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“Naquele momento de incertezas foi a carta do EP que me motivou a continuar”

Fortuna é um termo peculiar que mudou nos últimos séculos. Graças ao atrelamento com a produção industrial, fortuna passou a ser lida como uma conquista monetária no plano terreno.

Nem sempre foi assim. O primeiro registro de fortuna recuperamos com o sentido de “bons ventos”, que na mitologia grega era reconhecido como uma sorte do acaso, por conta das boas distribuições de sua vida em qualidade, coordenação, bens materiais e saúde.

Quase no fim de sua vida, Boécio, no século VI, antes de ser executado, o filósofo reflete sobre o que realmente atraía os bons ventos de sorte e, mesmo fatos inexplicáveis, só podiam encontrar seus correspondentes e atuar na vida de alguém de acordo com as escolhas que cada indivíduo fazia.

Com Maquiavel, no século XV, houve uma compreensão além das escolhas. Com o príncipe italiano, reconhecemos que algo fortuito (fruto do acaso) aparece de acordo com a fortuna de alguém e esta estava atrelada aos meandros comportamentais.

Mas o que é o comportamento se não o modo de vida que escolhemos e estamos em condições de produzir? E é neste ponto que a fortuna do renascimento compete ao entendimento da virtude de um ser humano, dependendo de suas escolhas morais.

Mais tarde encontraríamos essa fortuna em Espinoza, no século XVI, como algo ético, além das escolhas morais. Por que, afinal, o que adianta a moralidade se não estiver atrelada ao impacto positivo do coletivo?

Retornar a estas compreensões de uma palavra nos fazem refletir sobre o que estamos criando como sociedade. É por esta razão que no especial de 10 edições do Executive Program da SingularityU Brazil trouxemos a entrevista com Renan Lima Alves, Fundador e CEO da Boost Mission Critical Engineering.

Com extrema didática, afeto e compreensão das diferentes camadas necessárias para alimentar a nossa alma, Renan traz perspectivas singulares sobre como o EP 2 foi propulsor em sua vida e que cada vez mais procura criar seu “barco a vela”, ao mesmo tempo em que torna as águas ao redor calmas para quem está próximo de sua existência.

A entrevista, na íntegra, você acompanha abaixo.

Renan Lima participou do 2º EP, o primeiro pós-pandemia. Fundador da Boost, atua na empresa como CEO, ao lado de dois amigos, que também estão na empreitada de construir um ambiente com propósito e afortunado, com relação às virtudes morais e éticas.
Renan Lima Alves participou do 2º EP, o primeiro pós-pandemia. Fundador da Boost, atua na empresa como CEO, ao lado de dois amigos, que também estão na empreitada de construir um ambiente com propósito e afortunado, com relação às virtudes morais e éticas.

SingularityU Brazil: Por favor, se apresente para todos os leitores.

Renan Lima Alves: Eu sou Renan Lima Alves. Sou gaúcho, moro em São Paulo há 12 anos. Sou pai da Helena, Isadora e do Rodrigo. Sou marido da Juliana. Estas são as coisas mais importantes na minha vida.

Eu construo data centers. Faço isso há mais de 15 anos, ou seja, eu participo da criação da nuvem brasileira de dados, em termos de infraestrutura.

O que seria isso: eu construo armazéns gigantes cheios de computadores poderosos. Esses computadores guardam informações importantes das maiores empresas de tecnologia do mundo. Inclusive, depois do
Executive Program da SingularityU Brazil, decidi montar minha própria empresa de construção de data centers.

O nome dela é Boost Mission Critical Engineering. O objetivo dela é projetar e construir toda infraestrutura elétrica, mecânica e civil de data centers, para que as maiores empresas de TI do mundo consigam hospedar seus servidores e aplicações que armazenam a nuvem brasileira, sites e aplicativos do nosso celular.

SU Brazil: Então, como que o EP chegou até você?

Renan: Eu fiz a segunda edição e eu cheguei por conta do Reynaldo Gama. Sou amigo dele desde que fizemos um MBA juntos. Criamos uma amizade muito grande.

Quando ele trouxe o EP para o Brasil, eu já tinha vontade de fazer um curso dessa maneira e estava procurando algumas coisas na SingularityU, de San Francisco. Mas não tive a oportunidade de fazer.

Quando o primeiro Executive Program aconteceu em Bento Gonçalves, eu só escutei coisas boas, vi vídeos e fotos e comecei a ficar entusiasmado por todo o evento.

Fiquei com muita vontade de fazer, mas logo apareceu a pandemia… E colocou um banho-maria em todo o projeto que iria sair de imediato, né? Acredito que tudo no Brasil passou por isso…

Depois daquele momento difícil, a SU conseguiu fazer um evento protegido, que fornecesse a imersão de maneira completa. O segundo EP aconteceu em São Paulo e foi espetacular como todo o protocolo e cuidado possível.

Afinal, eu estava preocupado com isso. Foi algo extremamente importante para mim e eu estava tomando todo o cuidado. E tudo foi fantástico. Eu até penso em fazer de novo.

Então você tinha expectativa sobre o EP?

Para ser sincero, eu queria muito fazer, mas não tinha muita expectativa. Eu achava que seria um evento voltado para tecnologia e inovação, pensava que iria entender o que estava acontecendo no mundo, me atualizar, entender realidade virtual, alguma transformação digital… Coisas deste tipo, mais técnicas de inovação, do que um evento como foi.

O Executive Program da SingularityU Brazil é um evento que é muito maior do que isso: passa por várias questões culturais, principalmente sobre o pensamento. Não se trata apenas da exponencialidade, mas também do momento em que estamos. Entender nosso papel como indivíduos e a maneira como o desempenhamos dentro da sociedade é importante para compreender nossa movimentação nessa engrenagem.

Muito destes questionamentos já faziam parte de mim e calhou de ser consonante com o que eu pensava. Cada palestra ecoava de uma maneira diferente em mim

SU Brazil: Mas o que eram essas coisas que você pensava?

Renan: No livro Sapiens, do Yuval Noah Harari, tem uma parte que fala sobre “sucesso”. Segundo o autor, na biologia, sucesso se trata de replicar o DNA e o livro passa a discutir sobre este modo de pensar o sucesso.

Nesse sentido, Yuval destaca sobre que falam de nós, seres humanos, na atuação em domesticar o trigo… Mas, ele mesmo pontua: será que não foi o próprio trigo que nos domesticou?

A partir disso ele começa a entrar em um dilema mais profundo, dizendo como a nossa sobrevivência se baseava em produzir trigo e sempre tentar maximizar essa produção.

Enquanto isso, a sociedade coletora (aqueles que iam à caça) matavam grandes animais e continuavam neste trabalho, mas tinha uma coleta grande. Não precisavam continuar caçando o tempo inteiro. Se dedicavam à outras questões, de cultura e lazer, por exemplo.

Com o cultivo, o homem começou a ficar preso à terra. Quando tinham batalhas, as pessoas começaram a morrer, mesmo com um boom populacional, a subsistência ficava presa à terra. Era necessário se assegurar e ter essa segurança que o trigo proporcionou.

Por isso o autor fala das réplicas de DNA. Além disso, ele faz também uma comparação com o último rinoceronte branco, que morreu na África e entrou em extinção, onde viveu uma vida completamente solto e livre, natural, mas, em termos biológicos, morreu.

Enquanto isso, a galinha, que vive 38 dias dentro de uma gaiola na produção industrial, mas tem seu DNA replicado em bilhões ou até trilhões no mundo. Ela nunca entrará em extinção. Biologicamente isso parece um sucesso, mas será que é mesmo?

Por isso, Harari continua discutindo esta questão, trazendo até comparações com as empresas, questionando se este sucesso no mundo corporativo é apenas riqueza e continuar produzindo sucessos financeiros para acionistas e até tentando entender o porquê de não termos, como um método de riqueza e sucesso corporativo, o bem que ela desempenha na sociedade, qual a qualidade de vida que tem os colaboradores, até o que ela beneficia à sociedade.

O que está mudando com o ESG é a criação de outras métricas de sucesso, ao invés de ter como único objetivo a maximização dos resultados financeiros.

Nesse sentido, de que adianta uma empresa que vai enriquecer, mas seus funcionários sofrem de ansiedade e uma série de outras questões maléficas para a saúde dos funcionários? Se o turnover é alto e seus funcionários não são felizes? Se os fornecedores são explorados, sem propósito claro ou vontade de desenvolver?

Então… No final das contas, é o que David Roberts fala em seu último dia de Executive Program. Ele traz essa questão sobre “colocar mais dinheiro no seu bolso” e se isso realmente vai mudar tanto assim na sua vida, já que alcançamos um nível executivo diferente.

O mais legal (e vou dar um spoiler aqui) é quando ele propõe a refletir e projetar de forma objetiva: o que conseguimos fazer em nossos negócios para impactar a sociedade diretamente?

Estes foram os pontos que mais me inspiraram para mudança de vida, pois requerem mudança radical de mindset, e para isso é preciso uma transformação completa na cultura corporativa, ou começar uma cultura do zero.

Então, tudo isso já estava crescendo comigo e dentro de mim. Com o Executive Program, tudo isso teve momento e caminho para se tornar mais tangível e gritante. Foi o que me ajudou a tomar as decisões mais fundamentais da minha vida.

SU Brazil: Você diria que este incômodo e angústia que te proporcionou o que vive hoje?

Renan: Na verdade, eu fui inspirado e não angustiado. Enquanto eu fazia estas reflexões, que me deixava angustiado, várias questões foram trazidas para dar soluções à estas coisas.

Aqueles exercícios sobre os “problemas do mundo”, de maneira prática e reflexiva, foram trazendo claridade para outras coisas.

Quando você lida com questões sobre nossa capacidade de gerar impacto social, você se dá conta que aquilo não está tão longe e passa a questionar o seu papel na sociedade. Por isso eu saí bem inspirado, para ser bem sincero.

SU Brazil: E, com tudo isso, como sua vida se transformou após o Executive Program?

Renan: Foi um processo de muito amadurecimento. Depois de 1 ano do EP da SingularityU Brazil, eu decidi sair da empresa que eu estava.

Entrei nela para estabelecer um processo de profissionalização, porque era uma empresa familiar. O projeto já estava delineado, com um fim, porém, ao longo do tempo, fui percebendo que ela não tinha os mesmos valores do propósito que eu estava buscando, que era lidar com o papel social, tentar sempre impactar melhor as pessoas a nossa volta, tentando mudar a sociedade.

A pandemia foi mostrando algumas coisas e meu desejo era fazer algo diferente do que estava acontecendo. Eu saí para o nada, para ser bem sincero, sem nenhuma ideia do que iria fazer. Sou CEO desde os 27 anos de idade. Hoje tenho 38. Na vida corporativa, sempre é uma questão procurar crescer mais, com um objetivo maior.

Isso torna difícil parar para pensar se vamos continuar nesta estrada, ou seguir em outro ritmo, entendendo o que queremos fazer. Com o nascimento do terceiro filho, no dia 02 de outubro de 2021, eu antecipei minha demissão no dia 30 de setembro.

Mais tarde vieram várias oportunidades no mercado (graças a Deus), mas trouxeram essa reflexão sobre o que eu quero fazer. Todas as vezes que pensava sobre valores e cultura, eu pensava nessa autonomia em fazer uma cultura condizente com o que eu acredito, assumir projetos que eu gostaria, desde a forma até a implementação, cadeia de suprimentos… São poucos os projetos que te permitem tudo isso.

E, por mais tentadora que as oportunidades fossem, esse desejo e pulsão estavam latentes no meu coração e empreender era a forma de realizar isso tudo.

Então eu chamei duas pessoas para esta empreitada, que foram dois braços direitos que já tive na minha vida, em empresas diferentes no qual eu trabalhei.

São amigos que tem os mesmos valores que os meus. Sabia que juntos conseguiríamos montar um projeto, um sonho, que inicialmente não fazíamos ideia do que poderia ser.

Então maturamos nossa ideia, seguimos no mercado de projeto e construção de data centers, só que com o viés diferente.

Não quero julgar os outros, mas falar de nós: somos extremamente rigorosos nos quesitos de governança, ética, transparência e profissionalismo. Nosso foco são exclusivamente empresas que são muito profissionais e querem crescer de forma muito técnica, profissional e transparente.

Viemos para dar este BOOST para as empresas de data centers e acompanhar este desenvolvimento de toda a infraestrutura de missão crítica, ao mesmo tempo em que utilizamos tudo isso para formar profissionais de alto valor agregado dentro de uma cultura organizacional sadia.

E como as empresas que comungam dos mesmos valores e reconhecem valor do ESG muitas vezes são também são empresas muito grandes ou que crescem muito rápido. E assim, crescendo e investindo no Brasil, pagando bons salários, formando bons profissionais, com atitudes corretas em um ambiente de trabalho saudável conseguimos mudar um pouco da sociedade à nossa volta.

Inclusive, isso também tem sido feito junto com a fundação da ABDC – Associação Brasileira de Data Centers, que foi criada durante a pandemia, ao mesmo tempo que eu fazia o Executive Program. Eu e outros executivos desse mercado que também tem este chamado para ajudar o desenvolvimento social a criamos. Nossa intenção é democratizar e doar nosso conhecimento e know-how específico para a sociedade através de cursos profissionalizantes, e assim capacitar profissionais para que consigam aumentar sua renda, que também é uma maneira de causar um impacto positivo no país.

Na questão organizacional tudo começa se você pensar que cada família tem três a cinco pessoas. Quando você consegue fazer um ambiente de trabalho onde os valores e virtudes estão na estrutura familiar e bem-estar pessoal (mental, físico e emocional), essa pessoa se realiza muito mais.

Os colaboradores serão pais melhores, mães, irmãos, companheiros e até amigos melhores. Isso transforma a sociedade aos poucos. Para nós, isso foi muito importante porque nos dá orgulho.

Quando você estrutura essa cultura desde o início, colocando estes princípios e valores em primeiro lugar – a ética, princípios, virtudes e questões de pilares sociais acima do lucro – há uma fluidez em todas as esferas da vidas das pessoas.

SU Brazil: Mas como foi esse processo? Houve algum problema nessa construção?

Renan: Na verdade, acho que é preciso entender essa questão como cultura, porque é difícil você julgar o outro, por não dar a mesma importância que nós em determinada questão. Nós temos que ter empatia
suficiente para não julgar o outro e dizer quem é melhor ou não.

É uma questão cultural, dentro do que os meus valores e princípios estão alinhados. Houve pessoas que não estavam na mesma página, há pessoas que pensam diferente, mas somos uma alternativa, fazemos diferente, temos estas questões enraizadas.

Eu fico muito feliz quando as pessoas me procuram por uma questão de ética acima de tudo: sobre governança, transparência, assuntos sobre anti-corrupção, ambientes de trabalho saudável.

Essas questões acabam aderindo muitos clientes e, às vezes, os indivíduos e as corporações estão alinhados com esses valores e virtudes. Eu não tive embates no decorrer do tempo sobre isso, mas tive pessoas que ficaram desgostosas com a concorrência e se sentiram ameaçadas. Nunca foi esse o intuito.

SU Brazil: Essa questão ética e moral sempre esteve com você?

Renan: Sinceramente, foi tudo um processo.

Normalmente a gente começa a carreira e vai se lançando às oportunidades da vida. Eu tive oportunidades que apareceram na minha vida muito cedo e foi muito bom.

Pude fazer a startup de uma empresa no Brasil e ela teve um grande sucesso, onde assumimos a América Latina e me tornei CEO das Américas.

Neste período, eu tinha visto para morar nos Estados Unidos, escritório, casa e tudo no país. Minha família ficava aqui, no Brasil. Eram 3 semanas viajando e uma em casa.

Confesso que foi um momento difícil. Em um jantar que tive com um concorrente, na verdade, falei sobre isso e foi extremamente curioso. Eu estava sofrendo pelas viagens e ele trouxe uma perspectiva da gente “dar nome aos bois”.

Porque, neste jantar, eu falei: “A gente faz isso pela família, né? 3 semanas viajando… Minha esposa em casa… A gente desbravando o mundo, fazendo tudo isso, para que nossa família tenha uma melhor vida. Por isso estamos fazendo isso”.

Então esse executivo falou para mim: “Nunca mais repita isso. Você está fazendo isso por ti mesmo. Você está querendo ser CEO das Américas porque você quer, não é o que seus filhos querem. Se você perguntar para os seus filhos, eles diriam que quer o pai em casa.”

Foi nesse momento que ele abriu o jogo e disse que estava tentando retomar a relação com os filhos pelos netos, porque ele também foi um executivo internacional, tinha tempo de viagens muito longos e mal conseguia combinar a família e o trabalho.

Nessa situação eu comecei a me dar conta e ouvir outras histórias parecidas, sobre os laços de relacionamento interpessoal familiar em que os pais se ausentam muito e, depois, com os netos, tentam se aproximar dos filhos, perto da aposentadoria, quando o volume de trabalho muda. Daí se “lembram” da família.

Volto a dizer: o trabalho é muito importante. Porém, precisamos dar conta da maneira como ele está sendo realizado e como podemos aliar todas as outras esferas da nossa vida.

Outro ponto, graças a experiência internacional, foi perceber que o Brasil é muito fod@ e fora de série. A gente trabalha, veste a camisa e produz de um jeito muito diferente.

É super emocionante e uma grande honra ser um executivo brasileiro que assumiu um importante cargo de liderança internacional. Mas morando aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora.

Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida para minha família muito boa. Seria possível balancear inclusive vida profissional e familiar. Mas, aqui eu consigo atingir muito
mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.

Só assim podemos atrair investimentos estrangeiros nessa cadeia de data center, como Google, Oracle, Netflix, Microsoft, que são empresas muito grande, que, quanto mais profissional o mercado for, mais será mudada a situação do país.

Aqui eu faço muito mais a diferença do que se estivesse lá fora. Internacionalmente o Renan teria um papel de super executivo e uma qualidade de vida da minha família muito boa, caso fossem comigo. Seria possível balancear tudo isso. Mas, aqui eu consigo atingir muito mais o meu propósito, que é realmente mudar um pouco o mundo que a gente vive.

Quando quero deixar um legado, e o Executive Program fala muito sobre isso, é neste ponto que eu falo. Vou te dizer mais: o cargo que você tem, o quanto de dinheiro que acumulou e as viagens, são questões triviais. Mas, quando você chega e percebe: nossa, se não fosse pelo meu trabalho, essa quantidade de empregos não existiria; se não fosse pelo meu trabalho, ele não seria um bom pai e inspirado…

A gente diminui isso em certos momentos, mas isso é super importante, porque o colaborador chega e se torna uma melhor pessoa, chega feliz para trabalhar e pertence ao ambiente.

Ele sente que está mudando a sociedade e causando um impacto positivo onde pode. Além disso, se sente valorizado no trabalho. Tudo isso é importante. E o filho, a esposa e quem está próximo dele, se beneficia de tudo isso, porque se torna uma pessoa harmoniosa, com chances muito menores de se envolver em problemas.

É uma questão fantástica.

Sou apaixonado com a estrutura de data center. Estou neste setor há anos, sempre me tratou bem e merece um carinho especial, como o brasileiro sabe dar. Então aliar estas duas pontas é fantástico para mim.

Renan conta que a pandemia também foi um momento extremamente crucial para entender como gostaria de criar uma cultura, que fosse mais positiva aos colaboradores, em seus trabalhos.

SU Brazil: Você trouxe muitas coisas que foram elaboradas e condiziam com o EP. Mas, você acha que deveria ter feito de diferente hoje naquele Executive Program?

Renan: Eu sinceramente acho que deveria fazer de novo. Foi muito bacana. O que me faltou mais foi o contato com as pessoas que fizeram o EP.

Eu saí com toda a inspiração, saí com vários amigos, foi muito legal, mas não tive contato com eles depois. Por exemplo, o Reynaldo Gama foi meu colega de MBA e conseguimos manter contato. É um amigo espetacular para mim, um dos melhores que eu tenho, nos acompanhamos, estamos juntos, somos amigos pessoais.

No EP eu tive empatia com várias pessoas, amizades e tudo mais, mas não teve mais nenhuma reunião. Por isso, acho que, se fosse para fazer diferente, eu teria me conectado mais com pessoas que estavam atreladas a mesma energia que eu tinha e até os mesmos valores.

É difícil ter estas questões que vão na contramão do mercado e isso seria muito importante. Falo novamente: falamos de cultura, não como diferencial competitivo, mas como modo de vida. Isso é difícil, porque precisa de tempo.

Nosso diferencial como empresa é a questão técnica, profissionalização e uso de tecnologias diferenciadas. Mas, estas questões culturais que nos norteiam são outras questões difíceis, porque você precisa deixar de seguir alguns caminhos, que normalmente são mais fáceis, para lidar com o seu propósito.

Existem vários caminhos que são mais fáceis, mas entra na questão ética e moral. Quando você está com um time de outros executivos, que estão neste mesmo desafio, com este mesmo pensamento no dia-dia, aquilo te retroalimenta. Você aprende com o exemplo do outro e você acaba evoluindo.

Acho que isso que eu faria diferente, caso fizesse o EP de novo.

SU Brazil: O que você diria para quem gostaria de fazer o Executive Program da SingularityU Brazil?

Renan: Eu diria para ir sem expectativas. Se entrega. Cancela reunião, cancela tudo, avisa todo mundo que está indo lá e esquece. Se conseguir deixar o celular de lado melhor, ou use só para tirar foto, como fiz. Porque acho que é uma questão de entrega.

É um tempo único ali e pode se tornar muito profundo caso você dê atenção a ele. É importante essa reflexão. Vou dizer que foi fundamental ver tudo isso que a gente está falando de tecnologias exponenciais e depois ver isso acontecer.

Em um determinado momento a gente faz uma carta para nós mesmos, né? Um ano depois, eu decidi pedir demissão. Eu saí da empresa e tudo mais. Várias oportunidades surgiram, mas até entender o que de fato você quer fazer é muito difícil.

Como eu te falei, eu me reservei para trocar e, quando comecei o meu negócio, me questionei se não deveria voltar para o mundo executivo, afinal, é uma vida mais fácil e garantida.

Eu pensava: “sou pai de família. Será que é isso mesmo? Não é loucura? E agora?”. Comecei a ter muitos questionamentos. Mas, em um determinado momento, eu tive uma semana muito difícil, com todas essas questões na minha mente e aquele momento que todo mundo já passou na vida.

Naquele momento desamparado, eu recebi uma carta de mim mesmo, que escrevi naquele momento do Executive Program, quando eu decidi tomar essas decisões na minha vida.

A carta foi algo extremamente importante para mim. Ela me deu forças e me fez persistir, mesmo naqueles momentos de dúvidas e questionamentos. Foi algo incrível.

Lá eu me motivava, me entendia e abraçava a empreitada. Nela eu dizia:

“Cara, eu sei que você vai ter dificuldade, mas persiste. Vai ser difícil, mas persiste. Vale a pena”.

Foi uma questão muito incrível. Eu só consegui ter este momento porque eu baixei a guarda completamente. Eu fiz amizades, conversei com todo mundo que eu podia conversar, conversei com quem estava expondo, professores, conversei com todos. Precisa se deixar permitir naquele momento de imersão que é o EP.

Inclusive, não é apenas um evento corporativo para aprender e aplicar na sua empresa. É uma questão para nós mesmos. Nós não estamos indo para aprender alguma ferramenta de trabalho. Existe algumas coisas que aprendemos de disrupção e tudo mais, mas é uma questão de reflexão profunda, do encontro do indivíduo consigo mesmo.

Isso para mim foi uma questão muito bacana. Então, vou dizer para as pessoas cancelarem suas reuniões, deixar as coisas um pouco de lado, mesmo quem tem filho, como eu. Bloqueie as reuniões ao máximo e se entregue no evento.

SU Brazil: O que o Renan falaria para aquele Renan que estava escrevendo a carta?

Renan: “Até agora a gente conseguiu, ein? Até agora deu certo.”

Tudo que consegui e me propus a fazer deu certo. Então eu diria para ele que estou muito orgulhoso do caminho e das decisões difíceis que ele tomou.

Foi muito difícil abrir mão de um belo de um salário e uma posição estável, com o terceiro filho que estava para nascer. Você, Renan do passado, se propor a fazer algo diferente, em prol de uma paixão e vontade de fazer algo novo, se propor algo diferente do que o caminho convencional, foi algo incrível.

Vou dizer que foi incrivelmente espetacular. A gente foi abençoado por Deus, porque, neste um ano de empresa – sim, somos novos – a gente já fechou contratos milionários.

A empresa já está construindo grandes data centers em São Paulo, participando de projetos gigantes e de pessoas que acreditam na nossa história. Elas já nos conheciam e essa questão da reputação pessoal foi muito importante, mas muitas querem trabalhar com a gente por isso.

Agora precisamos crescer para contratar mais pessoas, porque se identificam com esses valores e virtudes que estávamos pensando na época.

Então, eu me orgulho demais das decisões que eu tomei durante o EP. Eu não me arrependo de nada, mas também preciso reconhecer que foram questões muito difíceis.

Acho que é igual treinarmos para uma maratona.

É super legal termina-la, mas ela só vem com esforço. A gente se orgulha demais pelo caminho percorrido e isso é o mais importante. Eu faria tudo isso de novo 100% das vezes se eu voltasse para o passado. Eu repetiria o mesmo caminho sempre, em todas as escolhas.

Por isso, muito obrigado por ser corajoso.

SU Brazil: E agora? O que o Renan pensa de si para o futuro?

Renan: É difícil responder isso, acredite. Quando decidi empreender, foi algo diferente para mim e foi a partir de uma decisão minha. Projetos tem início, meio e fim, troca de países, procurar empresas maiores e tentar progredir.

Mas, em um determinado momento da minha carreira, tive um chefe holandês e estávamos velejando que me ensinou muito. Eu era mais novo, creio que tinha 26 anos.

Eu perguntei para ele: “por que você não compra um barco a motor? Por que velejar?”

Ele me questionou o porquê da pergunta e eu disse: “Assim você vai chegar mais rápido nos lugares”.

Então ele me respondeu: “Você está enganado. Quando eu cheguei no meu barco a vela, eu cheguei onde eu queria.”

Este chefe holandês ficou falando apenas sobre o barco e continuou nessa, mas aquilo me acertou em cheio. Fiquei remoendo por anos. Quando decidi empreender, isso voltou para mim.

O que muda na minha empresa é que eu não quero um barco motor. Eu não quero pensar onde estarei daqui 10 ou 5 anos. Eu quero chegar na segunda-feira e ficar feliz com o ambiente de trabalho que eu estou. Eu quero chegar no meu barco e velejar.

Aquele chefe ainda continuou me dizendo: “Se eu não sair da marina, ficar aqui limpando ele e tomando vinho, eu vou ficar feliz”. E é isso que eu quero: que as pessoas fiquem felizes em trabalhar na segunda-feira e que tenha uma quantidade de pessoas e vidas que eu tenha conseguido mudar nos últimos anos.

Não falo só de felicidade por objetivo, mas que elas sintam o propósito da felicidade, que seja uma realização este trabalho diário, nesta questão que é fantástica de viver o cotidiano, o hoje, sem ficar com essa cabeça de ansiedade no futuro.

Então, eu vou dizer: eu não sei responder sua pergunta, porque o que eu estou montando é o meu barco a vela.

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