma maneira ótima.
Os pilares, que são o conteúdo proporcionados pela SingularityU Brazil, são importantes porque também são aplicáveis e podem ser transmitidos aos outros. É possível levar provocações densas de maneira positiva! Isso é impressionante. Ao sair do programa eu tinha certeza de que seria possível falar sobre aqueles assuntos, com um certo domínio, claro.
É um programa incrível e volto a dizer: o tropicalizar é como você se sente ótimo e bem com temas tão densos e complicados. Às vezes tínhamos medo de debater sobre alguns pontos, por não termos propriedade, mas é essa a construção ali. Conseguíamos criar isso e ter elementos para continuar o debate. Isso é ótimo e muito sutil! Até nas reflexões, construções que fiz… E, quando falava algumas coisas, as pessoas diziam: “cuidado com a ‘deprê’ aqui, tá? Às vezes o conteúdo é muito denso e é difícil não entender todas as camadas”.
E o tropicalizar foi isso: trazer para a nossa realidade, na prática, e trazendo sobre a essência do viver. As coisas vão acontecer, mas terá um caminho para que as transformações ocorram. Nada é do dia do outro, entende? Porque se for, vai cair. É um movimento ótimo trazer tudo isso, dessa maneira tropicalizante, entendendo como podemos transformar, participar e olhar isso no nosso cotidiano, até chegar a verdadeira mudança.
SU Brazil: Que demais essa percepção. Você lembra de algum momento marcante que sentiu isso ‘na pele’?
Luciano: Sim… A dinâmica do Executive Program da SingularityU Brazil é COMPLETA de verdade, entende? A noite também. Às vezes até sonhamos com alguns temas. É uma imersão completa.
Mas, no primeiro jantar, na primeira noite, tiveram alguns momentos que eu pensei: “puts… Isso aqui será diferente.” Como funciona: a gente chega de noite, tem uma apresentação e depois tem o jantar. É um networking, mas era diferente. Tem muito contato, muita gente, mas tem conteúdo e interesse de todos em fazer aquilo ser dinâmico. O nível da conversa também era bem alto.
Não era só sala de aula. Ali eu entendi que era muito além do que só o curso.
No dia seguinte, na primeira aula, com as experiências fora de sala, com interações com startups, pessoas que estarão presentes durante o programa… Ali eu pensei: “acho que vou conseguir materializar aquilo que está tão distante, mas acho que está próximo da minha vida”.
Digo isso desde impressão 3D até ESG, multiverso. Tem aquele ‘para onde a gente vai? E como trazer isso’. Então… Era sempre esses momentos que eu sentia isso.
SU Brazil: Em quais momentos você sentiu que impactou sua vida?
Luciano: Primeiro foi na forma de pensar. Sem dúvida.
Foi neste momento que a percepção foi construída e aí também a coerência das coisas. Eu comecei a pensar sobre as transformações e o que seria apropriado daquilo, porque não funciona assim sem medida.
Várias vezes a gente encontra isso. Olhamos IA regenerativa, tecnologias exponenciais em todos os serviços… Mas não é de um dia para o outro e de forma abrupta. Precisa ter coerência: não deixar de perder valor e sempre potencializar entregas, eficiência, além, claro, de um impacto muito melhor, no ambiente interno e externo.
Então, comecei a pensar: “Como levar x tecnologia para gerar o maior impacto e melhor valor?”. Essa forma de pensar materializou durante o Executive Program.
Agora, citei alguns temas, como realidade virtual. Antes, era algo relacionado a vivência daquela experiência. Porém, a reflexão de trazer a interação com a realidade física/material é extremamente importante. É neste momento que passamos a entender como as coisas lidam na convergência, entende? A ideia é criativa, tentando, novamente, buscar valor.
Tudo que estamos aplicando e, dessa maneira, podem mudar o mundo. Vão transformar nossa vida, desde que lidamos com aquelas diretrizes de pensar em uma vida melhor. Mas, isso tem um tempo e é preciso respeitar o tempo. Então, não precisa ter ruptura, mas muita atenção e coerência para fazer as coisas.
Porque a forma como a transformação vem é muito rápida. Cada vez mais se intensifica. Então, preciso estar atento a tudo que está acontecendo e experimentar.
Esse é o outro elemento que trouxemos: experimentação. Isso é fantástico no Executive Program da SingularityU Brazil. Às vezes a gente pensa que estamos longe e tudo mais, mas é preciso experimentar. Isso é provocação para lidar com as nossas próprias leituras das coisas.
Isso é muito importante. Abre a maneira que olhamos e percebemos as coisas. É preciso olhar a mesma coisa de outros ângulos também. Isso foi com a Impressão 3D, por exemplo. Pode ter órgãos, pontes e tudo isso que eu não fazia ideia e não acreditava. Por isso é bom ter possibilidades e diferentes visões.
SU Brazil: Falando sobre transformação… Existe um sintoma social sobre isso hoje? Você pensa sobre isso? Qual sua percepção?
Luciano: Sinto e muito sobre isso!
Vejo muitas empresas revisitando suas culturas e organização. O comportamento muda, entende? Algumas agendas estão se modificando e isso é consequência destas ações.
De fato, primeiramente precisamos priorizar o humano. Isso está muito claro para mim. Quanto mais digital somos ou quanto mais novas tecnologias estão fazendo parte da nossa vida, mais humanos precisamos ser.
Deste central, vem o elemento importante da experiência do cliente. A prática está mostrando isso e não de uma maneira vazia. Estar no físico, digital, seja onde for, mas o mais importante é onde o cliente está, prefere e utiliza.
Outro ponto é: como lidar com tudo isso que acontece no mundo de dados, em novas tecnologias, para ajudar-nos a ser mais eficiente? Isso é muito fundamental.
É neste ponto que tudo se torna mais profundo. Uma empresa tradicional precisa ser digital? Sim, afinal, tomará as melhores decisões, estará em todos os locais, terá mais impacto com os clientes e melhorará seus produtos. Os produtos físicos precisarão ser digitais: também.
Isso é uma transformação cultural importante. Será necessário. Todo líder precisará ter uma boa agenda de dados e tomada de decisão em análises que não são mais históricas, mas mostradas pelos dados.
No final do dia é aquela preocupação com o futuro. Esse olhar linear acopla o futuro no presente e isso é fundamental, afinal, se eu não olhar hoje, com as velocidades que as transformações acontecem, eu posso ficar para traz. A questão de enrijecer e travar a mudança tem um período e o “até quando” se torna até uma preocupação.
Então, é muito legal o que vemos hoje: empresas tradicionais, de valor gigante, tentando mudar seu olhar, design diferente, transformando sua proposta de valor, chegando ao cliente de outra forma… Novas gerações estão vindo e isso é muito importante. Há vários exemplos passando por isso.
Um que gosto bastante é a manteiga Aviação. Hoje consumimos mais do que antes, continuando com o mesmo valor, mas por que aumentou? Posicionamento, proposta de valor, propaganda, alcance… Isso precisa estar na cultura, entende? Assim funciona! Se não estiver praticável ou aliado ao propósito da empresa… Não funcionará. Cultura é a palavra chave.
SU Brazil: É uma percepção muito boa! Quando você fez o EP estava deste momento também?
Luciano: Acho que estava sendo construído.
Quando fui para o EP, gostaria de entender “para onde o mundo vai”, entende? E quais as tecnologias para isso. Por isso, era necessária uma escola que me ensinasse. No momento da pandemia, nos aproximamos de muitas coisas, de maneira até forçada, por conta da necessidade.
Era aquela corrida pelo Teams, Zoom e tudo mais. Era uma conexão de tudo, em todos os momentos, com aulas, apresentações, na tela e a preocupação de não esquecer que tem um indivíduo do outro lado. Falava-se muito do multiverso, avatares e realidade virtual. Era muita coisa. Eu não sabia se era aquilo mesmo, mas todos continuavam indo. Muito acontecia.
Por isso, eu queria trazer isso de uma maneira mais palatável e tranquila. Eu queria me encontrar dentro desse mundo. Então, não era confusão, mas era claro que não era o melhor entendimento do todo. Era uma experimentação e todos estavam ali tentando, simplesmente.
A partir desse momento eu, como disse, olhei algumas escolas internacionais, até que um colega fez o Executive Program da SingularityU Brazil e disse que valia a experiência. Ficamos sempre com medo, né? Até que o meu amigo disse: “Fica tranquilo. É até melhor. Confia”.
Foi interessante porque fiquei confortável e tranquilo por fazer o EP daqui. Mas… Quando entrei… Foi algo mais grandioso ainda. Por isso hoje eu falo: “Precisa ir viver… É fantástico, mas precisa ir viver tudo aquilo”.
Então, foi espetacular. O cuidado com as pessoas, com a volta da pandemia e até sobre as expectativas que eu tinha. Cuidar das pessoas exige também entendimento de tecnologia e tinha uma compreensão sobre a doença que passávamos, tudo correto e eu fiquei impressionado com tudo isso.
Ao mesmo tempo, eu queria ser uma liderança que entenderia esse digital. O Edu Ibrahim era a pessoa que eu perguntava sobre a economia, a exponencialidade, novas moedas e tudo mais. Pensar em descentralização, disrupção, na questão monetária… Foi muita reflexão da atividade que eu me dedico e até tudo que o mundo vai passar.
Tem coisas incríveis aparecendo na nossa vida e eu estava ansioso para ter contato com isso.
A Singularity sempre foi uma palavra de muito impacto, né? Uma marca gigantesca e todos que passam por elas são proporcionadas pelo conteúdo e pelo propósito que estão vivendo. É gigante querer transformar o mundo em um lugar melhor impactando pessoas.
Por isso eu só pensei: “Eu quero. Vou dar uma chacoalhada neste momento. Quero ver este impacto. No Brasil mesmo? Quero sim.”
E esse pensamento é comum, mas, agora consigo dizer: um conteúdo, tropicalizado como falamos, do jeito que foi, traz algo gigante.
O nível de aprendizagem que tive no EP, o conteúdo que trago até hoje, mas principalmente a forma de pensar que absorvi de uma maneira muito mais rápida do que antes, foi a melhor questão do curso. Já fiz cursos lá fora e não foi desse jeito. Fico feliz de ter isso no Brasil, aqui tem coisas bacanas e maravilhosas que várias vezes no internacional precisamos ainda tentar abstrair para o nosso contexto, né?
Aqui não. Até as provocações são proporcionadas para a nossa realidade, pensando na própria estrutura brasileira. Está claro que é necessário para que as coisas acontecem. As mensagens são diretas. Tem muita técnica, inteligência e a maneira do nosso comportamento é tratado com provocações. A riqueza está em olhar para tudo isso e tentar tirar o melhor disso, desde nosso almoço, fala e até a maneira em ser coletivo. É espetacular ver tudo isso no programa.
SU Brazil: Você em nenhum momento fala disso com desespero ou angústia. Então, como você enxerga o futuro?
Luciano: Eu não falo com desespero ou angústia porque a SingularityU Brazil me ensinou dessa forma, né? Ali eu entendi que tem um caminho e uma jornada que podemos trilhar, só não podemos ficar esperando. Os caminhos fundamentais estão mostrados. Se cada um fizer sua parte, chegaremos lá.
Agora, é muita coisa acontecendo e muitas provocações. A gente tenta acompanhar. Quando estamos desconfortáveis, a gente precisa ir estudar ou procurar alguém que saiba. É, inclusive, sobre isso que SingularityU Brazil nos provoca: só chegaremos se houver um coletivo, compartilhado, que procure se melhorar neste processo e por isso o networking se torna importante.
Agora, medo do futuro? Nenhum. Talvez o que eu fique um pouco atento é com a velocidade das coisas, para que não falte ou não aconteça algum equívoco. Por isso é necessário ter muita coerência.
Esse mundo de experimentação presente dará mais espaço para tentar. É o que eu vivo no meu trabalho. É um conjunto de experimentações, um respeito coletivo com as pessoas, uma certa forma de lidar com o erro que é mais positiva, tentativas e, principalmente, investimento em questões principais: na pessoa humana. Tudo isso é tempo.
A velocidade e o ritmo precisamos aprender a controlar. Entende por que falo disso? Eu não sei qual é o melhor, mas aprendo todos os dias. A melhor foram da gente ver o futuro, é a construção de agora: sendo melhor um pouquinho todos os dias. Parece um tom subjetivo, mas é por isso que precisamos ter os objetivos claros e a cultura engajada em questões definidas, ao mesmo tempo que as lideranças acompanham e ouvem os valores da organização.
Ao mesmo tempo, é preciso trabalhar algumas expectativas, olhar algumas projeções e ver como podemos lidar com isso também.
Sobre a nossa vida, a principal fonte é o estudo. Sempre precisa estar presente. A aprendizagem é a parte mais importante para entender e fazer desse futuro melhor. Por isso a HSM e a SingularityU Brazil estão fazendo um trabalho espetacular com isso. Aqui, talvez, seja o lugar de maior admiração para mim porque é realmente algo essencial.
Provocação sempre será algo espetacular e aqui é feito da maneira certa.
SU Brazil: Obrigado, Luciano! Você falou muito de tempo em sua fala. O que diria então para o seu ‘eu’ do passado?
Luciano: Ah, eu diria para ele fazer o Executive Program, com certeza.
A gente sempre faz as coisas e depois pensa que poderíamos ter aproveitado mais. O que eu poderia dizer é até ir mais tranquilo, se dedicar mais para a imersão e esquecer um pouco a nossa vida. Mas é difícil. A gente sempre pensa em tudo.
Eu diria para imergir mais. Não olhar o celular, apropriar de tudo e aproveitar de muita coisa bacana que vai aparecer.
Então, de maneira objetiva, eu diria para ir. Como digo para os meus colegas que perguntam, o investimento vale, o tempo de imersão vale e é algo fantástico.
Isso vem de uma premissa que eu falo para os meus filhos: estudo é investimento.
Então, não podemos olhar o todo e ver a quantidade como um pagamento. É investimento. O aproveitamento vem com o tempo. O retorno vem de uma maneira tranquila, fácil. É algo que levo para os meus filhos em todos os meandros de aprendizagem da vida deles.
Agora uma reflexão que eu volto a dar atenção às pessoas que podem vir a ler o texto: faça a imersão completa. Se dedique. Larga o celular, reunião, tudo.
Outro ponto que eu gostaria de dizer: larga essa cobrança. Relaxa. Pergunta, olha, fique curioso. É um ambiente de pura aprendizagem. É um ambiente ótimo, de muita humildade e de respeito. As pessoas são sempre incríveis. O corpo de professores e da SingularityU está sempre ali para te ajudar.
E, impressionantemente, a turma também. No último dia todos se soltam! Faça antes. Aproveita, porque esse negócio vai te transformar e vai te fazer melhor.
Eu diria até para aquele Luciano que ele sairá melhor e muito bem.
Confesso que sempre penso em voltar e novas oportunidades. Eu sinto falta. É muito bom.
SU Brazil: Muita gente briga com o tempo, Luciano. Você não. Isso é fantástico! Você passa isso adiante?
Luciano: É um desafio e tanto, né?
Eu tento passar para os meus filhos. Com o mais velho eu trago de uma forma presente, principalmente sobre essa questão consciente do tempo. Acho até legal que os feedbacks positivos na escola são neste ponto, de tratar temáticas de uma maneira compreensiva e como ele é generoso.
Isso é muito importante e precisa ter equilíbrio. Não é fácil. Talvez até eu não tenha muito como digo aqui, mas sempre buscar isso é o mais importante, entende? E a relação do tempo é isso.
A partir do momento que começamos a entender que ele é o maior ativo que a gente tem, se torna muito importante para tentarmos equilibrar todas as nossas dimensões da nossa vida.
Algumas frases marcam minha vida e uma delas é: “perdendo tempo é que se ganha vida”. Parece simples, mas nos ajuda nas piores situações possíveis e que já me ajudou muito. Então, nos momentos que são duros e sem alternativa, ela traz a ideia de sair da situação, fazer outras coisas e tirar o foco.
Desconectar é importante. Tenho um líder que sempre fala para “dar uma espairecida” ou “tomar um café”. Um looping de pensamento dificilmente dará certo. Precisa perder esse tempo, para ganhar vida e fôlego. É muito importante ter isso na nossa vida e, por isso, equilibrar.
Com meu filho mais novo ele está aprendendo a equilibrar tudo: do esporte e até a família. É uma gestão de prioridade. É algo que eu tenho comigo, como falei lá no começo sobre o trabalho. As prioridades mudam, mas é necessário ter isso em mente e perceber como estamos usando nosso tempo com isso.
É muito importante. É um desafio grande, mas a melhor forma é a gente sendo a gente e sendo verdadeiro nisso. Talvez as pessoas não recebam muito bem isso, em certos momentos, mas, com o tempo, entendem o valor disso e das nossas prioridades. Eu acho isso crucial e faço isso com meus pares, família, lideranças, time… Precisa ter esse cuidado.
Talvez a única coisa que a gente precise refletir sobre o mundo corporativo, de uma maneira geral, é que estamos muito nestas atividades técnicas e entregas. Porém, como podemos equilibrar isso com o humano? É um pouco o que eu digo da fase: despluga um pouco. Sai da planilha/reunião. Pensa um pouco e volta para o trabalho.
Ficar no piloto automático do cotidiano vai te sugando e perdemos essa capacidade. É preciso voltar e entender esse equilíbrio. Como lidar com o tempo, o precisar fazer, o ser humano, o cuidado… Tudo isso… É fundamental conseguir dar harmonia para isso.
E precisamos ser nós nisso. Não dá para cumprirmos um papel. Se estamos só nisso, perdemos tempo e somos apenas funcionais. Nos perdemos. Precisamos ser genuínos e nós 100% do tempo. Não tem um Luciano do Itaú, o Luciano Pai… Não. É preciso que sejamos nós mesmos na totalidade e equilibrar isso com os processos que são necessários.
Mas é assim que se aproveita o tempo e, em uma vida finita, é o mínimo, não é?
Por isso, outro ponto, é parar no final do dia e pensar: “Está valendo a pena? Faz sentido para mim?” Se sim, segue. Se não, é necessário retornar, acertar expectativas, talvez mudar algo, mas seguir com a atividade.
Espero que meus filhos entendam isso e vejo nas interações que isso é bem presente. Então, passar isso é muito importante.
SU Brazil: E quem é a pessoa que deveria fazer o EP?
Luciano: Acho que não há um perfil definido e isso é bem rico.
Tem uma diversidade presente importante e as possibilidades são bem diversas. É possível trazer ângulos diferentes.
Minha sugestão é que a pessoa tenha um nível de maturidade, como pessoa e como profissional, grande. O nível de conversa é bom. Os assuntos são profundos, o entendimento do mundo corporativo é alto. Então, é necessário ter este conhecimento.
A questão é o nível adequado sobre o conteúdo e experiência. De resto, como empresário, executivo, gestor… Seja quem for, caso tenha um nível de maturidade, vai dar certo.
E, claro, precisa querer mais. Pensar em desenvolvimento e melhora é algo crucial e a pessoa precisa querer transformar o Brasil e o mundo de uma maneira melhor. É até o propósito do programa, então é preciso que a pessoa esteja aliada a isso.
O tempo da experimentação prolongada se foi. Cada diretriz e ação, pensando no futuro, precisa ter direcionamento, diretriz, governança e objetivos claros de impacto social e ambiental para que possamos reverter a situação que nos encontramos.
Isso é parte da missão da SingularityU e isso é princípio ativo no Executive Program. Cada fala, speaker, ação e propósito envolve a maior preocupação com o nosso planeta e isso não pode ser negociável.
Em virtude destas atribuições, a tentativa é cada vez mais produzir ambientes que se proponham a pensar, refletir e mostrar maneiras de tornar este princípio ativo na vida das empresas brasileiras.
Além disso, nada é feito por apenas um. Neste especial de 10 edições do EP, convidamos Martha Letícia, Cofundadora da Agência Terruá, para trazer uma reflexão sobre a importância da pausa e inflexão nos ‘trabalhos de formiguinha’ necessários para que a mudança efetivamente chegue.
Com uma inteligência esclarecida, política e extremamente compreensiva nas diversas camadas existentes, Martha nos convida a refletir sobre nosso papel como indivíduos e a necessidade de cada vez mais entendermos nosso próprio passo.
É necessária uma responsabilidade maior sobre nossas ações e fazer o que realmente está sob o nosso alcance. Martha Letícia foi a pessoa que insistiu e levou Karine Oliveira, da Wakanda, para o EP e você confere este papo na íntegra abaixo!
SingularityU Brazil: Então, para começar, quem é a Martha Letícia?
Martha Letícia: Bom, eu sou a Martha. Sou uma empresária que atua a partir de Brasília. Digo isso porque Brasília, é um hub, né? Não só pelo fato da questão estrutural geográfica do Brasil, mas é um acesso para o resto do Brasil e, na verdade, internacionalmente é reconhecido assim também.
Então eu atuo a partir de Brasília, para clientes nacionais e internacionais dentro da área da comunicação. A gente faz o que é chamado de branding experience, traduzido como experiência de marca. Então é se preocupar com o que o usuário daquela marca possa vai experenciar em sua vivência com aquela marca, trabalhamos recall também. Isso é o que eu faço.
Eu acho que um pouco do que me define… Porque a gente vai descobrindo ao longo do tempo, que que define a gente vai mudando também essas definições… Mas o que hoje me define é que sou uma mulher nortista, que teve uma jornada importante para mim, claro, e relevante na vida das pessoas, sabe? Acabei criando alguns projetos, empresas e coisas que foram agrupando pessoas e aglutinando interesses em comuns, alguns deles inéditos…
Então acho que teve um papel no ineditismo, em relação ao que eu faço. O que me orgulha! Me deixa feliz pelo que eu já entreguei. Agora, nessa nova fase da minha vida, eu espero ter um outro tipo de papel assim, mais coletivo.
Eu acho que eu tive papel relevante para algumas pessoas, do ponto de vista de carreira profissional, desenvolvimento profissional de colaboradores que atuaram comigo. Então acho que isso teve uma relevância empresarial bacana, da qual eu me orgulho.
Nessa nova fase da minha vida, com 50 anos, e eu quero um papel que também tem alguma relevância social, entende? Mais coletiva. Em que a minha entrega seja para além dessa questão empresarial, mais do que esse ponto que eu já tive a entrega aqui que me satisfez e me satisfaz.
Então, agora eu quero que também tenha um papel dessa perspectiva coletiva.
SU BR: Isso também envolve a Agência Terruá, na qual você é fundadora?
Martha: Na verdade não. Isso é particular meu.
Claro que eu levo a agência junto, porque a acabo colocando a agência nessa perspectiva. A própria Wakanda, da Karine Oliveira, é um projeto pro bono que eu estou querendo começar a fazer para ajudá-los no desenvolvimento.
A agência, enquanto empresa, tem todo um perfil mercadológico, é funcional. Eu não acho que o trabalho social e coletivo precisa ser filantrópico. Eu acho que ele pode ser remunerado, ele pode ser um negócio também. Mas, a Agência Terruá tem outro caminho, apesar de que fará nesse paralelo essas questões.
Esse olhar mais voltado para a questão coletiva é uma perspectiva minha, que eu, obviamente, levo Agência naturalmente, mas vou desenvolver outras questões paralelas.
SUBR: E como que surgiu isso então, Marta? Essa questão parece até um chamado de querer fazer o coletivo.
Martha: É uma jornada que muita gente percorre, né? Acho que várias pessoas têm esse chamado em algum momento.
Mas acho eu, que se você está trabalhando com consciência, se você tem autoconsciência, em algum momento você tem ali tua estrutura base formada para que esse chamado apareça.
Eu acho que tem gente com esse chamado desde sempre e começa a jornada a partir desse olhar. Não foi o meu caminho. Meu caminho foi mais conservador, vamos dizer assim.
Eu percorri um caminho meu e, a partir do momento que eu me sentia segura nesse caminho, eu me senti segura para isso.
Creio que tem algum momento que a gente precisa entregar para a sociedade o que coletamos, né? De experiências de vida, de network, de perspectiva… Porque, se você não fizer isso, acho que o teu propósito nessa Terra estará precarizado. Vai faltar alguma coisa que você precisa entregar do ponto de vista de jornada de vida, entende?
Em tese, comecei tarde, mas foi o que eu pude dentro da minha perspectiva de caminho, né?
SUBR: Acredito que nunca é tarde para ouvir isso… Enquanto a gente é genuíno e passa a olhar para o coletivo, sempre será extremamente importante, não é?
Martha: É… É o que penso nas minhas reflexões. E eu acredito muito nisso. Eu insisti, por exemplo, em algumas coisas, inclusive as pequenas. Eu insisti, por exemplo, em levar a Karine, da Wakanda, para que ela ocupasse espaço dentro dos EPs e pudesse ter essa diversidade.
Afinal, precisa ter uma perspectiva de alguém que não está na bolha. Tem que ter uma perspectiva de alguém que está fora desse desse universo hétero-normativo branco. Afinal, é privilégio mesmo, né? Não dá para dizer que não é. É privilégio.
SUBR: Aproveitando, como foi o processo de chegar até o EP?
Martha: Bem, essa foi fácil: eu trabalho com targeting, então as propagandas e links patrocinados nas redes sociais chegam fácil em mim.
Me chamaram atenção porque, obviamente, eu conheço a marca. Dentro dessa bolha eu conheço a Singularity. É uma marca que tem uma grande reputação.
Eu sabia que a HSM estava trabalhando junto com ela e agora estavam no Brasil. Então, teve um momento que isso pode ser possível com meu momento de vida. Falo disso porque porque tempo é uma coisa preciosíssima.
Então, finalmente eu pude ir e pensei que seria um bom momento. Eu já conhecia algumas coisas superficialmente. Conversei com algumas pessoas que tinham feito, aqui e fora do país, na Singularity global.
Achei bem interessante a proposta, pensando nessa perspectiva disruptiva. Eu queria ver se a versão brasileira também seria, então achei interessante experimentar.
SUBR: E foi tão disruptivo quanto você esperava?
Martha: Em alguns momentos sim e em outros não.
Faltou uma disrupção relacionada a mudar nossa lógica de comportamento, entende? As falas são muito boas. Os experts trazem coisas interessantíssimas, mas na hora de aplicar, a gente precisa envolver o público de uma maneira radicalmente transformadora.
Poderíamos nos conectar antes e buscar caronas na tentativa de compartilhar e gastar menos combustível, por exemplo. O lugar que estávamos dava garrafas de água de plástico, mesmo com a SingularityU Brazil entregando garrafas de inox. Entende?
Então, ficava com a impressão de que não adiantava só o falar. Era necessário propor mais ações de sustentabilidade e ‘chacoalhar’ a mente das pessoas mesmo, entende? Já cheguei em um momento da minha vida que acho necessário tornar isso mais pragmático e que as pessoas sintam na pele o esforço que precisa ter para ser realmente transformador e disruptivo.
Agora, dentro das temáticas, é lógico que foi interessantíssimo e impressionante. O David Roberts é fantástico, cara. Fantástico mesmo. A apresentação dele foi incrível.
Foi o tipo de apresentação que eu gosto muito, porque ele fala nas pausas. Ele faz pausas e ele fala durante as pausas. Ele coloca um silêncio em você e a sua cabeça precisa acompanhar tudo isso em forma de reflexão. Daí ele continua e as pessoas se incomodaram! Eu estava achando brilhante. Genial.
A hora que ele estava mais falando é a hora do silêncio, porque tudo aquilo ecoava enquanto você raciocinava. E, se você estava preocupado em ocupar o espaço vazio, você não estava ouvindo o que ele estava dizendo de verdade. Você não parou para pensar em toda aquela complexidade. Ele queria que você acompanhasse o pensamento dele.
Então achei aquilo genial. Eu estava ali conectado com ele de outro jeito. E que pena que as pessoas não percebem isso. Eu não acho que todo mundo precisa perceber isso de cara, porque cada um está num patamar de consciência e de percepção do mundo.
Eu acho que ele podia já dar um disclaimer na entrada: “De uma maneira gentil eu trabalho assim. Eu falo. Eu paro. Eu penso…” Eu sou parecida, mas tem gente que precisa de manual, amigo.
Tem gente que não consegue perceber assim de maneira rápida, sem orientação. Às vezes precisa de instruções. Então, o David devia destacar isso. Acho que assim entenderiam o qual brilhante ele foi.
SU BR: Acho que hoje as pessoas não entendem a pausa e necessidade de reflexão, né? Tentam ocupar isso…
Martha: Pois é! E tem uma coisa relacionada de tentar preencher esse silêncio, pegando o celular, por exemplo… Mas, eu achei genial aquela palestra.
Eu adoro quem faz esse tipo de coisa, porque é o tempo que você deixar a pessoa absorver. Aqueles segundos são importantes para refletir e não me incomodam em nada.
O Executive Program é uma imersão de 3 dias e meio, nas tecnologias exponenciais que estão moldando o futuro dos negócios. O principal programa da SingularityU Brazil ocorrerá entre os dias 24 a 28 de setembro, no Hotel Almenat Embu das Artes – SP. Garanta sua participação na última turma do ano clicando aqui
SU BR: Então houve uma reflexão pós-EP?
Martha: Teve sim uma reflexão, de como que foi esse processo. Tudo na minha vida eu levo com reflexão, né?
Observar um evento como esse é e feito dessa forma, com as pausas… Reflexão de tudo neste campo de observação foi algo muito interessante para minha vida.
SUBR: Teve alguma reflexão específica? Como foi esse processo?
Martha: É um pouco disso que estou falando. É todo o campo de observação que o curso proporciona. É riquíssimo, com pessoas diversas e inteligentes, bem posicionadas. É uma Disneylândia do campo de observação, então você brinca de observar o tempo inteiro.
Então sim. Tive várias reflexões a partir dali, com várias perspectivas, que me afetaram. Algumas coisas não mudaram a minha perspectiva. Vivi a vida inteira com locais feitos para networking, sei como funciona e é normal.
Mas, olhar que pequenas coisas podem mudar cada uma das pessoas neste lugar é algo interessante porque você precisa fazer um trabalho de formiguinha, entende? Um cara como o David pode fazer a diferença na vida das pessoas. A inflexão é boa por isso, para entendermos isso também.
SUBR: E como foi esse processo para sua vida depois do EP 6?
Martha: Cara, acho que se você vive uma coisa que isso não muda em nada a tua perspectiva, você não aproveitou da melhor forma o que você está vivendo.
Então, é claro que ajuda nessa minha jornada, mas eu eu falando como sugestão e para aproveitar um evento rico como esse. Do ponto de vista de que outras pessoas podem aproveitar mais. Acho que precisa desses disclaimers, como disse, principalmente nestes pontos mais importantes.
É nessas palestras, como a do David, que é realmente impressionante e precisamos ter atenção. A da Carla Tieppo também é fantástica porque mostra como nosso cérebro está se modulando neste momento e deixamos de acrescentar coisas importantes, como nosso próprio cuidado. É uma perspectiva cerebral que eu fiquei extremamente interessada.
O Edu Ibrahim traz outra perspectiva boa sobre economia e impacto social que deve ser falado e mudado.
Mas fechar com o David… Foi essencial. Ele fecha dizendo que nada disso vai ficar de pé se não tiver a questão social.
É fenomenal porque dá alguma chance para que os principais agentes pensem nestas questões. Afinal, são eles o ponto de decisão do futuro e que realmente farão impactos globais.
Acho que a semente que você planta na cabeça das pessoas é relevante, entende?
O Dante traz um pouco disso. Ele deveria até fechar também junto ao David, por conta das transversalidades e entender a perspectiva global de disrupção. Precisa ter algo mais profundo e ser cobrada mais atenção sobre isso.
SU BR: Aproveitando que estamos falando de impacto social, foi por essa razão que você insistiu para que a Karine da Wakanda fosse ao EP. Como foi isso?
Martha: Eu ficava impressionada com o círculo que estava ali montado, então pensava: ‘bora quebrar essa bolha?’ E eu fiquei desde o primeiro dia dizendo: “Ela precisa estar aqui”. Eu fiquei desde o primeiro dia conversando com o Reynaldo e com a Poli. Ela é incrível, entende? Ela foi Forbes under 30, tem um trabalho impressionante, começou ali ‘na marra’, leva o assunto, tenta construir essa tradução de linguagem e o trabalho é de um impacto regional gigantesco.
Se isso não for disruptivo, eu não sei mais o que é. É disso que sempre precisa estar aliado quando falamos de transformações inéditas.
SUBR: Já que estamos falando disso, como é que precisamos ir ao EP para entender essa disrupção e aproveitar o máximo possível?
Martha: No mundo ideal, teria mais atividades que todos apresentassem suas vulnerabilidades e aquelas questões que mencionei sobre disrupção das nossas ações. Bem transformador mesmo.
Mas, com a imersão que se apresenta voltada às tecnologias e aprendizados para o seu negócio, precisa ter algumas questões além do comportamento superficial dos negócios. Afinal, as relações são anteriores a isso, entende? Ninguém faz negócio com o negócio. São as pessoas que estão ali presentes.
Eu não estou falando da questão linear de comprar acessos e fazer networking. Isso é o básico. É possível fazer um aquecimento disso antes. Eu digo mais de estar vulnerável, encontrar pessoas aleatórias, se diferenciar, trocar depoimentos e histórias além dos sucessos… Conhecer as pessoas de verdade. Ter a troca!
Talvez fosse interessante ter outras dinâmicas mais “forçadas” neste assunto, colocando pessoas para sentar que não se conhecem, apresentar o outro… Coisas assim, entende? Eu sou cara de pau, então eu falei com todo mundo que eu queria, mas nem todo mundo é assim.
Me tornei investidora-anjo de uma startup assim, fiz amizade com o Dante dessa maneira. Virou um amigo querido. Adoro conversar e trocar ideia com ele. Sou fã demais do trabalho!
A própria Carla Tieppo. A gente se aproximou aí no começo e foi maravilhoso. Enfim, eu me aproximei de todo mundo que eu achei interessante. A mulher do Murilo Gun, a Dani, também tive alguma proximidade com ela. Enfim, são as conexões que acabam rolando, então. Isso é ‘massa’.
SUBR:O que a Marta pretende para o futuro coletivo que você está pensando? Quais os próximos passos?
Martha: Cara, estou sempre atenta a essas a essas situações assim, como estamos tendo. Eu estou sempre interessada em como eu posso passar um pouco mais de conhecimento e poder ajudar. Precisa ter esse catalisador de questões relevantes e atuais de algum jeito, né? Esse papo nosso aqui tem a ver com isso. Eu estou doando meu tempo para falar sobre isso, porque eu acho que isso é uma coisa que vale muito a pena.
Me interessa propagar esses pensamentos e ver se as pessoas vão finalmente entender que precisamos fazer alguma coisa porque este mundo não está dando certo. Então eu estou sempre a fim de fazer essas conexões. Me chamam sempre pra papo sobre esse assunto.
Principalmente para mostrar perspectivas para as pessoas. Eu sou de Belém do Pará, nortista. Com muito orgulho, eu acho o máximo ser da Amazônia.
Outro dia estava conversando com uma pessoa e a gente estava falando o quanto o norte tem um privilégio fantástico que é do ponto de vista da alimentação. A gente tem aqui o peixe e frutos muito abundantes. Então difícil você ver uma pessoa aqui que não tenha de alguma forma de comer, mesmo o mais pobre, de algum jeito ele tem acesso a essas coisas.
Essa alimentação é muito fortalecida por essas proteínas.
E por que que eu estou dizendo isso?
Porque das 3 coisas importantes para uma pessoa ser inteligente, alimentação é uma extremamente importante. Então a gente tem essa coisa da alimentação muito forte. Se tivéssemos uma projeto estrutural de educação, como tem Pernambuco, como tem é o Ceará, o que seria do Pará?
Ceará é uma estrutura de fundamento educacional imenso, maior do que muitos lugares no Brasil, muito melhor que São Paulo, muito melhor que o Rio de Janeiro e sul do país.
São Paulo é incrível na bolha, não é? Mas estou falando para além da bolha: não tem discussão. No Brasil, as referências são é Pernambuco e Ceará as melhores, né? Estão sempre em destaque aí nas olimpíadas que existem.
Então, se o Pará tivesse uma coisa dessa… A gente brinca que é ter um monte de Nobel, porque a coisa da alimentação a gente tem muito forte aqui, muito forte. A questão é a disputa e alcance.
Se você tem quantidade de pessoas disputando, algumas vão ser destacar fortemente, claro. Agora, se você tem só meia dúzia disputando… Fica mais difícil.
Então, o meu ponto de vista de futuro é estar sempre contribuindo de alguma forma com este olhar, com essa perspectiva, para tentar fazer a diferença ou fazer, no mínimo, com que as pessoas parem para pensar sobre.
SUBR: Então a Martha do futuro está voltada para a Educação do Pará?
Martha: Totalmente voltado na área da educação do Pará. A área de educação é uma área que me chama muita atenção. Eu acho que é o da perspectiva social. Por este motivo a Wakanda me chamou muito atenção, porque é uma perspectiva de educação. É a forma da gente mudar o mundo, para mim.
Vocação vem do latim vocare, que significa chamado. Então, além do entendimento de um tipo de talento ou uma habilidade única que outras pessoas não possuem, essa palavra tem este sentido no qual a pessoa “é chamada” para aquela determinada atividade.
Isso pode ter um sentido em diferentes esferas da nossa vida. Normalmente, a que mais se destacou no processo histórico, é a religiosa, mas os gregos e seus oráculos já recebiam chamados dos deuses muito antes da teocracia.
O tempo vai nos colocando no caminho para que isso ocorra. Mais ainda: é no tempo em que os sinais vão se mostrando e, querendo ou não, acabamos por segui-lo até que tudo se transforma em uma epifania criadora e a energia motriz se perpetua no propósito.
Desta vez, em mais um Especial 10 edições do Executive Program da SingularityU Brazil, conheceremos como um chamado foi se desenhando na vida de Rafael Mayrink, CEO da NP Digital, e de que maneira sua vida se transformou para algo impensável no começo de sua carreira.
Com energia contagiante e paciência para nos contar como foi criar seu negócio, expandi-lo e criar perspectivas em todos os momentos da empresa, Rafael nos mostra como sua transição de carreira e início de um projeto empreendedor deu base para encontrar seu propósito e se tornar um líder que agora prospecta sobre o futuro.
Talvez uma semente do Executive Program? É provável, já que o CEO da NP Digital é um dos poucos que se aventurou duas vezes no EP da SingularityU Brazil e, em cada uma delas, trouxe algo a mais para pensar em seu trabalho e ainda destaca que: “tenho uma inovação para fazer, mas primeiro é hora dos processos”.
Essa gama de aprendizados você pode acompanhar na entrevista abaixo!
SingularityU Brazil: Rafael, por favor, se apresente!
Rafael Mayrink: Eu sou um eterno inconformado, digamos assim. Um cara que aprendeu a ser uma pessoa muito curiosa, com o passar do tempo.
Comecei minha vida como profissional de comunicação, mas sempre fui fazendo as coisas por eliminação.
Não queria medicina, não queria física, não queria matemática… Sobrou Comunicação, mas não queria RP, nem jornalismo… Então publicidade apareceu.
Minha vida foi seguindo este caminho. Não tive muito acompanhamento na época, então fui tentando do jeito que podia e pensando que tinha que trabalhar e pagar conta. Antes, na minha cabeça, trabalho servia para isso e não existia esse lance de realização pessoal, confesso.
Por conta disso, uma coisa característica da minha vida sempre foi trabalhar para os outros, nunca para mim mesmo. Eu tinha uma certa noção que, trabalhar para si mesmo, não tinha nada de glamoroso, porque implicava trabalhar o tempo inteiro.
Pensava sempre em trabalhar segunda a sexta, aproveitar meus resultados e tudo mais, porque sabia que quem trabalha para si mesmo tem uma vida puxada.
Eu gostava do meu fazer. Gostava também de me esforçar no trabalho, ver as recompensas de que eu estava aprendendo e todos os lugares por onde passei me ajudaram muito. Graças a deus, isso tudo me deixou portas abertas.
Porém, como eu não me sentia tão realizado com o trabalho, não sentia essa completude que todos falavam. Eu separava os momentos entre o trabalho e minha vida pessoal, pensando que deveria realmente ter essa separação.
Mas, em um determinado momento, me deu uma epifania e decidi que não queria mais algumas situações que estava vivendo. Gostaria de entender o que era se realizar profissionalmente, fazer algo que eu acredito e tudo mais.
Comecei essa jornada, que foi um tanto solitária, digamos assim, em 2014. Rapidamente, em 2015, fui para o mundo do marketing digital e hoje estou aqui como CEO da NP Digital.
Então, creio que eu sou uma construção de todos estes acontecimentos.
SU Brazil: Mas foi difícil ou foi algo orgânico?
Rafael: Cara, foi muito difícil. Não vou dizer que foi fácil.
Como eu disse antes, não havia muito acompanhamento.
A história dos meus pais é a história de muitos: eu tinha uma vida tranquila, com um certo privilégio, estive em uma escola boa, educação ótima, estrutura familiar, casa própria e tudo mais. Nunca passei dificuldade, graças a Deus.
Mas, na época do Collor, na década de 90, com as polêmicas de inflação e superinflação, meus pais perderam seus respectivos empregos e ficaram um bom tempo desempregados. Minha mãe correu e se aposentou.
Durante muitos anos vivemos de maneira regrada. Por isso, o trabalho era sinônimo de subsistência, no sentido de praticidade da sobrevivência: pagar conta, não dever e sobreviver da melhor forma possível.
Então, a falta de acompanhamento era um ponto. Se eu tivesse, acredito que teria feito algumas coisas mais rapidamente.
Depois, tem a dificuldade do risco e de calculá-lo. Não há glamour algum nisso. Não tem aquela coisa de ter que ir arriscar e por tudo à prova, “por a cara a tapa”. Não. Isso é um discurso fantasioso. É apelativo. Precisa se preparar, organizar e fazer conta.
A realidade é o que a gente vive: tem conta para pagar, tem aluguel, tem compra, supermercado todo mês… Precisamos pensar nisso e estou dizendo para os privilegiados, não estou nem falando quem precisa fazer mais ainda para sustentar uma família inteira ou está correndo para sair da vulnerabilidade.
Não tem glamour no negócio. Para arriscar, precisa de dinheiro, pagar conta, olhar futuro, se planejar e também entender como se virar quando não dar certo, já com o medo do fracasso de não empreender corretamente.
Então… Sempre vem angústias: E se não der certo? Como estará o mercado? Como dizer que falhei no empreendedorismo e ainda esperar que me contratem?
Tudo isso passa pela nossa cabeça. A insônia passa a tomar um tempo de ti neste momento. São coisas da vida e acontecem com todo mundo. Essa virada para empreender não é simples. Não é da noite para o dia. Precisa de planejamento. Precisa arriscar e, claro, abrir mão de algumas coisas para fazer dar certo.
SU Brazil: Este arriscar foi chegar na NP Digital?
Rafael: Na verdade vem de um pouco antes.
Eu fui tentar me especializar em marketing, na época, porque quando fazia publicidade, eu sentia falta de olhar o todo, olhar estratégia, marketing, vendas, comunicação e tudo mais. Diversas áreas que estão engrenadas.
Na publicidade você trabalha com uma parte da publicação. Por conta de querer enxergar o todo, eu já tinha um certo interesse em trabalhar com marketing em si. Então fui adentrando no caminho do marketing, mas ainda de maneira tradicional: TV e Rádio, por exemplo. Eu estava me especializando, antes de ter estas epifanias da qual falei.
Em uma aula de trade marketing, o professor falou sobre a questão digital e disse que quem seguisse esse caminho no futuro se daria muito bem. Neste momento veio outro ‘estalo mental’, porque eu não sabia nada desta área.
Lembrei de uma pessoa que estudou comigo na faculdade, o Saulo Medeiros. Ao contrário de mim, desde o começo ele queria empreender, gostaria de ter um negócio e uma agência.
Perdemos o contato depois da faculdade. Lembrei dele anos depois e o procurei. Quando o achei novamente, a gente começou a conversar e vi que ele se tornou bem sucedido com uma agência de marketing digital e tinha contas interessantes.
Pedi para ele fazer uma consultoria para me ensinar como fazer isso. Ele topou, em nome do nosso excelente relacionamento na faculdade, porque um já salvou a pele do outro na faculdade. É aquele amigo que podemos contar na faculdade: não tínhamos tempo, porque trabalhávamos, então nos ajudávamos nessa dedicação. Ele foi meu parceiro nessa.
Neste momento, Saulo me falou do Neil Patel. Ele já estudava muito em inglês, porque em português ainda não se oferecia tanto conteúdo de qualidade e rico sobre este assunto.
Ele já encontrava o Neil Patel várias vezes nestas buscas por estudos. Então me colocou como obrigação estudá-lo e disse: “para entender como funciona, você precisa praticar isso. Crie seu site, escolhe o nicho que gosta e trabalhe com tráfego do seu site, gere leads e tente converter em venda”.
Então eu juntei várias coisas que eu gostava ou que estava aprendendo: escolhi o segmento de fotografia, que eu sempre curti ser fotógrafo. Quis fazer um serviço de consultoria de marketing, porque tem muitos profissionais que se perdem em investimento e grana disponíveis.
Eu falo até disso, porque tem muito além da comunicação: é preciso entender o produto, pensar sobre como ele circulará no meio digital, as regiões de atuação, se a precificação atende os objetivos e tudo mais.
Comecei a estudar muito SEO, conteúdo, gerador de leads e fui criando o site. O Saulo me ajudou nisso. Consegui um tráfego muito legal de início e o Saulo comentou que eu deveria conhecer o Patel.
Tinha um evento da Hotmart, em que o Neil Patel viria para o Brasil, como palestrante. Foi uma coincidência incrível. Ele veio até Belo Horizonte, que é a cidade onde moro, no dia 15 de agosto, exatamente no aniversário da minha esposa.
Sua palestra seria no lugar onde íamos comemorar o aniversário dela, no Hotel Ouro Minas. Uma coincidência impressionante.
Além disso, na época, tinha também uma questão monetária. Então resolvi comemorar o aniversário da minha esposa e deixar isso para outro momento. Mas eu estava há poucos metros dele, no mesmo hotel.
Semanas se passaram depois disso e aquilo estava na minha cabeça: “Perdi a oportunidade… Não acredito”. Até que eu decidi mandar um e-mail para ele, porque eu pensava: “Ele precisa estar no Brasil. O conteúdo dele é fenomenal. É um cara fora de série. Sou fã do trabalho dele. Precisamos fazer isso.”
Conversei com Saulo e como a gente mandaria este e-mail. Enviei e no mesmo dia respondeu que não tinha interesse no momento. Agradeceu e deixou as portas abertas para o futuro.
Acabou ali.
Fiquei super frustrado.
Mas, três dias depois, ele me mandou outro e-mail perguntando o quão difícil seria traduzir todo site dele, do inglês para o português. No futuro ele me explicou o que aconteceu, mas ali percebi que tinha ganhado a atenção dele.
Começamos a fazer algumas reuniões. Vários testes foram feitos com a gente, sobre algumas atividades e sempre entregamos em muito alto nível, além do que ele pedia. Passaram-se alguns meses, a gente foi para os Estados Unidos encontrá-lo pessoalmente, para conversar, e foi quando ele decidiu abrir a primeira agência de marketing digital dele, a NP. Então, a fundamos, em 2016. Foi esse o começo da minha história empreendedora.
O Executive Program é uma imersão de 3 dias e meio, nas tecnologias exponenciais que estão moldando o futuro dos negócios. O principal programa da SingularityU Brazil ocorrerá entre os dias 24 a 28 de setembro, no Hotel Almenat Embu das Artes – SP. Garanta sua participação na última turma do ano clicando aqui
SU Brazil: Então foi neste momento que o Rafael se tornou CEO, ao lado do Neil Patel, organizando tudo…
Rafael: Sim… Inclusive, eu entendi o que aconteceu naqueles três dias que fiquei frustrado.
O Neil me disse que entrou em contato com alguém do Google, dizendo que tinha um brasileiro oferecendo um serviço, em um trabalho de tradução para o espanhol, português e expandir a marca dele pelo mundo.
Quando este amigo ficou sabendo que ele declinou a proposta, então respondeu ao Neil Patel que ele “tinha perdido o juízo”, porque “os brasileiros vão fazer todo o trabalho, difundir seu nome por todo o país e não faz sentido nenhum declinar um tipo de proposta como essa”.
Foi neste momento que o Neil Patel se convenceu e me mandou o e-mail.
Neste começo, o grande objetivo era fazer exatamente como trabalhávamos com nossos clientes. Afinal, era uma pessoa pouco conhecida no Brasil, mesmo no universo do marketing digital, porque muita gente não fala inglês.
Então pensávamos o que tínhamos que fazer, como estratégia de SEO, tráfego orgânico, como ranquear palavras, qual o mercado no Brasil, como um CMO, gerente e diretor pensa sobre isso, pesquisa no Google… Foi um trabalho extremamente minucioso e fizemos um planejamento bem intenso.
No começo trabalhamos com a tradução de textos no blog em inglês, depois criamos novos conteúdos específicos para o Brasil. Foi neste momento que eu comecei a ir atrás de tradutores, porque eram nós três apenas.
Foi neste momento que eu arrisquei mesmo: 100% do meu tempo era dedicado para isso. Eu tinha poucas consultorias. Deixei de vender no site, corri para terminar meus projetos, mas sabia que com o Neil daria certo. Eu sentia isso. Não tinha dúvida. Meu corpo dizia que era o momento de me dedicar o máximo que eu pudesse. Eu mesmo traduzi alguns conteúdos, revisava e estava muito próximo do processo.
Foi legal porque o Neil chegou em um nível de confiança que ele gostaria de traduzir o site todo em um ritmo alucinante. Neste momento, então, a questão se tornou monetária e eu abri o jogo para ele.
O Saulo comentou que precisávamos de dinheiro e, em dois minutos, o Patel mandou todo o financiamento necessário. Percebe? A gente mal tinha se conhecido, mas era esse o nível de confiança. Foi um marco para nós. Ali entendemos o que é quando as pessoas querem fazer acontecer.
Utilizamos esse dinheiro para contratar e cheguei a ter 20 pessoas atuando na parte de tradução e revisão. Depois contratei uma gerente para cuidar de todos estes projetos, que foi a Eduarda Heter, que tinha muita maestria nisso. Começamos então a gerar tráfego, leads qualificados para o site e começou a engrenar.
SU Brazil: Então, no 1º EP que você fez, isso estava consolidado?
Rafael: Sim! A NP estava mais consolidada e o processo estava engrenado.
Essa história inicial que contei se deu de 2014, na minha decisão de mudança. Em 2015, houve o contato com Saulo. Com o Neil se estendeu até 2016, onde efetivamente eu comecei no empreendedorismo.
No EP, em 2020, eu já tinha mais de 150 pessoas, mais de 170 clientes na operação. Era algo bem robusto. O Neil Patel já estava presente em sete países, com agência de marketing digital, acumulando mais de 700 colaboradores no mundo.
Já tínhamos passado por muita coisa. No começo a gente precisa fazer um pouco de tudo, né? Desde comprar um computador, a entender de contabilidade, entender de vendas de design, entender o cliente… Você navega por diferentes áreas.
Para mim isso foi muito bom, porque eu gosto desse dinamismo. Ter negócio é isso: você não vai ser um especialista em tudo, mas ter uma noção de quase tudo. Isso é extremamente importante. Eu já tinha passado por isso: tive lideranças em vários destes departamentos, que me ajudaram a conhecer várias áreas distintas.
Agora, sobre o curso, eu na verdade sempre evitei em entrar em programas tradicionais e vários cursos. Foi apenas uma preferência minha. Eu fiz uma especialização em marketing depois de anos de formado. Eu sempre tive um pé atrás de ficar ouvindo muita coisa teórica e que não iria me ajudar na prática. O crescimento do marketing digital foi muito prático, então não pensava em curso algum.
Foi nesse contexto eu cheguei ao Executive Program da SingularityU Brazil. Não preciso dizer que foi algo completamente diferente, né? A rede era muito distinta, então, os assuntos eram muito complexos, o networking também e tudo era sempre muito novo. A experiência de vida de quem estava palestrando também contava neste ponto, porque agregava além do conteúdo falado e mostrava algumas possibilidades.
Não foi à toa que eu repeti o Executive Program da SingularityU Brazil e eu tenho certeza que farei pela 3ª vez.
Foi neste momento da minha vida que o EP me ajudou com tudo isso. O curso te permite entender as pessoas, as tomadas de decisão, as dúvidas, angústias e como passar a entender o tipo de planejamento que vamos criar. Tanto em São Roque, quanto em Campos do Jordão, os cursos de imersão foram importantes demais para minha trajetória.
SU Brazil: Quais foram as diferenças entre os Executive Programs da SingularityU Brazil?
Rafael: Olha, o que eu achei realmente diferente foram os conteúdos.
Por mais que a linha de raciocínio fosse a mesma, os conteúdos eram muito diferentes, ainda que fossem as mesmas pessoas. A apresentação pode até ser parecida, mas a abordagem era sempre pessoal de cada pessoa e a temática ficava diferente.
O que eu achei interessante foi a diferença: a primeira vez é sempre um impacto muito grande. Quando você entra neste universo de inovação não é uma coisa simples. É difícil sair do processo cotidiano, de continuar melhorando a eficiência, e, ao mesmo tempo, trazer coisas novas. Prestar serviços diferentes exigem um primeiro estranhamento para entrar no fluxo. É complicado. Imagina pensar em disrupção.
Isso me chamou muita atenção. Porque, não é necessariamente no seu trabalho ou no seu ramo. As transformações acontecem em outras escalas e vão afetando onde chegam.
Lá eles falavam sobre a disrupção da geladeira acabar, por exemplo, pois estavam falando sobre os drones que entregam produtos gelados. Então: para que estocar?
Hoje a reação das pessoas é estranhar tudo isso. Mas vários negócios foram disruptados dessa maneira. Não ouvimos ou lemos o que as pessoas pensaram sobre isso no momento.
Na época dos navios, descobertas de temperos e novas frotas de comércio mudaram tudo, imagina o que isso não causou nas pessoas? O gelo tirou o caráter de conservação do sal: quebrou um mercado inteiro consolidado!
O segundo ponto foi entender o que está acontecendo hoje. Pensar em inteligência artificial, entender que a maioria das empresas não estão preparadas para o que está por vir e que podemos utilizar esta tecnologia exponencial ao nosso favor foi algo fantástico.
Podemos inovar no nosso negócio as utilizando e, por que não, disruptar nosso negócio?
Ultima coisa que foi falada, que achei muito interessante, foi: “nós precisamos ser as pessoas que vão matar nosso próprio negócio, porque se um concorrente fizer isso, estamos ‘lascados’. Se matarmos nosso negócio, disruptamos e trabalhamos com algo que faz mais sentido ainda para o consumidor.”
Isso foi algo incrível nas duas edições. Tenho guardado comigo até hoje e sei que chegará a hora de pensar sobre isso.
SU Brazil: Você esperava tudo isso?
Rafael: Olha, minha expectativa era bem alta. Como te falei, eu não fazia qualquer curso. Então, eu já fui com uma expectativa muito alta, pensando sobre tudo isso.
Posso não ser a pessoa mais ocupada do mundo, mas eu estava esperando muita coisa na imersão de três dias. Porque isso impede de se dedicar ao que geralmente fazemos, certo? Para ninguém é fácil abdicar do seu tempo, por três dias, ainda mais hoje em dia. Então, sempre é um desafio para mim. Por isso a expectativa foi alta e esperava que fosse cumprida.
Nas duas vezes minha expectativa sobre o EP sempre foi superada, principalmente pela parte prática do que foi aplicado. Lembro do Lobão aplicar um workshop sobre como trabalhar com a inovação, mostrando alguns caminhos, apresentando um mapa que ele ia ensinando e como trabalhar aquela metodologia… Eu tenho a pasta até hoje.
Algumas coisas eu ainda uso na minha vida e outras eu nem estava preparada para isso na época, mas estão guardadas na gaveta.
Eu pensava primeiro em me segurar nas questões do processo e o que era meu alcance no momento. A inovação era algo muito além. Foi muito positivo trazer tudo isso e a parte prática me ajudou e continua ajudando muito.
SU Brazil: Sua relação com o trabalho mudou? O que mudou?
Rafael: Na verdade, a relação com o trabalho melhorou.
Desde que eu comecei a ver que o trabalho me realizou, é difícil para mim parar. Amo o que eu faço, tenho um enorme prazer no meu trabalho. Meus domingos a noite são maravilhosos. Eu tenho expectativas ótimas para minha segunda-feira e eu a amo!
Mas, no sentido de execução, o que me chamou atenção é que várias áreas diferentes agora estudam o mesmo assunto. Isso me ajudou bastante, porque comecei a pensar sobre.
Havia pessoas de indústria, logística, marketing, educação naquela edição do Executive Program. Então, comecei a pensar que eu deveria melhorar o meu mercado a partir das considerações dele e vice-versa, não? Então… Essa rede, esse networking de pessoas completamente diferentes, me ajudou muito a ter perspectiva e um profissional melhor.
Dali eu sai pensando que deveria entender sobre outros universos. Isso me ajudou muito no dia-dia, principalmente a pensar de uma forma mais abrangente no meu próprio negócio.
SU Brazil: E como alguém pode aproveitar tão bem assim o EP, como você fez?
Rafael: Acredito que uma pessoa pode aproveitar muito bem se preparando antes. Precisa ver o que acontecerá antes de ir e isso será ótimo para você. Digo isso porque não é simples. Não estou dizendo que é para entrar na página do curso e dar uma lida. Não é isso.
Às vezes não temos a compreensão das coisas.
Se abrimos a página do Executive Program, talvez não há ainda o letramento e o que de fato está sendo falando. Precisa entender o que a SingularityU tem para dizer, o que é inovar, ser disruptivo, quem são as pessoas que vão palestrar, entender o tema, onde é prioridade e não… É disso que estou falando.
O segundo ponto é conectar tudo isso com a sua prática. Precisa entender onde trabalha, o que faz, como isso pode ajudar, de que maneira isso me envolve e o que é possível tirar destas aulas incríveis que terei ter e posso aplicar na minha vida, profissional ou não.
Na terceira parte, acredito que depende da pessoa também, mas é preciso se esforçar. É preciso ser curioso e ‘cara-de-pau’: conversar com gente diferente e quem é realmente o seu desconhecido. Sei que tem introspectivos, é normal. Não é preciso ser uma pessoa tão aberta e é difícil que isso aconteça. Mas é necessário se lançar na situação.
Na última vez, eu saí destruído no dia final. Eu era sempre um dos últimos a dormir e aproveitava o máximo com todos ali. Não só para networking, mas eu estava aproveitando com tudo e todo mundo que estava presente.
Precisa sentar, conversar, perguntar, se interessar, estar ali com a outra pessoa e realmente fazer conexão. Questionar o porquê da pessoa ali, entende? Precisamos sair da nossa redoma.
Se você ainda for de uma empresa, que foi em grupo, precisa se misturar com outras pessoas e ver outras perspectivas. Lógico, tudo depende do seu interesse e da sua função ali. Talvez tenham ido com um propósito específico, tudo bem. Mas, se não for o caso, fique longe e sente com uma pessoa que você nunca viu na vida. As oportunidades são infinitas!
Isso para mim foi muito bom e por isso recomendo para os novos integrantes.
Eu mesmo fiz isso. Peguei o e-book e o caderno dos participantes e fui atrás de informação. Às vezes ficava curioso por x ou y pessoa, profissionalmente ou não, mas ia, com proatividade, conhecer realmente essa pessoa. Seja para ajudá-lo, seja para ser ajudado. O benefício sempre existe. É maravilhoso essa conexão e estar neste local com tanto interesse mútuo.
SU Brazil: Você aproveitou bem então?
Rafael: Os Inimigos do Fim sempre aproveitam! Mas todos depois estávamos lá de manhã também.
Volto a dizer, isso é além do profissional. Ninguém faz negócio só pela parte profissional. As conexões pessoais são muito importantes e é ali que faz sentido, entende?
Isso é muito importante e precisa estar claro para as pessoas. Não dá para empreender sem conhecer o outro. Então a gente se envolvia muito.
SU Brazil: Isso é ótimo! E o que você pensava quando o Executive Program acabava?
Rafael: Eu pensava muito no futuro. Não tinha como ser diferente.
Justamente por começar um negócio do zero, sempre estive vivendo o presente e executando. Mais tarde tive um pouco de estratégia, até que começamos a pensar sobre o próximo ano e como planejar tudo isso. Isso foi ótimo.
Até que veio o EP e me colocou para pensar em 5 anos, 10 e até 15. Então eu comecei a pensar muito mais nesse negócio de ‘futuro’, questionando o meu próprio negócio, pensando até naquele “matar o meu negócio”.
Se morrer? O que eu faço? Qual a minha essência? O que eu faço para prestar um bom serviço para os clientes? Se acabar, o que farei amanhã?
Hoje temos algumas lideranças bem experientes e fortes, que vieram do mercado para dar seguimento às execuções. Agora conseguimos parar e discutir sobre futuro e inovação na empresa, por exemplo, quase todo dia de manhã.
Até hoje não estamos na questão de disrupção, por enquanto. Eu ainda não dou conta, mas estou trabalhando na inovação e no futuro, pensando na nossa ciência e já sei o próximo passo.
A gente para muito para discutir sobre essas coisas. Trabalhamos remoto, mas parte da liderança se encontrará em São Paulo para ter este tipo de discussão sobre futuro. O que pensar? Como engajar em cima dessa questão? Foi o EP que me despertou essa ideia de pensar o futuro.
O curso não se encerra e não podemos deixar de encerrá-lo ali. Foi um investimento, não só de dinheiro, mas de tempo. Por isso, precisa aproveitar da forma certa porque isso dá vivacidade para você. Precisa ser prático.
Por isso eu decidi, e o Lobão me ajudou nisso: melhorar o que precisa para hoje, que é o meu produto, os processos que estão estabelecidos, clientes e tudo mais. Hoje eu vou colocar isso em prática. A disrupção está aqui, mas terá o momento dela no futuro.
Chegará o momento em que daremos um passo maior sobre futuro e inovação. Em 2024 eu tenho certeza que isso ocorrerá. Por isso precisamos nos aplicar para isso.
SU Brazil: Então, para quem você indicaria o EP?
Rafael: Com certeza para executiva(o)s, pessoas que estão em uma posição que tenham experiência e consigam dar diretrizes. Passa um filme na nossa cabeça durante a imersão, desde decisões tomadas até o que vamos pensar sobre isso. É necessário ter um histórico para avaliar, pensar, refletir e ver o que é possível fazer.
Além disso, alguém que consiga se envolver na parte prática, porque há uma série de processos de governança. A voz ativa na empresa é principal por isso. O EP te permite pensar muito além de seu setor e ter várias perspectivas do negócio que precisem de tomadas de decisão. Sair da zona de conforto na imersão, pensando em futuro e inovação, é uma grande responsabilidade.
Saber o que queremos é uma questão extremamente difícil. Além dos nossos desejos, há diferentes atravessamentos produzidos pelo contexto social que nos afeta. Lidar com essas exigências, por vezes, se torna difícil se não nos conectamos com a nossa essência.
Lidar com as pressões sociais não é algo fácil. Tomar decisões é algo que parece talento, mas não se trata apenas disso. É exatamente o que Sergio Maria, hoje VP – Innovation and Digital Transformation da CNN, nos convida a refletir com sua entrevista para o Especial 10 edições de Executive Program da SingularityU Brazil.
Por decisões pensadas e medidas de acordo com seus objetivos, Sergio deixou o Google, em 2018, para cuidar do seu bem mais precioso: sua família.
Depois passando pela Globo e chegando à CNN, o especialista em inovação tecnológica salienta algo mais importante ainda nessa construção de carreira: ouvir quem está ao nosso lado, que quer o nosso bem e nos conhece – em alguns momentos, mais do que nós mesmos.
Com calma e didática, Sergio mostra muita clareza em cada palavra que reverbera neste texto. Além disso, ressalta a importância da tomada de decisão, ao mesmo tempo em que se lança às novas oportunidades de trabalho, que ocorrem em paralelo com seu desejo de vida muito mais próximo e benéfico aos filhos.
Tudo se construindo com a utilização de uma resiliência genuína, que aparece ao nos contar cada passo das decisões difíceis tomadas, “porque é muito melhor lidar com a decisão tomada do que as não-tomadas”.
Neste compartilhamento de questionamentos que os momentos de decisão nos traz – que poucos conseguem ter entendimento-, Sergio nos ensina que a temperança, clareza e compreensão, aliada aos cuidados e princípios, são poderosas estratégias para exercer nossa inteligência e garantir uma vida riquíssima nas mais variadas dimensões da nossa existência.
Esse papo, na íntegra, você acompanha abaixo!
SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos!
Sergio Maria: Eu sou o Sergio, mas todo mundo me conhece como Sergio Maria. Sou homem branco, privilegiado, pai de três meninos e casado com uma mulher incrível. Me considero uma pessoa feliz!
Se eu pudesse dizer algo que gosto, diria que é olhar e refletir sobre o futuro. Fiz 50 anos no ano passado (2022) e teve uma mudança muito importante na forma de ver a minha vida. Gosto de trabalhar com pessoas e me considero uma pessoa tranquila.
SU Brazil: Qual mudança foi essa aos 50 anos, Sergio?
Sergio: Eu vou fazer uma metáfora aqui e espero que entendam. Aprendi isso na psicologia, na verdade. Quando o Sol está na maior distância da Terra, se chama afélio, depois, quando se aproxima, é dado o nome de periélio. Esse movimento é o que caracteriza o nosso ano, mas é também uma maneira de entender como lidamos com a nossa vida.
De forma bastante superficial, nosso movimento com a nossa essência acontece desta mesma maneira. Até os 40 anos a gente está chegando no afélio, na parte mais longínqua da nossa essência, tal como o sol: sempre tentando olhar para fora, ou seja, produzir, estudar, gerar patrimônio e tudo isso.
Depois, retornamos para próximo de nós mesmos. Após estas conquistas, começamos a olhar para algo mais próximo da gente, a nossa essência: o querer fazer o que gosto, viver feliz e tudo mais. Hoje, acredito eu, que estou nessa fase, aos meus 50 anos.
De fato, essa mudança aconteceu um ano depois do Executive Program da Singularity Brazil. Coincidiu com os pensamentos e com os horizontes de transformação. Acho que o EP teve uma participação grande nesta reflexão, junto com a pandemia também. Eu mudei bastante minha forma de olhar a vida e a minha própria existência neste momento.
SU Brazil: E você está gostando deste momento?
Sergio: Eu estou gostando sim. Estou muito feliz. Muito feliz mesmo. O antigo fundador do Google X fala em um podcast sobre esse momento, que para ele chegou aos 27 anos. Lá ele menciona o quanto foi privilegiado ao ter isso aos 27 anos e poder ter essa mudança de olhar, mesmo em uma empresa que mudou o mundo.
Ultimamente ando percebendo que a vida te dá sinais ao longo do tempo, mas muitas vezes temos dificuldade de enxergá-los, porque nossa atenção está em outras questões. Para mim, o ponto de mudança muito importante foi o trabalho.
Eu sou uma pessoa calma e tranquila, em um geral. Um dia em casa, no final de semana, que jurava estar bem tranquilo, meu segundo filho disse: “Papai, você tá nervoso”.
Eu realmente não achava. Não estava tendo uma reação nervosa, mas o jeito que eu me movimentava mostrou que eu me sentia assim. Achei interessante esse acontecimento por duas coisas: uma criança, de 7 anos, conseguir entender este sentimento, que não é fácil; e foi um recado.
De fato: eu estava fazendo várias coisas e não me sentia satisfeito com a maneira com que tudo foi se construindo. Então, tentei mudar. Estes foram alguns sinais que estou dizendo que devemos sempre estar atento. Quando estamos lá no afélio, no ponto mais distante da nossa essência, fica difícil olhar para tudo isso e nos entender. Por isso é importante prestar atenção e ouvir o que a vida nos mostra.
SU Brazil: Que inteligência emocional do seu filho, não?
Sergio: Sim… O mais engraçado é que ele tem uma facilidade em falar sobre isso. Dos três, ele é o que mais gosta desse assunto e sempre tem ótimos pontos para manifestar sobre estas questões. Ele nos percebe. É algo bem legal.
SU Brazil: Muito bacana! Aproveitando, e como era sua vida antes desse entendimento?
Sergio: Bem, eu tive algumas mudanças na minha vida. Todas as transformações que temos em nossa existência acontecem em pequenos passos e não são abruptas.
Elas ocorrem igual a disrupção: acontecem lentamente e de repente você vê o produto disso. É um “vem acontecendo e está acontecendo”. Para mim, vários sinais foram mostrados até chegar no Executive Program da SingularityU Brazil, onde várias outras questões apareceram para mim.
Antes do EP, eu fiz vários cursos. Fiquei 12 anos no Google e chegou o momento, em 2018, de internacionalizar, afinal, minha cadeira não se comportava mais apenas aqui.
O turbilhão de pensamentos é grande: ir, ficar, entender o que quero, as possibilidades. Estava olhando outras posições na Europa e tudo caminhava: conversei com vários amigos que estavam lá; já havia morado fora quando menor; olhei escolas para meus filhos -; e sondei tudo que você puder imaginar para morar com a família.
Mas, um dia eu sentei para jantar em casa e questionei: por que estamos indo?
Uma pergunta básica: “mas, Por quê?”
Todos tiveram quase a mesma resposta: “Não sei… Apenas estamos indo…”
Depois veio um sonoro: “mas não precisamos ir…”
Foi o primeiro momento que decidimos juntos. Confesso que foi muito difícil.
Lembrei da poesia da Cecília Meirelles “Ou Isto ou Aquilo”, um dos primeiros poemas que li quando menor e ele remetia a este momento, porque é sobre a escolha.
O que acontece com uma escolha? Há sempre uma renúncia. Esta é a parte mais difícil dessa decisão. Muitas vezes a gente pensa na renúncia mais do que na própria escolha e, então, tive que fazer dessa renúncia a própria escolha.
Abri mão de 12 anos no Google. Não se tratava apenas do trabalho, mas tudo que vem com isso, afinal, não era meu desejo sair do país.
Eu já estava com 45 anos. Naquele momento começou a vir todos aquelas questões de etarismo e pensar sobre meu lugar no mercado, onde arrumaria um emprego e tudo mais. Todos os medos passaram na minha cabeça. Mas era o momento correto e certo para deixar a empresa.
No meu plano de família não cabia a internacionalização, ainda que fosse um plano de carreira interessante. Tomamos a decisão e eu saí da empresa. O mais interessante foi a perspectiva que eu criei sobre inteligência fora do Google.
Quando estamos imersos em uma coisa é difícil olhar para fora e entender o que as outras pessoas estão fazendo. Mais complicado ainda é cultivar tudo isso. Quando saí, a primeira coisa que mais me chamou atenção foi ver outras ações riquíssimas e que eu poderia me encaixar tão bem quanto era na empresa.
Por isso fui conhecer outras coisas: estudar, principalmente em conselho administrativo; procurar cursos diferentes; entender mais do universo de fintech.
Pensei mais nessa parte de tecnologia porque eu a adoro e queria estar ligado a algo transformador, então fui explorar a tecnologia em outros mundos. Neste período, eu tive um convite para ir à Globo fazer uma transformação da organização.
O projeto chamava “Uma só Globo”, que tentava aglomerar TV aberta, fechada e streaming. Eu fui fazer o desenho para integrar as áreas de publicidade convergente de todas essas áreas.
Eu fiquei três anos trabalhando por lá. O interessante é que na época, eu fiz o curso de conselheiros e fui indicado para dar uma entrevista ao Financial Times.
Nela eu falei sobre transição de carreira e foi interessante porque nem sempre a gente encontra alguém que está disposto a abrir mão de uma história, principalmente em uma empresa do calibre do Google.
Então eu falei sobre essa situação: a troca, o desafio da Globo no momento e o meu próprio nesta nova jornada. Na minha saída do projeto, eu fui reler os meus objetivos do primeiro dia e estava vendo se era coerente, se não contei tanta projeção mais do que concretude. Não era o caso. Conseguimos montar algo bem legal por lá.
Foi nesse período que meu filho disse que eu estava nervoso. Eu fui para fazer a disrupção: passei um ano construindo o projeto e depois mais um ano implementando. Mas, como todo o processo de instauração, muda muito a vida de várias pessoas. É onde aparecem as barreiras.
Então, na minha reflexão hoje sobre o entendimento que me deixava nervoso, era um pouco esse ponto: eu passava 80% do meu tempo explicando o porquê de fazer os outros 20%.
Isso não torna a situação fluida. As ações se tornam mais complicadas do que já são e é um pedaço do meu trabalho que não me fascina, não colaboro tanto e não ajudo tão bem. Meu negócio é criar e mostrar às pessoas. Toda essa ação vem com um desgaste emocional grande.
Esse trabalho de gerar aliados, engajar os outros, é algo emocionalmente desgastante para mim. Quando você faz isso 80% do seu tempo, por muito tempo… Enfim… Não é para mim. Não era esse o meu desejo. Tive um papo aberto e tranquilo com a organização e disse: minha escolha é não ficar doente, então vamos fazer uma transição.
Foi bem tranquilo este momento. Porque, voltando à situação, eu entreguei ao que me propus a entregar. Fiz uma mudança grande em tecnologia.
Tudo isso aconteceu entre 2019 e 2022.
Antes disso, de 2018 até 2019 foi a transição do Google.
O Executive Program está ali, em 2021, depois da transição do Google e neste processo da Globo. Já um pouco nesse movimento de tentar olhar além da situação, afinal, o EP te dá amplitude. O curso te coloca uma lente para você conseguir ter um olhar diferente em um monte de processos do dia-dia, que normalmente não estamos dando a devida atenção.
Você só vai conseguir ter isso se tirar o constante vício das perspectivas que nosso cérebro cria e isso é muito difícil. Por isso a imersão ajuda: te distancia deste vício perceptivo e permite olhar para outras questões que não estão sendo percebidas.
É algo que é a essência do EP. O Executive Program permite tudo isso: olhar para o futuro; conseguir olhar para dentro de si – no periélio, como estávamos falando sobre as fases que temos em olhar para nós mesmos -; enxergar o passado; pensando no que fazer de diferente; em prospectar caminho que não foram pensados…
Porque nós precisamos decidir as coisas hoje. Será apenas dessa maneira que o futuro se tornará diferente. Precisamos alcançar e beneficiar várias pessoas. Há vários problemas que precisamos enxergar como oportunidades e fazer coisas boas para impactar milhões de pessoas. Alguém precisa se apaixonar por isso e fazer.
O impacto do Executive Program é imenso. Traz outra vivacidade e aprendizado para olhar tudo de outra forma. Quando isso se chocou com a história do meu filho, eu vi que deveria parar com aquela lógica que tinha antes do trabalho.
SU Brazil: Que fantástico! E como você chegou até o Executive Program da SingularityU Brazil?
Eu conheci a Singularity University Brazil pelo Google, na verdade, na Turma 1 do Executive Program, porque a empresa participou da fundação.
Na época, eu conheci alguns amigos e eu sempre fiquei muito curioso para fazer o curso. Mas é aquela história: é difícil parar para fazê-lo, até que chegou o momento.
Confesso que fiquei muito na dúvida se faria o global ou do Brasil. Acho que várias pessoas pensam nisso e acham que o internacional é melhor do que o da aqui.
Mas eu dei o voto de confiança.
Olhei e vi que tinha os professores do mundo todo, mais os brasileiros e estava parecia acoplar as melhores partes do global. Mais tarde, pensei que era a decisão certa principalmente por conta da conexão com a nossa realidade cotidiana. Então, decidi fazer o Executive Program da SingularityU Brazil.
E foi uma ótima decisão.
De fato, foi espetacular. Tiveram algumas questões diferentes relacionadas aos assuntos, mas aprofunda a vivencia e os desafios que a gente tem no Brasil. Isso é ótimo. Além disso, a turma também foi muito boa, com um networking extremamente interessante.
Na minha cabeça, já estava preparado caso não gostasse do Executive Program da SingularityU Brazil: faria outro. Mas eu não me frustrei e não foi necessário.
Muito pelo contrário: a experiência foi muito boa. Fiz muitos amigos, me aproximei de várias pessoas, como o Reynaldo Gama, Guilherme Maciel. Me conectei com vários executivos e consegui achar várias mentes para tocar novos projetos e desenvolver novos pensamentos. Foi muito interessante.
SU Brazil: O que você recomendaria para a pessoa que vai fazer o EP?
Acho que todos que chegam para fazer o Executive Program, chegam de mente aberta. Mas, acho que precisa ser mais…
Precisa ir de coração aberto.
Precisa ir para viver a experiência. Não pode ter medo de se expor, porque quando você faz isso é o momento que você cria vulnerabilidade e oportunidade para o vínculo.
Acho que precisa ter esse coração aberto, para refletir e pensar sobre tudo, então: o que você quer fazer daqui para frente? Independente da idade que tem hoje. O que quer fazer nos próximos anos? O que pensa nos próximos 30, 50 anos? O que você quer deixar para traz?
Acho que esse é um pensamento bacana para te ajudar a aproveitar o EP: Curta o tempo com as outras pessoas, seja coração aberto, porque você vai descobrir medos iguais, desafios iguais, problemas semelhantes…
Acho que a gente cresce muito mais quando há troca e estamos conectado emotivamente, principalmente em volta do que a gente emite. A gente consegue se ajudar nisso. Acho que o despertar funciona assim, entendendo o que nos move de verdade. É o principal pensamento. Talvez até uma pergunta: o que te move?
SU Brazil: Você sempre teve essa capacidade reflexiva e de resiliência, até se preocupando em enxergar o além do que se apresenta?
Para ser sincero, sim… Eu sempre fui assim e extremamente calmo. Sempre pensava, entendia como as coisas poderiam acontecer e de que maneira perseverava.
Na pandemia, quando tínhamos reunião por vídeo, as pessoas até falavam: “Sergio, você é muito calmo. Um caos com três crianças em casa, pulando no sofá e você lida com paciência. Você vira e conversa com eles, sem uma veia saltada e nada. É impressionante”.
Então, eu sempre fui desse jeito. Tem pontos negativos e positivos desse comportamento, mas sempre me ajudaram muito.
Eu sou muito didático, por exemplo. Durante minha trajetória de vida, quando enfrentávamos os problemas complicados, muitos pediam para eu ser o palestrante, porque eu era um dos poucos que conseguia traduzir e trazer aquela complexidade a uma maneira tangível e mais simples.
Isso aconteceu na Globo: quando apresentei para o comitê executivo, que se tornou o conselho, eu mostrei uma visão sobre a publicidade nos próximos cinco anos, contendo onde ir, como ir e o que precisava ser feito.
O feedback foi interessante porque era ambicioso, mas tinha um caminho. Afinal, pensar em ir para a Lua é fácil, mas o que a gente vai fazer amanhã para isso? Precisa de foguete, rota, combustível… São n fatores para que as coisas aconteçam.
Então, parte desse meu jeito ajuda a fazer pequenas coisas, além de descobrir outras ao longo do caminho e seguir um direcionamento melhor.
SU Brazil: Que fantástico! E, nisso tudo, o EP ocorreu um ano antes de você sair da Globo. O que estava maturando em você neste momento?
Isso. Eu sai em junho de 2022.
Sinceramente, tem algo que está na minha cabeça, mas não consegui maturar muito ainda. Mas quero fazer algo com educação. No Executive Program eu lembro que isso ficou me atravessando por muito tempo. Me afetou de verdade ficar pensando nisso.
Lembro de olhar algumas coisas, com o Leandro Mattos. Fiquei pensando sobre a questão do autismo e seus potenciais de altas habilidades. Isso está muito ligado ao que penso, em como detectar isso e ajudar no desenvolvimento.
Ali foi onde criou essa conexão. Pensei muito sobre isso ser muito maior do que parece. Lembro de uma estatística, que deve ter mudado já, mas quando o projeto do Leandro começou, no Sul, identificou quem poderia ter algum grau do espectro autista ou potencial de altas habilidades – prefiro esta palavra do que gênios.
Nessa prospecção, perto de 20% das crianças tinha um potencial de alta habilidade na pré-escola. É um número ridiculamente grande. Imagina o tanto de talento que teríamos com tudo isso, caso desenvolvêssemos todo seu potencial ao longo do tempo?
É possível mudar um país ou até um mundo em pouco tempo. Mas, quando chegam na faculdade, há menos de 1%.
Por que isso?
Bem, ao longo do tempo, a escola foi matando este potencial, porque não foi desenvolvido. Não só a escola: a sociedade como um todo, família… Todo o contexto vai reduzindo a pessoa, achatando sua potencialidade e a realidade vai sendo cruel…
Então, algo que farei ainda é olhar para todo este potencial, entendendo como a gente ajuda a desenvolver estas crianças. A ideia não é criar uma “Escola de Gênios”, porque você segrega mais do que inclui. O principal é entender como você dá oportunidade para que aquela criança, que tem um potencial grandíssimo de fazer algo, não o perca Acho que isso foi algo que sofri na escola, para ser sincero.
Tive um momento de perda de interesse pela escola, no 2º ano do ensino médio, por falta de motivação e de entendimento para ajudar a desenvolver as habilidades que me motivavam a continuar estudando.
Lembro da minha família me questionar: “Por que, Serginho? Como isso?”. Sempre estavam ali por mim, mas eu só tinha perdido o interesse. Não houve algo grandioso, ou uma catástrofe.
Então, é aquela coisa: a gente só se apaixona pelo problema quando estamos próximos. Eu tenho pessoas próximas com esses potenciais e eu quero ajudar no desenvolvimento deles. Os ajudando, eu consigo ajudar outras pessoas.
SU Brazil: E o que você anda pensando sobre o assunto?
Sergio: Eu sinceramente tenho mais dúvidas do que respostas.
Eu tenho uma amiga, chamada Carolina Videira, fundadora da Turma do Jiló, e ela é uma referência de educação inclusiva. Ganhou até alguns projetos na ONU.
Quando eu estava nesse processo, pensando sobre construir algo na educação, eu conheci a Carol. Lembrei de falar sobre esse desperdício de talento que temos no Brasil.
O Leandro Matos fala disso e destaca o quanto conseguiu dinheiro dos Emirados Árabes Unidos para a startup dele, que começou a fazer essa análise. Porque naquele país o principal produto é o petróleo, que vai acabar em 80 anos, então precisa desenvolver ciência. Para isso, precisa de cientistas. É um país de imigrantes, então vão às escolas para descobrir crianças com potencial para que a família crie raiz lá. É muito mais caro você importar um cientista e criar uma base lá. Por isso olham com pessoas mais novas.
Eu tenho certeza que esse é o caminho. Acredito que precisa ser, inclusive. Estes talentos entendem o mundo de forma diferente, pensam de maneira distinta e é preciso dar os estímulos certos, de uma forma que entendam bem e possam se beneficiar disso.
Então, por conta dessa complexidade, a ideia é criar caminhos para estimular e desafiar estas crianças, na tentativa de criar e desenvolver aquela potencial habilidade que tem.
Ao mesmo tempo, precisa pensar quem pagaria por isso e precisa ter um contraponto social. Afinal, é algo caro. Nos Estados Unidos tem uma escola que faz isso e custa U$1000 por mês.
Aqui é diferente, mas a ideia seria que alguém que pudesse pagar acabaria financiando alguém que não tem condição. Essa é a minha ideia macro e eu dividi isso com a Carol na época. Ela achou incrível e ficamos por desenhar nisso.
O momento é de caminhos diferentes, mas, eventualmente, voltaremos a isso, só precisamos de um pouco mais de tempo. A ideia vai amadurecendo, enquanto isso. Está aqui comigo.
No dia a dia o pensamento me pertence. Em algum momento, acho que vai acontecer. O chamado está aí e sempre vai aparecer. Ficará maduro e vou conseguir me dedicar a isso. Acredito também que dá para fazer duas coisas ao mesmo tempo, por que não dá para apenas esperar por tudo isso, né? Se não, não crescemos nunca.
SU Brazil: Enquanto isso vai maturando, você está no IBGC e na CNN, certo?
Sergio: Isso!
Eu fui para o caminho da inovação, de olhar e entender quem podem ser os principais agentes de mudança no futuro. Tento entender como isso afeta nosso cotidiano e como pode criar oportunidades, além de desafios para as empresas.
Dentro do conselho tem muito disso. Precisamos olhar essas administrações de outra maneira, que não seja apenas por olhos da balança financeira. Hoje precisamos de diversidade, mas poucos pensam o futuro.
Um exemplo simples: em um curso do “Thinking For The Future”, pensamos na questão climática. Conversávamos e tocamos no ponto da mudança de 1° da temperatura do planeta, porque isso fará com que mude várias condições de doenças no mundo.
No Brasil, essa conversa ainda não existe, mas nos impactará. Podemos olhar, por exemplo, sobre a questão da febre amarela. Hoje é na Amazônia onde há casos e todos tomam vacina. Com uma mudança de 2,5°C na temperatura terrestre, a febre amarela não vai ocorrer mais na Amazônia. Ela começa a aparecer no sudeste e isso muda completamente a situação do país.
Então, se alguém está montando um hospital, especializado em febre amarela, a Amazônia não é mais o lugar para isso, o que parece óbvio hoje. O lugar correto para ele, no futuro, seria nas zonas entre o sudeste e o norte. Por isso, precisa entender outras questões que nos afetam para tomar decisões e não tomar o caminho errado.
Além disso, fui convidado pela Federação das Industrias de Minas Gerais, para participar de um Comitê de Tecnologia e, por conta de todo o acolhimento e estudo na faculdade, estou os ajudando, devolvendo esse investimento.
A tentativa é aproximar estudantes da indústria mineira. A ideia é criar raízes para as pessoas, mostrando que não precisa sair de Minas Gerais, como eu fiz e várias pessoas fizeram. Dá para ficar, caso alguém queira e terá trabalho e boas condições de vida e estudo.
No IBGC, após alguns cursos, faço parte do comitê de Futuro da Governança. Lá tratamos de olhar para frente e compreender a governança das empresas, com tantas atualizações e transformações. Então, não se trata apenas de conselhos, mas da governança que a empresa estabelece. Afinal, o jeito que trabalhamos e a maneira que a inteligência artificial participa dos nossos processos se transformará.
Para você ter uma noção, existe uma empresa chinesa que tem uma inteligência artificial como CEO. Você pode pensar que é uma startup, mas, na verdade, é uma empresa que fatura bilhões de dólares.
Exatamente isso, a organização nomeou uma inteligência artificial como CEO, então: o que isso muda? O que pensam? Como isso afeta a organização? O que precisam se preparar para lidar com isso? É disso que se trata este comitê.
Ao mesmo tempo, saindo do EP, eu participei de um fundo de investimento que veio para o Brasil. Chama NIU.Ventures, que é Very Early Stages startups, que tem como base a tecnologia. Participo com mentorias e estratégias. Tem funcionado muito bem.
Há 4 meses eu fui para a CNN, para ser consultor de inovação. Estamos nesse desafio de olhar para a indústria de notícia, que é a mesma há tanto tempo, e passa por tantos desafios tentando falar com gerações diferentes.
As versões, o tipo de notícia, as construções diante das polarizações e o jeito que o público se conecta, hoje, é um desafio. É muito bom estar próximo disso.
Afinal, além de tudo, tem um propósito. Notícia é ainda o que mantém democracia no mundo. Então, creio ter um propósito de fazer funcionar e ficarei muito feliz se der tudo certo. O dia que meu filho começar a olhar para a CNN e não achar que algo apenas dos mais velhos, eu vou ter certeza que consegui mudar um pouco o desenho da notícia.
SU Brazil: Em algum destes locais você acha que te ajudará com seu projeto de talentos?
Sergio: Vai. Tenho certeza. De novo, a gente volta sempre à escolha.
Eu acho que um ponto crucial é ter tranquilidade e se preparar para isso, porque quando você coloca o desenho da empresa no papel, fica lindo, em um ano funciona. Mas, a gente sabe que não é assim.
Às vezes, um projeto dura 4 ou 5 anos para começar a dar certo. Então, você precisa preparar sua vida para um horizonte de 5 anos de dedicação. Neste momento, será necessário abrir mão de outras coisas e precisa ter recurso neste momento.
Eu estou me preparando para ter tudo isso. Mais ainda para garantir tranquilidade, para mim e para minha família. Inclusive, todo mundo estará preparado para abraçar isso junto.
Acho que em determinado momento isso vai acontecer e eu vou me dedicar a isso. Se não der certo, eu faço outra coisa novamente. Mas é uma mudança muito grande que exige cuidado e organização.
SU Brazil: O Executive Program te ajudou nessa organização?
Sergio: É uma conjunção de fatores, para ser sincero. Talvez se eu não tivesse feito o EP, isso iria aparecer muito mais tarde. Mas acho que foi um pouco de começar a olhar o cenário e entender os sinais que estavam chegando para mim.
O momento de imersão e as mudanças também nos fazem refletir de forma diferente, afinal, tentei descobrir coisas novas. A transformação provoca tudo isso.
Então, acho que a transição foi muito importante. Me trouxe uma série de questionamentos, medos, anseios e oportunidades, ao mesmo tempo que o EP ajudou a olhar para lugares que não estamos acostumados, abrindo caminhos diferentes.
Acho que foi uma conjunção disso tudo que formou aquele momento de epifania, em que a gente entende quase tudo e nos abre para mais outras questões, mas muito mais norteadas. Não é tão fácil entender quando está tudo ali confuso e ao mesmo tempo te dando estímulos bagunçados.
Para inibir essa confusão e conter o anseio, uma das coisas que eu fiz, nas duas mudanças de Google e de Globo foi anotar o que eu não quero fazer.
Na tendência natural, você volta para o que você quer. Existe uma “conservação” que nem sempre é boa, mas nosso cérebro lida como “segurança”.
E eu mudei: queria entender o que não faria, mesmo que conseguisse fazer. Para as outras coisas eu estou aberto, mas há coisas que eu sabia que voltaria para o mesmo lugar em que eu estava, então não gostaria.
Vou conversar, agradecer, indicar, mas não vou cair na tentação e na ansiedade de ganhar dinheiro, entrando naquele “rolo compressor” do que deve fazer. Eu escrevi o que não ia fazer.
Isso foi muito importante.
Acho que tomei decisões boas, fiz projetos que gostei. Muito do que construí no Google e na Globo, vejo que consegui aplicar e tinham estes “nãos” em certo momento. Percebo o quanto estou construindo na CNN, mesmo com isso. Então, são decisões importantes. Talvez eu não estivesse tão feliz se tivesse aceitado outras coisas, sem reconhecer o que não gostaria de fazer.
Quando tocava o telefone, aquela lista que me norteava. Eu respirava, pensava, ligava para as pessoas, conversava e pensava bastante. Porque existe a tentação, o medo. Ainda mais com família.
Olhar o ambiente, pensar que era menos receita entrando, só deixando o dinheiro ir, porque nada entra… Gera uma ansiedade, claro. Por isso precisa se preparar, organizar. Principalmente porque a economia é diferente.
A parte do “não quero” foi algo extremamente importante, principalmente para me dar clareza e saber o porquê das escolhas. Passei olhar também para outras coisas, em pensar nos outros universos que existiam, entender como poderia chegar a eles e que talvez tudo isso poderá me ajudar lá na frente, pensando no meu propósito e o que eu quero fazer.
SU Brazil: Quais eram os medos nestas duas mudanças?
Sergio: Olha, elas foram bem diferentes uma da outra.
O Google foi quase uma escola para mim. Quando entrei havia 60 pessoas no escritório e, no ano em que saí, já computava mais de mil pessoas na América Latina.
É natural fazer movimentos, então ou mudava de área e ficava aqui mesmo ou eu iria internacionalizar. Nem sempre há outras áreas nestes momentos cruciais e não havia um caminho aqui, por isso a empresa me ofereceu fora do país.
Eu não fui porque não queria que meu filho mais novo crescesse fora do Brasil. Talvez, se fosse 5 anos depois, eu teria aceitado e tivesse feito algo diferente, mas isso não é uma frustração. É apenas uma escolha.
A renúncia é muito grande, mas foi por conta do momento de vida, por olhar de outra maneira e entendendo que aquela situação poderia ser um sacrifício para a família. Não era necessário.
É uma oportunidade? Sempre é. Mas, na balança que colocamos, não cabia. Por isso precisou da conversa. Decidimos não ir, construímos outros caminhos e conversei com os meus filhos sobre isso.
A conversa foi franca, eu disse que entraríamos em um período de “vacas magras”. Primeiro foi uma ‘choradeira’, porque falavam do “pai sair do Google” e tinha essa importância do “pai trabalhar no Google”.
O mais novo entendia um pouco mais e disse: “Vaca grande eu não gosto, é feio. Gosto de vaca magra. Está tudo bem”. Fazendo uma brincadeira com a situação e seguiu bem com isso.
Já o mais velho me perguntou: “O que é um período de vacas magras?”.
Eu falei novamente sobre as escolhas: “O período das vacas magras é aquele que não dá para fazer tudo o que queremos, quando queremos. É um período que temos que fazer escolhas que são importantes, para fazermos mais coisas que são importantes para nós”.
Ele é muito ligado em futebol e disse: “Mas eu vou poder comprar a chuteira do Messi?” e essa foi a dor do momento para ele: aquela chuteira nova, que todos querem.
E eu disse que iria ter, afinal, é para o futebol e é importante. É a escolha dele e vamos fazer. Então respondi: “Olha, não vai ser a última do Messi, mas será outra que vai resolver sua situação”. Isso o tranquilizou.
Quando falamos sobre férias foi exatamente a mesma situação de escolhas. Viajamos para a casa da vovó, uma coisa diferente, que nunca aconteceu e foi maravilhoso. As transições geram essas mudanças que são benéficas para nossos vínculos.
Outro ponto foi a minha maior decisão foi viver muito.
Eu quero viver bastante e não quero ser estatística. Quero viver bem. Essa é um tipo de decisão que precisa tomar antes.
Eu li um livro que se chama “Outlive: The Science and Art of Longevity”, do Peter Attia, que fala sobre a medicina e diz sobre a tomada de decisão para viver muito. Afinal, o que você faz hoje será cobrado no futuro.
A medicina trata para te dar uma sobrevida. Às vezes, com uma qualidade questionável. Eu não quero isso. Por isso, é preciso trabalhar antes para evitar este ponto e a decisão acontece 30-40 anos antes.
Hoje eu tomei essa decisão. Mudei meu estilo de vida, não deixo de fazer nada do que gosto, não há radicalismo, mas eu passo a olhar para as coisas de uma forma diferente.
Recentemente eu passei a usar um marcador glicêmico, porque os picos tem um impacto muito grande nos nosso metabolismo e gera uma série de outras coisas. A gente não sabe como funciona, porque os exames são em jejum, mas e o dia-dia?
Eu comecei a usar para entender que tipo de alimento me dá um pico glicêmico e qual não dá. É muito surpreendente. Para mim, comida japonesa dá um pico glicêmico absurdo, comparado com qualquer outra coisa. Talvez por conta do vinagre, sake, açúcar… Eu não tinha a menor noção. Foi extremamente importante para entender o comportamento do meu próprio corpo…
SU Brazil: Eu também não fazia ideia…
Sergio: Pois é! Eu achava que pizza que me dava um pico glicêmico e eu estava errado. Pizza é tranquilo de comer, mas a comida japonesa… Para mim é assim que acontece e cada corpo age de uma maneira.
Para você talvez será diferente. Porém, o interessante de entender isso e ver que não tem uma média para entendermos que estamos ela. Precisamos nos entender.
No livro diz que deveríamos usar 2 meses para entender como alimentação afeta nossa vida. Eu aprendi muito com isso. Uma noite mal dormida muda completamente seu pico glicêmico no outro dia. Isso me retornou para entender a questão das escolhas e como fazemos ela todo dia.
Tem gente que não gosta desse controle e tudo bem. Eu não quero entrar nesse julgamento. Eu não sou daqueles que dorme na hora exata, tem dias que dormirei mais e outros menos. Eu sei que será diferente, apenas isso. E é bom estudar para entender o que vou comer no outro dia, para piorar ou não essa situação. De novo: faz parte das escolhas.
Futuro se constrói com decisões de hoje. Depois que estamos vivendo o antigo futuro que agora é presente, só podemos tomar novas decisões para daqui 20 anos. Então, é preciso olhar para essas questões e entender suas escolhas.
A saúde foi isso para mim: eu quero viver muito, acompanhar meus filhos por muito tempo e é uma decisão que quero tomar agora. Se eu tomar aos 70, não vai dar certo.
Eu quero tomar essa decisão bem e chegar lá com qualidade de vida. Não precisa daquele sofrimento e nem perda para isso. Quando pensamos antes, ainda podemos escolher o nosso futuro.
SU Brazil: O que você diria para os ‘Sérgios’ de cada mudança, ali no Google e na saída da Globo?
Sergio: Eu acho que pensei tanto e refleti em vários momentos que hoje tenho clareza desses acontecimentos, tal qual como tive na época, mas de uma maneira diferente.
Porém, o que tenho para falar destes momentos é que: a decisão não-tomada é sempre pior do que a decisão tomada, mesmo que as renúncias sejam grande.
Eu acredito muito mesmo nisso.
Acho que todas as grandes e difíceis decisões, que tive ao longo da vida, deram certo, porque fiz o que precisa ser feito: se preparar, se cercar de pessoas do bem. Assim, as coisas, por alguma razão, seja ela qual for, tendem a acontecer. Eu me inclino a acreditar nisso e para mim funcionou. Foi o meu caso.
Adiar uma decisão por muito tempo é mais sofrida do que tomar uma decisão. Viver esse período dos anseios e medos faz parte, mas vão te abrir para pensar coisas diferentes que você não enxergava, simplesmente porque ainda não tinha momentos para enxergar outras perspectivas. Mas, é esse olhar diferente que te abre possibilidades.
Tomar decisão é isso. Pensava na questão de etarismo. Ganhava bem, mas eu sempre pensava em abrir mão disso tudo, por conta da minha família e tudo mais.
Acho que a outra coisa, que eu aprendi depois na segunda vez, é que a gente está pensando no que a gente quer, mas creio ser crucial entender o que a gente não quer.
Às vezes o que a gente não quer é óbvio, mas continuamos fazendo. Então, quando coloquei na minha frente, todo dia, o que eu não gostaria de fazer, foi importante para me ajudar a ter segurança nas tomadas de decisões que me levaram onde estou.
SU Brazil: Um dia você vai contar tudo isso para seus filhos. Você imagina como será essa conversa?
Sergio: Hmm… Pergunta complicada, mas eu diria que converso com eles diariamente. Sobre tudo. Todas as decisões que tomo eu converso com eles. Em casa conversamos sobre absolutamente tudo.
Acho que eles vão entender boa parte dessa história, mas eu penso mais na história que não será dita por mim, mas enxergada por eles no legado que fica. Eles vão viver e perceber isso.
Foi isso que eu falei sobre a Globo. O que se esperava em construir era fantástico e estar ali por 3 ou 5 anos era uma ideia, de deixar um legado. Completei 3 anos e vi que algo sólido ficou. Sempre busco estes olhares.
Muitas vezes quando falamos o que a gente é, é o que gostaríamos de ser e que os outros não enxergam em nós. As pessoas sabem o que somos. Eu acho que essa história, contada por pessoas ou até o enxergado por eles, de forma diferente, acho que vai ter um valor maior e vão entender de fato o que isso significa.
Agora, terão também outra coisa sobre experiência que a gente faz. Afinal, estamos juntos, temos experiência, partilhamos o que cada um gosta, ouve música junto, viaja junto…
Acho que isso tudo faz parte dessa construção. Uma coisa, para mim, que foi minha decisão de mudança, por exemplo, é que eu não tenho problema em trabalhar muito, mas tenho problema em ser escravo do horário.
Então, coisas que eu coloquei nos “nãos”: eu nunca vou mudar a agenda que tenho com os meus filhos por conta de trabalho. Foi uma decisão que tomei com eles.
Muitas vezes pediam entrevista em horários que eu buscava meus filhos da escola, caso não fosse possível mudar, agradecia a oportunidade, mas isso eu não abria mão. Este tipo de ajuste é importante.
É difícil. E muito!
Executar isso é complicado, mas você precisa impor limite no começo, porque se não deixa de funcionar. Se abrir uma exceção, na próxima não terá como dizer “não” e será uma regra. Por isso precisa bloquear a agenda e dizer que não pode. Precisa ter uma razão muito mais relevante para conseguir voltar a isso e que dê para negociar algo tão urgente quanto buscar meu filho.
Às vezes dá para fazer algo. Muitas vezes não. Aniversário do filho, por exemplo, não dá. Se é algo importante para eles, é injusto tirar isso de todos que estão próximos. Então, acho que é essa a importância do não.
Fortuna é um termo peculiar que mudou nos últimos séculos. Graças ao atrelamento com a produção industrial, fortuna passou a ser lida como uma conquista monetária no plano terreno.
Nem sempre foi assim. O primeiro registro de fortuna recuperamos com o sentido de “bons ventos”, que na mitologia grega era reconhecido como uma sorte do acaso, por conta das boas distribuições de sua vida em qualidade, coordenação, bens materiais e saúde.
Quase no fim de sua vida, Boécio, no século VI, antes de ser executado, o filósofo reflete sobre o que realmente atraía os bons ventos de sorte e, mesmo fatos inexplicáveis, só podiam encontrar seus correspondentes e atuar na vida de alguém de acordo com as escolhas que cada indivíduo fazia.
Com Maquiavel, no século XV, houve uma compreensão além das escolhas. Com o príncipe italiano, reconhecemos que algo fortuito (fruto do acaso) aparece de acordo com a fortuna de alguém e esta estava atrelada aos meandros comportamentais.
Mas o que é o comportamento se não o modo de vida que escolhemos e estamos em condições de produzir? E é neste ponto que a fortuna do renascimento compete ao entendimento da virtude de um ser humano, dependendo de suas escolhas morais.
Mais tarde encontraríamos essa fortuna em Espinoza, no século XVI, como algo ético, além das escolhas morais. Por que, afinal, o que adianta a moralidade se não estiver atrelada ao impacto positivo do coletivo?
Retornar a estas compreensões de uma palavra nos fazem refletir sobre o que estamos criando como sociedade. É por esta razão que no especial de 10 edições do Executive Program da SingularityU Brazil trouxemos a entrevista com Renan Lima Alves, Fundador e CEO da Boost Mission Critical Engineering.
Com extrema didática, afeto e compreensão das diferentes camadas necessárias para alimentar a nossa alma, Renan traz perspectivas singulares sobre como o EP 2 foi propulsor em sua vida e que cada vez mais procura criar seu “barco a vela”, ao mesmo tempo em que torna as águas ao redor calmas para quem está próximo de sua existência.
A entrevista, na íntegra, você acompanha abaixo.
SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos os leitores.
Renan Lima Alves: Eu sou Renan Lima Alves. Sou gaúcho, moro em São Paulo há 12 anos. Sou pai da Helena, Isadora e do Rodrigo. Sou marido da Juliana. Estas são as coisas mais importantes na minha vida.
Eu construo data centers. Faço isso há mais de 15 anos, ou seja, eu participo da criação da nuvem brasileira de dados, em termos de infraestrutura.
O que seria isso: eu construo armazéns gigantes cheios de computadores poderosos. Esses computadores guardam informações importantes das maiores empresas de tecnologia do mundo. Inclusive, depois do Executive Program da SingularityU Brazil, decidi montar minha própria empresa de construção de data centers.
O nome dela é Boost Mission Critical Engineering. O objetivo dela é projetar e construir toda infraestrutura elétrica, mecânica e civil de data centers, para que as maiores empresas de TI do mundo consigam hospedar seus servidores e aplicações que armazenam a nuvem brasileira, sites e aplicativos do nosso celular.
SU Brazil: Então, como que o EP chegou até você?
Renan: Eu fiz a segunda edição e eu cheguei por conta do Reynaldo Gama. Sou amigo dele desde que fizemos um MBA juntos. Criamos uma amizade muito grande.
Quando ele trouxe o EP para o Brasil, eu já tinha vontade de fazer um curso dessa maneira e estava procurando algumas coisas na SingularityU, de San Francisco. Mas não tive a oportunidade de fazer.
Quando o primeiro Executive Program aconteceu em Bento Gonçalves, eu só escutei coisas boas, vi vídeos e fotos e comecei a ficar entusiasmado por todo o evento.
Fiquei com muita vontade de fazer, mas logo apareceu a pandemia… E colocou um banho-maria em todo o projeto que iria sair de imediato, né? Acredito que tudo no Brasil passou por isso…
Depois daquele momento difícil, a SU conseguiu fazer um evento protegido, que fornecesse a imersão de maneira completa. O segundo EP aconteceu em São Paulo e foi espetacular como todo o protocolo e cuidado possível.
Afinal, eu estava preocupado com isso. Foi algo extremamente importante para mim e eu estava tomando todo o cuidado. E tudo foi fantástico. Eu até penso em fazer de novo.
Então você tinha expectativa sobre o EP?
Para ser sincero, eu queria muito fazer, mas não tinha muita expectativa. Eu achava que seria um evento voltado para tecnologia e inovação, pensava que iria entender o que estava acontecendo no mundo, me atualizar, entender realidade virtual, alguma transformação digital… Coisas deste tipo, mais técnicas de inovação, do que um evento como foi.
O Executive Program da SingularityU Brazil é um evento que é muito maior do que isso: passa por várias questões culturais, principalmente sobre o pensamento. Não se trata apenas da exponencialidade, mas também do momento em que estamos. Entender nosso papel como indivíduos e a maneira como o desempenhamos dentro da sociedade é importante para compreender nossa movimentação nessa engrenagem.
Muito destes questionamentos já faziam parte de mim e calhou de ser consonante com o que eu pensava. Cada palestra ecoava de uma maneira diferente em mim
SU Brazil: Mas o que eram essas coisas que você pensava?
Renan: No livro Sapiens, do Yuval Noah Harari, tem uma parte que fala sobre “sucesso”. Segundo o autor, na biologia, sucesso se trata de replicar o DNA e o livro passa a discutir sobre este modo de pensar o sucesso.
Nesse sentido, Yuval destaca sobre que falam de nós, seres humanos, na atuação em domesticar o trigo… Mas, ele mesmo pontua: será que não foi o próprio trigo que nos domesticou?
A partir disso ele começa a entrar em um dilema mais profundo, dizendo como a nossa sobrevivência se baseava em produzir trigo e sempre tentar maximizar essa produção.
Enquanto isso, a sociedade coletora (aqueles que iam à caça) matavam grandes animais e continuavam neste trabalho, mas tinha uma coleta grande. Não precisavam continuar caçando o tempo inteiro. Se dedicavam à outras questões, de cultura e lazer, por exemplo.
Com o cultivo, o homem começou a ficar preso à terra. Quando tinham batalhas, as pessoas começaram a morrer, mesmo com um boom populacional, a subsistência ficava presa à terra. Era necessário se assegurar e ter essa segurança que o trigo proporcionou.
Por isso o autor fala das réplicas de DNA. Além disso, ele faz também uma comparação com o último rinoceronte branco, que morreu na África e entrou em extinção, onde viveu uma vida completamente solto e livre, natural, mas, em termos biológicos, morreu.
Enquanto isso, a galinha, que vive 38 dias dentro de uma gaiola na produção industrial, mas tem seu DNA replicado em bilhões ou até trilhões no mundo. Ela nunca entrará em extinção. Biologicamente isso parece um sucesso, mas será que é mesmo?
Por isso, Harari continua discutindo esta questão, trazendo até comparações com as empresas, questionando se este sucesso no mundo corporativo é apenas riqueza e continuar produzindo sucessos financeiros para acionistas e até tentando entender o porquê de não termos, como um método de riqueza e sucesso corporativo, o bem que ela desempenha na sociedade, qual a qualidade de vida que tem os colaboradores, até o que ela beneficia à sociedade.
O que está mudando com o ESG é a criação de outras métricas de sucesso, ao invés de ter como único objetivo a maximização dos resultados financeiros.
Nesse sentido, de que adianta uma empresa que vai enriquecer, mas seus funcionários sofrem de ansiedade e uma série de outras questões maléficas para a saúde dos funcionários? Se o turnover é alto e seus funcionários não são felizes? Se os fornecedores são explorados, sem propósito claro ou vontade de desenvolver?
Então… No final das contas, é o que David Roberts fala em seu último dia de Executive Program. Ele traz essa questão sobre “colocar mais dinheiro no seu bolso” e se isso realmente vai mudar tanto assim na sua vida, já que alcançamos um nível executivo diferente.
O mais legal (e vou dar um spoiler aqui) é quando ele propõe a refletir e projetar de forma objetiva: o que conseguimos fazer em nossos negócios para impactar a sociedade diretamente?
Estes foram os pontos que mais me inspiraram para mudança de vida, pois requerem mudança radical de mindset, e para isso é preciso uma transformação completa na cultura corporativa, ou começar uma cultura do zero.
Então, tudo isso já estava crescendo comigo e dentro de mim. Com o Executive Program, tudo isso teve momento e caminho para se tornar mais tangível e gritante. Foi o que me ajudou a tomar as decisões mais fundamentais da minha vida.
SU Brazil: Você diria que este incômodo e angústia que te proporcionou o que vive hoje?
Renan: Na verdade, eu fui inspirado e não angustiado. Enquanto eu fazia estas reflexões, que me deixava angustiado, várias questões foram trazidas para dar soluções à estas coisas.
Aqueles exercícios sobre os “problemas do mundo”, de maneira prática e reflexiva, foram trazendo claridade para outras coisas.
Quando você lida com questões sobre nossa capacidade de gerar impacto social, você se dá conta que aquilo não está tão longe e passa a questionar o seu papel na sociedade. Por isso eu saí bem inspirado, para ser bem sincero.
SU Brazil: E, com tudo isso, como sua vida se transformou após o Executive Program?
Renan: Foi um processo de muito amadurecimento. Depois de 1 ano do EP da SingularityU Brazil, eu decidi sair da empresa que eu estava.
Entrei nela para estabelecer um processo de profissionalização, porque era uma empresa familiar. O projeto já estava delineado, com um fim, porém, ao longo do tempo, fui percebendo que ela não tinha os mesmos valores do propósito que eu estava buscando, que era lidar com o papel social, tentar sempre impactar melhor as pessoas a nossa volta, tentando mudar a sociedade.
A pandemia foi mostrando algumas coisas e meu desejo era fazer algo diferente do que estava acontecendo. Eu saí para o nada, para ser bem sincero, sem nenhuma ideia do que iria fazer. Sou CEO desde os 27 anos de idade. Hoje tenho 38. Na vida corporativa, sempre é uma questão procurar crescer mais, com um objetivo maior.
Isso torna difícil parar para pensar se vamos continuar nesta estrada, ou seguir em outro ritmo, entendendo o que queremos fazer. Com o nascimento do terceiro filho, no dia 02 de outubro de 2021, eu antecipei minha demissão no dia 30 de setembro.
Mais tarde vieram várias oportunidades no mercado (graças a Deus), mas trouxeram essa reflexão sobre o que eu quero fazer. Todas as vezes que pensava sobre valores e cultura, eu pensava nessa autonomia em fazer uma cultura condizente com o que eu acredito, assumir projetos que eu gostaria, desde a forma até a implementação, cadeia de suprimentos… São poucos os projetos que te permitem tudo isso.
E, por mais tentadora que as oportunidades fossem, esse desejo e pulsão estavam latentes no meu coração e empreender era a forma de realizar isso tudo.
Então eu chamei duas pessoas para esta empreitada, que foram dois braços direitos que já tive na minha vida, em empresas diferentes no qual eu trabalhei.
São amigos que tem os mesmos valores que os meus. Sabia que juntos conseguiríamos montar um projeto, um sonho, que inicialmente não fazíamos ideia do que poderia ser.
Então maturamos nossa ideia, seguimos no mercado de projeto e construção de data centers, só que com o viés diferente.
Não quero julgar os outros, mas falar de nós: somos extremamente rigorosos nos quesitos de governança, ética, transparência e profissionalismo. Nosso foco são exclusivamente empresas que são muito profissionais e querem crescer de forma muito técnica, profissional e transparente.
Viemos para dar este BOOST para as empresas de data centers e acompanhar este desenvolvimento de toda a infraestrutura de missão crítica, ao mesmo tempo em que utilizamos tudo isso para formar profissionais de alto valor agregado dentro de uma cultura organizacional sadia.
E como as empresas que comungam dos mesmos valores e reconhecem valor do ESG muitas vezes são também são empresas muito grandes ou que crescem muito rápido. E assim, crescendo e investindo no Brasil, pagando bons salários, formando bons profissionais, com atitudes corretas em um ambiente de trabalho saudável conseguimos mudar um pouco da sociedade à nossa volta.
Inclusive, isso também tem sido feito junto com a fundação da ABDC – Associação Brasileira de Data Centers, que foi criada durante a pandemia, ao mesmo tempo que eu fazia o Executive Program. Eu e outros executivos desse mercado que também tem este chamado para ajudar o desenvolvimento social a criamos. Nossa intenção é democratizar e doar nosso conhecimento e know-how específico para a sociedade através de cursos profissionalizantes, e assim capacitar profissionais para que consigam aumentar sua renda, que também é uma maneira de causar um impacto positivo no país.
Na questão organizacional tudo começa se você pensar que cada família tem três a cinco pessoas. Quando você consegue fazer um ambiente de trabalho onde os valores e virtudes estão na estrutura familiar e bem-estar pessoal (mental, físico e emocional), essa pessoa se realiza muito mais.
Os colaboradores serão pais melhores, mães, irmãos, companheiros e até amigos melhores. Isso transforma a sociedade aos poucos. Para nós, isso foi muito importante porque nos dá orgulho.
Quando você estrutura essa cultura desde o início, colocando estes princípios e valores em primeiro lugar – a ética, princípios, virtudes e questões de pilares sociais acima do lucro – há uma fluidez em todas as esferas da vidas das pessoas.
SU Brazil: Mas como foi esse processo? Houve algum problema nessa construção?
Renan: Na verdade, acho que é preciso entender essa questão como cultura, porque é difícil você julgar o outro, por não dar a mesma importância que nós em determinada questão. Nós temos que ter empatia suficiente para não julgar o outro e dizer quem é melhor ou não.
É uma questão cultural, dentro do que os meus valores e princípios estão alinhados. Houve pessoas que não estavam na mesma página, há pessoas que pensam diferente, mas somos uma alternativa, fazemos diferente, temos estas questões enraizadas.
Eu fico muito feliz quando as pessoas me procuram por uma questão de ética acima de tudo: sobre governança, transparência, assuntos sobre anti-corrupção, ambientes de trabalho saudável.
Essas questões acabam aderindo muitos clientes e, às vezes, os indivíduos e as corporações estão alinhados com esses valores e virtudes. Eu não tive embates no decorrer do tempo sobre isso, mas tive pessoas que ficaram desgostosas com a concorrência e se sentiram ameaçadas. Nunca foi esse o intuito.
SU Brazil: Essa questão ética e moral sempre esteve com você?
Renan: Sinceramente, foi tudo um processo.
Normalmente a gente começa a carreira e vai se lançando às oportunidades da vida. Eu tive oportunidades que apareceram na minha vida muito cedo e foi muito bom.
Pude fazer a startup de uma empresa no Brasil e ela teve um grande sucesso, onde assumimos a América Latina e me tornei CEO das Américas.
Neste período, eu tinha visto para morar nos Estados Unidos, escritório, casa e tudo no país. Minha família ficava aqui, no Brasil. Eram 3 semanas viajando e uma em casa.
Confesso que foi um momento difícil. Em um jantar que tive com um concorrente, na verdade, falei sobre isso e foi extremamente curioso. Eu estava sofrendo pelas viagens e ele trouxe uma perspectiva da gente “dar nome aos bois”.
Porque, neste jantar, eu falei: “A gente faz isso pela família, né? 3 semanas viajando… Minha esposa em casa… A gente desbravando o mundo, fazendo tudo isso, para que nossa família tenha uma melhor vida. Por isso estamos fazendo isso”.
Então esse executivo falou para mim: “Nunca mais repita isso. Você está fazendo isso por ti mesmo. Você está querendo ser CEO das Américas porque você quer, não é o que seus filhos querem. Se você perguntar para os seus filhos, eles diriam que quer o pai em casa.”
Foi nesse momento que ele abriu o jogo e disse que estava tentando retomar a relação com os filhos pelos netos, porque ele também foi um executivo internacional, tinha tempo de viagens muito longos e mal conseguia combinar a família e o trabalho.
Nessa situação eu comecei a me dar conta e ouvir outras histórias parecidas, sobre os laços de relacionamento interpessoal familiar em que os pais se ausentam muito e, depois, com os netos, tentam se aproximar dos filhos, perto da aposentadoria, quando o volume de trabalho muda. Daí se “lembram” da família.
Volto a dizer: o trabalho é muito importante. Porém, precisamos dar conta da maneira como ele está sendo realizado e como podemos aliar todas as outras esferas da nossa vida.
Outro ponto, graças a experiência internacional, foi perceber que o Brasil é muito fod@ e fora de série. A gente trabalha, veste a camisa e produz de um jeito muito diferente.
É super emocionante e uma grande honra ser um executivo brasileiro que assumiu um importante cargo de liderança internacional. Mas morando aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora.
Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida para minha família muito boa. Seria possível balancear inclusive vida profissional e familiar. Mas, aqui eu consigo atingir muito mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.
Só assim podemos atrair investimentos estrangeiros nessa cadeia de data center, como Google, Oracle, Netflix, Microsoft, que são empresas muito grande, que, quanto mais profissional o mercado for, mais será mudada a situação do país.
Aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora. Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida da minha família muito boa, caso fossem comigo. Seria possível balancear tudo isso. Mas, aqui eu consigo atingir muito mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.
Quando quero deixar um legado, e o Executive Program fala muito sobre isso, é neste ponto que eu falo. Vou te dizer mais: o cargo que você tem, o quanto de dinheiro que acumulou e as viagens, são questões triviais. Mas, quando você chega e percebe: nossa, se não fosse pelo meu trabalho, essa quantidade de empregos não existiria; se não fosse pelo meu trabalho, ele não seria um bom pai e inspirado…
A gente diminui isso em certos momentos, mas isso é super importante, porque o colaborador chega e se torna uma melhor pessoa, chega feliz para trabalhar e pertence ao ambiente.
Ele sente que está mudando a sociedade e causando um impacto positivo onde pode. Além disso, se sente valorizado no trabalho. Tudo isso é importante. E o filho, a esposa e quem está próximo dele, se beneficia de tudo isso, porque se torna uma pessoa harmoniosa, com chances muito menores de se envolver em problemas.
É uma questão fantástica.
Sou apaixonado com a estrutura de data center. Estou neste setor há anos, sempre me tratou bem e merece um carinho especial, como o brasileiro sabe dar. Então aliar estas duas pontas é fantástico para mim.
SU Brazil: Você trouxe muitas coisas que foram elaboradas e condiziam com o EP. Mas, você acha que deveria ter feito de diferente hoje naquele Executive Program?
Renan: Eu sinceramente acho que deveria fazer de novo. Foi muito bacana. O que me faltou mais foi o contato com as pessoas que fizeram o EP.
Eu saí com toda a inspiração, saí com vários amigos, foi muito legal, mas não tive contato com eles depois. Por exemplo, o Reynaldo Gama foi meu colega de MBA e conseguimos manter contato. É um amigo espetacular para mim, um dos melhores que eu tenho, nos acompanhamos, estamos juntos, somos amigos pessoais.
No EP eu tive empatia com várias pessoas, amizades e tudo mais, mas não teve mais nenhuma reunião. Por isso, acho que, se fosse para fazer diferente, eu teria me conectado mais com pessoas que estavam atreladas a mesma energia que eu tinha e até os mesmos valores.
É difícil ter estas questões que vão na contramão do mercado e isso seria muito importante. Falo novamente: falamos de cultura, não como diferencial competitivo, mas como modo de vida. Isso é difícil, porque precisa de tempo.
Nosso diferencial como empresa é a questão técnica, profissionalização e uso de tecnologias diferenciadas. Mas, estas questões culturais que nos norteiam são outras questões difíceis, porque você precisa deixar de seguir alguns caminhos, que normalmente são mais fáceis, para lidar com o seu propósito.
Existem vários caminhos que são mais fáceis, mas entra na questão ética e moral. Quando você está com um time de outros executivos, que estão neste mesmo desafio, com este mesmo pensamento no dia-dia, aquilo te retroalimenta. Você aprende com o exemplo do outro e você acaba evoluindo.
Acho que isso que eu faria diferente, caso fizesse o EP de novo.
SU Brazil: O que você diria para quem gostaria de fazer o Executive Program da SingularityU Brazil?
Renan: Eu diria para ir sem expectativas. Se entrega. Cancela reunião, cancela tudo, avisa todo mundo que está indo lá e esquece. Se conseguir deixar o celular de lado melhor, ou use só para tirar foto, como fiz. Porque acho que é uma questão de entrega.
É um tempo único ali e pode se tornar muito profundo caso você dê atenção a ele. É importante essa reflexão. Vou dizer que foi fundamental ver tudo isso que a gente está falando de tecnologias exponenciais e depois ver isso acontecer.
Em um determinado momento a gente faz uma carta para nós mesmos, né? Um ano depois, eu decidi pedir demissão. Eu saí da empresa e tudo mais. Várias oportunidades surgiram, mas até entender o que de fato você quer fazer é muito difícil.
Como eu te falei, eu me reservei para trocar e, quando comecei o meu negócio, me questionei se não deveria voltar para o mundo executivo, afinal, é uma vida mais fácil e garantida.
Eu pensava: “sou pai de família. Será que é isso mesmo? Não é loucura? E agora?”. Comecei a ter muitos questionamentos. Mas, em um determinado momento, eu tive uma semana muito difícil, com todas essas questões na minha mente e aquele momento que todo mundo já passou na vida.
Naquele momento desamparado, eu recebi uma carta de mim mesmo, que escrevi naquele momento do Executive Program, quando eu decidi tomar essas decisões na minha vida.
A carta foi algo extremamente importante para mim. Ela me deu forças e me fez persistir, mesmo naqueles momentos de dúvidas e questionamentos. Foi algo incrível.
Lá eu me motivava, me entendia e abraçava a empreitada. Nela eu dizia:
“Cara, eu sei que você vai ter dificuldade, mas persiste. Vai ser difícil, mas persiste. Vale a pena”.
Foi uma questão muito incrível. Eu só consegui ter este momento porque eu baixei a guarda completamente. Eu fiz amizades, conversei com todo mundo que eu podia conversar, conversei com quem estava expondo, professores, conversei com todos. Precisa se deixar permitir naquele momento de imersão que é o EP.
Inclusive, não é apenas um evento corporativo para aprender e aplicar na sua empresa. É uma questão para nós mesmos. Nós não estamos indo para aprender alguma ferramenta de trabalho. Existe algumas coisas que aprendemos de disrupção e tudo mais, mas é uma questão de reflexão profunda, do encontro do indivíduo consigo mesmo.
Isso para mim foi uma questão muito bacana. Então, vou dizer para as pessoas cancelarem suas reuniões, deixar as coisas um pouco de lado, mesmo quem tem filho, como eu. Bloqueie as reuniões ao máximo e se entregue no evento.
SU Brazil: O que o Renan falaria para aquele Renan que estava escrevendo a carta?
Renan: “Até agora a gente conseguiu, ein? Até agora deu certo.”
Tudo que consegui e me propus a fazer deu certo. Então eu diria para ele que estou muito orgulhoso do caminho e das decisões difíceis que ele tomou.
Foi muito difícil abrir mão de um belo de um salário e uma posição estável, com o terceiro filho que estava para nascer. Você, Renan do passado, se propor a fazer algo diferente, em prol de uma paixão e vontade de fazer algo novo, se propor algo diferente do que o caminho convencional, foi algo incrível.
Vou dizer que foi incrivelmente espetacular. A gente foi abençoado por Deus, porque, neste um ano de empresa – sim, somos novos – a gente já fechou contratos milionários.
A empresa já está construindo grandes data centers em São Paulo, participando de projetos gigantes e de pessoas que acreditam na nossa história. Elas já nos conheciam e essa questão da reputação pessoal foi muito importante, mas muitas querem trabalhar com a gente por isso.
Agora precisamos crescer para contratar mais pessoas, porque se identificam com esses valores e virtudes que estávamos pensando na época.
Então, eu me orgulho demais das decisões que eu tomei durante o EP. Eu não me arrependo de nada, mas também preciso reconhecer que foram questões muito difíceis.
Acho que é igual treinarmos para uma maratona.
É super legal termina-la, mas ela só vem com esforço. A gente se orgulha demais pelo caminho percorrido e isso é o mais importante. Eu faria tudo isso de novo 100% das vezes se eu voltasse para o passado. Eu repetiria o mesmo caminho sempre, em todas as escolhas.
Por isso, muito obrigado por ser corajoso.
SU Brazil:E agora? O que o Renan pensa de si para o futuro?
Renan: É difícil responder isso, acredite. Quando decidi empreender, foi algo diferente para mim e foi a partir de uma decisão minha. Projetos tem início, meio e fim, troca de países, procurar empresas maiores e tentar progredir.
Mas, em um determinado momento da minha carreira, tive um chefe holandês e estávamos velejando que me ensinou muito. Eu era mais novo, creio que tinha 26 anos.
Eu perguntei para ele: “por que você não compra um barco a motor? Por que velejar?”
Ele me questionou o porquê da pergunta e eu disse: “Assim você vai chegar mais rápido nos lugares”.
Então ele me respondeu: “Você está enganado. Quando eu cheguei no meu barco a vela, eu cheguei onde eu queria.”
Este chefe holandês ficou falando apenas sobre o barco e continuou nessa, mas aquilo me acertou em cheio. Fiquei remoendo por anos. Quando decidi empreender, isso voltou para mim.
O que muda na minha empresa é que eu não quero um barco motor. Eu não quero pensar onde estarei daqui 10 ou 5 anos. Eu quero chegar na segunda-feira e ficar feliz com o ambiente de trabalho que eu estou. Eu quero chegar no meu barco e velejar.
Aquele chefe ainda continuou me dizendo: “Se eu não sair da marina, ficar aqui limpando ele e tomando vinho, eu vou ficar feliz”. E é isso que eu quero: que as pessoas fiquem felizes em trabalhar na segunda-feira e que tenha uma quantidade de pessoas e vidas que eu tenha conseguido mudar nos últimos anos.
Não falo só de felicidade por objetivo, mas que elas sintam o propósito da felicidade, que seja uma realização este trabalho diário, nesta questão que é fantástica de viver o cotidiano, o hoje, sem ficar com essa cabeça de ansiedade no futuro.
Então, eu vou dizer: eu não sei responder sua pergunta, porque o que eu estou montando é o meu barco a vela.
Perspectivas e referencialidade são dois termos que passam despercebidos no nosso cotidiano. Muitas vezes não compreendemos o tamanho impacto que podem trazer em nossa clareza mental.
Perspectiva se trata de entender qual o plano estabelecido para que nossa realidade seja construída. Em um papel/uma figura, se trata de entender o espaço por onde os objetos serão construídos e suas dimensões delineadas. Em nossa mente, passa pela ideia de entender como enxergamos a nossa vida e como conseguimos criar espaço para a aprendizagem (ou apreensão da experiência), além dos nossos pré-conceitos direcionadores. Assim, a experiência pode se mostrar viva e podemos dar conta de entendê-la além dos nossos vícios.
Referencialidade é o sistema de referências que possuímos, ou seja, a maneira pela qual certos aspectos de entendimento são posicionados para darmos conta da compreensão de mundo. Em linhas gerais, seria o ponto de vista que escolhemos para começar a entender as coisas. Por isso sempre há uma referência, um lugar por onde tudo começa e uma maneira de entender que se torna um hábito.
Isso ocorre para compreendermos a nossa própria vida, tentando buscar o entendimento do nosso mundo e até compreender o outro. Refletir sobre as referências e entender a maneira com que lidamos com a apreensão do mundo é a tentativa de conhecer a maneira com que construímos nossa realidade.
Mas, nada disso é possível sem uma conexão com aquilo que estamos tentando entender. É preciso estabelecer uma aproximação e transformar aquilo em um vínculo, trazendo para nossa compreensão de mundo, entendendo como isso pode ser real em nossa existência.
Tudo exige uma ligação para que algo possa ser percebido e conhecido. Por isso, é necessário entender que há componentes para que cada um possa dar conta do aprendizado. Caso não haja, é necessário transformá-los até ser passível de ser aprendido.
É exatamente pelo cuidado destes componentes na linguagem que a Wakanda Educação Empreendedora surgiu. Para Karine Oliveira, CEO e idealizadora da startup, ainda há um problema grandioso na maneira com que o mundo do empreendedorismo e da tecnologia se apresentam. Por isso, o conteúdo nem sempre é acessível para todos.
Ao trabalhar com linguagem, a Wakanda busca traduzir os conteúdos técnicos, e extremamente nichados ao conhecimento de um grupo restrito, para a periferia de Salvador.
A ideia é tornar a experiência das pessoas nesta região mais palpável e próxima ao que conhecem. Afinal, também são empreendedores e buscam otimizar seus produtos com tecnologia.
É na criação dessa ligação e na transformação da linguagem que Karine Oliveira continua a atuar, tentando fazer com que as informações se tornem mais adequadas às realidades de perspectivas e referencialidades diferentes.
Com tamanho propósito e clareza, não poderíamos deixar a Wakanda de fora do Especial 10 anos de Executive Program da SingularityU Brazil.
Fizemos questão de entrevistar sua representante, Karine, para nos contar como foi essa experiência. No bate-papo, a CEO destacou o quanto foi crucial para tornar mais vivo seu objetivo, que vocês descobrem na íntegra abaixo.
Por favor, nos conte quem é a Karine, da Wakanda, como é conhecida.
Karine Oliveira: A Karine tem 30 anos, é de Salvador, está há 5 anos atuando como fundadora e CEO da Wakanda educação empreendedora, que é uma startup de educação, onde desenvolve métodos de tradução de conteúdos, com o objetivo de democratizar e sensibilizar a linguagem do empreendedorismo, inovação e tecnologia para públicos minoritários e qualquer pessoa interessada, que goste, ou que prefira aprender através da linguagem informal, ou das múltiplas linguagens informais que existem no Brasil.
SU Brazil:Qual a situação hoje desta empreitada?
Karine: A gente percebe há alguns anos que essa essa área de tecnologia e inovação é uma das partes que a maioria das pessoas estão buscando conhecer. Além disso, é o assunto que tem maior abertura, tanto de campo de trabalho, como também em relação aos eventos. O público em geral está cada vez mais interessado, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais entendemos que este assunto precisa ser ampliado para o público em geral.
Só que a gente ainda sente que, assim como empreendedorismo, falta questões de diversidade, não é mesmo? A ASG ou ESG, como preferirem, deveria ser algo mais presente. A diversidade implica em uma inclusão do diferente e do pertencimento das mais variadas características em um ambiente, mas, por conta da linguagem, muitas pessoas acabam não conseguindo aderindo e não se sentindo presentes nessa construção.
Então a gente percebe que hoje, por exemplo, depois que finalmente passamos os nossos dois anos de pandemia, os eventos voltaram com força máxima e muitas pessoas estão presentes, mas o fator da linguagem ainda é extremamente limitante, ao invés de ser inclusivo. Por isso, é até difícil buscar novos atores para que participem deste momento.
Então, basicamente, nosso trabalho na Wakanda é ir para eventos de tecnologia, para que consigamos levar as novas descobertas, produções tecnológicas e inovações para o enorme público em geral. Nossa tentativa é tornar exponencial o que ainda é muito restrito.
Então a Wakanda acabou assumindo esse processo de tentar democratizar e expandir estes ambientes através da linguagem. Um exemplo disso foi a própria experiência no Executive Program da SingularityU Brazil.
A gente consegue ir, aprende novos temas e conteúdos, mergulhando neste mundo da tecnologia, e depois voltamos para nossa origem: compreender os assuntos e entender como a gente consegue traduzir e simplificar estas linguagens para que outras pessoas entendam que tecnologia está em tudo.
Além disso, nossa ideia é também fazer tudo isso se tornar mais acessível, mostrando que da inovação para ‘gambiarra’ é apenas o dinheiro que diferencia. Em ambas as situações o que se ganha é tempo, mas, a primeira é o foco do dinheiro. A gente acabou compreendendo isso e cada vez que mostramos para as pessoas é algo muito natural, acessível e faz parte da criatividade do brasileiro.
Assim como as múltiplas tecnologias já estão na nossa vida e o empreendedorismo é parte do cenário nacional – só que com outros nomes e outros termos dependendo de sua classe social -, a inovação também está.
A Wakanda ajuda naquele “D”, de democratizar, para que este setor seja realmente exponencial e mude a realidade, principalmente do nosso Brasil.
SU Brazil: Qual foi a diferença do pré e o pós Executive Program no Wakanda?
Karine: Primeira coisa foi um choque cultural muito grande. É um evento de alto valor, onde vão CEOs de outras grandes empresas, diretores e executivos… Foi a primeira vez que estávamos em um ambiente como aquele.
E não somente participando da metodologia – o que foi muito legal -, mas compreendendo mais este mundo de tecnologia, que eu não imaginava estar tão impregnado na minha vida. Foi uma das melhores experiências que já tive, em estar por dentro da tecnologia, inovação, compreender e mergulhar naquele mundo.
Falar de Inteligência Artificial muito antes de sair essas IAs, como ChatGPT e Bard, foi muito interessante. Foi fantástico ver isso e depois acompanhar o impacto na prática. Foi tipo “UAU!”. A democratização foi muito rápida e o crescimento da utilização de inteligência artificial foi enorme no ano de 2022. Eu fui em outubro, para o Executive Program da SingularityU Brazil, ainda estávamos conversando sobre essas coisas. Nunca tinha visto o ChatGPT, mas estava sendo apresentado e conversando sobre o assunto.
Acho que esse é um dos pontos mais interessantes da SingularityU Brazil. Tem esse lugar, onde você consegue saber das novidades antes de acontecer, com todos esses assuntos do futuro, mas que já estão presentes em nossas vidas.
Acho que essa é a experiência mais legal de estar lá. Além disso, estar dentro de um ambiente de tecnologia e de uma formação toda voltada para tecnologia, ouvir outros diferentes termos que eu nunca tinha ouvido na vida, como um “crescimento exponencial”. Entender como isso modifica as vidas ao longo do período e causam disrupção foi algo incrível.
Outro ponto interessante foi ser evento imersivo. É algo que assusta, principalmente quando você entende que é um evento todo em inglês. Mas, quando você chega lá e vê o cuidado com as pessoas, toda a tradução ao vivo, apoio, e você consegue absorver tudo sem o inglês fluente, tudo fica mais tranquilo. No início assustou, mas depois foi maravilhoso.
Toda a estrutura, estar em um curso de alto nível, foi incrível e deu tudo certo. Estive no Resort Bendito Cacau e fui muito bem recebida. Estar em imersão, em um lugar confortável, com foco em criar networking, com outras pessoas de alto escalão, foi uma experiência muito interessante e extremamente rica SingularityU Brazil.
Algo que para mim especial foi aprender sobre outras tecnologias, como o blockchain. Essa questão nova me instigava a querer mudar o mundo. Podemos pegar tudo que aprendemos naquele ambiente e levar às outras pessoas. Mesmo se não utilizarmos, é algo fascinante. Faz muito sentido para a nossa proposta.
O Executive Program é uma imersão de 3 dias e meio, nas tecnologias exponenciais que estão moldando o futuro dos negócios. O principal programa da SingularityU Brazil ocorrerá entre os dias 24 a 28 de setembro, no Hotel Almenat Embu das Artes – SP. Garanta sua participação na última turma do ano clicando aqui
SU Brazil: E como fazer este trabalho de tradução tem ocorrido?
Karine: Hoje a gente já tem alguns módulos na Wakanda que está mergulhado nestas experiências. Por isso, temos um setor para falar sobre inteligências e tecnologias. A gente está difundindo para o nosso público, principalmente para ver as maneiras distintas que as pessoas apreendem.
Há várias IAs disponíveis, com focos diferentes e muitas outras estão aparecendo. A velocidade assusta e a maneira como está acontecendo também, afinal, tem esse lado que temos fornecido dados demais e liberdades demais e as pessoas fazem o que querem com o nosso rosto, texto, imagem, voz e criatividade. Mas, pensando que eu sou essa ponte de mundo periférico, nas pessoas que estão à margem, e este mundo de sucesso, de ambientes, é importante continuar criando essa ponte.
É nosso trabalho mostrar que a gente consegue utilizar essas tecnologias para ter mais qualidade no empreendimento e resultados melhores no trabalho. Agora nosso objetivo é o mesmo: estes instrumentos existem e vamos criar ‘uma ponte mais larga para que as pessoas possam passar’.
SU Brazil: E como o EP surgiu para você?
Karine: Marta Letícia. Essa pessoa. Ela conheceu a gente ano passado, se encantou pelo Wakanda, ficou muito próxima da gente, participou do EP e simplesmente colocou como meta nos convencer a fazê-lo e dizia: “Você precisa participar”.
Foi ela que movimentou todo mundo da SingularityU Brazil para que pudéssemos estar lá. Conseguimos participar, dando uma palestra, eu fiz um pitch sobre a Wakanda e foi muito bom trazer o diferencial naquele ambiente, além de conversar com as pessoas sobre nosso projeto.
Eu só tenho a agradecer o trabalho da Marta Letícia, porque foi ali que conseguimos esta abertura e causar este grande impacto nas pessoas: no evento e na Wakanda novamente.
SU Brazil: Antes de você ir, enquanto a Marta Letícia te ajudava, o que você esperava?
Karine: Para mim era um novo desafio. Participar de uma imersão, um curso de alto valor, extremamente profundo sobre tecnologia, com uma metodologia de outros países… A expectativa era alta.
Pensava: “será que eu dou conta? É diferente do que normalmente estou lidando”. Mas, ao chegar no EP da SingularityU Brazil foi incrível. O acolhimento das pessoas, a interação… Tudo isso ajuda. Foi incrível e eu não poderia ter tido experiência melhor.
SU Brazil: E o que tudo isso te proporcionou? Quando voltou dele, se sentiu transformada?
Karine: Olha, eu não tinha algo específico ou ideia para buscar no EP. Não tinha mesmo, mas senti que saí muito diferente e com mais motivações para que as coisas acontecessem. Afinal, enquanto estava entendendo estas linguagens de um mundo um tanto quanto diferente, senti que meu propósito se tornou fazer a Wakanda o lugar em que proporcionará a exponencialidade e democratização da linguagem. Isso nos deu mais vivacidade.
Nosso primeiro momento é tornar tudo isso mais democrático. Então, o que nos tem norteado é a questão: como a gente consegue tornar aqueles conteúdos, ainda bem restritos a um grupo bem seleto de pessoas do Brasil e do Mundo, mais exponenciais? Para nós, conseguimos fazer isso através da linguagem.
Mas, como que eu simplifico? Como facilita e deixa próximo às pessoas que se interessem, para que as pessoas comecem a pensar: “Eu sou um pequeno empreendedor, mas posso estar ali, utilizando estas tecnologias. Não é tão afastado da minha realidade”?
Foi no EP que nosso propósito se tornou mais vivo. A gente nasceu para criar mais oportunidade, para que as pessoas acessem a estes ambientes e se sintam pertencentes a ele, sem reconhecer que há algo além.
SU Brazil: E para a Karine, como foi?
Karine: Maravilhoso. Pessoalmente, teve uma questão sobre o impacto do lugar em que eu estava, principalmente por ser um evento voltado para executivos, em um local extremamente diferente da minha realidade. Mas, a parte mais incômoda do desafio foi de ser a única mulher negra no ambiente.
Confesso que foi uma parte muito bizarra, falando de Brasil. Então, quando eu cheguei lá, no primeiro momento da recepção, eu pensava: “ué, onde eu estou?”. Foi um desafio, enquanto mulher negra estar presente ali. Ao mesmo tempo, foi uma questão de quebrar expectativa, medos, enquanto eu passava a provocar as pessoas com a minha participação, dizendo: “vocês gostaram muito de estar comigo, mas de onde eu venho tem milhões de pessoas que também mereciam estar aqui. Por conta de várias questões estruturais, elas não conseguem participar. Eu só consegui porque a Marta Letícia fez toda uma movimentação para que eu estivesse presente. A gente precisa que vocês. Assim como outras pessoas precisam e vocês podem abrir as portas, para que mais pessoas diferentes possam estar aqui e cada vez mais causem essa diferença, com impacto positivo de diversidade, para além das leituras, mas vivenciando isso na pele, afinal, não tem inclusão sem incluir o outro.”
Isso foi extremamente precioso para mim. Pessoalmente, conversar com aquelas pessoas, estar nos prés e pós conceitos, pertencer ali enquanto outro ser humano pensante, com trajetórias de impacto diferentes e conversar com estas pessoas de outras realidades foi algo bem legal. O estranhamento deu espaço para algo bem interessante que foi se construindo. Além disso, entender que em todo CNPJ realmente tem um CPF foi algo bem interessante.
SU Brazil: E ao fim, o que isso te proporcionou?
Karine: Um fluxo de consciência muito intenso, em que milhares de ideias ficaram na minha cabeça para produzir e traduzir mais conteúdo. Essa foi a parte mais legal. Além, claro, dos papos que tive com as pessoas e me auxiliaram em uma jornada para compreender o outro.
Em vários momentos percebi que eu não sabia que poderia falar ‘tais assuntos’ de qualquer maneira. Poder trocar com as pessoas me fez enxergar isso. Entender as vivências e trocar sobre a minha experiência foi algo fantástico. Sai com um caldeirão cheio de coisas para produzir e contar para as pessoas.
SU Brazil: Qual contribuição você daria a Executive Program?
Karine: Proporia pensar em como é que a gente consegue causar essas experiências de conexão e trazer mais diversidade. É aquela coisa: não fazemos parceria com quem “você não vai com a cara” e todo mundo sabe disso. Quando não tem, o negócio fica frio.
Quando criamos conexões ficou bem legal. O Rodrigo, grande parceiro que descobri ali, foi isso. A gente fez várias coisas juntas, trocamos ideia hoje e tudo porque criou conexão. Acho que talvez seja interessante ter pelo menos um dia para isso.
Acho que poderia ter um respiro dentro da programação para a interação: sentar em roda, conversar e o desafio desse dia seria conversar com um completo estranho. No outro dia voltariam para apresentar este completo estranho e apresentar ele para todos.
SU Brazil: O que você diria para aquela Karine que estava vendo a oportunidade e próxima ao EP?
Karine: Naquele momento, eu diria para ela: ‘olha a rainha, assim, eu sei que tem muita gente diferente de você lá fora, mas quanto menos medo se você tiver deles, mais você vai ver que eles estão querendo te ouvir.’
Então, talvez, com relação a isso, eu teria ficado menos tempo no quarto e mais tempo com as pessoas, tentando quebrar o gelo, observando e aprendendo experiências diferentes.
Digo isso porque eu sou essa pessoa que quando o relógio bate 10 horas eu preciso ir dormir. Eu falava: “gente, eu não aguento mais, eu preciso pro quarto dormir”.
Eu acordava cedo, encontrava o pessoal na academia e era esse o momento em que eu mais interagia com as pessoas. Era ou no almoço ou no café da manhã. Assim que era o momento para sentar, interagir e trocar uma ideia, conversar e só conhecer as pessoas mesmo.
SU Brazil: Então é isso que você faria diferente caso tivesse outra oportunidade?
Karine: Acho que sim. Seria estar mais com as pessoas, incentivar a quebrar momentos dentro da metodologia para que a gente realmente tivesse mais junto. Talvez tivesse criado mais conexão, pelo menos, já que é um tempo bem curtinho. Então como é que a gente aqui, na conexão com pessoas com um tempo tão curto? Faria isso.
SU Brazil: O que você pensa sobre o futuro da Karine, então?
Karine: Hoje a Karine pensa nesse processo de deixar um legado.
Então como seria criar algo que seja maior do que eu sou? Como ele poderia continuar de forma perene, mesmo que eu não esteja mais aqui?
Essa é a questão do propósito que a SingularityU Brazil te põe para pensar, né? Quando você deixa algo que, independente do passar dos anos, mesmo que as pessoas não lembrem de quem criou aquilo, elas continuem usando e usufruindo. A gente entende isso como legado.
Então, como seria deixar esse legado? Como seria realmente criar essa ponte para que a gente torna-se um mundo menos desigual?
Como conseguir fazer com que as pessoas comecem a ser poliglota nessas linguagens? Quero que elas consigam absorver e facilitar cada vez mais as linguagens mais difíceis e fazer com que as pessoas se sintam pertencidas. Isso vai para além do português, inglês, espanhol, italiano.
Estou falando dessa linguagem social mesmo, de como a gente lida com o diferente e o quanto a gente acolhe abraçar ele que realmente não está inserido.
Daqui a 5 anos eu espero que a Karine não perca o foco do nosso maior objetivo de vida, né? Eu vou ter 34 anos e o propósito está criado.
Outro ponto é estar em ambientes mais diversos, conversar com outros atores. Porque ser uma mulher negra, de periferia, eu compreendo que ainda precisa estar em todos os lugares, né? Um dia eu cheguei a eles e foram portas que abriram para mim.
Então, se eu consegui furar a bolha, estar em ambiente como a SingularityU Brazil, foi porque alguém que tinha acesso e conseguiu furar essa bolha para que eu pudesse passar, então precisamos fazer isso cada vez mais.
Estar nestes ambientes diversos, se relacionar melhor com pessoas incríveis que existem neles e também tem continuar com esse compromisso de se conectar, se achar e desenvolver esse propósito junto.
Então espero continuar essa rede de pessoas tão importante.
O fim do Sest Senat Summit 2023 foi marcado pela palestra de David Roberts, expert global da SingularityU, com o estilo, empreitada e busca pelo engajamento global que dá um dos propósitos à vida do especialista.
Quando falamos de disrupção e inovação, sempre caímos nas amarras das impossibilidades e terceirizamos as soluções para instituições, sejam elas empreendimentos privados ou governamentais.
Porém, o empreendedor em série e expert da SingularityU destaca a necessidade de nutrir o contrário deste pensamento: engajar os não-envolvidos neste universo do empreendedorismo, com coragem e liderança necessária, para continuarmos produzindo mais agentes da mudança e produzirmos nossa diferença no mundo.
Para que isso seja possível, é necessário manter a diretriz de luta pelo propósito positivo social. Mudanças climáticas, questões de equidade, fome e sede no mundo podem ser transformadas e vão precisar deste auxílio diverso de diferentes indivíduos com papéis sociais distintos.
Em um certo momento do século passado, a camada de ozônio teve seu fim premeditado, como mostrou David Roberts. Porém, com a mudança dos usos de alguns produtos que danificavam essa proteção na atmosfera e consciência populacional, o processo foi revertido e hoje estamos mantendo estas condições para não voltar ao problema do passado.
Ao mesmo tempo, sempre deixamos claro que isso é uma condição e continuamos nosso projeto para que isso não ocorra. É um trabalho exaustivo, que exige nosso esforço e persistência.
Nesse sentido, o expert da SingularityU salienta a necessidade de compreender que, com as tecnologias exponenciais, o sonhar e desejar ainda é algo possível, principalmente para resolvermos e decidirmos qual maneira lidaremos com o futuro.
As “prisões mentais” como repressão ao nosso potencial
O expert global da SingularityU destaca o quão importante é compreendermos o que podemos fazer para causar um impacto positivo na sociedade. Para David, nos limitarmos ou reprimirmos nossos desejos de propósito global é apenas uma questão de condicionamento, mas que a mudança é possível em todos os meandros positivos da sociedade.
Os não-envolvidos, para David, não são necessariamente condescendentes. Na verdade, se trata de pessoas que não acreditam que são parte da transformação mudança e realização.
Em algumas linhas de psicologia, o nome disso é dado de “prisão mental/emocional” ou “gaiola mental”, que se define por limitar-se às crenças limitantes, preceitos e pensamentos que bloqueiam seu crescimento. Isso, em tese, não é um bloqueio físico, mas uma maneira condicionada do nosso cérebro reduzir suas ações e suas possibilidades de fazer.
Com o futuro, entendendo-o como questão do agora, é fundamental co-criarmos diferentes maneiras de poder produzir impactos sociais benéficos que envolvam os players não óbvio e envolvidos, mas que possuem o mesmo propósito.
Coragem, propósito e ideia são pontos que podem ser realizadas e há espaço para isso, mas exigem esperança e contínuo exercício da perseverança dos não-envolvidos, aliados aos já batalhadores.
Ao fim do painel, o convite feito foi de promover sustentabilidade e cuidar das questões essenciais para nossa sobrevivência. Mas, antes a isso, é necessário cuidar do coletivo e enxergar que há oportunidade enquanto houver pulsão de vida.
É uma questão natural entrarmos em Zonas de Conforto. Por conta da necessidade de conservação, psicologicamente temos o desejo de encontrar espaços para nos preservar e economizar energia. As questões biológicas do nosso corpo não são diferentes dos múltiplos seres da natureza.
Nosso cérebro trabalha dessa maneira e, em certos momentos, precisamos lidar com as armadilhas que este tipo de situação nos coloca. Não são os confortos que nos causam problemas, mas os padrões repetitivos, que muitas vezes podem não ser tão saudáveis quando se tornam um vício.
Por exemplo, a compulsão alimentar é objeto de estudo neste ponto. Desde o século passado, percebeu-se que o ato de comer demais é uma maneira de lidar com outras questões, que não tenham necessariamente relação com a comida, e acabam nos fazendo mal.
A pornografia, e o jeito pelo qual os indivíduos estão se satisfazendo com este tipo de consumo, é outra questão que vem sendo tratada como um problema há anos.
Ao mesmo tempo, Carla Tieppo, expert da SingularityU Brazil, ressaltou no Sest Senat Summit 2023, o quanto alguns padrões de comportamentos sociais e presentes em nossa vida estão se mostrando vícios contemporâneos silenciosos.
Em sua palestra “Neurociência, mudanças de mindset e desenvolvimento de habilidades em setor em transformação”, a especialista destacou a necessidade que as pessoas estão sentindo em estarem sempre conectadas e atreladas aos estímulos que a conexão proporciona.
A FOMO (fear of missing out ou medo de perder algo) aparece neste momento, em que a desconexão provoca uma angústia sobre seu posicionamento no mundo. Quando é colocada no mundo do trabalho, se trata de uma tensão prolongada e estressante, desemboca na Síndrome Always On, em que o indivíduo não alcança um estado de descanso e se perde em rigidez.
Carla fez questão de trazer este apanhado contemporâneo para destacar a importância de reconhecer estas relações que temos com o nosso corpo, pois são essenciais para um esclarecimento próprio. Além disso, ressaltou como essa habilidade também será necessária em um futuro próximo.
As virtudes necessárias nos próximos anos
Em um certo momento da nossa história humana, ao alguém ser chamado de afortunado ou que possui fortuna, significava o quão virtuoso alguém era. Hoje, essa palavra lida como acúmulo de bens e capital. Aqui não é o caso.
O conceito de fortuna mudou durante os anos. Hoje, lida como acúmulo de bens e capital, esta palavra, principalmente na idade média e antiga, significava o quão virtuoso alguém era.
Carla recupera o sentido da palavra para alçar à consciência dos palestrantes o quão é necessário pensar em nós, entendendo que é necessário enxergar e explorar alguns manejos sociais, como virtudes no mundo atual. É dessa maneira que um papel afortunado no futuro pode ser alcançado.
A especialista destaca a importância da capacidade de organização que um indivíduo possui e em como isso será extremamente necessário no futuro. Com as transformações e disrupções, será necessário cuidar do indivíduo e o primeiro passo é dar clareza e ordenamento para os processos pelo qual está inserido.
Com este ordenamento e equilíbrio dos processos, é possível abrir espaço para uma condição de saúde mental e física. Novamente, caso haja algum empecilho extraordinário, é necessário ajuda, acompanhamento e quem possa auxiliar nesta construção processual. Do contrário, é a organização que dará condições para que o corpo se torne saudável.
É essencial que isso seja possível para que um colaborador, gestor e administrador possam tomar as melhores decisões possíveis, além de maximizar a chance de traduzir suas potencialidades em ações benéficas.
É neste ponto em que o foco entra, como modus operandi para sua execução na melhor forma. Ter foco é uma questão neural de concentração e criação de sinapses, aos quais direcionará o corpo para uma determinada atividade com toda sua energia e disposição para isso, por isso, novamente, precisa de uma saúde mental e corpórea.
As habilidades sociais são dependentes das condições e qualidade de vida das pessoas. A clareza mental, o jeito de lidar com as nossas emoções, a maneira com que enxergamos nossas perspectivas para a vida e como lidamos com as falhas são complexas tarefas que só vão ser possíveis com uma compreensão própria.
Por isso, a autogestão (não apenas cobrança) podem fluir de uma melhor maneira, até com rotinas de estudos. Todas estas questões, segundo Carla Tieppo, já estão sendo extremamente valorizadas pelas empresas.
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