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O SXSW 2023 acabou, e agora? Como transformar os novos conhecimentos em insights para o seu negócio

Por Letícia Setembro, CEO da Seek Futures e professora convidada SingularityU Brazil

Para quem esteve por lá, parece que uma maratona se passou. Com dezenas de opções de atividades e palestras concomitantes para serem escolhidas, era difícil absorver a enorme quantidade de informações e insights adquiridos num mesmo dia. Isso sem falar das inusitadas conexões humanas, que são um ponto alto do evento e acontecem a todo momento.

Mas e agora que o evento já passou, como transformar esse conhecimento em algo útil?

Sob a ótica do futurismo, estar atualizado e hiperconectado é muito importante, principalmente quando nos nutrimos de fontes diversificadas – como é o caso das trilhas não-obvias do SXSW. Mas apenas escutar palestras, viver experiências e guardar isso no mundo das ideias não é suficiente para fazer valer a pena o seu ticket para o evento. O desafio de transformar o conhecimento em insights de negócio começa agora mesmo, no pós-evento.  

  1. Podemos começar identificando padrões e sentindo o zeitgeist (espírito do tempo) que o evento soprou. O SXSW 2023 inovou em sua agenda neste ano agregando foco às temáticas da inteligência Artificial (Chat GPT, Open AI, Emotion AI e o tema da Criatividade), Psicodélicos, Crise climática, Ativismo social, Experiências com Realidade Virtual, Saúde e até Espiritualidade. Já no ano passado, era possível notar a régua de conteúdos com um foco maior em Web 3, NFTs e Metaverso.
  1. A partir daí, já começamos a sentir que alguns temas estão em maior avanço que outros e isso pode ter consequências diretas nos nossos negócios nos próximos anos. Para aprofundar mais, devemos repassar as tendências que foram apresentadas por experts e futuristas do evento, para encontrar os padrões e insights que de fato impactam seu setor. A seguir, trago alguns resumos:
  • A começar pela Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO e publisher do MIT Technology Review, que há 22 anos, faz uma seleção das tecnologias mais disruptivas do momento. Da sua lista neste ano, enfatizo as seguintes tecnologias:

CRISPR: alto potencial de mudar completamente a forma como lidamos com (e manipulamos) a genética humana. Sendo uma possível fonte de grandes avanços na saúde e na ciência. 

AI Image Generator: modifica a forma como criamos arte e pode promover uma nova era para artistas. 

Órgãos 3D: o uso de órgão de animais modificados ou órgãos de laboratório para transplante em humanos pode resolver filas de espera e salvar vidas. 

Transformação da mobilidade nos aspectos de se tornar elétrica e autônoma, usar reciclagem de baterias para carros elétricos e os novos tanques criogênicos para voos com emissão de carbono zero.

O futuro por Amy Webb

Seguimos para uma das mais esperadas palestras do SXSW, com as previsões de futuro da aclamada futurista quantitativa Amy Webb, fundadora do Future Today Institute. A cada ano ela libera seu relatório de tendências, que desta vez tem mais de 800 páginas cobrindo, 666 tendências divididas em 14 grupos de tendências. Em sua fala e relatório saliento os seguintes pontos:

Cluster 1: Cloud computing, Web 3, Ai, Transformers, Advanced AI Chipsets e temas relacionados: Os modelos de linguagem como o Chat GPT em menos de dois anos terão novas aplicações e integrações, trazendo mudanças para a saúde, finanças, ambiente de trabalho e produtos em geral. Essa revolução será gigante e veloz e nós não estamos preparados para lidar com essa exponencialidade. Vivemos num momento de tipping points de AI generativa e seus inúmeros modelos e utilizações fragmentadas e específicas – incluindo as Multimodal Generalists AI, uma AI que consegue lidar com inúmeras tarefas e conseguirá atingir algo realmente próximo a uma inteligência. Se juntarmos isso com a evolução dos aceleradores e chips e todos esses novos tipos de sistemas de computação que estão sendo construídos, haverá um efeito composto até 2030. Podemos ter sistemas de IA mil vezes mais poderosos do que são hoje. A revolução só está sendo restringida pela falta de dados disponíveis atualmente, pois no futuro dados estarão no ambiente – tudo será um dado e você sequer perceberá. Segundo Amy Webb, um evento chamado Great ASIMOSIS acontecerá nos próximos anos, e significará o momento em que os dados entram nos sistemas de AI de forma fluída por meio de qualquer fonte ou situação. Isso evoluirá junto com a Web3 e será em parte descentralizado, e mudará toda a infraestrutura da sociedade.

Cluster 2: Metaverso Industrial, Blockchain, Generative AI, Digital twins e temas relacionados. Entramos na era da computação assistida e isso significa que não mais tomaremos decisões sozinhos. Estaremos assistidos por ferramentas invisíveis do metaverso industrial e da IA generativa. Tais ferramentas vão tornar o trabalho de médicos e cirurgiões muito mais preciso e seguro (Chamado Medical Metaverse). Para usar essas ferramentas precisamos de bases e fundamentos para operá-las – são com os Prompts que usamos no Chat GPT. 

Amy Webb reforçou a necessidade de educar a sociedade, jovens e crianças, para o uso de tais ferramentas de computação assistida, ao invés de bani-las. Por fim, também citou exemplos de como as ferramentas assistidas atuais estão cheias de viés e não retratam a real diversidade da sociedade.

Mike Bechtel e o TECH – TOY – TOOL

O Chief Futurist Officer da Deloitte, Mike Bechtel, trouxe um conceito interessante para entendermos a evolução tecnológica: o TECH – TOY – TOOL. Esses seriam os três estágios de exploração de uma tecnologia, começando pelo TECH, etapa onde testamos usos sem objetivo claro, apenas investigando as possibilidades que a tecnologia possui. A segunda etapa é o TOY, quando encontramos maneiras “malucas ou divertidas”, mas nem sempre úteis, de explorar a tecnologia. E por fim o TOOL, etapa onde a tecnologia amadurece e começa a resolver problemas reais da sociedade, se tornando uma poderosa ferramenta. 

Para Mike Bechtel caminhamos para um futuro que prezará pela simplicidade, inteligência e abundância. Em 10 anos teremos a evolução do VR para um termo chamado Ambient Experiences, onde as assistentes virtuais, por exemplo, serão totalmente pró-ativas e sequer vamos perceber o quanto a tecnologia cria fluidez nos nossos processos e escolhas do dia-a-dia. Também no timeframe de 10 anos viveremos a exponencialização da IA, que se tornará mais criativa e terá uma espécie de emoção digital. Isso gerará a colaboração com os humanos na otimização do trabalho de forma conjunta. Mike também citou a evolução da interação física + digital e chamou essa união de Spatial web. Será o momento em que a realidade física se tornará também online.

Nesse momento em que observamos as tendências, conseguimos ver repetições, e fica claro que algumas tendências foram citadas por muitos experts. A ação agora é analisar o impacto desses movimentos em relação ao seu negócio e setor.

A seguir, um passo-a-passo futurístico de como se aproximar de novas tecnologias (inspirado no material da Amy Webb):

FAMILIARIDADE E REPERTÓRIO: entender mais sobre a tecnologia. Como funciona, quem são os players, como vem sendo utilizada, conversar com experts, ir a eventos e conferências.

TENDÊNCIAS: mapear as tendências dessa tecnologia e seus impactos e priorizar aquelas que trarão consequências, disrupções, desafios ou mudanças no mundo.

-> A ferramenta STEEP do Futuro pode auxiliar nessa tarefa. Posicione as tendências sociais, tecnológicas, econômicas, políticas ou ambientais no radar. Em seguida analise como cada tendência impacta seu setor em curto, médio e longo prazo.

OPORTUNIDADES E ESPAÇOS EM BRANCO: explore onde estão as oportunidades de novos negócios e novos business models, onde cabem inovações para a empresa. Quais são as tendências que apresentam riscos? Quais poderiam ameaçar seu negócio? O momento é de cruzar as informações de fora com as de dentro da empresa.

-> Em seguida, priorize as mais relevantes para o seu mercado e segmente as tendências em desafios, oportunidades e novos negócios.

ENSAIE O FUTURO: desenhe cenários para entender o que aconteceria se (what if) essa tendência se tornasse massificada. O que você faria como empresa? Proporia uma nova solução? Ou ficaria obsoleto? 

VISÃO ORGANIZACIONAL: desenhe a visão do que sua empresa pode fazer para lidar com essa tecnologia de forma prática, sob a perspectiva de oportunidade ou risco. Siga até uma linha de criação de roadmap de curto, médio e longo prazo: investimentos, treinamento de talentos, recursos, desenvolvimento de produtos e planejamento estratégico. 

-> Nessa ferramenta de Backcasting, posicione as ações em formato de roadmap imaginando chegar no futuro que desejam alcançar com essa tecnologia – utilizando uma lógica de trás-para-frente. 

Gostou? Você pode encontrar outros artigos da cobertura da SingularityU Brazil do SXSW aqui.

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