Na última quarta-feira (dia 9), ocorreu o Novartis Future Talks + SingularityU Brazil. Apresentado por Christiane Pelajo, o evento virtual discutiu tecnologias disruptivas na área de saúde, o futuro dos negócios no setor e como promover modelos de inovação sustentável e novas oportunidades de investimento.
“A era das Terapias de Saúde avançadas e o que isso significa para a Saúde e Economia brasileira”
Presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Claudio Lottenberg é considerado um dos executivos mais influentes no mercado de saúde brasileiro. Autor do livro, “Saúde e Cidadania – A Tecnologia a Serviço do Paciente e não ao Contrário”, ele expôs sob o ponto de vista médico e econômico a importância das terapias de saúde avançadas para o país.
Segundo Lottenberg, estamos acompanhando uma oportunidade enorme de resolver, por meio da terapia gênica, uma série de doenças que até pouco tempo pareciam impossíveis. Um movimento que pode ser classificado como medicina personalizada. “Um grande achado em relação ao avanço do conhecimento médico é a convergência tecnológica: instrumentos diagnósticos começam a ser utilizados por meio da intervenção. Ao mesmo tempo que você faz o diagnóstico, realiza o tratamento”.
Ele ainda citou a importância dos avanços nos transplantes. “Com o aumento da expectativa de vida, determinados órgãos deixam de funcionar e literalmente devem ser substituídos. E, hoje, temos a possibilidade de transplante via doação de órgãos e também, em alguns casos já presentes, via impressão 3D que te permite criar determinados órgãos”.
A apresentação de Lottenberg também trouxe um retrato desafiador para o sistema de saúde nacional, formado por um quadro de aproximadamente 9,5% do PIB direcionado à área da saúde, 45 milhões de brasileiros no sistema privado de saúde e cerca de 160 milhões de habitantes de usuários do SUS.
“Temos uma crise importante em relação à Previdência – que acabamos de reformar mas que, na minha opinião, não será suficiente no curto prazo. Na área da saúde também devemos nos preocupar já que lidar com uma expectativa de vida maior com qualidade de vida melhor requer investimentos significativos“, alerta.
Lottenberg finalizou propondo a revisão dos modelos assistenciais e o uso da telemedicina. “O Brasil ainda conta com um modelo extremamente centrado na assistência hospitalar. Vejo isso como um equívoco. Hospitais são estruturas criadas para atenderem casos de alta complexidade e os casos de baixa complexidade ainda buscam os sistemas de saúde. Praticamente 90% dos atendimentos resolvem o problema de saúde em uma consulta. Então, temos que fortalecer os programas de atenção primária com coordenação do cuidado”.
“O desafio do Sistema Único de Saúde Brasileiro diante das Novas Tecnologias em Saúde”
Denizar Vianna é mestre em cardiologia, doutor em saúde coletiva, professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS) CNPq/Brasil. Entre os anos de 2019 a 2020 foi Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Profundo conhecedor dos sistemas público e privado do Brasil, Vianna discorreu sobre as questões envolvendo o acesso e a criação de políticas de saúde.
“Os cientistas fizeram o dever de casa, avançamos muito nas tecnologias que modificarão doenças genéticas e adquiridas. E os formuladores de políticas de saúde possuem o desafio de fazer frente a esses avanços científicos. A grande questão é: como criar acesso a essas tecnologias? Porque não basta que elas estejam disponíveis, elas precisam ser acessíveis, senão aumentaremos a iniquidade nos sistemas de saúde”.
Em sua visão, a área da saúde ainda é resistente à adesão de novas tecnologias. No entanto, incorporar essas ferramentas é crucial para entregar melhores resultados no atendimento à população. “A junção de demanda por tecnologia e aumento da longevidade impõe pressão aos sistemas de saúde público e privado. Cabe aos formuladores de política de saúde encontrarem soluções para isso e utilizarem melhor as emendas parlamentares em busca de mais recursos. Mas não podemos nos esquecer da responsabilidade dos gestores públicos e privados nesse processo. A gestão deve envolver a inovação também”.
Vianna propôs discussões e ações acerca do modelo tributário do país, sugerindo um formato mais progressivo que tribute mais renda e menos consumo. “A sociedade precisa fazer essa reflexão. Se nós queremos um sistema de saúde mais justo, nós cidadãos precisamos decidir de onde podemos tirar para direcionar mais a esse setor“.
“Como tornar as inovações em saúde economicamente viáveis no Brasil”
Apontado como o economista mais influente do Brasil pela revista Forbes, Ricardo Amorim falou sobre os caminhos para viabilizar as inovações das terapias gênicas — uma jornada que passa por investimentos de todas as áreas, e não apenas da indústria farmacêutica.
Compreender os cenários e conjunturas econômicas que afetam o sistema de saúde no país e no mundo é fundamental, mas entender para onde vai a economia não é uma tarefa fácil. Especialmente em momentos de incerteza, quando existem variáveis flutuantes sobre diversos setores.
Durante sua apresentação, Amorim apontou alguns modelos para tornar possível esse processo de inovação.
“Estão surgindo ideias inovadoras como a humanidade nunca viu. Mas ideia não é inovação. Entre a ideia e a inovação propriamente dita há um passo fundamental que é a execução: a capacidade de efetivamente transformar a ideia em um produto ou serviço. Para isso, precisamos de dinheiro, sem ele nada se concretiza“.
De acordo com Amorim, o financiamento em inovação no Brasil e no mundo chegou ao seu nível histórico mais alto. Para ele a receita para viabilizar a inovação é: ideia + financiamento + tecnologias de base. “Isso já vem acontecendo nas últimas duas décadas. Isso é tão marcante que o crescimento da renda no mundo nesse período foi maior do que nos dois mil anos anteriores, por conta da aceleração da inovação. Ou seja, é um movimento que já vinha antes da pandemia, mas que foi acelerado com sua chegada“.
O economista aposta em parcerias público privadas na busca por soluções de infraestrutura, transferência de know-how e custos elevados no desenvolvimento de novas tecnologias.
“O futuro das empresas, organizações e setores”
Pascal Finette é cofundador da be.radical, Chair de Empreendedorismo e Inovação Aberta da Singularity University e também associado da BOLD Capital Partners, o fundo de capital de risco de $250 milhões de Peter Diamandis.
O trabalho de Finette se concentra no cruzamento entre tecnologia, impacto global e cultura. Em seu talk, o empreendedor contribuiu com reflexões e informações essenciais sobre o futuro dos negócios na área da saúde.
Segundo Finette, se você pensar em uma organização — que pode ser uma empresa, um sistema de educação ou de saúde —, ela sempre terá dois modelos de ação: inovação (que ocorre no núcleo) e disrupção (que ocorre nas extremidades). Inovação é fazer o que deve ser feito, mas de maneira melhorada. Disrupção ocorre quando rompemos barreiras e desafios, como criar uma vacina no período mais curto possível.
“O núcleo das organizações deve ser eficiente, eficaz e otimizado. Mas as extremidades devem ser compostas de aprendizado acelerado, com insights e experimentos inovadores. Diferentemente do core, que mensura a produtividade, a disrupção mede a habilidade de aprender e criar novas soluções“.
De acordo com Finette, as empresas do futuro serão constituídas pelas seguintes camadas: mercado, modelo de negócio, modelo operacional, cultura, missão, propósito e pessoas.
“Futuro, Abundância e Impacto”
Peter Diamandis, fundador e presidente da X Prize Foundation e cofundador da Singularity University, foi outro destaque da programação. A partir de sua característica visão otimista, ele traçou um cenário promissor para a área da saúde nos próximos dez anos.
Segundo Diamandis, o futuro dos sistemas de saúde será orientado pela convergência de tecnologias exponenciais que a cada ano se tornam mais baratas, segmentadas e acessíveis.
Entre as tecnologias que devem revolucionar o setor, ele aponta sensores, redes, inteligência artificial, robótica, realidade virtual, impressão 3D, biologia sintética, blockchain — ferramentas que irão revolucionar todas as pontas dos serviços médicos, cuidados e atendimento hospitalar.
“Esse é um ano extraordinário de mudanças especialmente para a área da saúde e sua indústria. Até 2030, haverá mudanças sobre quem proverá o sistema de saúde, como e onde ele será provido. Infelizmente, hoje não temos um sistema de saúde mas um sistema de adoecimento. A indústria da saúde hoje age quando os indivíduos estão doentes para só então trazê-los de volta ao estado saudável ao invés de mantê-los saudáveis pelo máximo de tempo possível”.