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De Volkswagen à Justin Bieber: como o Brasil utiliza a inteligência artificial de deep fake?

Tecnologias que se utilizam de inteligências artificiais estão produzindo vários ruídos, principalmente quando são utilizadas em alguma produção estética cultural. Isso não é novidade. Desde o começo do ano, o ChatGPT circula como uma alternativa e um instrumento que pode ajudar na prática do dia-dia, por exemplo e cada vez mais nossas ações se beneficiam destes novos instrumentos de automação.

Nessa semana, quem causou outro alvoroço foi campanha institucional da Volkswagen, que recriou a cantora Elis Regina – morta há 41 anos – para reencontrar sua filha, Maria Rita, em um dueto. No vídeo, Elis e Maria Rita estão dirigindo uma kombi, cada uma delas com o respectivo veículo de seu tempo cronológico, mas se encontram pelo caminho, cantando a música “Como nossos pais”, do Belchior.

A técnica usada para recriar este acontecimento, no comercial “Gerações”, se chama deep fake (deep learning + fake). Se trata do uso de uma inteligência artificial para criar vídeos, áudios, falas que não são verdadeiras, mas produzidas com uma inserção externa que não estava no conteúdo original.

Em 2017, uma febre aconteceu no Brasil: a troca de rostos e imagens de pessoas. Tal como o ChatGPT, este tipo de construção ficou aberta para quem quisesse, incluindo um plug-in famoso no Facebook, e vários aplicativos deixavam essa façanha muito próxima de qualquer pessoa com acesso ao conhecimento desta tecnologia e com internet.

Naquele momento houve uma discussão sobre os dados, que são fornecidos nesta pequena e inocente brincadeira. Com o tempo, a inteligência artificial passou a se recriar, ao ponto de algumas ferramentas que utilizam esta tecnologia deixassem seu código aberto.

Assim, ao mesmo tempo em que utilizava a tecnologia de machine learning, foi permitido que os usuários treinassem esse instrumento. Com o tempo, além da substituição, a rede neural passou a mapear o rosto de uma pessoa, unir ao corpo de outra e cada vez mais parecer ‘natural’ ou ‘verdadeiro’.

Então, com o passar dos anos, essa tecnologia performava leituras mundiais e tinha um sistema de feedback que permitia uma melhor execução a cada prática. Portanto, cada vez que os usuários utilizavam a imagem/vídeo ou faziam críticas ao processo, ele continuamente ia se aperfeiçoando.

Com o tempo, este software passou a ter uma melhor eficiência e conseguir estruturar melhores produtos com o montante de dados que foi reunido. Hoje o deep fake atua até de forma regenerativa, com alguns aplicativos de fotos e geração de imagens, que sugestionam ser as mais interessantes para aquela iniciativa.

Iniciativas brasileiras utilizando inteligência artificial

Em 2020, a Agência Pública já destacava que o uso de deep fakes era algo comum na vida do brasileiro. Naquele momento, éramos o segundo maior mercado do mundo neste quesito e o uso de novas tecnologias circulava em diversas camadas sociais.

Tal como no comercial da Volkswagen, Zico, lenda do Futebol e ídolo do Flamengo, teve um momento com seu pai, em um comercial do Mercado Livre, onde conversava e o ouvia mais uma vez, graças a produção de uma Inteligência Artificial.

Ainda sobre propagandas, a Samsung trouxe diferentes ‘Maísas’ em sua propaganda de Black Friday, em 2021, e fez esta brincadeira, com a atriz do passado e do presente, simultaneamente, para chamar atenção do seu público. Em outro momento, a NotCo usou uma inteligência artificial regenerativa para fazer as pessoas imaginarem animais ao fim de sua expectativa de vida, sem necessariamente passarem por um abate.

Maisas na propaganda da Samsung, na Black Friday 2021 (Divulgação)

Mesmo não sendo um uso efetivo de IA, é comum no entretenimento brasileiro utilizar remixes e ouvir músicas modificadas. Paramore e Péricles estão muito mais conectados do que pensamos, por exemplo. Mas, além disso, as vozes estão tomando outro rumo e novos covers utilizando IA estão ficando cada vez mais comuns.

Este ano houve uma polêmica sobre direitos autorais de vozes utilizadas para produzir músicas. As gravadoras e os artistas se reuniram para se protegerem desta nova oportunidade, que enxergam como ameaça, mas as reproduções continuam. O YouTube é recheado de covers inimagináveis até alguns anos atrás, como Freddie Mercury cantando Thriller, de Michael Jackson.

O uso destas inteligências artificiais é muito aproveitado no entretenimento brasileiro. Há muitas páginas de redes sociais que utilizam esta tecnologia como brincadeira. Alguns viram até personalidades, como o Justin Bieber brasileiro, por exemplo, que utilizava um aplicativo do Facebook com esta tecnologia de Deep Fake, ou o Manoel Gomes (famoso pelo hit Caneta Azul), que tem covers de clássicos nacionais.

Os exemplos são variados – temos até Will Smith baiano (brasileiro) que usa o aplicativo Impressions para modificar o seu rosto – e este tipo de utilização criou até um nicho que disputa espaços no mundo do entretenimento digital: Os sósias não fazem uso de nenhum aplicativo – são apenas parecidos com as personalidades mundiais – e fazem questão de se diferenciar destes famosos digitais, que utilizam Inteligência Artificial para ficarem semelhantes com estes ídolos mundiais.

Mais do que pensamos e menos do que parece: Quais os cuidados necessários que devemos tomar com esta tecnologia?

Deep Fake é algo comum em nossa realidade social digital. As redes sociais estão permeadas por estes acontecimentos, desde memes até vídeos que são usados politicamente para alguma estratégia. O famoso discurso falso, do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, produzido em 2017, mostrou isso. Vários pesquisadores mundiais destacaram e deixaram claro o tipo de cuidado que devemos ter sobre o uso deste instrumento.

Na época, vários problemas foram levantados sobre isso e que nossa atenção deveria ser mais cuidadosa. Hoje a Kaspersky, empresa global de antivírus, destaca que há um mercado (em alta) com essa tecnologia na dark web e é preciso um cuidado maior para enxergarmos como estes usos acontecem em nosso cotidiano.

O “Fake Obama” foi criado com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre o poder da IA, em 2017 (Fonte: Divulgação)

Recentemente, houve o caso do vídeo de Zelensky, Primeiro Ministro da Ucrânia, em que declarava o fim da guerra contra a Rússia e que seu país estava rendido. Isso voltou a chamar atenção e criar uma preocupação para sabermos como é utilizado. Por isso, é necessário compreender que tipo de produto cada um de nós estamos consumindo, mesmo que chegue por Whatsapp ou pessoas confiáveis, além de procurar fontes de informações verdadeiras.

Agências de fatos e informações, páginas de notícias e repetições das mesmas informações em portais internacionais podem ser um caminho para verificar se nosso consumo nas redes sociais é verdadeiro ou modificado pela construção de uma pessoa que utilizou inteligência artificial.

Por isso, precisamos tomar alguns cuidados e fazermos trabalho de verificação. Nesse sentido, é necessário tomar conhecimento sobre a autoria (pois há escrita por inteligências artificiais e sem comprometimento ou responsabilidade da situação) do produto. Além disso, verificar o perfil da primeira mensagem ou de onde se sucedeu, pois há falsas personas feitas nas redes sociais (que já são criações de IA também).

Outro ponto muito discutido e que precisa de atenção é desconfiar de transmissões ao vivo. Já existem aplicativos, como o DeepFaceLive, que conseguem fazer lives e transformar o rosto da pessoa que está falando. É importante e crucial compreender quem é o autor e como a situação está sendo construída para nosso consumo. Mesmo que apenas ‘passamos tempo’ nas redes sociais, o terreno não é tão inocente quanto parece. 

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