Por Leandro Mattos, Expert da SingularityU e Fundador da CogniSigns
A Neuralink, uma empresa de vanguarda no desenvolvimento de interfaces cérebro-computador (BCIs), alcançou um marco histórico com a realização do primeiro implante de um chip cerebral em um ser humano. Fundada por Elon Musk, a missão da Neuralink é revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia e abordar desafios neurológicos complexos através de avanços em neurotecnologia.
Esta inovação representa um novo capítulo na medicina e na tecnologia, prometendo capacidades que parecem ter saído diretamente de um filme de ficção científica. Através de minúsculos fios implantados no cérebro, o dispositivo da Neuralink pode captar sinais neurais com uma precisão sem precedentes, possibilitando o controle de dispositivos externos com o pensamento e abrindo potenciais caminhos para tratamento de diversas condições neurológicas.
Em resumo, este dispositivo inovador é composto por 64 fios, cada um contendo 16 eletrodos, resultando em um total de 1024 canais. Notavelmente, todo esse sistema é compacto o suficiente para caber em uma área do tamanho de uma moeda de 1 real.
Os fios ou threads são extremamente finos e flexíveis, inseridos no cérebro para captar a atividade neural. Cada threads é mais fino do que um fio de cabelo humano, o que reduz o risco de danos ao tecido cerebral durante a implantação. Um robô cirúrgico especializado foi desenvolvido pela Neuralink para realizar a implantação desses threads de forma precisa.
O chip funciona capturando sinais elétricos do cérebro através dos eletrodos nos threads. Estes sinais são então processados por um dispositivo externo, que traduz os sinais neurais, permitindo o controle de computadores ou outros dispositivos externos através do pensamento.
Esta tecnologia apresenta um potencial significativo para ajudar pessoas com diversas condições médicas como paralisia, doença de Parkinson, esclerose múltipla, cegueira, entre outras. A Neuralink também tem a ambição de, no futuro, permitir uma simbiose entre humanos e inteligência artificial, visando expandir as capacidades cognitivas humanas.
A aprovação para a realização desse implante pioneiro veio da FDA, a agência reguladora dos EUA, que garante a segurança e eficácia de dispositivos médicos. Este aval é crucial, pois confirma o potencial terapêutico e a segurança do dispositivo, permitindo que a Neuralink prossiga para ensaios clínicos em humanos. Tal aprovação sublinha a importância da regulamentação rigorosa e do escrutínio ético no avanço de tecnologias disruptivas.
Vale lembrar que a base científica por trás da Neuralink e de tecnologias similares deve muito ao campo global das neurociências, onde o Brasil se destaca notavelmente. A inspiração inicial para a criação da Neuralink pode ser rastreada até os trabalhos inovadores do professor Miguel Nicolelis, um neurocientista brasileiro cujas pesquisas pioneiras em interfaces cérebro-máquina abriram caminho para avanços significativos na área. Essa conexão destaca a importância da colaboração e do compartilhamento de conhecimento no progresso científico.
Em um recente episódio de podcast, tive a oportunidade de discutir com Mário Ayres, um paciente com lesão medular e mestrando em neuroengenharia, sobre as promessas da Neuralink e outras tecnologias em neurociências. Mário compartilhou sua perspectiva única de cadeirante, misturando conhecimento técnico com esperanças pessoais de como tais inovações podem melhorar a vida das pessoas com deficiências. Nossa conversa abriu um panorama sobre como a interseção entre a ciência, a tecnologia e as experiências humanas individuais ilumina o caminho para um futuro onde as limitações físicas podem ser significativamente mitigadas ou até mesmo superadas.
“Como um paciente com lesão medular, a notícia do avanço da tecnologia da Neuralink traz para mim esperança. Viver com uma lesão medular é enfrentar diariamente desafios que vão além da mobilidade; é uma jornada constante de adaptação, resiliência e busca por independência”, afirma Mário. E finaliza dizendo que “cada avanço nessa área não é apenas um passo científico; é um sinal de esperança para mim e para muitos outros que vivem com limitações físicas. Nosso sonho de recuperar uma parte da nossa antiga vida ganha um pouco mais de cor com essas inovações. Estou ansioso e esperançoso para ver o impacto que a Neuralink e tecnologias semelhantes terão em nossas vidas no futuro.”
No caso de Mário, a solução em desenvolvimento pela Neuralink pode estabelecer uma conexão funcional entre o cérebro e a parte inferior da medula espinhal, que, apesar de permanecer saudável, perdeu sua funcionalidade devido à interrupção causada pela lesão. Este avanço representa a criação de uma “ponte” neural, que visa restaurar a comunicação entre o cérebro e as áreas afetadas, potencialmente permitindo a recuperação de funções motoras e sensoriais perdidas. Esta abordagem inovadora busca superar os desafios impostos pela lesão medular, reativando a capacidade do corpo de responder aos comandos cerebrais, mesmo em áreas que foram previamente desabilitadas pelo trauma.
Em suma, a Neuralink não é apenas uma empresa de tecnologia; é um farol de esperança para o futuro da interação humana com máquinas e um testemunho do poder da ciência para transformar vidas. Através da colaboração internacional, do rigor científico e da inovação, estamos caminhando para uma era onde as barreiras entre o cérebro humano e a tecnologia começam a se dissolver, abrindo possibilidades antes inimagináveis para o tratamento de doenças neurológicas e a expansão das capacidades humanas.