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“Eu fiz o EP duas vezes e tenho certeza que farei pela 3ª vez”

Vocação vem do latim vocare, que significa chamado. Então, além do entendimento de um tipo de talento ou uma habilidade única que outras pessoas não possuem, essa palavra tem este sentido no qual a pessoa “é chamada” para aquela determinada atividade.

Isso pode ter um sentido em diferentes esferas da nossa vida. Normalmente, a que mais se destacou no processo histórico, é a religiosa, mas os gregos e seus oráculos já recebiam chamados dos deuses muito antes da teocracia.

O tempo vai nos colocando no caminho para que isso ocorra. Mais ainda: é no tempo em que os sinais vão se mostrando e, querendo ou não, acabamos por segui-lo até que tudo se transforma em uma epifania criadora e a energia motriz se perpetua no propósito.

Desta vez, em mais um Especial 10 edições do Executive Program da SingularityU Brazil, conheceremos como um chamado foi se desenhando na vida de Rafael Mayrink, CEO da NP Digital, e de que maneira sua vida se transformou para algo impensável no começo de sua carreira.

Com energia contagiante e paciência para nos contar como foi criar seu negócio, expandi-lo e criar perspectivas em todos os momentos da empresa, Rafael nos mostra como sua transição de carreira e início de um projeto empreendedor deu base para encontrar seu propósito e se tornar um líder que agora prospecta sobre o futuro.

Talvez uma semente do Executive Program? É provável, já que o CEO da NP Digital é um dos poucos que se aventurou duas vezes no EP da SingularityU Brazil e, em cada uma delas, trouxe algo a mais para pensar em seu trabalho e ainda destaca que: “tenho uma inovação para fazer, mas primeiro é hora dos processos”.

Essa gama de aprendizados você pode acompanhar na entrevista abaixo!

SingularityU Brazil: Rafael, por favor, se apresente!

Rafael Mayrink: Eu sou um eterno inconformado, digamos assim. Um cara que aprendeu a ser uma pessoa muito curiosa, com o passar do tempo.

Comecei minha vida como profissional de comunicação, mas sempre fui fazendo as coisas por eliminação.

Não queria medicina, não queria física, não queria matemática… Sobrou Comunicação, mas não queria RP, nem jornalismo… Então publicidade apareceu.

Minha vida foi seguindo este caminho. Não tive muito acompanhamento na época, então fui tentando do jeito que podia e pensando que tinha que trabalhar e pagar conta. Antes, na minha cabeça, trabalho servia para isso e não existia esse lance de realização pessoal, confesso.

Por conta disso, uma coisa característica da minha vida sempre foi trabalhar para os outros, nunca para mim mesmo. Eu tinha uma certa noção que, trabalhar para si mesmo, não tinha nada de glamoroso, porque implicava trabalhar o tempo inteiro.

Pensava sempre em trabalhar segunda a sexta, aproveitar meus resultados e tudo mais, porque sabia que quem trabalha para si mesmo tem uma vida puxada.

Eu gostava do meu fazer. Gostava também de me esforçar no trabalho, ver as recompensas de que eu estava aprendendo e todos os lugares por onde passei me ajudaram muito. Graças a deus, isso tudo me deixou portas abertas.

Porém, como eu não me sentia tão realizado com o trabalho, não sentia essa completude que todos falavam. Eu separava os momentos entre o trabalho e minha vida pessoal, pensando que deveria realmente ter essa separação.

Mas, em um determinado momento, me deu uma epifania e decidi que não queria mais algumas situações que estava vivendo. Gostaria de entender o que era se realizar profissionalmente, fazer algo que eu acredito e tudo mais.

Comecei essa jornada, que foi um tanto solitária, digamos assim, em 2014. Rapidamente, em 2015, fui para o mundo do marketing digital e hoje estou aqui como CEO da NP Digital.

Então, creio que eu sou uma construção de todos estes acontecimentos.

SU Brazil: Mas foi difícil ou foi algo orgânico?

Rafael: Cara, foi muito difícil. Não vou dizer que foi fácil.

Como eu disse antes, não havia muito acompanhamento.

A história dos meus pais é a história de muitos: eu tinha uma vida tranquila, com um certo privilégio, estive em uma escola boa, educação ótima, estrutura familiar, casa própria e tudo mais. Nunca passei dificuldade, graças a Deus.

Mas, na época do Collor, na década de 90, com as polêmicas de inflação e superinflação, meus pais perderam seus respectivos empregos e ficaram um bom tempo desempregados. Minha mãe correu e se aposentou.

Durante muitos anos vivemos de maneira regrada. Por isso, o trabalho era sinônimo de subsistência, no sentido de praticidade da sobrevivência: pagar conta, não dever e sobreviver da melhor forma possível.

Então, a falta de acompanhamento era um ponto. Se eu tivesse, acredito que teria feito algumas coisas mais rapidamente.

Depois, tem a dificuldade do risco e de calculá-lo. Não há glamour algum nisso. Não tem aquela coisa de ter que ir arriscar e por tudo à prova, “por a cara a tapa”. Não. Isso é um discurso fantasioso. É apelativo. Precisa se preparar, organizar e fazer conta.

A realidade é o que a gente vive: tem conta para pagar, tem aluguel, tem compra, supermercado todo mês… Precisamos pensar nisso e estou dizendo para os privilegiados, não estou nem falando quem precisa fazer mais ainda para sustentar uma família inteira ou está correndo para sair da vulnerabilidade.

Não tem glamour no negócio. Para arriscar, precisa de dinheiro, pagar conta, olhar futuro, se planejar e também entender como se virar quando não dar certo, já com o medo do fracasso de não empreender corretamente.

Então… Sempre vem angústias: E se não der certo? Como estará o mercado? Como dizer que falhei no empreendedorismo e ainda esperar que me contratem?

Tudo isso passa pela nossa cabeça. A insônia passa a tomar um tempo de ti neste momento. São coisas da vida e acontecem com todo mundo. Essa virada para empreender não é simples. Não é da noite para o dia. Precisa de planejamento. Precisa arriscar e, claro, abrir mão de algumas coisas para fazer dar certo.

SU Brazil: Este arriscar foi chegar na NP Digital?

Rafael: Na verdade vem de um pouco antes.

Eu fui tentar me especializar em marketing, na época, porque quando fazia publicidade, eu sentia falta de olhar o todo, olhar estratégia, marketing, vendas, comunicação e tudo mais. Diversas áreas que estão engrenadas.

Na publicidade você trabalha com uma parte da publicação. Por conta de querer enxergar o todo, eu já tinha um certo interesse em trabalhar com marketing em si. Então fui adentrando no caminho do marketing, mas ainda de maneira tradicional: TV e Rádio, por exemplo. Eu estava me especializando, antes de ter estas epifanias da qual falei.

Em uma aula de trade marketing, o professor falou sobre a questão digital e disse que quem seguisse esse caminho no futuro se daria muito bem. Neste momento veio outro ‘estalo mental’, porque eu não sabia nada desta área.

Lembrei de uma pessoa que estudou comigo na faculdade, o Saulo Medeiros. Ao contrário de mim, desde o começo ele queria empreender, gostaria de ter um negócio e uma agência.

Perdemos o contato depois da faculdade. Lembrei dele anos depois e o procurei. Quando o achei novamente, a gente começou a conversar e vi que ele se tornou bem sucedido com uma agência de marketing digital e tinha contas interessantes.

Pedi para ele fazer uma consultoria para me ensinar como fazer isso. Ele topou, em nome do nosso excelente relacionamento na faculdade, porque um já salvou a pele do outro na faculdade. É aquele amigo que podemos contar na faculdade: não tínhamos tempo, porque trabalhávamos, então nos ajudávamos nessa dedicação. Ele foi meu parceiro nessa.

Neste momento, Saulo me falou do Neil Patel. Ele já estudava muito em inglês, porque em português ainda não se oferecia tanto conteúdo de qualidade e rico sobre este assunto.

Ele já encontrava o Neil Patel várias vezes nestas buscas por estudos. Então me colocou como obrigação estudá-lo e disse: “para entender como funciona, você precisa praticar isso. Crie seu site, escolhe o nicho que gosta e trabalhe com tráfego do seu site, gere leads e tente converter em venda”.

Então eu juntei várias coisas que eu gostava ou que estava aprendendo: escolhi o segmento de fotografia, que eu sempre curti ser fotógrafo. Quis fazer um serviço de consultoria de marketing, porque tem muitos profissionais que se perdem em investimento e grana disponíveis.

Eu falo até disso, porque tem muito além da comunicação: é preciso entender o produto, pensar sobre como ele circulará no meio digital, as regiões de atuação, se a precificação atende os objetivos e tudo mais.

Comecei a estudar muito SEO, conteúdo, gerador de leads e fui criando o site. O Saulo me ajudou nisso. Consegui um tráfego muito legal de início e o Saulo comentou que eu deveria conhecer o Patel.

Tinha um evento da Hotmart, em que o Neil Patel viria para o Brasil, como palestrante. Foi uma coincidência incrível. Ele veio até Belo Horizonte, que é a cidade onde moro, no dia 15 de agosto, exatamente no aniversário da minha esposa.

Sua palestra seria no lugar onde íamos comemorar o aniversário dela, no Hotel Ouro Minas. Uma coincidência impressionante.

Além disso, na época, tinha também uma questão monetária. Então resolvi comemorar o aniversário da minha esposa e deixar isso para outro momento. Mas eu estava há poucos metros dele, no mesmo hotel.

Semanas se passaram depois disso e aquilo estava na minha cabeça: “Perdi a oportunidade… Não acredito”. Até que eu decidi mandar um e-mail para ele, porque eu pensava: “Ele precisa estar no Brasil. O conteúdo dele é fenomenal. É um cara fora de série. Sou fã do trabalho dele. Precisamos fazer isso.”

Conversei com Saulo e como a gente mandaria este e-mail. Enviei e no mesmo dia respondeu que não tinha interesse no momento. Agradeceu e deixou as portas abertas para o futuro.

Acabou ali.

Fiquei super frustrado.

Mas, três dias depois, ele me mandou outro e-mail perguntando o quão difícil seria traduzir todo site dele, do inglês para o português. No futuro ele me explicou o que aconteceu, mas ali percebi que tinha ganhado a atenção dele.

Começamos a fazer algumas reuniões. Vários testes foram feitos com a gente, sobre algumas atividades e sempre entregamos em muito alto nível, além do que ele pedia. Passaram-se alguns meses, a gente foi para os Estados Unidos encontrá-lo pessoalmente, para conversar, e foi quando ele decidiu abrir a primeira agência de marketing digital dele, a NP. Então, a fundamos, em 2016. Foi esse o começo da minha história empreendedora.

O Executive Program é uma imersão de 3 dias e meio, nas tecnologias exponenciais que estão moldando o futuro dos negócios. O principal programa da SingularityU Brazil ocorrerá entre os dias 24 a 28 de setembro, no Hotel Almenat Embu das Artes – SP. Garanta sua participação na última turma do ano clicando aqui

SU Brazil: Então foi neste momento que o Rafael se tornou CEO, ao lado do Neil Patel, organizando tudo…

Rafael: Sim… Inclusive, eu entendi o que aconteceu naqueles três dias que fiquei frustrado.

O Neil me disse que entrou em contato com alguém do Google, dizendo que tinha um brasileiro oferecendo um serviço, em um trabalho de tradução para o espanhol, português e expandir a marca dele pelo mundo.

Quando este amigo ficou sabendo que ele declinou a proposta, então respondeu ao Neil Patel que ele “tinha perdido o juízo”, porque “os brasileiros vão fazer todo o trabalho, difundir seu nome por todo o país e não faz sentido nenhum declinar um tipo de proposta como essa”.

Foi neste momento que o Neil Patel se convenceu e me mandou o e-mail.

Neste começo, o grande objetivo era fazer exatamente como trabalhávamos com nossos clientes. Afinal, era uma pessoa pouco conhecida no Brasil, mesmo no universo do marketing digital, porque muita gente não fala inglês.

Então pensávamos o que tínhamos que fazer, como estratégia de SEO, tráfego orgânico, como ranquear palavras, qual o mercado no Brasil, como um CMO, gerente e diretor pensa sobre isso, pesquisa no Google… Foi um trabalho extremamente minucioso e fizemos um planejamento bem intenso.

No começo trabalhamos com a tradução de textos no blog em inglês, depois criamos novos conteúdos específicos para o Brasil. Foi neste momento que eu comecei a ir atrás de tradutores, porque eram nós três apenas.

Foi neste momento que eu arrisquei mesmo: 100% do meu tempo era dedicado para isso. Eu tinha poucas consultorias. Deixei de vender no site, corri para terminar meus projetos, mas sabia que com o Neil daria certo. Eu sentia isso. Não tinha dúvida. Meu corpo dizia que era o momento de me dedicar o máximo que eu pudesse. Eu mesmo traduzi alguns conteúdos, revisava e estava muito próximo do processo.  

Foi legal porque o Neil chegou em um nível de confiança que ele gostaria de traduzir o site todo em um ritmo alucinante. Neste momento, então, a questão se tornou monetária e eu abri o jogo para ele.

O Saulo comentou que precisávamos de dinheiro e, em dois minutos, o Patel mandou todo o financiamento necessário. Percebe? A gente mal tinha se conhecido, mas era esse o nível de confiança. Foi um marco para nós. Ali entendemos o que é quando as pessoas querem fazer acontecer.

Utilizamos esse dinheiro para contratar e cheguei a ter 20 pessoas atuando na parte de tradução e revisão. Depois contratei uma gerente para cuidar de todos estes projetos, que foi a Eduarda Heter, que tinha muita maestria nisso. Começamos então a gerar tráfego, leads qualificados para o site e começou a engrenar.

SU Brazil: Então, no 1º EP que você fez, isso estava consolidado?

Rafael: Sim! A NP estava mais consolidada e o processo estava engrenado.

Essa história inicial que contei se deu de 2014, na minha decisão de mudança. Em 2015, houve o contato com Saulo. Com o Neil se estendeu até 2016, onde efetivamente eu comecei no empreendedorismo.

No EP, em 2020, eu já tinha mais de 150 pessoas, mais de 170 clientes na operação. Era algo bem robusto. O Neil Patel já estava presente em sete países, com agência de marketing digital, acumulando mais de 700 colaboradores no mundo.

Já tínhamos passado por muita coisa. No começo a gente precisa fazer um pouco de tudo, né? Desde comprar um computador, a entender de contabilidade, entender de vendas de design, entender o cliente… Você navega por diferentes áreas.

Para mim isso foi muito bom, porque eu gosto desse dinamismo. Ter negócio é isso: você não vai ser um especialista em tudo, mas ter uma noção de quase tudo. Isso é extremamente importante. Eu já tinha passado por isso: tive lideranças em vários destes departamentos, que me ajudaram a conhecer várias áreas distintas.

Agora, sobre o curso, eu na verdade sempre evitei em entrar em programas tradicionais e vários cursos. Foi apenas uma preferência minha. Eu fiz uma especialização em marketing depois de anos de formado. Eu sempre tive um pé atrás de ficar ouvindo muita coisa teórica e que não iria me ajudar na prática. O crescimento do marketing digital foi muito prático, então não pensava em curso algum.

Foi nesse contexto eu cheguei ao Executive Program da SingularityU Brazil. Não preciso dizer que foi algo completamente diferente, né? A rede era muito distinta, então, os assuntos eram muito complexos, o networking também e tudo era sempre muito novo. A experiência de vida de quem estava palestrando também contava neste ponto, porque agregava além do conteúdo falado e mostrava algumas possibilidades.

Não foi à toa que eu repeti o Executive Program da SingularityU Brazil e eu tenho certeza que farei pela 3ª vez.

Foi neste momento da minha vida que o EP me ajudou com tudo isso. O curso te permite entender as pessoas, as tomadas de decisão, as dúvidas, angústias e como passar a entender o tipo de planejamento que vamos criar. Tanto em São Roque, quanto em Campos do Jordão, os cursos de imersão foram importantes demais para minha trajetória.

SU Brazil: Quais foram as diferenças entre os Executive Programs da SingularityU Brazil?

Rafael: Olha, o que eu achei realmente diferente foram os conteúdos.

Por mais que a linha de raciocínio fosse a mesma, os conteúdos eram muito diferentes, ainda que fossem as mesmas pessoas. A apresentação pode até ser parecida, mas a abordagem era sempre pessoal de cada pessoa e a temática ficava diferente.

O que eu achei interessante foi a diferença: a primeira vez é sempre um impacto muito grande. Quando você entra neste universo de inovação não é uma coisa simples. É difícil sair do processo cotidiano, de continuar melhorando a eficiência, e, ao mesmo tempo, trazer coisas novas. Prestar serviços diferentes exigem um primeiro estranhamento para entrar no fluxo. É complicado. Imagina pensar em disrupção.

Isso me chamou muita atenção. Porque, não é necessariamente no seu trabalho ou no seu ramo. As transformações acontecem em outras escalas e vão afetando onde chegam.

Lá eles falavam sobre a disrupção da geladeira acabar, por exemplo, pois estavam falando sobre os drones que entregam produtos gelados. Então: para que estocar?

Hoje a reação das pessoas é estranhar tudo isso. Mas vários negócios foram disruptados dessa maneira. Não ouvimos ou lemos o que as pessoas pensaram sobre isso no momento.

Na época dos navios, descobertas de temperos e novas frotas de comércio mudaram tudo, imagina o que isso não causou nas pessoas? O gelo tirou o caráter de conservação do sal: quebrou um mercado inteiro consolidado!

O segundo ponto foi entender o que está acontecendo hoje. Pensar em inteligência artificial, entender que a maioria das empresas não estão preparadas para o que está por vir e que podemos utilizar esta tecnologia exponencial ao nosso favor foi algo fantástico.

Podemos inovar no nosso negócio as utilizando e, por que não, disruptar nosso negócio?

Ultima coisa que foi falada, que achei muito interessante, foi: “nós precisamos ser as pessoas que vão matar nosso próprio negócio, porque se um concorrente fizer isso, estamos ‘lascados’. Se matarmos nosso negócio, disruptamos e trabalhamos com algo que faz mais sentido ainda para o consumidor.”

Isso foi algo incrível nas duas edições. Tenho guardado comigo até hoje e sei que chegará a hora de pensar sobre isso.

SU Brazil: Você esperava tudo isso?

Rafael: Olha, minha expectativa era bem alta. Como te falei, eu não fazia qualquer curso. Então, eu já fui com uma expectativa muito alta, pensando sobre tudo isso.

Posso não ser a pessoa mais ocupada do mundo, mas eu estava esperando muita coisa na imersão de três dias. Porque isso impede de se dedicar ao que geralmente fazemos, certo? Para ninguém é fácil abdicar do seu tempo, por três dias, ainda mais hoje em dia. Então, sempre é um desafio para mim. Por isso a expectativa foi alta e esperava que fosse cumprida.

Nas duas vezes minha expectativa sobre o EP sempre foi superada, principalmente pela parte prática do que foi aplicado. Lembro do Lobão aplicar um workshop sobre como trabalhar com a inovação, mostrando alguns caminhos, apresentando um mapa que ele ia ensinando e como trabalhar aquela metodologia… Eu tenho a pasta até hoje.

Algumas coisas eu ainda uso na minha vida e outras eu nem estava preparada para isso na época, mas estão guardadas na gaveta.

Eu pensava primeiro em me segurar nas questões do processo e o que era meu alcance no momento. A inovação era algo muito além. Foi muito positivo trazer tudo isso e a parte prática me ajudou e continua ajudando muito.

SU Brazil: Sua relação com o trabalho mudou? O que mudou?

Rafael: Na verdade, a relação com o trabalho melhorou.

Desde que eu comecei a ver que o trabalho me realizou, é difícil para mim parar. Amo o que eu faço, tenho um enorme prazer no meu trabalho. Meus domingos a noite são maravilhosos. Eu tenho expectativas ótimas para minha segunda-feira e eu a amo!

Mas, no sentido de execução, o que me chamou atenção é que várias áreas diferentes agora estudam o mesmo assunto. Isso me ajudou bastante, porque comecei a pensar sobre.

Havia pessoas de indústria, logística, marketing, educação naquela edição do Executive Program. Então, comecei a pensar que eu deveria melhorar o meu mercado a partir das considerações dele e vice-versa, não? Então… Essa rede, esse networking de pessoas completamente diferentes, me ajudou muito a ter perspectiva e um profissional melhor.

Dali eu sai pensando que deveria entender sobre outros universos. Isso me ajudou muito no dia-dia, principalmente a pensar de uma forma mais abrangente no meu próprio negócio.

SU Brazil: E como alguém pode aproveitar tão bem assim o EP, como você fez?

Rafael: Acredito que uma pessoa pode aproveitar muito bem se preparando antes. Precisa ver o que acontecerá antes de ir e isso será ótimo para você. Digo isso porque não é simples. Não estou dizendo que é para entrar na página do curso e dar uma lida. Não é isso.

Às vezes não temos a compreensão das coisas.

Se abrimos a página do Executive Program, talvez não há ainda o letramento e o que de fato está sendo falando. Precisa entender o que a SingularityU tem para dizer, o que é inovar, ser disruptivo, quem são as pessoas que vão palestrar, entender o tema, onde é prioridade e não… É disso que estou falando.

O segundo ponto é conectar tudo isso com a sua prática. Precisa entender onde trabalha, o que faz, como isso pode ajudar, de que maneira isso me envolve e o que é possível tirar destas aulas incríveis que terei ter e posso aplicar na minha vida, profissional ou não.

Na terceira parte, acredito que depende da pessoa também, mas é preciso se esforçar. É preciso ser curioso e ‘cara-de-pau’: conversar com gente diferente e quem é realmente o seu desconhecido. Sei que tem introspectivos, é normal. Não é preciso ser uma pessoa tão aberta e é difícil que isso aconteça. Mas é necessário se lançar na situação.

Na última vez, eu saí destruído no dia final. Eu era sempre um dos últimos a dormir e aproveitava o máximo com todos ali. Não só para networking, mas eu estava aproveitando com tudo e todo mundo que estava presente.

Precisa sentar, conversar, perguntar, se interessar, estar ali com a outra pessoa e realmente fazer conexão. Questionar o porquê da pessoa ali, entende? Precisamos sair da nossa redoma.

Se você ainda for de uma empresa, que foi em grupo, precisa se misturar com outras pessoas e ver outras perspectivas. Lógico, tudo depende do seu interesse e da sua função ali. Talvez tenham ido com um propósito específico, tudo bem. Mas, se não for o caso, fique longe e sente com uma pessoa que você nunca viu na vida. As oportunidades são infinitas!

Isso para mim foi muito bom e por isso recomendo para os novos integrantes.

Eu mesmo fiz isso. Peguei o e-book e o caderno dos participantes e fui atrás de informação. Às vezes ficava curioso por x ou y pessoa, profissionalmente ou não, mas ia, com proatividade, conhecer realmente essa pessoa. Seja para ajudá-lo, seja para ser ajudado. O benefício sempre existe. É maravilhoso essa conexão e estar neste local com tanto interesse mútuo.

SU Brazil: Você aproveitou bem então?

Rafael: Os Inimigos do Fim sempre aproveitam! Mas todos depois estávamos lá de manhã também.

Volto a dizer, isso é além do profissional. Ninguém faz negócio só pela parte profissional. As conexões pessoais são muito importantes e é ali que faz sentido, entende?

Isso é muito importante e precisa estar claro para as pessoas. Não dá para empreender sem conhecer o outro. Então a gente se envolvia muito.

SU Brazil: Isso é ótimo! E o que você pensava quando o Executive Program acabava?

Rafael: Eu pensava muito no futuro. Não tinha como ser diferente.

Justamente por começar um negócio do zero, sempre estive vivendo o presente e executando. Mais tarde tive um pouco de estratégia, até que começamos a pensar sobre o próximo ano e como planejar tudo isso. Isso foi ótimo.

Até que veio o EP e me colocou para pensar em 5 anos, 10 e até 15. Então eu comecei a pensar muito mais nesse negócio de ‘futuro’, questionando o meu próprio negócio, pensando até naquele “matar o meu negócio”.

Se morrer? O que eu faço? Qual a minha essência? O que eu faço para prestar um bom serviço para os clientes? Se acabar, o que farei amanhã?

Hoje temos algumas lideranças bem experientes e fortes, que vieram do mercado para dar seguimento às execuções. Agora conseguimos parar e discutir sobre futuro e inovação na empresa, por exemplo, quase todo dia de manhã.

Até hoje não estamos na questão de disrupção, por enquanto. Eu ainda não dou conta, mas estou trabalhando na inovação e no futuro, pensando na nossa ciência e já sei o próximo passo.

A gente para muito para discutir sobre essas coisas. Trabalhamos remoto, mas parte da liderança se encontrará em São Paulo para ter este tipo de discussão sobre futuro. O que pensar? Como engajar em cima dessa questão? Foi o EP que me despertou essa ideia de pensar o futuro.

O curso não se encerra e não podemos deixar de encerrá-lo ali. Foi um investimento, não só de dinheiro, mas de tempo. Por isso, precisa aproveitar da forma certa porque isso dá vivacidade para você. Precisa ser prático.

Por isso eu decidi, e o Lobão me ajudou nisso: melhorar o que precisa para hoje, que é o meu produto, os processos que estão estabelecidos, clientes e tudo mais. Hoje eu vou colocar isso em prática. A disrupção está aqui, mas terá o momento dela no futuro.

Chegará o momento em que daremos um passo maior sobre futuro e inovação. Em 2024 eu tenho certeza que isso ocorrerá. Por isso precisamos nos aplicar para isso.

SU Brazil: Então, para quem você indicaria o EP?

Rafael: Com certeza para executiva(o)s, pessoas que estão em uma posição que tenham experiência e consigam dar diretrizes. Passa um filme na nossa cabeça durante a imersão, desde decisões tomadas até o que vamos pensar sobre isso. É necessário ter um histórico para avaliar, pensar, refletir e ver o que é possível fazer.

Além disso, alguém que consiga se envolver na parte prática, porque há uma série de processos de governança. A voz ativa na empresa é principal por isso. O EP te permite pensar muito além de seu setor e ter várias perspectivas do negócio que precisem de tomadas de decisão. Sair da zona de conforto na imersão, pensando em futuro e inovação, é uma grande responsabilidade.

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“O EP permite que você consiga refletir, olhar o futuro e escolher o caminho que quer trilhar”

Saber o que queremos é uma questão extremamente difícil. Além dos nossos desejos, há diferentes atravessamentos produzidos pelo contexto social que nos afeta. Lidar com essas exigências, por vezes, se torna difícil se não nos conectamos com a nossa essência.

Eliminar ruídos, saber se ouvir, ter concentração e saúde para se entender são questões sérias e cada vez mais estamos percebendo a criação de inúmeras mentorias de autoliderança por isso: se tornou uma necessidade no mundo de hoje, por conta de sua escassez e difícil acesso.

Lidar com as pressões sociais não é algo fácil. Tomar decisões é algo que parece talento, mas não se trata apenas disso. É exatamente o que Sergio Maria, hoje VP – Innovation and Digital Transformation da CNN, nos convida a refletir com sua entrevista para o Especial 10 edições de Executive Program da SingularityU Brazil.

Por decisões pensadas e medidas de acordo com seus objetivos, Sergio deixou o Google, em 2018, para cuidar do seu bem mais precioso: sua família.

Depois passando pela Globo e chegando à CNN, o especialista em inovação tecnológica salienta algo mais importante ainda nessa construção de carreira: ouvir quem está ao nosso lado, que quer o nosso bem e nos conhece – em alguns momentos, mais do que nós mesmos.

Com calma e didática, Sergio mostra muita clareza em cada palavra que reverbera neste texto. Além disso, ressalta a importância da tomada de decisão, ao mesmo tempo em que se lança às novas oportunidades de trabalho, que ocorrem em paralelo com seu desejo de vida muito mais próximo e benéfico aos filhos.

Tudo se construindo com a utilização de uma resiliência genuína, que aparece ao nos contar cada passo das decisões difíceis tomadas, “porque é muito melhor lidar com a decisão tomada do que as não-tomadas”.

Neste compartilhamento de questionamentos que os momentos de decisão nos traz – que poucos conseguem ter entendimento-, Sergio nos ensina que a temperança, clareza e compreensão, aliada aos cuidados e princípios, são poderosas estratégias para exercer nossa inteligência e garantir uma vida riquíssima nas mais variadas dimensões da nossa existência.

Esse papo, na íntegra, você acompanha abaixo!

Sergio Maria trabalhou por 12 anos no Google e foi responsável pelas inovações na área de informações e notícias que a plataforma mostrou nos últimos 10 anos.

SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos!

Sergio Maria: Eu sou o Sergio, mas todo mundo me conhece como Sergio Maria. Sou homem branco, privilegiado, pai de três meninos e casado com uma mulher incrível. Me considero uma pessoa feliz!

Se eu pudesse dizer algo que gosto, diria que é olhar e refletir sobre o futuro. Fiz 50 anos no ano passado (2022) e teve uma mudança muito importante na forma de ver a minha vida. Gosto de trabalhar com pessoas e me considero uma pessoa tranquila.

SU Brazil: Qual mudança foi essa aos 50 anos, Sergio?

Sergio: Eu vou fazer uma metáfora aqui e espero que entendam. Aprendi isso na psicologia, na verdade. Quando o Sol está na maior distância da Terra, se chama afélio, depois, quando se aproxima, é dado o nome de periélio. Esse movimento é o que caracteriza o nosso ano, mas é também uma maneira de entender como lidamos com a nossa vida.

De forma bastante superficial, nosso movimento com a nossa essência acontece desta mesma maneira. Até os 40 anos a gente está chegando no afélio, na parte mais longínqua da nossa essência, tal como o sol: sempre tentando olhar para fora, ou seja, produzir, estudar, gerar patrimônio e tudo isso.

Depois, retornamos para próximo de nós mesmos. Após estas conquistas, começamos a olhar para algo mais próximo da gente, a nossa essência: o querer fazer o que gosto, viver feliz e tudo mais. Hoje, acredito eu, que estou nessa fase, aos meus 50 anos.

De fato, essa mudança aconteceu um ano depois do Executive Program da Singularity Brazil. Coincidiu com os pensamentos e com os horizontes de transformação. Acho que o EP teve uma participação grande nesta reflexão, junto com a pandemia também. Eu mudei bastante minha forma de olhar a vida e a minha própria existência neste momento.

SU Brazil: E você está gostando deste momento?

Sergio: Eu estou gostando sim. Estou muito feliz. Muito feliz mesmo. O antigo fundador do Google X fala em um podcast sobre esse momento, que para ele chegou aos 27 anos. Lá ele menciona o quanto foi privilegiado ao ter isso aos 27 anos e poder ter essa mudança de olhar, mesmo em uma empresa que mudou o mundo.

Ultimamente ando percebendo que a vida te dá sinais ao longo do tempo, mas muitas vezes temos dificuldade de enxergá-los, porque nossa atenção está em outras questões. Para mim, o ponto de mudança muito importante foi o trabalho.

Eu sou uma pessoa calma e tranquila, em um geral. Um dia em casa, no final de semana, que jurava estar bem tranquilo, meu segundo filho disse: “Papai, você tá nervoso”.

Eu realmente não achava. Não estava tendo uma reação nervosa, mas o jeito que eu me movimentava mostrou que eu me sentia assim. Achei interessante esse acontecimento por duas coisas: uma criança, de 7 anos, conseguir entender este sentimento, que não é fácil; e foi um recado.

De fato: eu estava fazendo várias coisas e não me sentia satisfeito com a maneira com que tudo foi se construindo. Então, tentei mudar. Estes foram alguns sinais que estou dizendo que devemos sempre estar atento. Quando estamos lá no afélio, no ponto mais distante da nossa essência, fica difícil olhar para tudo isso e nos entender. Por isso é importante prestar atenção e ouvir o que a vida nos mostra.

SU Brazil: Que inteligência emocional do seu filho, não?

Sergio: Sim… O mais engraçado é que ele tem uma facilidade em falar sobre isso. Dos três, ele é o que mais gosta desse assunto e sempre tem ótimos pontos para manifestar sobre estas questões. Ele nos percebe. É algo bem legal.

SU Brazil: Muito bacana! Aproveitando, e como era sua vida antes desse entendimento?

Sergio: Bem, eu tive algumas mudanças na minha vida. Todas as transformações que temos em nossa existência acontecem em pequenos passos e não são abruptas.

Elas ocorrem igual a disrupção: acontecem lentamente e de repente você vê o produto disso. É um “vem acontecendo e está acontecendo”. Para mim, vários sinais foram mostrados até chegar no Executive Program da SingularityU Brazil, onde várias outras questões apareceram para mim.

Antes do EP, eu fiz vários cursos. Fiquei 12 anos no Google e chegou o momento, em 2018, de internacionalizar, afinal, minha cadeira não se comportava mais apenas aqui.

O turbilhão de pensamentos é grande: ir, ficar, entender o que quero, as possibilidades. Estava olhando outras posições na Europa e tudo caminhava: conversei com vários amigos que estavam lá; já havia morado fora quando menor; olhei escolas para meus filhos -; e sondei tudo que você puder imaginar para morar com a família.

Mas, um dia eu sentei para jantar em casa e questionei: por que estamos indo?

Uma pergunta básica: “mas, Por quê?”

Todos tiveram quase a mesma resposta: “Não sei… Apenas estamos indo…”

Depois veio um sonoro: “mas não precisamos ir…”

Foi o primeiro momento que decidimos juntos. Confesso que foi muito difícil.

Lembrei da poesia da Cecília Meirelles “Ou Isto ou Aquilo”, um dos primeiros poemas que li quando menor e ele remetia a este momento, porque é sobre a escolha.

O que acontece com uma escolha? Há sempre uma renúncia. Esta é a parte mais difícil dessa decisão. Muitas vezes a gente pensa na renúncia mais do que na própria escolha e, então, tive que fazer dessa renúncia a própria escolha.

Abri mão de 12 anos no Google. Não se tratava apenas do trabalho, mas tudo que vem com isso, afinal, não era meu desejo sair do país.

Eu já estava com 45 anos. Naquele momento começou a vir todos aquelas questões de etarismo e pensar sobre meu lugar no mercado, onde arrumaria um emprego e tudo mais. Todos os medos passaram na minha cabeça. Mas era o momento correto e certo para deixar a empresa.

No meu plano de família não cabia a internacionalização, ainda que fosse um plano de carreira interessante. Tomamos a decisão e eu saí da empresa. O mais interessante foi a perspectiva que eu criei sobre inteligência fora do Google.

Quando estamos imersos em uma coisa é difícil olhar para fora e entender o que as outras pessoas estão fazendo. Mais complicado ainda é cultivar tudo isso. Quando saí, a primeira coisa que mais me chamou atenção foi ver outras ações riquíssimas e que eu poderia me encaixar tão bem quanto era na empresa.

Por isso fui conhecer outras coisas: estudar, principalmente em conselho administrativo; procurar cursos diferentes; entender mais do universo de fintech.

Pensei mais nessa parte de tecnologia porque eu a adoro e queria estar ligado a algo transformador, então fui explorar a tecnologia em outros mundos. Neste período, eu tive um convite para ir à Globo fazer uma transformação da organização.

O projeto chamava “Uma só Globo”, que tentava aglomerar TV aberta, fechada e streaming. Eu fui fazer o desenho para integrar as áreas de publicidade convergente de todas essas áreas.

Eu fiquei três anos trabalhando por lá. O interessante é que na época, eu fiz o curso de conselheiros e fui indicado para dar uma entrevista ao Financial Times.

Nela eu falei sobre transição de carreira e foi interessante porque nem sempre a gente encontra alguém que está disposto a abrir mão de uma história, principalmente em uma empresa do calibre do Google.

Então eu falei sobre essa situação: a troca, o desafio da Globo no momento e o meu próprio nesta nova jornada. Na minha saída do projeto, eu fui reler os meus objetivos do primeiro dia e estava vendo se era coerente, se não contei tanta projeção mais do que concretude. Não era o caso. Conseguimos montar algo bem legal por lá.

Foi nesse período que meu filho disse que eu estava nervoso. Eu fui para fazer a disrupção: passei um ano construindo o projeto e depois mais um ano implementando. Mas, como todo o processo de instauração, muda muito a vida de várias pessoas. É onde aparecem as barreiras.

Então, na minha reflexão hoje sobre o entendimento que me deixava nervoso, era um pouco esse ponto: eu passava 80% do meu tempo explicando o porquê de fazer os outros 20%.

Isso não torna a situação fluida. As ações se tornam mais complicadas do que já são e é um pedaço do meu trabalho que não me fascina, não colaboro tanto e não ajudo tão bem. Meu negócio é criar e mostrar às pessoas. Toda essa ação vem com um desgaste emocional grande.

Esse trabalho de gerar aliados, engajar os outros, é algo emocionalmente desgastante para mim. Quando você faz isso 80% do seu tempo, por muito tempo… Enfim… Não é para mim. Não era esse o meu desejo. Tive um papo aberto e tranquilo com a organização e disse: minha escolha é não ficar doente, então vamos fazer uma transição.

Foi bem tranquilo este momento. Porque, voltando à situação, eu entreguei ao que me propus a entregar. Fiz uma mudança grande em tecnologia.

Tudo isso aconteceu entre 2019 e 2022.

Antes disso, de 2018 até 2019 foi a transição do Google.

O Executive Program está ali, em 2021, depois da transição do Google e neste processo da Globo. Já um pouco nesse movimento de tentar olhar além da situação, afinal, o EP te dá amplitude. O curso te coloca uma lente para você conseguir ter um olhar diferente em um monte de processos do dia-dia, que normalmente não estamos dando a devida atenção.

Você só vai conseguir ter isso se tirar o constante vício das perspectivas que nosso cérebro cria e isso é muito difícil. Por isso a imersão ajuda: te distancia deste vício perceptivo e permite olhar para outras questões que não estão sendo percebidas.

É algo que é a essência do EP. O Executive Program permite tudo isso: olhar para o futuro; conseguir olhar para dentro de si – no periélio, como estávamos falando sobre as fases que temos em olhar para nós mesmos -; enxergar o passado; pensando no que fazer de diferente; em prospectar caminho que não foram pensados…

Porque nós precisamos decidir as coisas hoje. Será apenas dessa maneira que o futuro se tornará diferente. Precisamos alcançar e beneficiar várias pessoas. Há vários problemas que precisamos enxergar como oportunidades e fazer coisas boas para impactar milhões de pessoas. Alguém precisa se apaixonar por isso e fazer.

O impacto do Executive Program é imenso. Traz outra vivacidade e aprendizado para olhar tudo de outra forma. Quando isso se chocou com a história do meu filho, eu vi que deveria parar com aquela lógica que tinha antes do trabalho.

SU Brazil: Que fantástico! E como você chegou até o Executive Program da SingularityU Brazil?

Eu conheci a Singularity University Brazil pelo Google, na verdade, na Turma 1 do Executive Program, porque a empresa participou da fundação.

Na época, eu conheci alguns amigos e eu sempre fiquei muito curioso para fazer o curso. Mas é aquela história: é difícil parar para fazê-lo, até que chegou o momento.

Confesso que fiquei muito na dúvida se faria o global ou do Brasil. Acho que várias pessoas pensam nisso e acham que o internacional é melhor do que o da aqui.

Mas eu dei o voto de confiança.

Olhei e vi que tinha os professores do mundo todo, mais os brasileiros e estava parecia acoplar as melhores partes do global. Mais tarde, pensei que era a decisão certa principalmente por conta da conexão com a nossa realidade cotidiana. Então, decidi fazer o Executive Program da SingularityU Brazil.

E foi uma ótima decisão.

De fato, foi espetacular. Tiveram algumas questões diferentes relacionadas aos assuntos, mas aprofunda a vivencia e os desafios que a gente tem no Brasil. Isso é ótimo. Além disso, a turma também foi muito boa, com um networking extremamente interessante.

Na minha cabeça, já estava preparado caso não gostasse do Executive Program da SingularityU Brazil: faria outro. Mas eu não me frustrei e não foi necessário.

Muito pelo contrário: a experiência foi muito boa. Fiz muitos amigos, me aproximei de várias pessoas, como o Reynaldo Gama, Guilherme Maciel. Me conectei com vários executivos e consegui achar várias mentes para tocar novos projetos e desenvolver novos pensamentos. Foi muito interessante.

SU Brazil: O que você recomendaria para a pessoa que vai fazer o EP?

Acho que todos que chegam para fazer o Executive Program, chegam de mente aberta. Mas, acho que precisa ser mais…

Precisa ir de coração aberto.

Precisa ir para viver a experiência. Não pode ter medo de se expor, porque quando você faz isso é o momento que você cria vulnerabilidade e oportunidade para o vínculo.

Acho que precisa ter esse coração aberto, para refletir e pensar sobre tudo, então: o que você quer fazer daqui para frente? Independente da idade que tem hoje. O que quer fazer nos próximos anos? O que pensa nos próximos 30, 50 anos? O que você quer deixar para traz?

Acho que esse é um pensamento bacana para te ajudar a aproveitar o EP: Curta o tempo com as outras pessoas, seja coração aberto, porque você vai descobrir medos iguais, desafios iguais, problemas semelhantes…

Acho que a gente cresce muito mais quando há troca e estamos conectado emotivamente, principalmente em volta do que a gente emite. A gente consegue se ajudar nisso. Acho que o despertar funciona assim, entendendo o que nos move de verdade. É o principal pensamento. Talvez até uma pergunta: o que te move?

SU Brazil: Você sempre teve essa capacidade reflexiva e de resiliência, até se preocupando em enxergar o além do que se apresenta?

Para ser sincero, sim… Eu sempre fui assim e extremamente calmo. Sempre pensava, entendia como as coisas poderiam acontecer e de que maneira perseverava.

Na pandemia, quando tínhamos reunião por vídeo, as pessoas até falavam: “Sergio, você é muito calmo. Um caos com três crianças em casa, pulando no sofá e você lida com paciência. Você vira e conversa com eles, sem uma veia saltada e nada. É impressionante”.

Então, eu sempre fui desse jeito. Tem pontos negativos e positivos desse comportamento, mas sempre me ajudaram muito.

Eu sou muito didático, por exemplo. Durante minha trajetória de vida, quando enfrentávamos os problemas complicados, muitos pediam para eu ser o palestrante, porque eu era um dos poucos que conseguia traduzir e trazer aquela complexidade a uma maneira tangível e mais simples.

Isso aconteceu na Globo: quando apresentei para o comitê executivo, que se tornou o conselho, eu mostrei uma visão sobre a publicidade nos próximos cinco anos, contendo onde ir, como ir e o que precisava ser feito.

O feedback foi interessante porque era ambicioso, mas tinha um caminho. Afinal, pensar em ir para a Lua é fácil, mas o que a gente vai fazer amanhã para isso? Precisa de foguete, rota, combustível… São n fatores para que as coisas aconteçam.

Então, parte desse meu jeito ajuda a fazer pequenas coisas, além de descobrir outras ao longo do caminho e seguir um direcionamento melhor.

SU Brazil: Que fantástico! E, nisso tudo, o EP ocorreu um ano antes de você sair da Globo. O que estava maturando em você neste momento?

Isso. Eu sai em junho de 2022.

Sinceramente, tem algo que está na minha cabeça, mas não consegui maturar muito ainda. Mas quero fazer algo com educação. No Executive Program eu lembro que isso ficou me atravessando por muito tempo. Me afetou de verdade ficar pensando nisso.

Lembro de olhar algumas coisas, com o Leandro Mattos. Fiquei pensando sobre a questão do autismo e seus potenciais de altas habilidades. Isso está muito ligado ao que penso, em como detectar isso e ajudar no desenvolvimento.

Ali foi onde criou essa conexão. Pensei muito sobre isso ser muito maior do que parece. Lembro de uma estatística, que deve ter mudado já, mas quando o projeto do Leandro começou, no Sul, identificou quem poderia ter algum grau do espectro autista ou potencial de altas habilidades – prefiro esta palavra do que gênios.

Nessa prospecção, perto de 20% das crianças tinha um potencial de alta habilidade na pré-escola. É um número ridiculamente grande. Imagina o tanto de talento que teríamos com tudo isso, caso desenvolvêssemos todo seu potencial ao longo do tempo?

É possível mudar um país ou até um mundo em pouco tempo. Mas, quando chegam na faculdade, há menos de 1%.

Por que isso?

Bem, ao longo do tempo, a escola foi matando este potencial, porque não foi desenvolvido. Não só a escola: a sociedade como um todo, família… Todo o contexto vai reduzindo a pessoa, achatando sua potencialidade e a realidade vai sendo cruel…

Então, algo que farei ainda é olhar para todo este potencial, entendendo como a gente ajuda a desenvolver estas crianças. A ideia não é criar uma “Escola de Gênios”, porque você segrega mais do que inclui. O principal é entender como você dá oportunidade para que aquela criança, que tem um potencial grandíssimo de fazer algo, não o perca Acho que isso foi algo que sofri na escola, para ser sincero.

Tive um momento de perda de interesse pela escola, no 2º ano do ensino médio, por falta de motivação e de entendimento para ajudar a desenvolver as habilidades que me motivavam a continuar estudando.

Lembro da minha família me questionar: “Por que, Serginho? Como isso?”. Sempre estavam ali por mim, mas eu só tinha perdido o interesse. Não houve algo grandioso, ou uma catástrofe.

Então, é aquela coisa: a gente só se apaixona pelo problema quando estamos próximos. Eu tenho pessoas próximas com esses potenciais e eu quero ajudar no desenvolvimento deles. Os ajudando, eu consigo ajudar outras pessoas.

SU Brazil: E o que você anda pensando sobre o assunto?

Sergio: Eu sinceramente tenho mais dúvidas do que respostas.

Eu tenho uma amiga, chamada Carolina Videira, fundadora da Turma do Jiló, e ela é uma referência de educação inclusiva. Ganhou até alguns projetos na ONU.

Quando eu estava nesse processo, pensando sobre construir algo na educação, eu conheci a Carol. Lembrei de falar sobre esse desperdício de talento que temos no Brasil.

O Leandro Matos fala disso e destaca o quanto conseguiu dinheiro dos Emirados Árabes Unidos para a startup dele, que começou a fazer essa análise. Porque naquele país o principal produto é o petróleo, que vai acabar em 80 anos, então precisa desenvolver ciência. Para isso, precisa de cientistas. É um país de imigrantes, então vão às escolas para descobrir crianças com potencial para que a família crie raiz lá. É muito mais caro você importar um cientista e criar uma base lá. Por isso olham com pessoas mais novas.

Eu tenho certeza que esse é o caminho. Acredito que precisa ser, inclusive. Estes talentos entendem o mundo de forma diferente, pensam de maneira distinta e é preciso dar os estímulos certos, de uma forma que entendam bem e possam se beneficiar disso.

Então, por conta dessa complexidade, a ideia é criar caminhos para estimular e desafiar estas crianças, na tentativa de criar e desenvolver aquela potencial habilidade que tem.

Ao mesmo tempo, precisa pensar quem pagaria por isso e precisa ter um contraponto social. Afinal, é algo caro. Nos Estados Unidos tem uma escola que faz isso e custa U$1000 por mês.

Aqui é diferente, mas a ideia seria que alguém que pudesse pagar acabaria financiando alguém que não tem condição. Essa é a minha ideia macro e eu dividi isso com a Carol na época. Ela achou incrível e ficamos por desenhar nisso.

O momento é de caminhos diferentes, mas, eventualmente, voltaremos a isso, só precisamos de um pouco mais de tempo. A ideia vai amadurecendo, enquanto isso. Está aqui comigo.

No dia a dia o pensamento me pertence. Em algum momento, acho que vai acontecer. O chamado está aí e sempre vai aparecer. Ficará maduro e vou conseguir me dedicar a isso. Acredito também que dá para fazer duas coisas ao mesmo tempo, por que não dá para apenas esperar por tudo isso, né? Se não, não crescemos nunca.

SU Brazil: Enquanto isso vai maturando, você está no IBGC e na CNN, certo?

Sergio: Isso!

Eu fui para o caminho da inovação, de olhar e entender quem podem ser os principais agentes de mudança no futuro. Tento entender como isso afeta nosso cotidiano e como pode criar oportunidades, além de desafios para as empresas.

Dentro do conselho tem muito disso. Precisamos olhar essas administrações de outra maneira, que não seja apenas por olhos da balança financeira. Hoje precisamos de diversidade, mas poucos pensam o futuro.

Um exemplo simples: em um curso do “Thinking For The Future”, pensamos na questão climática. Conversávamos e tocamos no ponto da mudança de 1° da temperatura do planeta, porque isso fará com que mude várias condições de doenças no mundo.

No Brasil, essa conversa ainda não existe, mas nos impactará. Podemos olhar, por exemplo, sobre a questão da febre amarela. Hoje é na Amazônia onde há casos e todos tomam vacina. Com uma mudança de 2,5°C na temperatura terrestre, a febre amarela não vai ocorrer mais na Amazônia. Ela começa a aparecer no sudeste e isso muda completamente a situação do país.

Então, se alguém está montando um hospital, especializado em febre amarela, a Amazônia não é mais o lugar para isso, o que parece óbvio hoje. O lugar correto para ele, no futuro, seria nas zonas entre o sudeste e o norte. Por isso, precisa entender outras questões que nos afetam para tomar decisões e não tomar o caminho errado.

Além disso, fui convidado pela Federação das Industrias de Minas Gerais, para participar de um Comitê de Tecnologia e, por conta de todo o acolhimento e estudo na faculdade, estou os ajudando, devolvendo esse investimento.

A tentativa é aproximar estudantes da indústria mineira. A ideia é criar raízes para as pessoas, mostrando que não precisa sair de Minas Gerais, como eu fiz e várias pessoas fizeram. Dá para ficar, caso alguém queira e terá trabalho e boas condições de vida e estudo.

No IBGC, após alguns cursos, faço parte do comitê de Futuro da Governança. Lá tratamos de olhar para frente e compreender a governança das empresas, com tantas atualizações e transformações. Então, não se trata apenas de conselhos, mas da governança que a empresa estabelece. Afinal, o jeito que trabalhamos e a maneira que a inteligência artificial participa dos nossos processos se transformará.

Para você ter uma noção, existe uma empresa chinesa que tem uma inteligência artificial como CEO. Você pode pensar que é uma startup, mas, na verdade, é uma empresa que fatura bilhões de dólares.

Exatamente isso, a organização nomeou uma inteligência artificial como CEO, então: o que isso muda? O que pensam? Como isso afeta a organização? O que precisam se preparar para lidar com isso? É disso que se trata este comitê.

Ao mesmo tempo, saindo do EP, eu participei de um fundo de investimento que veio para o Brasil. Chama NIU.Ventures, que é Very Early Stages startups, que tem como base a tecnologia. Participo com mentorias e estratégias. Tem funcionado muito bem.

Há 4 meses eu fui para a CNN, para ser consultor de inovação. Estamos nesse desafio de olhar para a indústria de notícia, que é a mesma há tanto tempo, e passa por tantos desafios tentando falar com gerações diferentes.

As versões, o tipo de notícia, as construções diante das polarizações e o jeito que o público se conecta, hoje, é um desafio. É muito bom estar próximo disso.

Afinal, além de tudo, tem um propósito. Notícia é ainda o que mantém democracia no mundo. Então, creio ter um propósito de fazer funcionar e ficarei muito feliz se der tudo certo. O dia que meu filho começar a olhar para a CNN e não achar que algo apenas dos mais velhos, eu vou ter certeza que consegui mudar um pouco o desenho da notícia.

SU Brazil: Em algum destes locais você acha que te ajudará com seu projeto de talentos?

Sergio: Vai. Tenho certeza. De novo, a gente volta sempre à escolha.

Eu acho que um ponto crucial é ter tranquilidade e se preparar para isso, porque quando você coloca o desenho da empresa no papel, fica lindo, em um ano funciona. Mas, a gente sabe que não é assim.

Às vezes, um projeto dura 4 ou 5 anos para começar a dar certo. Então, você precisa preparar sua vida para um horizonte de 5 anos de dedicação. Neste momento, será necessário abrir mão de outras coisas e precisa ter recurso neste momento.

Eu estou me preparando para ter tudo isso. Mais ainda para garantir tranquilidade, para mim e para minha família. Inclusive, todo mundo estará preparado para abraçar isso junto.

Acho que em determinado momento isso vai acontecer e eu vou me dedicar a isso. Se não der certo, eu faço outra coisa novamente. Mas é uma mudança muito grande que exige cuidado e organização.

SU Brazil: O Executive Program te ajudou nessa organização?

Sergio: É uma conjunção de fatores, para ser sincero. Talvez se eu não tivesse feito o EP, isso iria aparecer muito mais tarde. Mas acho que foi um pouco de começar a olhar o cenário e entender os sinais que estavam chegando para mim.

O momento de imersão e as mudanças também nos fazem refletir de forma diferente, afinal, tentei descobrir coisas novas. A transformação provoca tudo isso.

Então, acho que a transição foi muito importante. Me trouxe uma série de questionamentos, medos, anseios e oportunidades, ao mesmo tempo que o EP ajudou a olhar para lugares que não estamos acostumados, abrindo caminhos diferentes.

Acho que foi uma conjunção disso tudo que formou aquele momento de epifania, em que a gente entende quase tudo e nos abre para mais outras questões, mas muito mais norteadas. Não é tão fácil entender quando está tudo ali confuso e ao mesmo tempo te dando estímulos bagunçados.

Para inibir essa confusão e conter o anseio, uma das coisas que eu fiz, nas duas mudanças de Google e de Globo foi anotar o que eu não quero fazer.

Na tendência natural, você volta para o que você quer. Existe uma “conservação” que nem sempre é boa, mas nosso cérebro lida como “segurança”.

E eu mudei: queria entender o que não faria, mesmo que conseguisse fazer. Para as outras coisas eu estou aberto, mas há coisas que eu sabia que voltaria para o mesmo lugar em que eu estava, então não gostaria.

Vou conversar, agradecer, indicar, mas não vou cair na tentação e na ansiedade de ganhar dinheiro, entrando naquele “rolo compressor” do que deve fazer. Eu escrevi o que não ia fazer.

Isso foi muito importante.

Acho que tomei decisões boas, fiz projetos que gostei. Muito do que construí no Google e na Globo, vejo que consegui aplicar e tinham estes “nãos” em certo momento. Percebo o quanto estou construindo na CNN, mesmo com isso. Então, são decisões importantes. Talvez eu não estivesse tão feliz se tivesse aceitado outras coisas, sem reconhecer o que não gostaria de fazer.

Quando tocava o telefone, aquela lista que me norteava. Eu respirava, pensava, ligava para as pessoas, conversava e pensava bastante. Porque existe a tentação, o medo. Ainda mais com família.

Olhar o ambiente, pensar que era menos receita entrando, só deixando o dinheiro ir, porque nada entra… Gera uma ansiedade, claro. Por isso precisa se preparar, organizar. Principalmente porque a economia é diferente.

A parte do “não quero” foi algo extremamente importante, principalmente para me dar clareza e saber o porquê das escolhas. Passei olhar também para outras coisas, em pensar nos outros universos que existiam, entender como poderia chegar a eles e que talvez tudo isso poderá me ajudar lá na frente, pensando no meu propósito e o que eu quero fazer.

SU Brazil: Quais eram os medos nestas duas mudanças?

Sergio: Olha, elas foram bem diferentes uma da outra.

O Google foi quase uma escola para mim. Quando entrei havia 60 pessoas no escritório e, no ano em que saí, já computava mais de mil pessoas na América Latina.

É natural fazer movimentos, então ou mudava de área e ficava aqui mesmo ou eu iria internacionalizar. Nem sempre há outras áreas nestes momentos cruciais e não havia um caminho aqui, por isso a empresa me ofereceu fora do país.

Eu não fui porque não queria que meu filho mais novo crescesse fora do Brasil. Talvez, se fosse 5 anos depois, eu teria aceitado e tivesse feito algo diferente, mas isso não é uma frustração. É apenas uma escolha.

A renúncia é muito grande, mas foi por conta do momento de vida, por olhar de outra maneira e entendendo que aquela situação poderia ser um sacrifício para a família. Não era necessário.

É uma oportunidade? Sempre é. Mas, na balança que colocamos, não cabia. Por isso precisou da conversa. Decidimos não ir, construímos outros caminhos e conversei com os meus filhos sobre isso.

A conversa foi franca, eu disse que entraríamos em um período de “vacas magras”. Primeiro foi uma ‘choradeira’, porque falavam do “pai sair do Google” e tinha essa importância do “pai trabalhar no Google”.

O mais novo entendia um pouco mais e disse: “Vaca grande eu não gosto, é feio. Gosto de vaca magra. Está tudo bem”. Fazendo uma brincadeira com a situação e seguiu bem com isso.

Já o mais velho me perguntou: “O que é um período de vacas magras?”.

Eu falei novamente sobre as escolhas: “O período das vacas magras é aquele que não dá para fazer tudo o que queremos, quando queremos. É um período que temos que fazer escolhas que são importantes, para fazermos mais coisas que são importantes para nós”.

Ele é muito ligado em futebol e disse: “Mas eu vou poder comprar a chuteira do Messi?” e essa foi a dor do momento para ele: aquela chuteira nova, que todos querem.

E eu disse que iria ter, afinal, é para o futebol e é importante. É a escolha dele e vamos fazer. Então respondi: “Olha, não vai ser a última do Messi, mas será outra que vai resolver sua situação”. Isso o tranquilizou.

Quando falamos sobre férias foi exatamente a mesma situação de escolhas. Viajamos para a casa da vovó, uma coisa diferente, que nunca aconteceu e foi maravilhoso. As transições geram essas mudanças que são benéficas para nossos vínculos.

Outro ponto foi a minha maior decisão foi viver muito.

Eu quero viver bastante e não quero ser estatística. Quero viver bem. Essa é um tipo de decisão que precisa tomar antes.

Eu li um livro que se chama “Outlive: The Science and Art of Longevity”, do Peter Attia, que fala sobre a medicina e diz sobre a tomada de decisão para viver muito. Afinal, o que você faz hoje será cobrado no futuro.

A medicina trata para te dar uma sobrevida. Às vezes, com uma qualidade questionável. Eu não quero isso. Por isso, é preciso trabalhar antes para evitar este ponto e a decisão acontece 30-40 anos antes.

Hoje eu tomei essa decisão. Mudei meu estilo de vida, não deixo de fazer nada do que gosto, não há radicalismo, mas eu passo a olhar para as coisas de uma forma diferente.

Recentemente eu passei a usar um marcador glicêmico, porque os picos tem um impacto muito grande nos nosso metabolismo e gera uma série de outras coisas. A gente não sabe como funciona, porque os exames são em jejum, mas e o dia-dia?

Eu comecei a usar para entender que tipo de alimento me dá um pico glicêmico e qual não dá. É muito surpreendente. Para mim, comida japonesa dá um pico glicêmico absurdo, comparado com qualquer outra coisa. Talvez por conta do vinagre, sake, açúcar… Eu não tinha a menor noção. Foi extremamente importante para entender o comportamento do meu próprio corpo…

SU Brazil: Eu também não fazia ideia…

Sergio: Pois é! Eu achava que pizza que me dava um pico glicêmico e eu estava errado. Pizza é tranquilo de comer, mas a comida japonesa… Para mim é assim que acontece e cada corpo age de uma maneira.

Para você talvez será diferente. Porém, o interessante de entender isso e ver que não tem uma média para entendermos que estamos ela. Precisamos nos entender.

No livro diz que deveríamos usar 2 meses para entender como alimentação afeta nossa vida. Eu aprendi muito com isso. Uma noite mal dormida muda completamente seu pico glicêmico no outro dia. Isso me retornou para entender a questão das escolhas e como fazemos ela todo dia.

Tem gente que não gosta desse controle e tudo bem. Eu não quero entrar nesse julgamento. Eu não sou daqueles que dorme na hora exata, tem dias que dormirei mais e outros menos. Eu sei que será diferente, apenas isso. E é bom estudar para entender o que vou comer no outro dia, para piorar ou não essa situação. De novo: faz parte das escolhas.

Futuro se constrói com decisões de hoje. Depois que estamos vivendo o antigo futuro que agora é presente, só podemos tomar novas decisões para daqui 20 anos. Então, é preciso olhar para essas questões e entender suas escolhas.

A saúde foi isso para mim: eu quero viver muito, acompanhar meus filhos por muito tempo e é uma decisão que quero tomar agora. Se eu tomar aos 70, não vai dar certo.

Eu quero tomar essa decisão bem e chegar lá com qualidade de vida. Não precisa daquele sofrimento e nem perda para isso. Quando pensamos antes, ainda podemos escolher o nosso futuro.

SU Brazil: O que você diria para os ‘Sérgios’ de cada mudança, ali no Google e na saída da Globo?

Sergio: Eu acho que pensei tanto e refleti em vários momentos que hoje tenho clareza desses acontecimentos, tal qual como tive na época, mas de uma maneira diferente.

Porém, o que tenho para falar destes momentos é que: a decisão não-tomada é sempre pior do que a decisão tomada, mesmo que as renúncias sejam grande.

Eu acredito muito mesmo nisso.

Acho que todas as grandes e difíceis decisões, que tive ao longo da vida, deram certo, porque fiz o que precisa ser feito: se preparar, se cercar de pessoas do bem. Assim, as coisas, por alguma razão, seja ela qual for, tendem a acontecer. Eu me inclino a acreditar nisso e para mim funcionou. Foi o meu caso.

Adiar uma decisão por muito tempo é mais sofrida do que tomar uma decisão. Viver esse período dos anseios e medos faz parte, mas vão te abrir para pensar coisas diferentes que você não enxergava, simplesmente porque ainda não tinha momentos para enxergar outras perspectivas. Mas, é esse olhar diferente que te abre possibilidades.

Tomar decisão é isso. Pensava na questão de etarismo. Ganhava bem, mas eu sempre pensava em abrir mão disso tudo, por conta da minha família e tudo mais.

Acho que a outra coisa, que eu aprendi depois na segunda vez, é que a gente está pensando no que a gente quer, mas creio ser crucial entender o que a gente não quer.

Às vezes o que a gente não quer é óbvio, mas continuamos fazendo. Então, quando coloquei na minha frente, todo dia, o que eu não gostaria de fazer, foi importante para me ajudar a ter segurança nas tomadas de decisões que me levaram onde estou.

SU Brazil: Um dia você vai contar tudo isso para seus filhos. Você imagina como será essa conversa?

Sergio: Hmm… Pergunta complicada, mas eu diria que converso com eles diariamente. Sobre tudo. Todas as decisões que tomo eu converso com eles. Em casa conversamos sobre absolutamente tudo.

Acho que eles vão entender boa parte dessa história, mas eu penso mais na história que não será dita por mim, mas enxergada por eles no legado que fica. Eles vão viver e perceber isso.

Foi isso que eu falei sobre a Globo. O que se esperava em construir era fantástico e estar ali por 3 ou 5 anos era uma ideia, de deixar um legado. Completei 3 anos e vi que algo sólido ficou. Sempre busco estes olhares.

Muitas vezes quando falamos o que a gente é, é o que gostaríamos de ser e que os outros não enxergam em nós. As pessoas sabem o que somos. Eu acho que essa história, contada por pessoas ou até o enxergado por eles, de forma diferente, acho que vai ter um valor maior e vão entender de fato o que isso significa.

Agora, terão também outra coisa sobre experiência que a gente faz. Afinal, estamos juntos, temos experiência, partilhamos o que cada um gosta, ouve música junto, viaja junto…

Acho que isso tudo faz parte dessa construção. Uma coisa, para mim, que foi minha decisão de mudança, por exemplo, é que eu não tenho problema em trabalhar muito, mas tenho problema em ser escravo do horário.

Então, coisas que eu coloquei nos “nãos”: eu nunca vou mudar a agenda que tenho com os meus filhos por conta de trabalho. Foi uma decisão que tomei com eles.

Muitas vezes pediam entrevista em horários que eu buscava meus filhos da escola, caso não fosse possível mudar, agradecia a oportunidade, mas isso eu não abria mão. Este tipo de ajuste é importante.

É difícil. E muito!

Executar isso é complicado, mas você precisa impor limite no começo, porque se não deixa de funcionar. Se abrir uma exceção, na próxima não terá como dizer “não” e será uma regra. Por isso precisa bloquear a agenda e dizer que não pode. Precisa ter uma razão muito mais relevante para conseguir voltar a isso e que dê para negociar algo tão urgente quanto buscar meu filho.

Às vezes dá para fazer algo. Muitas vezes não. Aniversário do filho, por exemplo, não dá. Se é algo importante para eles, é injusto tirar isso de todos que estão próximos. Então, acho que é essa a importância do não.

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“Naquele momento de incertezas foi a carta do EP que me motivou a continuar”

Fortuna é um termo peculiar que mudou nos últimos séculos. Graças ao atrelamento com a produção industrial, fortuna passou a ser lida como uma conquista monetária no plano terreno.

Nem sempre foi assim. O primeiro registro de fortuna recuperamos com o sentido de “bons ventos”, que na mitologia grega era reconhecido como uma sorte do acaso, por conta das boas distribuições de sua vida em qualidade, coordenação, bens materiais e saúde.

Quase no fim de sua vida, Boécio, no século VI, antes de ser executado, o filósofo reflete sobre o que realmente atraía os bons ventos de sorte e, mesmo fatos inexplicáveis, só podiam encontrar seus correspondentes e atuar na vida de alguém de acordo com as escolhas que cada indivíduo fazia.

Com Maquiavel, no século XV, houve uma compreensão além das escolhas. Com o príncipe italiano, reconhecemos que algo fortuito (fruto do acaso) aparece de acordo com a fortuna de alguém e esta estava atrelada aos meandros comportamentais.

Mas o que é o comportamento se não o modo de vida que escolhemos e estamos em condições de produzir? E é neste ponto que a fortuna do renascimento compete ao entendimento da virtude de um ser humano, dependendo de suas escolhas morais.

Mais tarde encontraríamos essa fortuna em Espinoza, no século XVI, como algo ético, além das escolhas morais. Por que, afinal, o que adianta a moralidade se não estiver atrelada ao impacto positivo do coletivo?

Retornar a estas compreensões de uma palavra nos fazem refletir sobre o que estamos criando como sociedade. É por esta razão que no especial de 10 edições do Executive Program da SingularityU Brazil trouxemos a entrevista com Renan Lima Alves, Fundador e CEO da Boost Mission Critical Engineering.

Com extrema didática, afeto e compreensão das diferentes camadas necessárias para alimentar a nossa alma, Renan traz perspectivas singulares sobre como o EP 2 foi propulsor em sua vida e que cada vez mais procura criar seu “barco a vela”, ao mesmo tempo em que torna as águas ao redor calmas para quem está próximo de sua existência.

A entrevista, na íntegra, você acompanha abaixo.

Renan Lima participou do 2º EP, o primeiro pós-pandemia. Fundador da Boost, atua na empresa como CEO, ao lado de dois amigos, que também estão na empreitada de construir um ambiente com propósito e afortunado, com relação às virtudes morais e éticas.
Renan Lima Alves participou do 2º EP, o primeiro pós-pandemia. Fundador da Boost, atua na empresa como CEO, ao lado de dois amigos, que também estão na empreitada de construir um ambiente com propósito e afortunado, com relação às virtudes morais e éticas.

SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos os leitores.

Renan Lima Alves: Eu sou Renan Lima Alves. Sou gaúcho, moro em São Paulo há 12 anos. Sou pai da Helena, Isadora e do Rodrigo. Sou marido da Juliana. Estas são as coisas mais importantes na minha vida.

Eu construo data centers. Faço isso há mais de 15 anos, ou seja, eu participo da criação da nuvem brasileira de dados, em termos de infraestrutura.

O que seria isso: eu construo armazéns gigantes cheios de computadores poderosos. Esses computadores guardam informações importantes das maiores empresas de tecnologia do mundo. Inclusive, depois do
Executive Program da SingularityU Brazil, decidi montar minha própria empresa de construção de data centers.

O nome dela é Boost Mission Critical Engineering. O objetivo dela é projetar e construir toda infraestrutura elétrica, mecânica e civil de data centers, para que as maiores empresas de TI do mundo consigam hospedar seus servidores e aplicações que armazenam a nuvem brasileira, sites e aplicativos do nosso celular.

SU Brazil: Então, como que o EP chegou até você?

Renan: Eu fiz a segunda edição e eu cheguei por conta do Reynaldo Gama. Sou amigo dele desde que fizemos um MBA juntos. Criamos uma amizade muito grande.

Quando ele trouxe o EP para o Brasil, eu já tinha vontade de fazer um curso dessa maneira e estava procurando algumas coisas na SingularityU, de San Francisco. Mas não tive a oportunidade de fazer.

Quando o primeiro Executive Program aconteceu em Bento Gonçalves, eu só escutei coisas boas, vi vídeos e fotos e comecei a ficar entusiasmado por todo o evento.

Fiquei com muita vontade de fazer, mas logo apareceu a pandemia… E colocou um banho-maria em todo o projeto que iria sair de imediato, né? Acredito que tudo no Brasil passou por isso…

Depois daquele momento difícil, a SU conseguiu fazer um evento protegido, que fornecesse a imersão de maneira completa. O segundo EP aconteceu em São Paulo e foi espetacular como todo o protocolo e cuidado possível.

Afinal, eu estava preocupado com isso. Foi algo extremamente importante para mim e eu estava tomando todo o cuidado. E tudo foi fantástico. Eu até penso em fazer de novo.

Então você tinha expectativa sobre o EP?

Para ser sincero, eu queria muito fazer, mas não tinha muita expectativa. Eu achava que seria um evento voltado para tecnologia e inovação, pensava que iria entender o que estava acontecendo no mundo, me atualizar, entender realidade virtual, alguma transformação digital… Coisas deste tipo, mais técnicas de inovação, do que um evento como foi.

O Executive Program da SingularityU Brazil é um evento que é muito maior do que isso: passa por várias questões culturais, principalmente sobre o pensamento. Não se trata apenas da exponencialidade, mas também do momento em que estamos. Entender nosso papel como indivíduos e a maneira como o desempenhamos dentro da sociedade é importante para compreender nossa movimentação nessa engrenagem.

Muito destes questionamentos já faziam parte de mim e calhou de ser consonante com o que eu pensava. Cada palestra ecoava de uma maneira diferente em mim

SU Brazil: Mas o que eram essas coisas que você pensava?

Renan: No livro Sapiens, do Yuval Noah Harari, tem uma parte que fala sobre “sucesso”. Segundo o autor, na biologia, sucesso se trata de replicar o DNA e o livro passa a discutir sobre este modo de pensar o sucesso.

Nesse sentido, Yuval destaca sobre que falam de nós, seres humanos, na atuação em domesticar o trigo… Mas, ele mesmo pontua: será que não foi o próprio trigo que nos domesticou?

A partir disso ele começa a entrar em um dilema mais profundo, dizendo como a nossa sobrevivência se baseava em produzir trigo e sempre tentar maximizar essa produção.

Enquanto isso, a sociedade coletora (aqueles que iam à caça) matavam grandes animais e continuavam neste trabalho, mas tinha uma coleta grande. Não precisavam continuar caçando o tempo inteiro. Se dedicavam à outras questões, de cultura e lazer, por exemplo.

Com o cultivo, o homem começou a ficar preso à terra. Quando tinham batalhas, as pessoas começaram a morrer, mesmo com um boom populacional, a subsistência ficava presa à terra. Era necessário se assegurar e ter essa segurança que o trigo proporcionou.

Por isso o autor fala das réplicas de DNA. Além disso, ele faz também uma comparação com o último rinoceronte branco, que morreu na África e entrou em extinção, onde viveu uma vida completamente solto e livre, natural, mas, em termos biológicos, morreu.

Enquanto isso, a galinha, que vive 38 dias dentro de uma gaiola na produção industrial, mas tem seu DNA replicado em bilhões ou até trilhões no mundo. Ela nunca entrará em extinção. Biologicamente isso parece um sucesso, mas será que é mesmo?

Por isso, Harari continua discutindo esta questão, trazendo até comparações com as empresas, questionando se este sucesso no mundo corporativo é apenas riqueza e continuar produzindo sucessos financeiros para acionistas e até tentando entender o porquê de não termos, como um método de riqueza e sucesso corporativo, o bem que ela desempenha na sociedade, qual a qualidade de vida que tem os colaboradores, até o que ela beneficia à sociedade.

O que está mudando com o ESG é a criação de outras métricas de sucesso, ao invés de ter como único objetivo a maximização dos resultados financeiros.

Nesse sentido, de que adianta uma empresa que vai enriquecer, mas seus funcionários sofrem de ansiedade e uma série de outras questões maléficas para a saúde dos funcionários? Se o turnover é alto e seus funcionários não são felizes? Se os fornecedores são explorados, sem propósito claro ou vontade de desenvolver?

Então… No final das contas, é o que David Roberts fala em seu último dia de Executive Program. Ele traz essa questão sobre “colocar mais dinheiro no seu bolso” e se isso realmente vai mudar tanto assim na sua vida, já que alcançamos um nível executivo diferente.

O mais legal (e vou dar um spoiler aqui) é quando ele propõe a refletir e projetar de forma objetiva: o que conseguimos fazer em nossos negócios para impactar a sociedade diretamente?

Estes foram os pontos que mais me inspiraram para mudança de vida, pois requerem mudança radical de mindset, e para isso é preciso uma transformação completa na cultura corporativa, ou começar uma cultura do zero.

Então, tudo isso já estava crescendo comigo e dentro de mim. Com o Executive Program, tudo isso teve momento e caminho para se tornar mais tangível e gritante. Foi o que me ajudou a tomar as decisões mais fundamentais da minha vida.

SU Brazil: Você diria que este incômodo e angústia que te proporcionou o que vive hoje?

Renan: Na verdade, eu fui inspirado e não angustiado. Enquanto eu fazia estas reflexões, que me deixava angustiado, várias questões foram trazidas para dar soluções à estas coisas.

Aqueles exercícios sobre os “problemas do mundo”, de maneira prática e reflexiva, foram trazendo claridade para outras coisas.

Quando você lida com questões sobre nossa capacidade de gerar impacto social, você se dá conta que aquilo não está tão longe e passa a questionar o seu papel na sociedade. Por isso eu saí bem inspirado, para ser bem sincero.

SU Brazil: E, com tudo isso, como sua vida se transformou após o Executive Program?

Renan: Foi um processo de muito amadurecimento. Depois de 1 ano do EP da SingularityU Brazil, eu decidi sair da empresa que eu estava.

Entrei nela para estabelecer um processo de profissionalização, porque era uma empresa familiar. O projeto já estava delineado, com um fim, porém, ao longo do tempo, fui percebendo que ela não tinha os mesmos valores do propósito que eu estava buscando, que era lidar com o papel social, tentar sempre impactar melhor as pessoas a nossa volta, tentando mudar a sociedade.

A pandemia foi mostrando algumas coisas e meu desejo era fazer algo diferente do que estava acontecendo. Eu saí para o nada, para ser bem sincero, sem nenhuma ideia do que iria fazer. Sou CEO desde os 27 anos de idade. Hoje tenho 38. Na vida corporativa, sempre é uma questão procurar crescer mais, com um objetivo maior.

Isso torna difícil parar para pensar se vamos continuar nesta estrada, ou seguir em outro ritmo, entendendo o que queremos fazer. Com o nascimento do terceiro filho, no dia 02 de outubro de 2021, eu antecipei minha demissão no dia 30 de setembro.

Mais tarde vieram várias oportunidades no mercado (graças a Deus), mas trouxeram essa reflexão sobre o que eu quero fazer. Todas as vezes que pensava sobre valores e cultura, eu pensava nessa autonomia em fazer uma cultura condizente com o que eu acredito, assumir projetos que eu gostaria, desde a forma até a implementação, cadeia de suprimentos… São poucos os projetos que te permitem tudo isso.

E, por mais tentadora que as oportunidades fossem, esse desejo e pulsão estavam latentes no meu coração e empreender era a forma de realizar isso tudo.

Então eu chamei duas pessoas para esta empreitada, que foram dois braços direitos que já tive na minha vida, em empresas diferentes no qual eu trabalhei.

São amigos que tem os mesmos valores que os meus. Sabia que juntos conseguiríamos montar um projeto, um sonho, que inicialmente não fazíamos ideia do que poderia ser.

Então maturamos nossa ideia, seguimos no mercado de projeto e construção de data centers, só que com o viés diferente.

Não quero julgar os outros, mas falar de nós: somos extremamente rigorosos nos quesitos de governança, ética, transparência e profissionalismo. Nosso foco são exclusivamente empresas que são muito profissionais e querem crescer de forma muito técnica, profissional e transparente.

Viemos para dar este BOOST para as empresas de data centers e acompanhar este desenvolvimento de toda a infraestrutura de missão crítica, ao mesmo tempo em que utilizamos tudo isso para formar profissionais de alto valor agregado dentro de uma cultura organizacional sadia.

E como as empresas que comungam dos mesmos valores e reconhecem valor do ESG muitas vezes são também são empresas muito grandes ou que crescem muito rápido. E assim, crescendo e investindo no Brasil, pagando bons salários, formando bons profissionais, com atitudes corretas em um ambiente de trabalho saudável conseguimos mudar um pouco da sociedade à nossa volta.

Inclusive, isso também tem sido feito junto com a fundação da ABDC – Associação Brasileira de Data Centers, que foi criada durante a pandemia, ao mesmo tempo que eu fazia o Executive Program. Eu e outros executivos desse mercado que também tem este chamado para ajudar o desenvolvimento social a criamos. Nossa intenção é democratizar e doar nosso conhecimento e know-how específico para a sociedade através de cursos profissionalizantes, e assim capacitar profissionais para que consigam aumentar sua renda, que também é uma maneira de causar um impacto positivo no país.

Na questão organizacional tudo começa se você pensar que cada família tem três a cinco pessoas. Quando você consegue fazer um ambiente de trabalho onde os valores e virtudes estão na estrutura familiar e bem-estar pessoal (mental, físico e emocional), essa pessoa se realiza muito mais.

Os colaboradores serão pais melhores, mães, irmãos, companheiros e até amigos melhores. Isso transforma a sociedade aos poucos. Para nós, isso foi muito importante porque nos dá orgulho.

Quando você estrutura essa cultura desde o início, colocando estes princípios e valores em primeiro lugar – a ética, princípios, virtudes e questões de pilares sociais acima do lucro – há uma fluidez em todas as esferas da vidas das pessoas.

SU Brazil: Mas como foi esse processo? Houve algum problema nessa construção?

Renan: Na verdade, acho que é preciso entender essa questão como cultura, porque é difícil você julgar o outro, por não dar a mesma importância que nós em determinada questão. Nós temos que ter empatia
suficiente para não julgar o outro e dizer quem é melhor ou não.

É uma questão cultural, dentro do que os meus valores e princípios estão alinhados. Houve pessoas que não estavam na mesma página, há pessoas que pensam diferente, mas somos uma alternativa, fazemos diferente, temos estas questões enraizadas.

Eu fico muito feliz quando as pessoas me procuram por uma questão de ética acima de tudo: sobre governança, transparência, assuntos sobre anti-corrupção, ambientes de trabalho saudável.

Essas questões acabam aderindo muitos clientes e, às vezes, os indivíduos e as corporações estão alinhados com esses valores e virtudes. Eu não tive embates no decorrer do tempo sobre isso, mas tive pessoas que ficaram desgostosas com a concorrência e se sentiram ameaçadas. Nunca foi esse o intuito.

SU Brazil: Essa questão ética e moral sempre esteve com você?

Renan: Sinceramente, foi tudo um processo.

Normalmente a gente começa a carreira e vai se lançando às oportunidades da vida. Eu tive oportunidades que apareceram na minha vida muito cedo e foi muito bom.

Pude fazer a startup de uma empresa no Brasil e ela teve um grande sucesso, onde assumimos a América Latina e me tornei CEO das Américas.

Neste período, eu tinha visto para morar nos Estados Unidos, escritório, casa e tudo no país. Minha família ficava aqui, no Brasil. Eram 3 semanas viajando e uma em casa.

Confesso que foi um momento difícil. Em um jantar que tive com um concorrente, na verdade, falei sobre isso e foi extremamente curioso. Eu estava sofrendo pelas viagens e ele trouxe uma perspectiva da gente “dar nome aos bois”.

Porque, neste jantar, eu falei: “A gente faz isso pela família, né? 3 semanas viajando… Minha esposa em casa… A gente desbravando o mundo, fazendo tudo isso, para que nossa família tenha uma melhor vida. Por isso estamos fazendo isso”.

Então esse executivo falou para mim: “Nunca mais repita isso. Você está fazendo isso por ti mesmo. Você está querendo ser CEO das Américas porque você quer, não é o que seus filhos querem. Se você perguntar para os seus filhos, eles diriam que quer o pai em casa.”

Foi nesse momento que ele abriu o jogo e disse que estava tentando retomar a relação com os filhos pelos netos, porque ele também foi um executivo internacional, tinha tempo de viagens muito longos e mal conseguia combinar a família e o trabalho.

Nessa situação eu comecei a me dar conta e ouvir outras histórias parecidas, sobre os laços de relacionamento interpessoal familiar em que os pais se ausentam muito e, depois, com os netos, tentam se aproximar dos filhos, perto da aposentadoria, quando o volume de trabalho muda. Daí se “lembram” da família.

Volto a dizer: o trabalho é muito importante. Porém, precisamos dar conta da maneira como ele está sendo realizado e como podemos aliar todas as outras esferas da nossa vida.

Outro ponto, graças a experiência internacional, foi perceber que o Brasil é muito fod@ e fora de série. A gente trabalha, veste a camisa e produz de um jeito muito diferente.

É super emocionante e uma grande honra ser um executivo brasileiro que assumiu um importante cargo de liderança internacional. Mas morando aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora.

Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida para minha família muito boa. Seria possível balancear inclusive vida profissional e familiar. Mas, aqui eu consigo atingir muito
mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.

Só assim podemos atrair investimentos estrangeiros nessa cadeia de data center, como Google, Oracle, Netflix, Microsoft, que são empresas muito grande, que, quanto mais profissional o mercado for, mais será mudada a situação do país.

Aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora. Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida da minha família muito boa, caso fossem comigo. Seria possível balancear tudo isso. Mas, aqui eu consigo atingir muito mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.

Quando quero deixar um legado, e o Executive Program fala muito sobre isso, é neste ponto que eu falo. Vou te dizer mais: o cargo que você tem, o quanto de dinheiro que acumulou e as viagens, são questões triviais. Mas, quando você chega e percebe: nossa, se não fosse pelo meu trabalho, essa quantidade de empregos não existiria; se não fosse pelo meu trabalho, ele não seria um bom pai e inspirado…

A gente diminui isso em certos momentos, mas isso é super importante, porque o colaborador chega e se torna uma melhor pessoa, chega feliz para trabalhar e pertence ao ambiente.

Ele sente que está mudando a sociedade e causando um impacto positivo onde pode. Além disso, se sente valorizado no trabalho. Tudo isso é importante. E o filho, a esposa e quem está próximo dele, se beneficia de tudo isso, porque se torna uma pessoa harmoniosa, com chances muito menores de se envolver em problemas.

É uma questão fantástica.

Sou apaixonado com a estrutura de data center. Estou neste setor há anos, sempre me tratou bem e merece um carinho especial, como o brasileiro sabe dar. Então aliar estas duas pontas é fantástico para mim.

Renan conta que a pandemia também foi um momento extremamente crucial para entender como gostaria de criar uma cultura, que fosse mais positiva aos colaboradores, em seus trabalhos.

SU Brazil: Você trouxe muitas coisas que foram elaboradas e condiziam com o EP. Mas, você acha que deveria ter feito de diferente hoje naquele Executive Program?

Renan: Eu sinceramente acho que deveria fazer de novo. Foi muito bacana. O que me faltou mais foi o contato com as pessoas que fizeram o EP.

Eu saí com toda a inspiração, saí com vários amigos, foi muito legal, mas não tive contato com eles depois. Por exemplo, o Reynaldo Gama foi meu colega de MBA e conseguimos manter contato. É um amigo espetacular para mim, um dos melhores que eu tenho, nos acompanhamos, estamos juntos, somos amigos pessoais.

No EP eu tive empatia com várias pessoas, amizades e tudo mais, mas não teve mais nenhuma reunião. Por isso, acho que, se fosse para fazer diferente, eu teria me conectado mais com pessoas que estavam atreladas a mesma energia que eu tinha e até os mesmos valores.

É difícil ter estas questões que vão na contramão do mercado e isso seria muito importante. Falo novamente: falamos de cultura, não como diferencial competitivo, mas como modo de vida. Isso é difícil, porque precisa de tempo.

Nosso diferencial como empresa é a questão técnica, profissionalização e uso de tecnologias diferenciadas. Mas, estas questões culturais que nos norteiam são outras questões difíceis, porque você precisa deixar de seguir alguns caminhos, que normalmente são mais fáceis, para lidar com o seu propósito.

Existem vários caminhos que são mais fáceis, mas entra na questão ética e moral. Quando você está com um time de outros executivos, que estão neste mesmo desafio, com este mesmo pensamento no dia-dia, aquilo te retroalimenta. Você aprende com o exemplo do outro e você acaba evoluindo.

Acho que isso que eu faria diferente, caso fizesse o EP de novo.

SU Brazil: O que você diria para quem gostaria de fazer o Executive Program da SingularityU Brazil?

Renan: Eu diria para ir sem expectativas. Se entrega. Cancela reunião, cancela tudo, avisa todo mundo que está indo lá e esquece. Se conseguir deixar o celular de lado melhor, ou use só para tirar foto, como fiz. Porque acho que é uma questão de entrega.

É um tempo único ali e pode se tornar muito profundo caso você dê atenção a ele. É importante essa reflexão. Vou dizer que foi fundamental ver tudo isso que a gente está falando de tecnologias exponenciais e depois ver isso acontecer.

Em um determinado momento a gente faz uma carta para nós mesmos, né? Um ano depois, eu decidi pedir demissão. Eu saí da empresa e tudo mais. Várias oportunidades surgiram, mas até entender o que de fato você quer fazer é muito difícil.

Como eu te falei, eu me reservei para trocar e, quando comecei o meu negócio, me questionei se não deveria voltar para o mundo executivo, afinal, é uma vida mais fácil e garantida.

Eu pensava: “sou pai de família. Será que é isso mesmo? Não é loucura? E agora?”. Comecei a ter muitos questionamentos. Mas, em um determinado momento, eu tive uma semana muito difícil, com todas essas questões na minha mente e aquele momento que todo mundo já passou na vida.

Naquele momento desamparado, eu recebi uma carta de mim mesmo, que escrevi naquele momento do Executive Program, quando eu decidi tomar essas decisões na minha vida.

A carta foi algo extremamente importante para mim. Ela me deu forças e me fez persistir, mesmo naqueles momentos de dúvidas e questionamentos. Foi algo incrível.

Lá eu me motivava, me entendia e abraçava a empreitada. Nela eu dizia:

“Cara, eu sei que você vai ter dificuldade, mas persiste. Vai ser difícil, mas persiste. Vale a pena”.

Foi uma questão muito incrível. Eu só consegui ter este momento porque eu baixei a guarda completamente. Eu fiz amizades, conversei com todo mundo que eu podia conversar, conversei com quem estava expondo, professores, conversei com todos. Precisa se deixar permitir naquele momento de imersão que é o EP.

Inclusive, não é apenas um evento corporativo para aprender e aplicar na sua empresa. É uma questão para nós mesmos. Nós não estamos indo para aprender alguma ferramenta de trabalho. Existe algumas coisas que aprendemos de disrupção e tudo mais, mas é uma questão de reflexão profunda, do encontro do indivíduo consigo mesmo.

Isso para mim foi uma questão muito bacana. Então, vou dizer para as pessoas cancelarem suas reuniões, deixar as coisas um pouco de lado, mesmo quem tem filho, como eu. Bloqueie as reuniões ao máximo e se entregue no evento.

SU Brazil: O que o Renan falaria para aquele Renan que estava escrevendo a carta?

Renan: “Até agora a gente conseguiu, ein? Até agora deu certo.”

Tudo que consegui e me propus a fazer deu certo. Então eu diria para ele que estou muito orgulhoso do caminho e das decisões difíceis que ele tomou.

Foi muito difícil abrir mão de um belo de um salário e uma posição estável, com o terceiro filho que estava para nascer. Você, Renan do passado, se propor a fazer algo diferente, em prol de uma paixão e vontade de fazer algo novo, se propor algo diferente do que o caminho convencional, foi algo incrível.

Vou dizer que foi incrivelmente espetacular. A gente foi abençoado por Deus, porque, neste um ano de empresa – sim, somos novos – a gente já fechou contratos milionários.

A empresa já está construindo grandes data centers em São Paulo, participando de projetos gigantes e de pessoas que acreditam na nossa história. Elas já nos conheciam e essa questão da reputação pessoal foi muito importante, mas muitas querem trabalhar com a gente por isso.

Agora precisamos crescer para contratar mais pessoas, porque se identificam com esses valores e virtudes que estávamos pensando na época.

Então, eu me orgulho demais das decisões que eu tomei durante o EP. Eu não me arrependo de nada, mas também preciso reconhecer que foram questões muito difíceis.

Acho que é igual treinarmos para uma maratona.

É super legal termina-la, mas ela só vem com esforço. A gente se orgulha demais pelo caminho percorrido e isso é o mais importante. Eu faria tudo isso de novo 100% das vezes se eu voltasse para o passado. Eu repetiria o mesmo caminho sempre, em todas as escolhas.

Por isso, muito obrigado por ser corajoso.

SU Brazil: E agora? O que o Renan pensa de si para o futuro?

Renan: É difícil responder isso, acredite. Quando decidi empreender, foi algo diferente para mim e foi a partir de uma decisão minha. Projetos tem início, meio e fim, troca de países, procurar empresas maiores e tentar progredir.

Mas, em um determinado momento da minha carreira, tive um chefe holandês e estávamos velejando que me ensinou muito. Eu era mais novo, creio que tinha 26 anos.

Eu perguntei para ele: “por que você não compra um barco a motor? Por que velejar?”

Ele me questionou o porquê da pergunta e eu disse: “Assim você vai chegar mais rápido nos lugares”.

Então ele me respondeu: “Você está enganado. Quando eu cheguei no meu barco a vela, eu cheguei onde eu queria.”

Este chefe holandês ficou falando apenas sobre o barco e continuou nessa, mas aquilo me acertou em cheio. Fiquei remoendo por anos. Quando decidi empreender, isso voltou para mim.

O que muda na minha empresa é que eu não quero um barco motor. Eu não quero pensar onde estarei daqui 10 ou 5 anos. Eu quero chegar na segunda-feira e ficar feliz com o ambiente de trabalho que eu estou. Eu quero chegar no meu barco e velejar.

Aquele chefe ainda continuou me dizendo: “Se eu não sair da marina, ficar aqui limpando ele e tomando vinho, eu vou ficar feliz”. E é isso que eu quero: que as pessoas fiquem felizes em trabalhar na segunda-feira e que tenha uma quantidade de pessoas e vidas que eu tenha conseguido mudar nos últimos anos.

Não falo só de felicidade por objetivo, mas que elas sintam o propósito da felicidade, que seja uma realização este trabalho diário, nesta questão que é fantástica de viver o cotidiano, o hoje, sem ficar com essa cabeça de ansiedade no futuro.

Então, eu vou dizer: eu não sei responder sua pergunta, porque o que eu estou montando é o meu barco a vela.