A FAO prevê que até 2050, quando a população mundial ultrapassará 9.7 bilhões de pessoas, haverá uma necessidade adicional de 60% na produção alimentícia global – um grande desafio considerando os recursos disponíveis para suprir tal demanda.
Para alcançar crescimento econômico duradouro, organizações de diversos setores têm buscado implementar o desenvolvimento sustentável.
Nessa jornada, modelos de performance como ESG vem se tornando um padrão frequente para avaliar a viabilidade dos negócios.
E no agronegócio especificamente, o caminho para isso envolve aumentar a eficiência no campo e garantir a preservação do meio-ambiente.
Pensando nesses dois elementos como aliados, resolvemos então trabalhar um tema fundamental na atualidade: a sustentabilidade no agronegócio.
A seguir, vamos entender o que isso significa, quais são seus pilares, qual é a importância e como promover essa relação nos negócios. Tenha uma excelente leitura!
O que é sustentabilidade no agronegócio?
A sustentabilidade no agronegócio pode ser entendida como um modelo de produção que visa à sustentabilidade econômica, social e ambiental na agricultura e pecuária.
Na visão da ONU, a sustentabilidade corresponde ao desenvolvimento que “encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.”
É o equilíbrio entre a proteção do meio-ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais e a geração de resultados sustentáveis para as partes interessadas, como os produtores, trabalhadores rurais, governos e empreendimentos.
Para que o agronegócio consiga ser sustentável, o seu propósito deve girar em torno objetivo de atender às demandas de produção e a qualidade de vida das pessoas.
Pilares da sustentabilidade
Além de entender a relação da sustentabilidade com o agronegócio, é fundamental compreender o que o pensamento sustentável se baseia.
A seguir, vamos apresentar os três pilares desse conceito: ambiental, social e econômico. Acompanhe!
Ambiental
O primeiro pilar é relacionado à sustentabilidade ambiental, que tem por objetivo reduzir os danos ambientais causados pelas atividades agrícolas, como a poluição do solo e da água.
Ou seja, as boas práticas socioambientais na agricultura, na pecuária e nas demais atividades rurais visam, antes de tudo, a conservação da vida ambiental associada a ela.
Isso envolve o uso sustentável da terra e das águas, além da preservação de ecossistemas e espécies animais. Enfim, todos esses fatores precisam ser considerados para a realização de atividades agrícolas baseadas nessa pauta.
Social
O segundo pilar é a sustentabilidade social, que busca promover melhores padrões de qualidade de vida para as pessoas que trabalham no campo e para quem consome os produtos a partir dele.
A sustentabilidade social considera questões como a proteção dos direitos humanos, o programa de segurança alimentar, a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais.
Sendo assim, o desenvolvimento sustentável no agronegócio exige repensar as formas de trabalho dentro dessa dinâmica.
Econômico
Em último lugar, temos o pilar econômico. Esse terceiro aspecto refere-se à sustentabilidade financeira do setor agrícola, que visa proporcionar retornos sustentáveis para as empresas, através da otimização da produção e dos lucros.
A sustentabilidade econômica do agronegócio tem muito a ver com a produtividade. Quando se faz um uso inteligente de recursos, aliado à tecnologia, por exemplo, a sustentabilidade econômica significa redução de custos e mais lucratividade.
Vale dizer que isso vai além de garantir que um negócio permaneça rentável, mas também fazer com que esses ganhos sejam alcançados a partir de uma governança adequada com os demais pilares.
Qual é a importância da sustentabilidade para o setor agrícola?
A sustentabilidade é importante para o setor agrícola por vários fatores. Pode parecer até mesmo óbvio falar que preservar o meio ambiente é importante, mas não deixa de ser um ponto fundamental dessa prática.
De acordo com a FAO, como falamos, a população mundial irá crescer consideravelmente até 2050, o que vai gerar também mais demanda.
Isso significa que se não houver uma preocupação generalizada com a conservação dos recursos naturais, o setor agrícola será prejudicado e, ao mesmo tempo, cada vez mais prejudicial — seja pelos agrotóxicos, pelo desmatamento ou pela poluição em geral.
No entanto, a importância ainda vai além disso. Estamos falando de melhorar as condições dos trabalhadores, otimizar a produtividade no campo e, ainda, proporcionar alimentos saudáveis para o consumo das pessoas.
A sustentabilidade no agronegócio brasileiro
Apesar de estarmos falando do agronegócio de maneira geral, a participação da sustentabilidade nesse setor brasileiro também é um ponto muito importante.
A grande disponibilidade de terra adequada para atividades agropecuárias faz do Brasil um setor crucial da agricultura e da pecuária, com um gigantesco retorno financeiro.
Somente em relação ao valor bruto da produção agropecuária em 2022, estamos falando de R$ 1,19 trilhões.
Mas onde entra a sustentabilidade nesse processo? Ainda que exista um longo caminho e complexo a percorrer, existem iniciativas importantes para essa jornada.
Dados de 2022 mostraram que durante os processos de produção agropecuária, desde o plantio até a colheita, o Brasil está entre os países que mais reduzem a emissão de gases de efeito estufa.
Esse estudo foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na projeção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Além disso, de acordo com dados da Secretaria Executiva da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão (CBAP) quase 70% das propriedades agrícolas do país usam alguma tecnologia — podendo ser na área de gestão no cultivo e colheita da produção.
Ou seja, o apoio da tecnologia como ferramenta de produtividade e sustentabilidade tem ganhado mais espaço.
E ainda em relação a ações governamentais, podemos citar também o Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), por exemplo.
Ele foi criado em 2010, oferecendo uma linha de crédito para financiar práticas sustentáveis na produção agropecuária.
Em dez anos, essa ação conseguiu implantar 6 tecnologias descarbonizantes em mais de 52 milhões de hectares e evitou a emissão de mais de 170 milhões de toneladas de carbono. Mas há um aspecto mais particular que precisamos abordar.
Participação da tecnologia na sustentabilidade e agronegócio
O grande elo que facilita a relação entre esses dois personagens, dentro e fora do Brasil, é a tecnologia. O avanço científico e o incentivo à criação de ferramentas são grandes impulsionadores da sustentabilidade da atividade agropecuária.
A inovação é o que tem feito com que o desejo de “produzir mais em uma mesma área” tenha se tornado realidade.
Dessa forma, termos como “agricultura digital” ou “agricultura 4.0” ecoam cada vez mais no mercado.
E é por isso que muitas iniciativas têm emergido nos últimos anos, inclusive no Brasil, com foco na criação de produtos e soluções inovadores para o setor. Essas são as chamadas “AgTechs”, ou startups do agronegócio.
Softwares de gestão, equipamentos de sensoriamento remoto e produtos à base de organismos biológicos são algumas das principais soluções oferecidas por elas.
Por sua alta tecnologia, elas têm se desenvolvido, principalmente, próximas de regiões produtoras ou de instituições de pesquisa reconhecidas pela atuação no agro.
Esse é o caso do Instituto Agronômico de Campinas (Campinas – SP), e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP (Piracicaba – SP).
Esse crescimento, inclusive, já é quantificado: segundo o Radar AgTech Brasil 2020/21, existem 1574 startups do agronegócio no Brasil.
Quais são os principais desafios da sustentabilidade no agronegócio brasileiro?
Ainda que tenhamos apresentado diversos pontos, não podemos deixar de falar também sobre os principais desafios que existem dentro dessa aliança. A seguir, vamos abordar os três principais.
Contextos legados e contrários à tecnologia
A conciliação entre a demanda de alimentos, grãos e materiais para infraestrutura rural com a necessidade de se valorizar e preservar os produtos ambientais pode ser facilitada com elementos tecnológicos.
É por isso que o primeiro ponto é que existem contextos culturais mais resistentes ao avanço tecnológico, especialmente nos pequenos produtores. Nesse caso, trata-se da dificuldade de absorver as inovações — principalmente as mais modernas — que requerem conhecimento.
Custo elevado da implementação
Além disso, há ainda o desafio dos custos: as novas tecnologias podem ter um custo inicial mais elevado. Isso acaba por excluir os produtores que não possuem recursos o suficiente para sustentar essas soluções.
Em outros casos, acaba por criar uma barreira para a mentalidade de “custo mínimo e lucro máximo”. Ou seja, até mesmo quando existe o dinheiro, esse pode ser um desafio na hora de implementar.
Necessidade de uma mudança coletiva de pensamento
O último desafio é de ordem mental: mudar o pensamento da sociedade brasileira em relação à sustentabilidade no agronegócio. De modo geral, as pessoas tendem a associá-lo apenas a pensar mais no meio ambiente.
Embora isso já seja um motivo por si só, a sustentabilidade não é apenas uma questão de uso sustentável da terra e das energias renováveis. Ela também abrange as relações coletivas, a produtividade, o emprego sustentável, a saúde e bem-estar dos trabalhadores e consumidores.
Como promover a sustentabilidade no agronegócio?
Aqui está o grande papel da sustentabilidade nesse setor: estimular o crescimento e reduzir as emissões. Claro que a tecnologia é parte essencial para a promoção da sustentabilidade no agronegócio. Mas é preciso entender como é esse uso.
Existe um conjunto de práticas que podem tornar o cultivo, a pecuária e qualquer outra atividade rural mais sustentável. Além do que falamos antes, vamos exemplificar alguns aspectos nos próximos tópicos!
Uso de energia renovável
As fontes de energia renováveis, incluindo eólica, solar e hidrelétrica, são algumas das soluções de sustentabilidade mais eficientes no agronegócio.
Ao investir nessas fontes, as empresas podem reduzir o seu impacto ambiental ao mesmo tempo que melhoram a rentabilidade.
Instalação de sistemas de captação da água
O uso sustentável da água é outra preocupação para o agronegócio. Para isso, as empresas têm investido cada vez mais em sistemas de captação, como cisternas e outros reservatórios. Isso permite que elas economizem água, pois aproveitam a fonte pluvial.
Utilização de estações meteorológicas
As estações meteorológicas fornecem dados confiáveis sobre temperatura, umidade e chuvas, que ajudam as empresas do agronegócio a programar sua produção. Ou seja, dá para saber usar no momento e a quantidade certa de água na cultura.
Adoção de softwares de monitoramento de gado
Os softwares de monitoramento de gado são novas tecnologias fundamentais. Eles permitem que as empresas rastreiem o desempenho dos animais, proporcionando um melhor controle e planejamento de pastos.
Esses sistemas podem entregar dados como doenças, consumo de água e ganho de peso, por exemplo.
Uso de drones nas atividades diárias
Os drones também têm papel na sustentabilidade. Por exemplo, eles podem ser usados para monitorar o pasto de gado, avaliar a qualidade do solo, controlar as ervas daninhas na região.
Investimento em agricultura vertical
A agricultura vertical tem se mostrado uma alternativa sustentável para os agronegócios. Ela permite um melhor uso dos recursos, reduzindo o impacto ambiental, além de economizar tempo e água.
Apoio da inteligência artificial
Dados da Statista apontam que até 2030, todos os setores do agronegócio vão contar com mais de 25 milhões de dispositivos conectados à inteligência artificial para otimizar seus serviços.
O grande benefício da IA é gerar estudos sobre o clima e fornecer informações para facilitar na tomada de decisão. Como ela é uma inteligência capaz de aprender, com o tempo, vai se tornando ainda mais eficiente para o local de plantio ou pecuária.
Conclusão
A sustentabilidade no agronegócio é fundamental para garantir a continuidade do setor. É esse desenvolvimento, por meio da união dos pilares econômicos, ambientais e sociais, que consegue fazer grandes mudanças nesse meio a longo prazo.
Estamos falando de um contexto futuro de grande crescimento mundial e a necessidade de acompanhar esse ritmo na produção agrícola.
Para tanto, o grande nome por trás disso é tecnologia. Por isso, desde o uso de energia renovável até o apoio da inteligência artificial, há muito o que se ganhar com o investimento dela.
Se você quer continuar aprendendo sobre tecnologia, sustentabilidade e negociação, leia também nosso artigo sobre ESG e cursos!