Para aqueles que buscam bases bibliográficas, referências ou fontes teóricas, fica o aviso: talvez este artigo não seja pra você. Esta leitura é para aqueles que queiram aprender na prática, através da percepção das empresas e da vivência sobre o tema.
A palavra inovação evoca um certo misticismo e alvoroço no mundo corporativo, ecoando palavras de afirmação e tecnologias da moda, como inteligência artificial, machine learning e IOT. Em cada esquina é possível encontrar uma consultoria que se autoproclama inovadora e vende a “receita de bolo” para que grandes empresas se tornem a próxima SpaceX, Uber ou Netflix, como se isso fosse rápido e tangível.
Muito cacique para pouco índio – Durante debates, palestras e fóruns sobre o tema é comum vir à tona exemplos futurísticos de forma distorcida e simplória, divulgando que qualquer pessoa ou empresa possa se tornar o próximo unicórnio. Mas como funciona na prática? Quais são as histórias que essas pessoas não contam e como obter resultados reais no curto, no médio e no longo prazo?
Longe dos palanques e dos cargos de LinkedIn, a realidade corporativa é particular. Inovar incomoda, não é algo natural do ser humano. Então, construir uma cultura, ganhar espaço e quebrar resistências, além de rotina e obrigação, se torna um trabalho de evangelização corporativa. Não basta o CEO querer, é papel de quem busca inovar conquistar as lideranças e a operação para que sejam patrocinadores e divulgadores de suas ações, e isso se faz com geração de valor.
O problema é que inovar é um processo lento e ousado, então os resultados demoram a chegar, além da necessidade de buscar atalhos para escapar das burocracias ou de encargos dispensáveis, o que pode deixar muita gente descontente. Por exemplo, imagine promover a mudança de cultura e comportamento, dando liberdade com responsabilidades para seus colaboradores, mas a área de compliance não permite acessar nenhum site externo ou qualquer tipo de conexão dos computadores da empresa usando uma conta pessoal.
Quanto mais tradicional a empresa, maiores serão os “fardos corporativos” que precisarão ser superados, é uma questão de tempo. Apesar disso, estar dentro de uma companhia já estabelecida proporciona uma série de benefícios que uma startup geralmente não tem para escalar e testar iniciativas de forma rápida e eficiente, como: clientes, centros de distribuição, negociação de insumos, branding e todos os seus departamentos administrativos para fazer usufruto.
Discutindo o sexo dos anjos – Existe uma confusão natural entre o que é inovação, tecnologia e futurismo. É comum pensar que para inovar, precisa ser algo super tecnológico como ir para marte ou criar um novo tipo de celular, então é importante dissecarmos o assunto entendendo o que é cada um deles.
Futurismo é uma forma de estudo baseado em análises comportamentais da sociedade, evidências históricas, tecnológicas e científicas, pelo qual orienta entidades, empresas e governos em novas possibilidades, ou ao menos para que se prepararem para esse possível futuro. Estes estudos serão o âmago para continuar inovando e impulsionando negócios em direção à um futuro sem escassez.
Criar algo novo que não gera valor percebido não é inovação, é apenas uma invenção. Inovar significa, gerar valor. De maneira bem simplista, inovação é a entrega de valor através de melhorias de processo, produto ou tecnologia, que impacte diretamente o resultado de alguém ou alguma empresa de forma escalável.
Você pode estar se perguntando qual caminho seguir: inovação, futurismo ou tecnologia? Não existe certo ou errado no campo da inovação, mas apenas caminhos a se seguir. Assim como uma pequena embarcação no meio do oceano, é necessário prestar atenção no trajeto e corrigir a rota para garantir o rumo do seu percurso. Em outras palavras, o que vai te trazer resultado não será necessariamente seu objetivo fim, mas a jornada de longo prazo e as pérolas que você conquistará no caminho.
Tem como inovar com pouco investimento? – Investimento é importante, mas não pode ser desculpa para deixar de inovar. Independente da situação que você se encontra, seja de dor ou de oportunidade, a resposta para inovar é a mesma: propósito, pessoas e foco.
Agir e pensar diferente, mudar comportamentos, processos, cultura e os famosos ditados populares como “sempre fiz assim e deu certo” ou “em time que está ganhando não se mexe” são essenciais para quebrar as falsas dicotomias e geralmente requer investimento zero.
Preciso da Skynet para dominar o mundo? – Não, embora a tecnologia seja importante para escalar o negócio, reduzir drasticamente os custos, melhorar o desempenho e estabelecer padrões, é crucial compreender que a tecnologia não é necessariamente o fim, mas o meio para que a inovação aconteça. E que o aspecto mais importante da inovação são as pessoas, pois são elas que transformam empresas, criam tecnologias e impactam o mundo.
Enfim, a conclusão – Pensando em alcançar uma oportunidade de crescimento e responder às ameaças de morte, as empresas investem pesado em inovação, mas esquecem de transformar seus comportamentos e tomar atitudes. Comece pequeno, erre rápido e barato entregando valor com melhorias simples de processos.
Construir uma cultura e propósito sólidos, buscar e cativar talentos, identificar as oportunidades certas e possuir embasamento tecnológico irá gerar um ambiente propício para a inovação corporativa, mas o resultado só chegará quando as mentalidades, os processos e as políticas de toda a empresa forem influenciadas positivamente pelos inovadores. A gestão da inovação até pode ser uma área, porém a inovação tem que ser corporativa.
Kim Morise é gerente executivo de inovação no grupo Bild & Vitta