Qual a primeira coisa que vem à sua mente quando falamos de robôs? É bastante possível que você pense nas linhas de montagem de grandes fábricas, ou então em alguns clássicos da ficção científica. O futuro, porém, reserva outra ocupação nobre para nossos amigos metálicos dotados de inteligência artificial: cuidar da nossa saúde.
Várias tecnologias em desenvolvimento apontam nessa direção. Elas abrangem desde redes neurais artificiais que podem ajudar no diagnóstico de uma simples micose de unha até complexos robôs cirurgiões e cuidadores. A tecnologia vai dar uma mãozinha para médicos e pacientes.
Um centro cirúrgico cheio de robôs
Cerca de cinco bilhões de pessoas ao redor do mundo não têm acesso adequado a procedimentos cirúrgicos, de acordo com uma comissão da publicação especializada The Lancet. Estima-se que 70 milhões de vidas se percam por ano devido a esse déficit.
O médico Shafi Ahmed é pioneiro no uso de tecnologia para tentar combater esse problema. Nascido em Bangladesh e radicado no Reino Unido, ele desenvolve e usa recursos de realidade virtual e realidade aumentada como recursos remotos de treinamento e ensino remoto de técnicas cirúrgicas — basta contar com uma conexão 3G e um Google Cardboard (um headset de realidade virtual do Google feito de papelão).
Para Ahmed, isso é só o começo do uso da tecnologia nos centros cirúrgicos. Ele acredita que robôs substituirão largamente os médicos nessas situações. Em uma entrevista ao site educacional Jisc, ele diz que é muito possível que haja robôs completamente autônomos em centros cirúrgicos nas próximas décadas.
Enquanto um robô cirurgião totalmente independente não chega, as tecnologias existentes vão sendo aprimoradas. Desde 2015, Google e Johnson & Johnson têm uma parceria para desenvolver tecnologias desse tipo. A gigante das buscas acredita que sua expertise em análise de imagens e inteligência artificial pode contribuir com o desenvolvimento de equipamentos mais completos. Eles poderiam, por exemplo, destacar tumores ou vasos sanguíneos, que são geralmente difíceis de distinguir a olho nu.
Em 2016, a Universidade de Oxford realizou em seu hospital a primeira cirurgia ocular com o uso de robôs no mundo. O Robotic Retinal Dissection Device — em tradução livre, dispositivo robótico de dissecação da retina, também conhecido pelo bem-humorado apelido de R2D2 — removeu uma membrana da espessura de um centésimo de milímetro da retina do Reverendo William Beaver, padre da igreja local na época com 70 anos de idade, e devolveu a ele a visão.
Tecnologia para cuidar da nossa saúde nas clínicas e em casa
Mas as possibilidades para o uso da tecnologia para cuidar de nossa saúde vão bem além dos centros cirúrgicos. Um bom exemplo é a Mabu, da Catalia Health. Ela é uma assistente doméstica que pode fazer as vezes de cuidadora de idosos, dando lembretes para tomar medicamentos e conversando com o paciente para saber como ele está — e, dependendo da situação, entrar em contato com uma equipe médica.
A inteligência artificial também pode contribuir e muito com a medicina. Pesquisadores sul-coreanos conseguiram treinar uma rede neural artificial para que ela consiga diagnosticar onicomicose, infecção causada por fungos nas unhas.
O trabalho não foi fácil. Foram necessárias 770 horas de trabalho para classificar mais de 100 mil imagens manualmente. Os resultados valeram o esforço: o software apresentou taxa de acerto melhor que de 42 especialistas entrevistados na pesquisa. Você mesmo pode conferir isso, pois o trabalho deu origem a um site e a um app para Android.
Mesmo a saúde mental pode se beneficiar da tecnologia. Psicólogos, psiquiatras e especialistas em inteligência artificial da Universidade da Califórnia em Stanford desenvolveram um chatbot que consegue conversar e avaliar o humor do paciente, recomendando atividades, vídeos e técnicas de terapia comportamental para auxiliar no tratamento de casos como depressão e ansiedade generalizada.
No futuro, tecnologias como essas podem mudar a vida de milhões de pessoas que vivem em áreas remotas ou não têm condições financeiras de arcar com tratamentos ou procedimentos caros. A inovação pode democratizar o acesso à saúde e contribuir com médicos e enfermeiros no exercício de suas profissões.
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