Nikola Tesla, em 1926, nos trouxe as primeiras elucubrações e conceitos sobre um projeto que combinava um computador e um telefone: ao que ele chamou de “tecnologia de bolso”. À época poderia ter sido taxado de louco.
“Poderemos nos comunicar uns com os outros de forma instantânea, independentemente da distância. […] Poderemos nos ver e ouvir de modo tão perfeito como se estivéssemos conversando frente a frente. […] Os instrumentos pelos quais poderemos fazer tudo isso serão bastante simples, se comparados com nossos telefones atuais. O homem poderá carregar esse instrumento no bolso de suas vestes.”
Dezenas de anos depois, em 1971, quando Theodore Paraskevakos criou o primeiro protótipo e, em 1974, foi patenteado, o smartphone ainda era apenas uma grande novidade distante.
Foi somente em 29 de junho de 2007 que de fato ele foi apresentado ao mundo. Algo que mudaria radicalmente muitas vidas, organizações. Um gadget que criaria e destruiria mercados inteiros. A promessa de uma revolução na forma de como as pessoas viriam a se comunicar pareceu tímida diante do verdadeiro impacto que a humanidade estaria prestes a testemunhar.
Num incrível equilíbrio entre arte e tecnologia, o então CEO da Apple, Steve Jobs, subiu ao palco da MacWorld 2007 para apresentar o iPhone, um aparelho pequeno que faria caber 1000 músicas em qualquer bolso.
Era um modelo de smartphone com a inédita tecnologia touchscreen. Tão poderoso que agradaria aos mais heavy users tecnológicos e ao mesmo tempo tão intuitivo que poderia ser usado por crianças.
Steve Jobs fez projeções ousadas sobre o iPhone:
Vamos ver se conseguimos ter 1% do marketshare em 2008! E aí vamos em diante!
Steve Ballmer, ex-CEO da Microsoft, entretanto, numa declaração histórica disse que nenhum executivo se interessaria por um smartphone sem teclado. Profetizou objetivamente o fracasso do iPhone:
“Não há chance de o iPhone ganhar uma parcela significativa do mercado. Nenhuma chance.”
O fato é que a Apple superou a meta, atingindo 1,1% dos 1,21 bilhão de remessas mundiais de celulares no ano seguinte.
Apesar de soar estapafúrdia, a declaração de Ballmer se mostra justificada, fruto da tensão mercadológica entre Apple e Microsoft. No entanto, essas não foram as primeiras, e não seriam as últimas, controvérsias no crescente cenário tecnológico.
Alex Davies (articulista da Wired especializado em transporte) nos traz pontos de assombro no ambiente tecnológico. Ele diz que, nos últimos cinco anos, o carro autônomo passou de “talvez possível” a “definitivamente possível”. Em poucos meses foi de “inevitável” a “como alguém pensou que isso não era inevitável?”. Hoje o carro autônomo está no patamar de “comercialmente disponível”.
Por outro lado, numa surpresa às avessas, a naturalidade também habita alguns recantos do mundo da tecnologia. Há pelo menos um ano médicos já falam com certa naturalidade sobre telemedicina e robôs-cirurgiões.
Assim como patinetes elétricas se multiplicam misteriosamente pelas grandes metrópoles como opção de mobilidade a custos baixíssimos para pequenas distâncias, chatbots, hoje programáveis por pessoas sem nenhum conhecimento técnico, estão cada vez mais populares e já não é grande surpresa (aliás, já totalmente aceitável) interagir com/por meio deles em nossos mensageiros instantâneos.
Não se assuste se alguém disser que as transformações estão apenas começando. Ao que tudo indica, as previsões feitas por Ray Kurzweil em sua seminal apresentação “A University for the Coming Singularity” no palco do TED em 2009 estão se mostrando próximas da realidade. Se tudo correr conforme seus prognósticos, em 10 anos (2029), segundo Ray, teremos um computador com a mesma performance do maior, mais poderoso e mais emblemático sistema de processamento de informações de que já se teve notícia. Teremos um computador com a mesma performance de um cérebro humano.
E, ainda segundo uma de suas mais ousadas predições, traçando o crescimento exponencial da tecnologia, em apenas 41 anos (2060), nossos computadores alcançarão a mesma capacidade de processamento de 7 bilhões de cérebros humanos. Teremos um supercomputador tão poderoso quanto a soma do processamento de todos os habitantes do planeta em 2019.
Se essas previsões nos causam algum estranhamento é porque, de forma geral, estamos acostumados a pensar em mudanças com incremento (ou redução) de 10% em relação ao que vemos a nossa volta. São traços de uma mentalidade que nos acompanha como espécie há dezenas de milhares de anos. Um legado ancestral que nos impede de ter a compreensão necessária sobre o impacto da curva exponencial das tecnologias e toda a nova complexidade que traz a reboque.
Não estamos preparados cognitivamente para entender a revolução que está acontecendo, mas podemos observar pelo menos dois fatores que promovem o contraste entre as antigas e novas formas de pensar:
Durante toda a nossa história enxergamos o mundo de forma local. Ou seja, sempre entendemos a realidade dentro de um perímetro de proximidade, onde analisamos somente aquilo que nos toca e o que é visível a nossos olhos.
No entanto, com o desenvolvimento da tecnologia, o mundo inteiro se transformou numa grande rede global. Nessa nova realidade hiperconectada e ultracomplexa, outrora longínquos pontos de tensão e mudança nos afetam a todos. Independentemente da distância, e mesmo das arenas mercadológicas onde ocorrem, movimentos sutis podem gerar grandes mudanças.
Por exemplo, uma startup de tecnologia com pouquíssimos recursos, como o WhatsApp, formada por um norte-americano e um ucraniano em 2009, pôde criar um aplicativo de mensagens que coloca em xeque todo um mercado, aparentemente distante, como o das operadoras de telefonia no Brasil.
Outro fator é o pensamento linear, também arraigado em nossa espécie, que nos faz pensar no futuro como uma extensão serial do passado e do presente. Afinal, sempre foi assim.
Por toda a nossa história, usamos nossas referências do passado para construir o futuro. No entanto, por conta da velocidade das transformações e do impacto gerado pelas novas tecnologias, o futuro está se mostrando completamente diferente (e muitíssimo mais rápido) do que foi vivido. Além de não termos mais repertório adequado para basear as decisões diante dos novos desafios, os próximos movimentos de indivíduos e organizações deverão acompanhar o ritmo das novas tecnologias. Precisarão ser cada vez mais rápidos. Deverão crescer também numa escala exponencial.
A EasyTaxi nos traz um exemplo brasileiro de negócio disruptivo, altamente lucrativo, que alinha tecnologia e impacto social. Expandiu sua operação para mais de 20 países no período de um ano. Nos mostrou um movimento que rompe o tradicional crescimento linear/incremental vigente nos negócios da Era Industrial, para uma ascensão de características exponenciais perseguidas pela nova economia.
Estamos vivendo, portanto, uma profunda transição: novas realidades e novos negócios obedecendo a dinâmicas não mais locais, mas globais. Onde é preciso desenvolver velocidades e trajetórias não mais lineares, mas exponenciais.
Somos impulsionados por tecnologias que se multiplicam rapidamente.
Em ritmo de mudanças cada vez mais acelerado, nossos cérebros, aquelas poderosas máquinas de processamento, estão hoje lutando para se adaptar e acompanhar as novas realidades. O resultado: surpresa, desconforto e excitação.
Testemunhamos um cenário que será transformador em todas as camadas — sociais, ambientais, políticas e econômicas. Uma realidade cujo fator de adaptação, de maneira contraintuitiva, não diz respeito exatamente à tecnologia em si, mas a um novo modelo mental necessário para entender, adequar e tirar o melhor proveito dessas mudanças em nossas vidas, nossos empregos, nas organizações e, inclusive, no nosso país.
As mudanças tecnológicas trazem consequências que, mesmo distantes na aparência, provavelmente vão influenciar seus negócios. Estamos todos, indivíduos, líderes e organizações, diante talvez do maior desafio de nossa história: como nos preparar para um mundo diferente, global, exponencial e até mesmo inimaginável, que vai chegar mais rápido do que parece?
As famosas ondas de Schumpeter, que antes aconteciam em ciclos de 60 anos, parecem estar chegando a intervalos tão curtos quanto a fundação de uma startup em qualquer ponto do planeta.
Ainda segundo os preceitos da chamada Destruição Criativa, em vez de seguir a velha trajetória evolutiva linear, será preciso romper os padrões do passado. Abandonar o velho para dar lugar ao novo.
Torna-se mandatório o exercício de um olhar fresco, mais transversal e sistêmico, considerando fatores de complexidade em outros níveis de referência. Será preciso estudar, aprender e criar metodologias para antecipar tendências e gerenciar mudanças. Inspirar e empoderar pessoas, empreendedores, líderes e organizações com novos mindsets exponenciais para gerar mudanças positivas e promover crescimento social, político e econômico.
De Tesla a Steve Jobs, passando pelos carros autônomos, robôs-cirurgiões, patinetes elétricas e supercomputadores, as manifestações tecnológicas que nos cercam estão longe de ser totalmente compreendidas.
Arthur Clarke, o grandioso autor da ficção científica dizia que “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinta de magia”.
Portanto, o que nos espera no futuro talvez soe como fantasia a nossos limitados olhos contemporâneos.
Com atitudes futuristas, precisamos traduzir os sinais de tempos vindouros, para ajudar a sociedade e as empresas na tomada de decisões do agora.
André Bello future designer, professor, autor e TEDx Speaker.
Cofundador do Singularity University Brazil Summit e membro do Board GAME XP Innovators pela educação no Brasil.
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