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“O EP permite que você consiga refletir, olhar o futuro e escolher o caminho que quer trilhar”

Saber o que queremos é uma questão extremamente difícil. Além dos nossos desejos, há diferentes atravessamentos produzidos pelo contexto social que nos afeta. Lidar com essas exigências, por vezes, se torna difícil se não nos conectamos com a nossa essência.

Eliminar ruídos, saber se ouvir, ter concentração e saúde para se entender são questões sérias e cada vez mais estamos percebendo a criação de inúmeras mentorias de autoliderança por isso: se tornou uma necessidade no mundo de hoje, por conta de sua escassez e difícil acesso.

Lidar com as pressões sociais não é algo fácil. Tomar decisões é algo que parece talento, mas não se trata apenas disso. É exatamente o que Sergio Maria, hoje VP – Innovation and Digital Transformation da CNN, nos convida a refletir com sua entrevista para o Especial 10 edições de Executive Program da SingularityU Brazil.

Por decisões pensadas e medidas de acordo com seus objetivos, Sergio deixou o Google, em 2018, para cuidar do seu bem mais precioso: sua família.

Depois passando pela Globo e chegando à CNN, o especialista em inovação tecnológica salienta algo mais importante ainda nessa construção de carreira: ouvir quem está ao nosso lado, que quer o nosso bem e nos conhece – em alguns momentos, mais do que nós mesmos.

Com calma e didática, Sergio mostra muita clareza em cada palavra que reverbera neste texto. Além disso, ressalta a importância da tomada de decisão, ao mesmo tempo em que se lança às novas oportunidades de trabalho, que ocorrem em paralelo com seu desejo de vida muito mais próximo e benéfico aos filhos.

Tudo se construindo com a utilização de uma resiliência genuína, que aparece ao nos contar cada passo das decisões difíceis tomadas, “porque é muito melhor lidar com a decisão tomada do que as não-tomadas”.

Neste compartilhamento de questionamentos que os momentos de decisão nos traz – que poucos conseguem ter entendimento-, Sergio nos ensina que a temperança, clareza e compreensão, aliada aos cuidados e princípios, são poderosas estratégias para exercer nossa inteligência e garantir uma vida riquíssima nas mais variadas dimensões da nossa existência.

Esse papo, na íntegra, você acompanha abaixo!

Sergio Maria trabalhou por 12 anos no Google e foi responsável pelas inovações na área de informações e notícias que a plataforma mostrou nos últimos 10 anos.

SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos!

Sergio Maria: Eu sou o Sergio, mas todo mundo me conhece como Sergio Maria. Sou homem branco, privilegiado, pai de três meninos e casado com uma mulher incrível. Me considero uma pessoa feliz!

Se eu pudesse dizer algo que gosto, diria que é olhar e refletir sobre o futuro. Fiz 50 anos no ano passado (2022) e teve uma mudança muito importante na forma de ver a minha vida. Gosto de trabalhar com pessoas e me considero uma pessoa tranquila.

SU Brazil: Qual mudança foi essa aos 50 anos, Sergio?

Sergio: Eu vou fazer uma metáfora aqui e espero que entendam. Aprendi isso na psicologia, na verdade. Quando o Sol está na maior distância da Terra, se chama afélio, depois, quando se aproxima, é dado o nome de periélio. Esse movimento é o que caracteriza o nosso ano, mas é também uma maneira de entender como lidamos com a nossa vida.

De forma bastante superficial, nosso movimento com a nossa essência acontece desta mesma maneira. Até os 40 anos a gente está chegando no afélio, na parte mais longínqua da nossa essência, tal como o sol: sempre tentando olhar para fora, ou seja, produzir, estudar, gerar patrimônio e tudo isso.

Depois, retornamos para próximo de nós mesmos. Após estas conquistas, começamos a olhar para algo mais próximo da gente, a nossa essência: o querer fazer o que gosto, viver feliz e tudo mais. Hoje, acredito eu, que estou nessa fase, aos meus 50 anos.

De fato, essa mudança aconteceu um ano depois do Executive Program da Singularity Brazil. Coincidiu com os pensamentos e com os horizontes de transformação. Acho que o EP teve uma participação grande nesta reflexão, junto com a pandemia também. Eu mudei bastante minha forma de olhar a vida e a minha própria existência neste momento.

SU Brazil: E você está gostando deste momento?

Sergio: Eu estou gostando sim. Estou muito feliz. Muito feliz mesmo. O antigo fundador do Google X fala em um podcast sobre esse momento, que para ele chegou aos 27 anos. Lá ele menciona o quanto foi privilegiado ao ter isso aos 27 anos e poder ter essa mudança de olhar, mesmo em uma empresa que mudou o mundo.

Ultimamente ando percebendo que a vida te dá sinais ao longo do tempo, mas muitas vezes temos dificuldade de enxergá-los, porque nossa atenção está em outras questões. Para mim, o ponto de mudança muito importante foi o trabalho.

Eu sou uma pessoa calma e tranquila, em um geral. Um dia em casa, no final de semana, que jurava estar bem tranquilo, meu segundo filho disse: “Papai, você tá nervoso”.

Eu realmente não achava. Não estava tendo uma reação nervosa, mas o jeito que eu me movimentava mostrou que eu me sentia assim. Achei interessante esse acontecimento por duas coisas: uma criança, de 7 anos, conseguir entender este sentimento, que não é fácil; e foi um recado.

De fato: eu estava fazendo várias coisas e não me sentia satisfeito com a maneira com que tudo foi se construindo. Então, tentei mudar. Estes foram alguns sinais que estou dizendo que devemos sempre estar atento. Quando estamos lá no afélio, no ponto mais distante da nossa essência, fica difícil olhar para tudo isso e nos entender. Por isso é importante prestar atenção e ouvir o que a vida nos mostra.

SU Brazil: Que inteligência emocional do seu filho, não?

Sergio: Sim… O mais engraçado é que ele tem uma facilidade em falar sobre isso. Dos três, ele é o que mais gosta desse assunto e sempre tem ótimos pontos para manifestar sobre estas questões. Ele nos percebe. É algo bem legal.

SU Brazil: Muito bacana! Aproveitando, e como era sua vida antes desse entendimento?

Sergio: Bem, eu tive algumas mudanças na minha vida. Todas as transformações que temos em nossa existência acontecem em pequenos passos e não são abruptas.

Elas ocorrem igual a disrupção: acontecem lentamente e de repente você vê o produto disso. É um “vem acontecendo e está acontecendo”. Para mim, vários sinais foram mostrados até chegar no Executive Program da SingularityU Brazil, onde várias outras questões apareceram para mim.

Antes do EP, eu fiz vários cursos. Fiquei 12 anos no Google e chegou o momento, em 2018, de internacionalizar, afinal, minha cadeira não se comportava mais apenas aqui.

O turbilhão de pensamentos é grande: ir, ficar, entender o que quero, as possibilidades. Estava olhando outras posições na Europa e tudo caminhava: conversei com vários amigos que estavam lá; já havia morado fora quando menor; olhei escolas para meus filhos -; e sondei tudo que você puder imaginar para morar com a família.

Mas, um dia eu sentei para jantar em casa e questionei: por que estamos indo?

Uma pergunta básica: “mas, Por quê?”

Todos tiveram quase a mesma resposta: “Não sei… Apenas estamos indo…”

Depois veio um sonoro: “mas não precisamos ir…”

Foi o primeiro momento que decidimos juntos. Confesso que foi muito difícil.

Lembrei da poesia da Cecília Meirelles “Ou Isto ou Aquilo”, um dos primeiros poemas que li quando menor e ele remetia a este momento, porque é sobre a escolha.

O que acontece com uma escolha? Há sempre uma renúncia. Esta é a parte mais difícil dessa decisão. Muitas vezes a gente pensa na renúncia mais do que na própria escolha e, então, tive que fazer dessa renúncia a própria escolha.

Abri mão de 12 anos no Google. Não se tratava apenas do trabalho, mas tudo que vem com isso, afinal, não era meu desejo sair do país.

Eu já estava com 45 anos. Naquele momento começou a vir todos aquelas questões de etarismo e pensar sobre meu lugar no mercado, onde arrumaria um emprego e tudo mais. Todos os medos passaram na minha cabeça. Mas era o momento correto e certo para deixar a empresa.

No meu plano de família não cabia a internacionalização, ainda que fosse um plano de carreira interessante. Tomamos a decisão e eu saí da empresa. O mais interessante foi a perspectiva que eu criei sobre inteligência fora do Google.

Quando estamos imersos em uma coisa é difícil olhar para fora e entender o que as outras pessoas estão fazendo. Mais complicado ainda é cultivar tudo isso. Quando saí, a primeira coisa que mais me chamou atenção foi ver outras ações riquíssimas e que eu poderia me encaixar tão bem quanto era na empresa.

Por isso fui conhecer outras coisas: estudar, principalmente em conselho administrativo; procurar cursos diferentes; entender mais do universo de fintech.

Pensei mais nessa parte de tecnologia porque eu a adoro e queria estar ligado a algo transformador, então fui explorar a tecnologia em outros mundos. Neste período, eu tive um convite para ir à Globo fazer uma transformação da organização.

O projeto chamava “Uma só Globo”, que tentava aglomerar TV aberta, fechada e streaming. Eu fui fazer o desenho para integrar as áreas de publicidade convergente de todas essas áreas.

Eu fiquei três anos trabalhando por lá. O interessante é que na época, eu fiz o curso de conselheiros e fui indicado para dar uma entrevista ao Financial Times.

Nela eu falei sobre transição de carreira e foi interessante porque nem sempre a gente encontra alguém que está disposto a abrir mão de uma história, principalmente em uma empresa do calibre do Google.

Então eu falei sobre essa situação: a troca, o desafio da Globo no momento e o meu próprio nesta nova jornada. Na minha saída do projeto, eu fui reler os meus objetivos do primeiro dia e estava vendo se era coerente, se não contei tanta projeção mais do que concretude. Não era o caso. Conseguimos montar algo bem legal por lá.

Foi nesse período que meu filho disse que eu estava nervoso. Eu fui para fazer a disrupção: passei um ano construindo o projeto e depois mais um ano implementando. Mas, como todo o processo de instauração, muda muito a vida de várias pessoas. É onde aparecem as barreiras.

Então, na minha reflexão hoje sobre o entendimento que me deixava nervoso, era um pouco esse ponto: eu passava 80% do meu tempo explicando o porquê de fazer os outros 20%.

Isso não torna a situação fluida. As ações se tornam mais complicadas do que já são e é um pedaço do meu trabalho que não me fascina, não colaboro tanto e não ajudo tão bem. Meu negócio é criar e mostrar às pessoas. Toda essa ação vem com um desgaste emocional grande.

Esse trabalho de gerar aliados, engajar os outros, é algo emocionalmente desgastante para mim. Quando você faz isso 80% do seu tempo, por muito tempo… Enfim… Não é para mim. Não era esse o meu desejo. Tive um papo aberto e tranquilo com a organização e disse: minha escolha é não ficar doente, então vamos fazer uma transição.

Foi bem tranquilo este momento. Porque, voltando à situação, eu entreguei ao que me propus a entregar. Fiz uma mudança grande em tecnologia.

Tudo isso aconteceu entre 2019 e 2022.

Antes disso, de 2018 até 2019 foi a transição do Google.

O Executive Program está ali, em 2021, depois da transição do Google e neste processo da Globo. Já um pouco nesse movimento de tentar olhar além da situação, afinal, o EP te dá amplitude. O curso te coloca uma lente para você conseguir ter um olhar diferente em um monte de processos do dia-dia, que normalmente não estamos dando a devida atenção.

Você só vai conseguir ter isso se tirar o constante vício das perspectivas que nosso cérebro cria e isso é muito difícil. Por isso a imersão ajuda: te distancia deste vício perceptivo e permite olhar para outras questões que não estão sendo percebidas.

É algo que é a essência do EP. O Executive Program permite tudo isso: olhar para o futuro; conseguir olhar para dentro de si – no periélio, como estávamos falando sobre as fases que temos em olhar para nós mesmos -; enxergar o passado; pensando no que fazer de diferente; em prospectar caminho que não foram pensados…

Porque nós precisamos decidir as coisas hoje. Será apenas dessa maneira que o futuro se tornará diferente. Precisamos alcançar e beneficiar várias pessoas. Há vários problemas que precisamos enxergar como oportunidades e fazer coisas boas para impactar milhões de pessoas. Alguém precisa se apaixonar por isso e fazer.

O impacto do Executive Program é imenso. Traz outra vivacidade e aprendizado para olhar tudo de outra forma. Quando isso se chocou com a história do meu filho, eu vi que deveria parar com aquela lógica que tinha antes do trabalho.

SU Brazil: Que fantástico! E como você chegou até o Executive Program da SingularityU Brazil?

Eu conheci a Singularity University Brazil pelo Google, na verdade, na Turma 1 do Executive Program, porque a empresa participou da fundação.

Na época, eu conheci alguns amigos e eu sempre fiquei muito curioso para fazer o curso. Mas é aquela história: é difícil parar para fazê-lo, até que chegou o momento.

Confesso que fiquei muito na dúvida se faria o global ou do Brasil. Acho que várias pessoas pensam nisso e acham que o internacional é melhor do que o da aqui.

Mas eu dei o voto de confiança.

Olhei e vi que tinha os professores do mundo todo, mais os brasileiros e estava parecia acoplar as melhores partes do global. Mais tarde, pensei que era a decisão certa principalmente por conta da conexão com a nossa realidade cotidiana. Então, decidi fazer o Executive Program da SingularityU Brazil.

E foi uma ótima decisão.

De fato, foi espetacular. Tiveram algumas questões diferentes relacionadas aos assuntos, mas aprofunda a vivencia e os desafios que a gente tem no Brasil. Isso é ótimo. Além disso, a turma também foi muito boa, com um networking extremamente interessante.

Na minha cabeça, já estava preparado caso não gostasse do Executive Program da SingularityU Brazil: faria outro. Mas eu não me frustrei e não foi necessário.

Muito pelo contrário: a experiência foi muito boa. Fiz muitos amigos, me aproximei de várias pessoas, como o Reynaldo Gama, Guilherme Maciel. Me conectei com vários executivos e consegui achar várias mentes para tocar novos projetos e desenvolver novos pensamentos. Foi muito interessante.

SU Brazil: O que você recomendaria para a pessoa que vai fazer o EP?

Acho que todos que chegam para fazer o Executive Program, chegam de mente aberta. Mas, acho que precisa ser mais…

Precisa ir de coração aberto.

Precisa ir para viver a experiência. Não pode ter medo de se expor, porque quando você faz isso é o momento que você cria vulnerabilidade e oportunidade para o vínculo.

Acho que precisa ter esse coração aberto, para refletir e pensar sobre tudo, então: o que você quer fazer daqui para frente? Independente da idade que tem hoje. O que quer fazer nos próximos anos? O que pensa nos próximos 30, 50 anos? O que você quer deixar para traz?

Acho que esse é um pensamento bacana para te ajudar a aproveitar o EP: Curta o tempo com as outras pessoas, seja coração aberto, porque você vai descobrir medos iguais, desafios iguais, problemas semelhantes…

Acho que a gente cresce muito mais quando há troca e estamos conectado emotivamente, principalmente em volta do que a gente emite. A gente consegue se ajudar nisso. Acho que o despertar funciona assim, entendendo o que nos move de verdade. É o principal pensamento. Talvez até uma pergunta: o que te move?

SU Brazil: Você sempre teve essa capacidade reflexiva e de resiliência, até se preocupando em enxergar o além do que se apresenta?

Para ser sincero, sim… Eu sempre fui assim e extremamente calmo. Sempre pensava, entendia como as coisas poderiam acontecer e de que maneira perseverava.

Na pandemia, quando tínhamos reunião por vídeo, as pessoas até falavam: “Sergio, você é muito calmo. Um caos com três crianças em casa, pulando no sofá e você lida com paciência. Você vira e conversa com eles, sem uma veia saltada e nada. É impressionante”.

Então, eu sempre fui desse jeito. Tem pontos negativos e positivos desse comportamento, mas sempre me ajudaram muito.

Eu sou muito didático, por exemplo. Durante minha trajetória de vida, quando enfrentávamos os problemas complicados, muitos pediam para eu ser o palestrante, porque eu era um dos poucos que conseguia traduzir e trazer aquela complexidade a uma maneira tangível e mais simples.

Isso aconteceu na Globo: quando apresentei para o comitê executivo, que se tornou o conselho, eu mostrei uma visão sobre a publicidade nos próximos cinco anos, contendo onde ir, como ir e o que precisava ser feito.

O feedback foi interessante porque era ambicioso, mas tinha um caminho. Afinal, pensar em ir para a Lua é fácil, mas o que a gente vai fazer amanhã para isso? Precisa de foguete, rota, combustível… São n fatores para que as coisas aconteçam.

Então, parte desse meu jeito ajuda a fazer pequenas coisas, além de descobrir outras ao longo do caminho e seguir um direcionamento melhor.

SU Brazil: Que fantástico! E, nisso tudo, o EP ocorreu um ano antes de você sair da Globo. O que estava maturando em você neste momento?

Isso. Eu sai em junho de 2022.

Sinceramente, tem algo que está na minha cabeça, mas não consegui maturar muito ainda. Mas quero fazer algo com educação. No Executive Program eu lembro que isso ficou me atravessando por muito tempo. Me afetou de verdade ficar pensando nisso.

Lembro de olhar algumas coisas, com o Leandro Mattos. Fiquei pensando sobre a questão do autismo e seus potenciais de altas habilidades. Isso está muito ligado ao que penso, em como detectar isso e ajudar no desenvolvimento.

Ali foi onde criou essa conexão. Pensei muito sobre isso ser muito maior do que parece. Lembro de uma estatística, que deve ter mudado já, mas quando o projeto do Leandro começou, no Sul, identificou quem poderia ter algum grau do espectro autista ou potencial de altas habilidades – prefiro esta palavra do que gênios.

Nessa prospecção, perto de 20% das crianças tinha um potencial de alta habilidade na pré-escola. É um número ridiculamente grande. Imagina o tanto de talento que teríamos com tudo isso, caso desenvolvêssemos todo seu potencial ao longo do tempo?

É possível mudar um país ou até um mundo em pouco tempo. Mas, quando chegam na faculdade, há menos de 1%.

Por que isso?

Bem, ao longo do tempo, a escola foi matando este potencial, porque não foi desenvolvido. Não só a escola: a sociedade como um todo, família… Todo o contexto vai reduzindo a pessoa, achatando sua potencialidade e a realidade vai sendo cruel…

Então, algo que farei ainda é olhar para todo este potencial, entendendo como a gente ajuda a desenvolver estas crianças. A ideia não é criar uma “Escola de Gênios”, porque você segrega mais do que inclui. O principal é entender como você dá oportunidade para que aquela criança, que tem um potencial grandíssimo de fazer algo, não o perca Acho que isso foi algo que sofri na escola, para ser sincero.

Tive um momento de perda de interesse pela escola, no 2º ano do ensino médio, por falta de motivação e de entendimento para ajudar a desenvolver as habilidades que me motivavam a continuar estudando.

Lembro da minha família me questionar: “Por que, Serginho? Como isso?”. Sempre estavam ali por mim, mas eu só tinha perdido o interesse. Não houve algo grandioso, ou uma catástrofe.

Então, é aquela coisa: a gente só se apaixona pelo problema quando estamos próximos. Eu tenho pessoas próximas com esses potenciais e eu quero ajudar no desenvolvimento deles. Os ajudando, eu consigo ajudar outras pessoas.

SU Brazil: E o que você anda pensando sobre o assunto?

Sergio: Eu sinceramente tenho mais dúvidas do que respostas.

Eu tenho uma amiga, chamada Carolina Videira, fundadora da Turma do Jiló, e ela é uma referência de educação inclusiva. Ganhou até alguns projetos na ONU.

Quando eu estava nesse processo, pensando sobre construir algo na educação, eu conheci a Carol. Lembrei de falar sobre esse desperdício de talento que temos no Brasil.

O Leandro Matos fala disso e destaca o quanto conseguiu dinheiro dos Emirados Árabes Unidos para a startup dele, que começou a fazer essa análise. Porque naquele país o principal produto é o petróleo, que vai acabar em 80 anos, então precisa desenvolver ciência. Para isso, precisa de cientistas. É um país de imigrantes, então vão às escolas para descobrir crianças com potencial para que a família crie raiz lá. É muito mais caro você importar um cientista e criar uma base lá. Por isso olham com pessoas mais novas.

Eu tenho certeza que esse é o caminho. Acredito que precisa ser, inclusive. Estes talentos entendem o mundo de forma diferente, pensam de maneira distinta e é preciso dar os estímulos certos, de uma forma que entendam bem e possam se beneficiar disso.

Então, por conta dessa complexidade, a ideia é criar caminhos para estimular e desafiar estas crianças, na tentativa de criar e desenvolver aquela potencial habilidade que tem.

Ao mesmo tempo, precisa pensar quem pagaria por isso e precisa ter um contraponto social. Afinal, é algo caro. Nos Estados Unidos tem uma escola que faz isso e custa U$1000 por mês.

Aqui é diferente, mas a ideia seria que alguém que pudesse pagar acabaria financiando alguém que não tem condição. Essa é a minha ideia macro e eu dividi isso com a Carol na época. Ela achou incrível e ficamos por desenhar nisso.

O momento é de caminhos diferentes, mas, eventualmente, voltaremos a isso, só precisamos de um pouco mais de tempo. A ideia vai amadurecendo, enquanto isso. Está aqui comigo.

No dia a dia o pensamento me pertence. Em algum momento, acho que vai acontecer. O chamado está aí e sempre vai aparecer. Ficará maduro e vou conseguir me dedicar a isso. Acredito também que dá para fazer duas coisas ao mesmo tempo, por que não dá para apenas esperar por tudo isso, né? Se não, não crescemos nunca.

SU Brazil: Enquanto isso vai maturando, você está no IBGC e na CNN, certo?

Sergio: Isso!

Eu fui para o caminho da inovação, de olhar e entender quem podem ser os principais agentes de mudança no futuro. Tento entender como isso afeta nosso cotidiano e como pode criar oportunidades, além de desafios para as empresas.

Dentro do conselho tem muito disso. Precisamos olhar essas administrações de outra maneira, que não seja apenas por olhos da balança financeira. Hoje precisamos de diversidade, mas poucos pensam o futuro.

Um exemplo simples: em um curso do “Thinking For The Future”, pensamos na questão climática. Conversávamos e tocamos no ponto da mudança de 1° da temperatura do planeta, porque isso fará com que mude várias condições de doenças no mundo.

No Brasil, essa conversa ainda não existe, mas nos impactará. Podemos olhar, por exemplo, sobre a questão da febre amarela. Hoje é na Amazônia onde há casos e todos tomam vacina. Com uma mudança de 2,5°C na temperatura terrestre, a febre amarela não vai ocorrer mais na Amazônia. Ela começa a aparecer no sudeste e isso muda completamente a situação do país.

Então, se alguém está montando um hospital, especializado em febre amarela, a Amazônia não é mais o lugar para isso, o que parece óbvio hoje. O lugar correto para ele, no futuro, seria nas zonas entre o sudeste e o norte. Por isso, precisa entender outras questões que nos afetam para tomar decisões e não tomar o caminho errado.

Além disso, fui convidado pela Federação das Industrias de Minas Gerais, para participar de um Comitê de Tecnologia e, por conta de todo o acolhimento e estudo na faculdade, estou os ajudando, devolvendo esse investimento.

A tentativa é aproximar estudantes da indústria mineira. A ideia é criar raízes para as pessoas, mostrando que não precisa sair de Minas Gerais, como eu fiz e várias pessoas fizeram. Dá para ficar, caso alguém queira e terá trabalho e boas condições de vida e estudo.

No IBGC, após alguns cursos, faço parte do comitê de Futuro da Governança. Lá tratamos de olhar para frente e compreender a governança das empresas, com tantas atualizações e transformações. Então, não se trata apenas de conselhos, mas da governança que a empresa estabelece. Afinal, o jeito que trabalhamos e a maneira que a inteligência artificial participa dos nossos processos se transformará.

Para você ter uma noção, existe uma empresa chinesa que tem uma inteligência artificial como CEO. Você pode pensar que é uma startup, mas, na verdade, é uma empresa que fatura bilhões de dólares.

Exatamente isso, a organização nomeou uma inteligência artificial como CEO, então: o que isso muda? O que pensam? Como isso afeta a organização? O que precisam se preparar para lidar com isso? É disso que se trata este comitê.

Ao mesmo tempo, saindo do EP, eu participei de um fundo de investimento que veio para o Brasil. Chama NIU.Ventures, que é Very Early Stages startups, que tem como base a tecnologia. Participo com mentorias e estratégias. Tem funcionado muito bem.

Há 4 meses eu fui para a CNN, para ser consultor de inovação. Estamos nesse desafio de olhar para a indústria de notícia, que é a mesma há tanto tempo, e passa por tantos desafios tentando falar com gerações diferentes.

As versões, o tipo de notícia, as construções diante das polarizações e o jeito que o público se conecta, hoje, é um desafio. É muito bom estar próximo disso.

Afinal, além de tudo, tem um propósito. Notícia é ainda o que mantém democracia no mundo. Então, creio ter um propósito de fazer funcionar e ficarei muito feliz se der tudo certo. O dia que meu filho começar a olhar para a CNN e não achar que algo apenas dos mais velhos, eu vou ter certeza que consegui mudar um pouco o desenho da notícia.

SU Brazil: Em algum destes locais você acha que te ajudará com seu projeto de talentos?

Sergio: Vai. Tenho certeza. De novo, a gente volta sempre à escolha.

Eu acho que um ponto crucial é ter tranquilidade e se preparar para isso, porque quando você coloca o desenho da empresa no papel, fica lindo, em um ano funciona. Mas, a gente sabe que não é assim.

Às vezes, um projeto dura 4 ou 5 anos para começar a dar certo. Então, você precisa preparar sua vida para um horizonte de 5 anos de dedicação. Neste momento, será necessário abrir mão de outras coisas e precisa ter recurso neste momento.

Eu estou me preparando para ter tudo isso. Mais ainda para garantir tranquilidade, para mim e para minha família. Inclusive, todo mundo estará preparado para abraçar isso junto.

Acho que em determinado momento isso vai acontecer e eu vou me dedicar a isso. Se não der certo, eu faço outra coisa novamente. Mas é uma mudança muito grande que exige cuidado e organização.

SU Brazil: O Executive Program te ajudou nessa organização?

Sergio: É uma conjunção de fatores, para ser sincero. Talvez se eu não tivesse feito o EP, isso iria aparecer muito mais tarde. Mas acho que foi um pouco de começar a olhar o cenário e entender os sinais que estavam chegando para mim.

O momento de imersão e as mudanças também nos fazem refletir de forma diferente, afinal, tentei descobrir coisas novas. A transformação provoca tudo isso.

Então, acho que a transição foi muito importante. Me trouxe uma série de questionamentos, medos, anseios e oportunidades, ao mesmo tempo que o EP ajudou a olhar para lugares que não estamos acostumados, abrindo caminhos diferentes.

Acho que foi uma conjunção disso tudo que formou aquele momento de epifania, em que a gente entende quase tudo e nos abre para mais outras questões, mas muito mais norteadas. Não é tão fácil entender quando está tudo ali confuso e ao mesmo tempo te dando estímulos bagunçados.

Para inibir essa confusão e conter o anseio, uma das coisas que eu fiz, nas duas mudanças de Google e de Globo foi anotar o que eu não quero fazer.

Na tendência natural, você volta para o que você quer. Existe uma “conservação” que nem sempre é boa, mas nosso cérebro lida como “segurança”.

E eu mudei: queria entender o que não faria, mesmo que conseguisse fazer. Para as outras coisas eu estou aberto, mas há coisas que eu sabia que voltaria para o mesmo lugar em que eu estava, então não gostaria.

Vou conversar, agradecer, indicar, mas não vou cair na tentação e na ansiedade de ganhar dinheiro, entrando naquele “rolo compressor” do que deve fazer. Eu escrevi o que não ia fazer.

Isso foi muito importante.

Acho que tomei decisões boas, fiz projetos que gostei. Muito do que construí no Google e na Globo, vejo que consegui aplicar e tinham estes “nãos” em certo momento. Percebo o quanto estou construindo na CNN, mesmo com isso. Então, são decisões importantes. Talvez eu não estivesse tão feliz se tivesse aceitado outras coisas, sem reconhecer o que não gostaria de fazer.

Quando tocava o telefone, aquela lista que me norteava. Eu respirava, pensava, ligava para as pessoas, conversava e pensava bastante. Porque existe a tentação, o medo. Ainda mais com família.

Olhar o ambiente, pensar que era menos receita entrando, só deixando o dinheiro ir, porque nada entra… Gera uma ansiedade, claro. Por isso precisa se preparar, organizar. Principalmente porque a economia é diferente.

A parte do “não quero” foi algo extremamente importante, principalmente para me dar clareza e saber o porquê das escolhas. Passei olhar também para outras coisas, em pensar nos outros universos que existiam, entender como poderia chegar a eles e que talvez tudo isso poderá me ajudar lá na frente, pensando no meu propósito e o que eu quero fazer.

SU Brazil: Quais eram os medos nestas duas mudanças?

Sergio: Olha, elas foram bem diferentes uma da outra.

O Google foi quase uma escola para mim. Quando entrei havia 60 pessoas no escritório e, no ano em que saí, já computava mais de mil pessoas na América Latina.

É natural fazer movimentos, então ou mudava de área e ficava aqui mesmo ou eu iria internacionalizar. Nem sempre há outras áreas nestes momentos cruciais e não havia um caminho aqui, por isso a empresa me ofereceu fora do país.

Eu não fui porque não queria que meu filho mais novo crescesse fora do Brasil. Talvez, se fosse 5 anos depois, eu teria aceitado e tivesse feito algo diferente, mas isso não é uma frustração. É apenas uma escolha.

A renúncia é muito grande, mas foi por conta do momento de vida, por olhar de outra maneira e entendendo que aquela situação poderia ser um sacrifício para a família. Não era necessário.

É uma oportunidade? Sempre é. Mas, na balança que colocamos, não cabia. Por isso precisou da conversa. Decidimos não ir, construímos outros caminhos e conversei com os meus filhos sobre isso.

A conversa foi franca, eu disse que entraríamos em um período de “vacas magras”. Primeiro foi uma ‘choradeira’, porque falavam do “pai sair do Google” e tinha essa importância do “pai trabalhar no Google”.

O mais novo entendia um pouco mais e disse: “Vaca grande eu não gosto, é feio. Gosto de vaca magra. Está tudo bem”. Fazendo uma brincadeira com a situação e seguiu bem com isso.

Já o mais velho me perguntou: “O que é um período de vacas magras?”.

Eu falei novamente sobre as escolhas: “O período das vacas magras é aquele que não dá para fazer tudo o que queremos, quando queremos. É um período que temos que fazer escolhas que são importantes, para fazermos mais coisas que são importantes para nós”.

Ele é muito ligado em futebol e disse: “Mas eu vou poder comprar a chuteira do Messi?” e essa foi a dor do momento para ele: aquela chuteira nova, que todos querem.

E eu disse que iria ter, afinal, é para o futebol e é importante. É a escolha dele e vamos fazer. Então respondi: “Olha, não vai ser a última do Messi, mas será outra que vai resolver sua situação”. Isso o tranquilizou.

Quando falamos sobre férias foi exatamente a mesma situação de escolhas. Viajamos para a casa da vovó, uma coisa diferente, que nunca aconteceu e foi maravilhoso. As transições geram essas mudanças que são benéficas para nossos vínculos.

Outro ponto foi a minha maior decisão foi viver muito.

Eu quero viver bastante e não quero ser estatística. Quero viver bem. Essa é um tipo de decisão que precisa tomar antes.

Eu li um livro que se chama “Outlive: The Science and Art of Longevity”, do Peter Attia, que fala sobre a medicina e diz sobre a tomada de decisão para viver muito. Afinal, o que você faz hoje será cobrado no futuro.

A medicina trata para te dar uma sobrevida. Às vezes, com uma qualidade questionável. Eu não quero isso. Por isso, é preciso trabalhar antes para evitar este ponto e a decisão acontece 30-40 anos antes.

Hoje eu tomei essa decisão. Mudei meu estilo de vida, não deixo de fazer nada do que gosto, não há radicalismo, mas eu passo a olhar para as coisas de uma forma diferente.

Recentemente eu passei a usar um marcador glicêmico, porque os picos tem um impacto muito grande nos nosso metabolismo e gera uma série de outras coisas. A gente não sabe como funciona, porque os exames são em jejum, mas e o dia-dia?

Eu comecei a usar para entender que tipo de alimento me dá um pico glicêmico e qual não dá. É muito surpreendente. Para mim, comida japonesa dá um pico glicêmico absurdo, comparado com qualquer outra coisa. Talvez por conta do vinagre, sake, açúcar… Eu não tinha a menor noção. Foi extremamente importante para entender o comportamento do meu próprio corpo…

SU Brazil: Eu também não fazia ideia…

Sergio: Pois é! Eu achava que pizza que me dava um pico glicêmico e eu estava errado. Pizza é tranquilo de comer, mas a comida japonesa… Para mim é assim que acontece e cada corpo age de uma maneira.

Para você talvez será diferente. Porém, o interessante de entender isso e ver que não tem uma média para entendermos que estamos ela. Precisamos nos entender.

No livro diz que deveríamos usar 2 meses para entender como alimentação afeta nossa vida. Eu aprendi muito com isso. Uma noite mal dormida muda completamente seu pico glicêmico no outro dia. Isso me retornou para entender a questão das escolhas e como fazemos ela todo dia.

Tem gente que não gosta desse controle e tudo bem. Eu não quero entrar nesse julgamento. Eu não sou daqueles que dorme na hora exata, tem dias que dormirei mais e outros menos. Eu sei que será diferente, apenas isso. E é bom estudar para entender o que vou comer no outro dia, para piorar ou não essa situação. De novo: faz parte das escolhas.

Futuro se constrói com decisões de hoje. Depois que estamos vivendo o antigo futuro que agora é presente, só podemos tomar novas decisões para daqui 20 anos. Então, é preciso olhar para essas questões e entender suas escolhas.

A saúde foi isso para mim: eu quero viver muito, acompanhar meus filhos por muito tempo e é uma decisão que quero tomar agora. Se eu tomar aos 70, não vai dar certo.

Eu quero tomar essa decisão bem e chegar lá com qualidade de vida. Não precisa daquele sofrimento e nem perda para isso. Quando pensamos antes, ainda podemos escolher o nosso futuro.

SU Brazil: O que você diria para os ‘Sérgios’ de cada mudança, ali no Google e na saída da Globo?

Sergio: Eu acho que pensei tanto e refleti em vários momentos que hoje tenho clareza desses acontecimentos, tal qual como tive na época, mas de uma maneira diferente.

Porém, o que tenho para falar destes momentos é que: a decisão não-tomada é sempre pior do que a decisão tomada, mesmo que as renúncias sejam grande.

Eu acredito muito mesmo nisso.

Acho que todas as grandes e difíceis decisões, que tive ao longo da vida, deram certo, porque fiz o que precisa ser feito: se preparar, se cercar de pessoas do bem. Assim, as coisas, por alguma razão, seja ela qual for, tendem a acontecer. Eu me inclino a acreditar nisso e para mim funcionou. Foi o meu caso.

Adiar uma decisão por muito tempo é mais sofrida do que tomar uma decisão. Viver esse período dos anseios e medos faz parte, mas vão te abrir para pensar coisas diferentes que você não enxergava, simplesmente porque ainda não tinha momentos para enxergar outras perspectivas. Mas, é esse olhar diferente que te abre possibilidades.

Tomar decisão é isso. Pensava na questão de etarismo. Ganhava bem, mas eu sempre pensava em abrir mão disso tudo, por conta da minha família e tudo mais.

Acho que a outra coisa, que eu aprendi depois na segunda vez, é que a gente está pensando no que a gente quer, mas creio ser crucial entender o que a gente não quer.

Às vezes o que a gente não quer é óbvio, mas continuamos fazendo. Então, quando coloquei na minha frente, todo dia, o que eu não gostaria de fazer, foi importante para me ajudar a ter segurança nas tomadas de decisões que me levaram onde estou.

SU Brazil: Um dia você vai contar tudo isso para seus filhos. Você imagina como será essa conversa?

Sergio: Hmm… Pergunta complicada, mas eu diria que converso com eles diariamente. Sobre tudo. Todas as decisões que tomo eu converso com eles. Em casa conversamos sobre absolutamente tudo.

Acho que eles vão entender boa parte dessa história, mas eu penso mais na história que não será dita por mim, mas enxergada por eles no legado que fica. Eles vão viver e perceber isso.

Foi isso que eu falei sobre a Globo. O que se esperava em construir era fantástico e estar ali por 3 ou 5 anos era uma ideia, de deixar um legado. Completei 3 anos e vi que algo sólido ficou. Sempre busco estes olhares.

Muitas vezes quando falamos o que a gente é, é o que gostaríamos de ser e que os outros não enxergam em nós. As pessoas sabem o que somos. Eu acho que essa história, contada por pessoas ou até o enxergado por eles, de forma diferente, acho que vai ter um valor maior e vão entender de fato o que isso significa.

Agora, terão também outra coisa sobre experiência que a gente faz. Afinal, estamos juntos, temos experiência, partilhamos o que cada um gosta, ouve música junto, viaja junto…

Acho que isso tudo faz parte dessa construção. Uma coisa, para mim, que foi minha decisão de mudança, por exemplo, é que eu não tenho problema em trabalhar muito, mas tenho problema em ser escravo do horário.

Então, coisas que eu coloquei nos “nãos”: eu nunca vou mudar a agenda que tenho com os meus filhos por conta de trabalho. Foi uma decisão que tomei com eles.

Muitas vezes pediam entrevista em horários que eu buscava meus filhos da escola, caso não fosse possível mudar, agradecia a oportunidade, mas isso eu não abria mão. Este tipo de ajuste é importante.

É difícil. E muito!

Executar isso é complicado, mas você precisa impor limite no começo, porque se não deixa de funcionar. Se abrir uma exceção, na próxima não terá como dizer “não” e será uma regra. Por isso precisa bloquear a agenda e dizer que não pode. Precisa ter uma razão muito mais relevante para conseguir voltar a isso e que dê para negociar algo tão urgente quanto buscar meu filho.

Às vezes dá para fazer algo. Muitas vezes não. Aniversário do filho, por exemplo, não dá. Se é algo importante para eles, é injusto tirar isso de todos que estão próximos. Então, acho que é essa a importância do não.

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