A combinação de mudança climática, desmatamento, poluição, pesca excessiva e outros fatores produziu uma crise na biodiversidade. Nos piores dias, 200 espécies são extintas a cada 24 horas. Se fizermos uma projeção das taxas atuais, 50% de todos os grandes mamíferos e da vida marinha terão desaparecido no final do século. E, em 2050, 90% dos recifes de coral – que abrigam 25% da biodiversidade do mundo – poderão ter sucumbido.
Porém, nem tudo está perdido – ainda. Algumas de nossas melhores mentes vêm trabalhando incansavelmente para interromper e (em alguns casos) reverter essas tendências. Separamos cinco avanços importantes que estão ajudando a mudar o rumo das coisas.
Reflorestamento por drones – Em terra, as florestas são pontos críticos da biodiversidade e é também por isso que o desmatamento é um dos maiores fatores de extinção. E a escala de destruição é gigantesca. Todos os anos, perdemos mais de 75 mil quilômetros quadrados de florestas, uma área do tamanho do Panamá. Como as árvores são um importante sumidouro de carbono, o desmatamento também é responsável por 15% do total anual de emissões de gases do efeito estufa.
Como combater esse desmatamento em escala industrial? Com reflorestamento em escala industrial. E é aqui que entra em cena a BioCarbon Engineering, empresa britânica fundada por ex-funcionários da NASA, que desenvolveu drones guiados por inteligência artificial para o plantio em massa de árvores. Esses drones primeiro mapeiam uma área para identificar os melhores locais de plantio e, em seguida, disparam para o solo cápsulas de sementes comprimidas dentro de projéteis biodegradáveis. As cápsulas contêm um meio de cultura gelatinoso feito sob medida, que atua inicialmente como um amortecedor para suavizar o impacto e depois como um dispensador de nutrientes para acelerar o crescimento das árvores.
Um só piloto consegue manejar 6 drones ao mesmo tempo e, inacreditavelmente, plantar 100 mil árvores por dia. Um exército global de 10 mil drones, que é o que a BioCarbon pretende construir, poderá replantar um bilhão de árvores por ano.
Restauração de recifes – Os recifes de coral são as florestas dos mares; portanto, se quisermos restaurar a saúde dos oceanos, temos de salvar nossos recifes. Existem cerca de meia dúzia de tecnologias de regeneração de corais em desenvolvimento, mas é o dr. David Vaughan, biólogo marinho do Mote Tropical Research Laboratory, que realiza o trabalho pioneiro mais fascinante.
Tomando emprestado técnicas da engenharia de tecidos, Vaughan descobriu como fazer com que os corais tenham 100 anos de crescimento em menos de 2 anos.
Embora os corais normais só se reproduzam depois que atingem a maturidade – o que pode levar de 25 a 100 anos –, os corais de Vaughan começam a se reproduzir com 2 anos de idade. Com isso, pela primeira vez, temos uma maneira de restaurar radicalmente nossos recifes.
Reinvenção da aquicultura – A pesca é um dos principais fatores do declínio da fauna oceânica. No momento, um terço de todos os viveiros de pesca do mundo estão operando além de seus limites. Aprimorar o gerenciamento dos viveiros de pesca é fundamental; por outro lado, para que gerenciar se é possível crescer?
As mesmas técnicas da engenharia de tecidos que nos permitem produzir bifes a partir de células-tronco também nos permitem cultivar dourados-do-mar, atuns-azuis e outros peixes.
Na verdade, existem hoje seis empresas diferentes buscando justamente esse objetivo, produzindo desde salmão cultivado até camarões de laboratório, que em breve farão parte de nosso cardápio.
Reinvenção agrícola – Plantas e animais precisam de espaço para vagar e se espalhar – vastas áreas contíguas de habitats intocados, tanto terrestres como aquáticas.
Hoje, 15% da superfície da Terra são áreas silvestres protegidas. Para evitar o que agora é conhecido como a “Sexta Grande Extinção”, E. O. Wilson, de Harvard, e outros especialistas acreditam isso teria de ser ampliado para metade do planeta. Mas isso gera uma questão crucial: onde encontrar tanta terra?
Em poucas palavras, combinando reflorestamento e restauração com a reinvenção da agricultura. Aproximadamente 37% da massa terrestre do mundo e 75% de sua água doce são dedicados à agricultura: 11% para lavoura, o restante para carne e laticínios.
No entanto, essas cifras estão encolhendo. Não só os agricultores estão abandonando suas terras em número recorde, mas as últimas inovações agrícolas – carne cultivada, fazendas verticais, produtos geneticamente modificados etc. – têm tornado possível safras muito maiores a partir de muito menos. E uma ideia muito simples salta então aos olhos: vamos devolver toda essa terra extra à natureza.
Economias de ciclo fechado – Outra dentre as cinco grandes ameaças que hoje enfrentamos é a poluição. Um estudo realizado em 2017 pela revista médica The Lancet estimou que a poluição mata 9 milhões de pessoas por ano, com um custo superior a US$ 5 trilhões.
E o impacto pode ser ainda pior na natureza. Obviamente, a poluição dos gases do efeito estufa é o maior perigo, mas produtos químicos em nossos rios, plásticos em nossos oceanos e partículas na atmosfera estão pouco a pouco acabando com a vitalidade de nosso planeta.
O que pode ser feito? Mudar de uma economia baseada no petróleo para uma movida a energias renováveis é útil, mas é preciso fazer mais. E, sem dúvida, nosso maior trunfo aqui é chamada “fabricação zero para zero”.
Trata-se de um processo que permite que as empresas removam resíduos completamente, em vez de gerenciá-los por meio de aterros sanitários. A lista de empresas que estão seguindo esse caminho não para de crescer: Toyota, Google, Microsoft e Procter & Gamble, entre outras.
E isso é bom não apenas para o meio ambiente, mas também para a rentabilidade. A GM informou recentemente que economizou US$ 1 bilhão nos últimos anos com suas 152 instalações de desperdício zero.
Problemas interligados exigem soluções interligadas – No entanto, não importa se estamos falando da perda de biodiversidade, de eventos climáticos extremos ou de escassez de água; estes não são problemas isolados. A teia da vida não é uma metáfora. Tudo afeta tudo que afeta tudo.
As soluções destacadas acima (e no blog da semana passada sobre abundância hídrica) resolvem vários problemas ao mesmo tempo. Mas precisamos todos participar – já.
Pesquisadores de Stanford nos dão três gerações para interromper a extinção de espécies até começarmos a ver a paralisia efetiva dos ecossistemas. Por sua vez, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas estima que temos 12 anos para limitar o aquecimento global a 1,5 grau.
No entanto, já dispomos das tecnologias necessárias para enfrentar esses desafios e, graças às convergências, elas só tendem a melhorar. Nossas inovações talvez estejam se equiparando a nossos problemas. Tudo o que precisamos agora é de força de vontade e ação coletiva.
Para alcançarmos a sustentabilidade na velocidade necessária, nós seres humanos somos o obstáculo e a oportunidade.
Dr. Peter H. Diamandis – Eleito um dos “50 Maiores Líderes do Mundo” pela revista Fortune. É fundador executivo da Singularity University, instituição do Vale do Silício que assessora os líderes do mundo em tecnologias de crescimento exponencial. Diamandis é também fundador e presidente executivo da Fundação XPRIZE, que lidera o mundo no desenho e operação de competições de incentivo de grande porte.
*Artigo extraído de “The future is faster than you think”, novo livro do escritor.